Meu marido e outros tantos também | Gabriela Vargas | Digestivo Cultural

busca | avançada
39612 visitas/dia
2,1 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Festival da Linguiça de Bragança celebra mais de 110 anos de seu principal produto, em setembro
>>> Rolê Cultural do CCBB celebra o Dia do Patrimônio com visitas mediadas sobre memória e cultura
>>> Transformação, propósito, fé e inteligência emocional
>>> Festival de Inverno de Bonito(MS), de 20 a 24 de agosto, completa 24 anos de festa!
>>> Bourbon Street Fest 20 Anos, de 24 a 31 de agosto, na casa, no Parque Villa Lobos e na rua
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Chegou a hora de pensar no pós-redes sociais
>>> Two roads diverged in a yellow wood
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
Colunistas
Últimos Posts
>>> Into the Void by Dirty Women
>>> André Marsiglia explica a Magnitsky
>>> Felca sobre 'adultização'
>>> Ted Chiang sobre LLMs e veganismo
>>> Glenn Greenwald sobre as sanções em curso
>>> Waack: Moraes abandona prudência
>>> Jakurski e Stuhlberger na XP (2025)
>>> As Sete Vidas de Ozzy Osbourne
>>> 100 anos de Flannery O'Connor
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
Últimos Posts
>>> Jazz: música, política e liberdade
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Anos Incríveis
>>> Risca Faca, poemas de Ademir Assunção
>>> Camuflagem para e-readers
>>> Deus Sabia de Tudo e Não Fez Nada
>>> Um Furto
>>> É a mãe!
>>> Projeto Itália ― Parte II
>>> Manet no Rio de Janeiro
>>> As fitas cassete do falecido tio Nelson
>>> Vida virtual, vida real
Mais Recentes
>>> Tipos e Aspectos do Brasil de Varios pela Ibge (1970)
>>> Sem Medo de Vencer Ser de Roberto Shinyashiki pela Gente (1993)
>>> Minha Primeira Biblia de Reginaldo Manzotti pela Petra (2012)
>>> A Loira do Banheiro e Outras Histórias de Unknown Author pela Atica (2010)
>>> Obama - Barack Obama de Orlando Nilha, Gabriela Bauerfeldt, Maria Julia Maltese pela Editora Mostarda (2019)
>>> As fadas nos falam de responsabilidade de Rosa M. Curto / Aleix Cabrera pela Ciranda Cultural (2010)
>>> Um Lama Tibetano Na Amazônia de Débora Tabacof pela Ofício Das Palavras (2023)
>>> Antes Que as Estrelas Fossem Estrelas de Lois Rock pela Paulus (2000)
>>> As Aventuras De Robinson Crusoe. Em Cordel de Unknown Author pela Nova Alexandria (2007)
>>> Menino Inteiro de Queiros pela Global (2009)
>>> Pas De Politique Mariô! Mario Pedrosa E A Política de Dainis Karepovs pela Ateliê Editorial (2017)
>>> O Menino Azul de Cecilia Meireles pela Global (2013)
>>> Os Limites Do Discurso. Ensaios Sobre Discurso E Sujeito de Sírio Possenti pela Parábola (2009)
>>> Eric Hobsbawn - Uma Vida Na História de Richard J. Evans pela Critica (2021)
>>> Kriptonita: Como Destruir O Que Rouba A Sua Força de John Bevere pela Luz às Nações (2017)
>>> Introdução A Filosofia Matemática de Bertrand Russell pela Jorge Zahar (2007)
>>> Marighella: O Guerrilheiro Que Incendiou O Mundo de Mario Magalhaes pela Companhia Das Letras (2012)
>>> Nova Historia Das Grandes Crises Financeiras de Carlos Marichal pela Fgv (2016)
>>> A Hora da Mudança de Pedro Dong pela Árvore da Vida (2022)
>>> Brasil: Mito Fundador E Sociedade Autoritária de Tária pela Fundação Perseu Abramo (2013)
>>> O Poder da Paciência de M. J. Ryan pela Sextante (2006)
>>> O Governo Joao Goulart: As Lutas Sociais No Brasil, 1961-1964 de Luiz Alberto Moniz Bandeira pela Unesp (2010)
>>> O Santo Daime e os Espíritos da Floresta de Carlos Roberto Hyppolito pela Clube de Autores (2016)
>>> Histórias Naturais - Coleção Novos Caminhos de Jules Renard pela Landy (2006)
>>> O Conde De Monte Cristo (Coleção Reencontro) de Alexandre Dumas (Tradução de José Angeli) pela Scipione (2001)
COLUNAS

Sexta-feira, 3/8/2007
Meu marido e outros tantos também
Gabriela Vargas
+ de 4800 Acessos
+ 2 Comentário(s)

O grande trunfo dos livros com histórias contemporâneas é que, em certos momentos, nos fazem lembrar de algum fato que vivenciamos ou do qual tivemos conhecimento. Não são poucos os livros assim, porém é raro um livro conseguir ser ao mesmo tempo tão sugestivo e instigante sem perder o realismo, a ponto de nos fazer se identificar com a história, como o livro Meu marido (Record, 2006, 188 págs.), indicado ao prêmio Jabuti deste ano e de autoria da escritora e psicanalista carioca Livia Garcia-Roza.

Livia estreou com o romance Quarto de menina (1995) e além de Meu marido também escreveu os romances Meus queridos estranhos (1997), Cartão-postal (1999), Cine Odeon (2001), Solo feminino (2002),A palavra que veio do sul (2004), também indicado ao prêmio Jabuti, e Restou o cão (2005).

Talvez por ser psicanalista, Livia se sente à vontade tratando dos conflitos que fazem parte do nosso século, como o conflito homem-mulher, que é abordado ao longo do romance pela ótica de uma única pessoa, a narradora Belmira.

Belmira é uma mulher prestes a completar trinta anos de idade que nasceu no interior de Minas Gerais. Oriunda de uma família simples, conheceu Eduardo (o marido que dá título ao livro) numa viagem de visita a uma prima que morava no Rio de Janeiro. Ela é uma mulher estável, tranqüila, que está sempre às voltas com a família interiorana e, principalmente, com o marido e com o pequeno filho Raphael.

Mas a história não gira em torno da narradora, e sim de seu marido. Eduardo é um delegado que tem como sonho frustrado ser pianista de boate e que, ao contrário da estabilidade da narradora, é uma pessoa completamente instável, de humor corrosivo, beberrão e inseguro. A história já começa com ele dirigindo bêbado na volta para casa com a esposa, depois de alguns uísques. Quando ficava assim, não gostava que a esposa dirigisse e nem que abrisse a porta e saía gritando pela rua que era alcoólatra. Belmira narra, ao longo do romance, várias situações em que o marido fica daquele jeito, no outro dia acordando de mau humor e logo saindo para trabalhar.

Durante esses episódios, aos poucos podemos perceber o quão submissa ela se colocava perante o marido, que falava sem parar, não apenas quando estava bêbado, mas sempre que tinha oportunidade, e Belmira apenas ouvia, dizendo umas poucas palavras. Eduardo, aliás, sempre se colocava de uma forma superior à esposa, dizendo que tinha que trabalhar para sustentar a família, sugerindo que o dinheiro dela não servia para nada. Algumas vezes, enquanto falava com ela, proferia palavras de caráter mais rebuscado, logo explicando o significado para a mulher: "Nunca escutou o verbo solancar, não é? Sua expressão revelou ignorância. Solancar é trabalhar arduamente com afinco, em serviço pesado. (...)".

Interessante é que apesar desse jeito instável, Eduardo é um excelente pai. Desde que Raphael estava na barriga da mãe ele já chamava o filho de campeão e cantava para ele o hino do Botafogo, seu time do coração. Sempre fizera de tudo pelo filho, se vestindo de gigante, contando causos da delegacia em que trabalhava e dizendo que era um xerife melhor que os do faroeste, fazendo o filho dar gostosas gargalhadas e se orgulhar do pai.

Apesar de descrever com cuidado o marido, o ápice da história se dá na ausência dele, nas insistentes viagens que Eduardo começa a fazer deixando mulher e filho sozinhos durante um bom tempo. Quando volta, fica pouco tempo e depois já vai viajar de novo. A mulher começa a estranhar o comportamento do marido e o filho chora à noite de saudade, mas a vida segue, com Belmira levando o filho para natação, dando suas aulas de inglês e notando o marido cada dia mais distante. Até que um dia ela começa a receber ligações insinuando que o marido estaria tendo um caso com alguma outra mulher e a partir daí a história muda de rumo e diversos conflitos, que não necessariamente serão resolvidos, surgem na história.

"O tempo passava e eu não ouvia nem via mais meu marido. Nosso casamento devia estar mesmo para acabar, e eu precisava pensar no que ia fazer. Com a vida que ele inventara, estávamos sempre em desequilíbrio, ou eles estavam juntos, ou nós, meu filho e eu, mas nunca mais os três, pai, mãe e filho."

Alguns críticos apontaram certos deslizes que a autora comete no livro, como a mãe interiorana de Bela falar palavras rebuscadas como "longínqua", além de o texto apresentar alguns poemas de rimas pobres como podemos ver na página 14: "Nessa noite, Eduardo demorava para chegar em casa; quando se atrasava, sempre telefonava"; porém, creio que esses equívocos sejam muito pequenos diante da obra em si, em que o mais interessante é a proximidade estabelecida com o leitor. Que mulher nunca ficou insegura por causa do namorado/marido? E que homem nunca se sentiu assim por causa de uma mulher? Essas são situações comuns e cotidianas que tornam o livro tão especial, como se fosse uma narração das entrelinhas da vida, em que a psicanalista ajuda à escritora a construir com audácia um enredo atual e instigante.

Para ir além






Gabriela Vargas
Porto Alegre, 3/8/2007

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Mino Carta e a 'imbecilização do Brasil' de Humberto Pereira da Silva
02. A reação do cinemão de Marcelo Miranda
03. De fato e de ficção de Fabio Silvestre Cardoso
04. Deitado eternamente em divã esplêndido – Parte 3 de Luis Eduardo Matta
05. Formação e Informação de Rennata Airoldi


Mais Gabriela Vargas
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
3/8/2007
13h45min
Achei o texto muito bom, de muito bom gosto, que faz com que as pessoas que não conhecem o livro ou a autora, se interessem em lê-lo. Como disse a Gabriela, quem nunca ficou inseguro por causa de outra pessoa?
[Leia outros Comentários de Jéssica Almeida]
4/8/2007
15h43min
A maioria dos livros escritos por mulheres tem os homens como vilãos ou como seres inferiores. Esse parece ser mais um. gd ab
[Leia outros Comentários de Julio Cesar Correa]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Box From the Library of Hogwarts - Fantastic Beasts/ Newt Scamander
J. K. Rowling
Scholastic Ii
(2001)



Direito Penal – uma Introdução por Seus Princípios Constitucionais
Marcelo Murillo de Almeida Passos
Lumen Juris
(2015)



Livro Capa Dura Angústia
Graciliano Ramos
Biblioteca Folha
(2003)



A Garota no Trem
Paula Hawkins
Record
(2015)



Psicodrama Pedagógico - Trajetória e Difusão
Valério José Arantes, Roseli Coutinho dos Santos Nunes
Mercado de Letras
(2015)



A Elegância do Agora
Costanza Pascolato
Tordesilhas
(2019)



Batismo de Sangue - os Dominicanos e a Morte de Carlos Marighella
Frei Beto
Civilização Brasileira
(1983)



Padre Mário Gerlin: Apóstolo dos Hansenianos
Santo Chiellino
Do Autor
(2003)



O Recurso
John Grisham
Rocco
(2008)



La Sociedad del Riesgo
Ulrich Beck
Paidos Espanha
(1998)





busca | avançada
39612 visitas/dia
2,1 milhões/mês