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Terça-feira, 4/3/2008
Haverá sangue
David Donato
+ de 5500 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Uma das invenções mais legais da Web 2.0 (e um dos motivos do upgrade) é uma prática simples, mas impensável dois anos atrás, a folksonomia, ou as tags comunitárias. É só colocar "etiquetas" com todas as palavras-chave que fazem alguma referência ao objeto. Ficou famosa com o Gmail, o Flickr, o del.ici.ous e os blogs, mas funciona praticamente em qualquer coisa que se queira catalogar para busca futura. Um grupo de amigos meus usa tags de maneira um pouco diferente: costumamos mandar links de bobagens variadas da internet e, em vez de um título descritivo do tipo "ótimo site de design de interfaces", usamos palavras-chave do tipo "design, interface, referência, inovação". Assim, na hora de buscar aquele link de 4 meses atrás, fica fácil buscar pelas tags. Também é bom para quem vê os e-mails no trabalho e não sabe se vai poder abrir a qualquer hora.

Vou começar assim, falando das tags do novo filme de Paul Thomas Anderson, There Will Be Blood: Petróleo, religião, virada do século, Cidadão Kane, Kubrick, Oscar, Daniel Day-Lewis, melhor de 2007

Paul Thomas Anderson é um dos poucos diretores-autores que passeiam por Hollywood hoje em dia. Ele escreve, dirige e produz todos os seus filmes com uma desenvoltura impressionante desde 1997, com Boogie Nights, passando pelo altmaniano ame-o ou odeie-o Magnolia (sua obra prima, em suas próprias palavras), de 1999 e pelo híbrido estranho de humor e drama Punch-Drunk Love, de 2002. Quatro anos depois, PT Anderson (como é conhecido) lança um filme que segue a regra de não ser parecido com nenhum de seus filmes anteriores.

There Will Be Blood é inspirado (mais do que baseado) no livro Oil! de Upton Sinclair, que fala da Califórnia do início do século XX tomada por exploradores de ouro e petróleo. O diretor, que leu o livro por acaso quando estava em Londres, com saudades de casa e viu a capa do livro com uma fotografia da Califórnia, adaptou as primeiras 150 páginas e criou um dos personagens mais fascinantes dos últimos anos.

Daniel Plainview (interpretado pelo "já ganhou mais um Oscar" Daniel Day-Lewis) é um prospector de petróleo, trabalhador, eloqüente, manipulador, misantropo... a lista segue. Depois de suar muito procurando ouro e prata em minas empoeiradas, montou sua própria empresa de prospecção de petróleo e se tornou um homem poderoso. Poderoso como Charles Foster Kane de Orson Welles. Poderoso como o velho Michael Corleone. E solitário como só pessoas poderosas conseguem ser. "Às vezes, quando olho para as pessoas, não consigo ver nada que valha a pena gostar." ele diz, num momento raro de sinceridade. Posa de homem de família com seu "filho e sócio na empresa" a tiracolo, desde que isso o ajude a conseguir mais terras, mais óleo.

Da mesma maneira que Plainview vê pessoas como escada para o próprio sucesso, Eli Sunday, um jovem pastor pentecostal fundador da Igreja da Terceira Revelação vê a chegada do prospector e sua equipe à sua pequena cidade como a grande oportunidade de encher sua igreja de gente (e de dinheiro). Paul Dano, o irmão calado da Little Miss Sunshine, dá o sangue nos sermões alucinados do pastor. Os traços juvenis e gritos desafinados de adolescente do ator, criticados por deslocar o personagem, na verdade trazem uma certa aura demoníaca ao antagonista do prospector e sem dúvida contribuem para o clima de estranheza do filme inteiro.

Há quem diga que There Will Be Blood é um filme de horror, e indícios para isso não faltam. Daniel Plainview não é essencialmente mau, mas sua persona já foi comparada ao próprio Drácula, que usa as pessoas para sugar sua riqueza (a frase "I drink your milkshake!!" vai demorar para sair da cabeça). A trilha sonora é simplesmente aterrorizante. Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead e fã dos filmes de Anderson, criou uma série de anticlímax e dissonâncias que ficam com o espectador do mesmo modo que Beethoven ficou depois de A Clockwork Orange. E por falar em Kubrick, PT Anderson segue brilhantemente a cartilha do mestre em algumas cenas, como a da pista de boliche, tão simétrica e fria quanto as salas do hotel Overlook em The Shining.

There Will Be Blood não é um filme de sustos, mas ainda assim é um filme que assombra, da maneira que uma alma atormentada faria. Ele persegue o espectador muito depois de sair da sala de cinema, relembrando, naqueles momentos em que a mente está em branco, entre um raciocínio e outro, o rosto carismático e assustador de Daniel Plainview, um rosto que se confunde com o dos próprios Estados Unidos, que trocam sangue por óleo em nome do progresso e do próprio bolso gordo há tanto tempo.

There Will Be Blood é uma experiência rara. É menos uma ida ao cinema e mais a chance de participar de um poderoso conto de cobiça e poder, realizado por um mestre com domínio completo de sua arte. Chamá-lo de novo Kubrick, entretanto, além de exagerado é, acima de tudo, ingênuo. Basta saber que é gratificante poder esperar por um próximo projeto de um diretor que prova a cada filme que há infinitas histórias poderosas para serem contadas na tela grande, e que bons contadores de história não são privilégio do passado.


David Donato
São Paulo, 4/3/2008

Mais David Donato
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
4/3/2008
09h31min
As tags que ficaram na minha mente, depois de ver o filme, foram "experiência" e "rara". Até hoje lembro do filme em embascadado estado de contemplação. A Sangue Negro, milkshakes em brinde!
[Leia outros Comentários de Montana]
4/3/2008
18h32min
"o rosto carismático e assustador de Daniel Plainview"; é exatamente isso que eu pensava a cada momento que a câmera focava aquele homem. Por mais que "Onde os fracos não têm vez" seja um bom filme, "Sangue Negro" é muito superior, é a saga de um homem como há muito não víamos. Há cenas inesquecíveis, além claro das batidas da trilha sonora. Uma das minhas preferidas é a volta de H.W., depois de toda aquela loucura que foi o acidente, a tomada em que ele retorna estamos meio distantes dos dois, assistindo de longe. Daniel Day-Lewis fez um personagem incrível, cheio de nuances, a relação com o filho, com o desconhecido que diz ser seu irmão, com Eli, com os concorrentes. Tudo é grandioso, as cenas são carregadíssimas de sentido. É realmente uma experiência única e rara, como bem disse Montana.
[Leia outros Comentários de Bia Cardoso]
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