Contramão, de Henrique Schneider | Luis Eduardo Matta | Digestivo Cultural

busca | avançada
42527 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> ZÉLIO. Imagens e figuras imaginadas
>>> Galeria Provisória de Anderson Thives, chega ao Via Parque, na Barra da Tijuca
>>> Farol Santander convida o público a uma jornada sensorial pela natureza na mostra Floresta Utópica
>>> Projeto social busca apoio para manter acesso gratuito ao cinema nacional em regiões rurais de Minas
>>> Reinvenção após os 50 anos: nova obra de Ana Paula Couto explora maturidade feminina
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
Colunistas
Últimos Posts
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Google Fontes
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Ler, investir, gestar
>>> Caixa Dois, sem eufemismos
>>> Fé e razão
>>> all type
>>> Um cara legal
>>> Histórias de agosto
>>> O mal no pensamento moderno
>>> Yarny e My Writing Spot
Mais Recentes
>>> Brincando Com Móbiles de Thereza Chemello pela Global (1999)
>>> O Informante - Cinemateca Veja de Abril Coleções pela Abril (2008)
>>> Doncovim? - a História de uma Semente de Gente de Andre J. Gomes pela Volta e Meia (2015)
>>> Do Tamanho Certinho de Claudio Cuellar pela Paulinas (2005)
>>> O Temor Do Sábio de Patrick Rothfuss pela Arqueiro (2011)
>>> Brincando Com Colagens, Recortes e Dobraduras de Rosangela Paiva do Nascimento pela Global (1985)
>>> Bis (autografado) de Ricardo da Cunha Lima; Luiz Maia pela Cia das Letrinhas (2010)
>>> Lewis the Duck - Goes to Mexico de Bill Duncan; Christian Ducan pela Hilton (2010)
>>> Rex, o Cachorro Que Tinha Medo de Trovoada de Jorge Calife, Vinicius Vogel pela Record (2004)
>>> Os Legados De Lorien: Livro 4 - A Queda Dos Cinco de Pittacus Lore pela Intrínseca (2013)
>>> Brincar Com Arte - Argila de Patricia Vibien pela Ibep Nacional (2005)
>>> O Menino do Caracol de Fernando Pessoa pela Global (2022)
>>> Maquiavel Essencial - 200 Pensamentos Escolhidos de Wagner Barreira pela No Bolso (2017)
>>> O Natal do Avarento (acompanha Suplemento de Leitura) de Charles Dickens; Telma Guimarães pela Scipione (2004)
>>> Eu Escolhi Viver de Yannahe Marques; Rose Rech pela Citadel (2021)
>>> O Cardeal e a Sra White de Eduardo Paraguassu pela Dpl (2005)
>>> Os Grandes Exploradores - Vol. 01 de Laurosse pela Larousse (2009)
>>> O Soluço do Sol de Valeria Valenza; Pina Irace pela Melhoramentos (2018)
>>> A Descoberta da América - Disney de Disney pela Abril (2011)
>>> Terapia das Perturbações Espirituais de Romário Menezes pela Dpl (2015)
>>> Danubio Azul Valsa de Johann Strauss de Esther Abbog pela Casa Sotero
>>> Conchas e Búzios de Manuel Rui pela Ftd (2013)
>>> A Expansão da Consciência e as Vibrações Psíquicas da Alma de J. Humberto E. Sobral pela Dpl (2002)
>>> Corpo Feliz - Melhore Sua Postura sem Extresse de Penny Ingham; Colin Shelbourn pela Publifolha (2003)
>>> Alice No Pais Do Quantum de Robert Gilmore pela Zahar (1998)
COLUNAS

Terça-feira, 26/2/2008
Contramão, de Henrique Schneider
Luis Eduardo Matta
+ de 11200 Acessos

Fiquei muitíssimo bem impressionado com a recém-concluída leitura de Contramão (Bertrand Brasil, 2007, 176 págs.), do escritor Henrique Schneider, um dos bons livros que me fizeram companhia neste verão. O romance, consistente e muito bem escrito, de narrativa ágil e um encaminhamento surpreendente, revela as angústias e desatinos de um homem comum, assaltado pela imprevisibilidade da vida, por meio de uma interessantíssima road story em verde-amarelo com sotaque gaúcho.

Contramão, embora não seja declaradamente um thriller, acaba funcionando como tal, já que, uma vez deflagrada a questão dramática logo nas primeiras páginas, o ritmo tenso e inquietante com o qual o narrador conduz a trama, captura de imediato a atenção do leitor que, a partir de então, torna-se refém dos destinos de Otávio Augusto Ribeiro de Souza, o protagonista. Otávio é um vaidoso e ambicioso executivo de 25 anos, que dirige a metalúrgica do tio e mantém uma relação estável, porém morna, com uma moça, Claudia, com quem pretende se casar em breve ― como, aliás, manda o código social do executivo bem posicionado. Tudo na sua vida parece encaminhado e nos seus devidos lugares, quando, numa manhã como outra qualquer, ao sair de carro do prédio onde mora, em Porto Alegre, em direção ao trabalho, Otávio, inadvertidamente, atropela duas crianças que atravessavam uma avenida. Ele apavora-se ao contemplar os dois corpos estendidos no asfalto e, antes que alguém venha acusá-lo de assassinato, resolve, impulsivamente, fugir.

É essa fuga, desesperada e beirando a paranóia, que permeia toda a história. Otávio está certo de que a polícia se encontra no seu encalço ― ainda que não possua nenhum indicativo concreto disso ― e, para escapar dela, embrenha-se pelas estradas do Rio Grande do Sul em direção à fronteira com o Uruguai, onde, acredita, estará a salvo. Neste percurso muitas coisas acontecem. Sempre procurando se antecipar aos seus supostos perseguidores e cada vez mais ciente de que é um foragido procurado por todo o estado, Otávio se transfigura totalmente, e transforma-se em alguém totalmente despido de moral e limites, capaz de qualquer ato em nome da liberdade; alguém, por sinal, muito diferente do executivo esquemático do começo do livro, cujo futuro dourado parecia garantido. A trama avança à medida que Otávio se aproxima do Uruguai e, em meio a lances audaciosos e até perversos, é possível refletir sobre os limites da moral humana. Até que ponto o indivíduo é capaz de conservar sua integridade e decência em situações extremas? Até que ponto conseguimos manter o equilíbrio emocional e não imergir em teorias conspiratórias que, muitas vezes, estão presentes unicamente na nossa imaginação? Mesmo o homem mais civilizado está imune a se deixar dominar pela própria barbárie?

O certo é que, a despeito da dramática mudança operada em Otávio, de suas atitudes abjetas e repulsivas e da loucura que o domina enquanto luta para chegar à fronteira, torcemos por ele o tempo todo, como se o nosso lado obscuro também emergisse no decorrer da leitura. Como se nós, leitores, estivéssemos, igualmente, fugindo de alguma coisa e nos debatendo de forma febril a fim de preservar a nossa liberdade.

Este não é o primeiro trabalho de Henrique Schneider, nascido em Novo Hamburgo, em 1963. Ele tem outras obras publicadas, como Pedro Bruxo, A segunda pessoa e o premiado O grito dos mudos, lançado originalmente em 1989, e reeditado em 2006. Após a boa experiência com Contramão, já adicionei O grito dos mudos à relação das minhas próximas leituras. Pelo que li na sinopse, o livro ― que narra o desespero de um homem de 47 anos ante a repentina perspectiva de ficar desempregado ― parece abordar uma questão similar à de Contramão: a de como a sensação de estabilidade pode ser ilusória diante dos imprevistos surgidos ao longo da nossa existência. Trata-se de um tema incômodo, pertinente e sempre atual, caro a todos nós, e nada melhor do que uma ficção inteligente para nos levar a pensar a respeito e a fazer, se possível, uma analogia com as nossas próprias vidas.

Leitura no interior do país
Na minha recente temporada anual de verão na chácara de Maricá, uma percepção que se insinuava havia tempos, não me saiu da cabeça e materializou-se de vez: a de como a expansão do mercado livreiro brasileiro poderia se dar pelas cidades menores, pelo vasto interior do país.

Explico: uma das alegações recorrentes que as pessoas fazem para justificar o fato de lerem pouco é a falta de tempo, em meio à correria do dia-a-dia. O trânsito, o ritmo acelerado da cidade grande que se incumbe de seqüestrar as horas livres, as demandas da vida moderna mais fortemente presentes nos grandes centros etc, tudo contribui para afastá-las dos livros. Ora, já que é assim, por que as editoras, então, não voltam suas atenções para o interior, onde a vida é mais lenta, as coisas não acontecem na mesma velocidade furiosa e as pessoas contam com mais tempo disponível em contraste com opções de lazer e cultura em número menor do que em metrópoles como, por exemplo, o Rio de Janeiro ou São Paulo?

Falando dessa forma, parece uma tarefa simples, mas não é. A começar pela dimensão territorial do Brasil, que torna qualquer iniciativa dessa natureza quase uma missão intergaláctica, sem contar os razoáveis investimentos que precisariam ser feitos, inclusive porque a população da maioria dos municípios brasileiros tem escassa ou nenhuma tradição em leitura. Ainda assim, talvez fosse o caso de alguns editores mais audaciosos considerarem a idéia e a levarem a cabo. Quem sabe, espalhando, a título de experiência, pequenos quiosques de livros em pontos tradicionais de algumas cidades pequenas e médias, tais como mercados, farmácias, terminais rodoviários e até botequins, numa espécie de projeto piloto, em vez de ficar cobrando a abertura de livrarias em todas elas para, somente então, ver o que acontece. O fato é que há leitores, sim, no interior e Maricá é um exemplo. Até poucos anos atrás, o município que conta, hoje, com cerca de cem mil habitantes (há vinte anos a população, se bem me recordo, não chegava sequer à metade disso), não possuía nenhuma livraria e hoje já conta com algumas. Não sei o número exato, mas visitei, neste verão, duas delas ― ambas com um acervo considerável, diversificado e atualizado. Seja como for, se queremos de fato difundir a leitura entre a população brasileira, uma hora ou outra o interior do país terá de ser descoberto. Este Brasil dito mais "profundo" que forneceu tanta inspiração para boa parte da melhor literatura nacional, pode ser, também, um campo fértil para o florescimento da leitura.

Para ir além






Luis Eduardo Matta
Rio de Janeiro, 26/2/2008

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Os últimos soldados da Guerra Fria de Luiz Rebinski Junior


Mais Luis Eduardo Matta
Mais Acessadas de Luis Eduardo Matta em 2008
01. Amor e relacionamentos em tempos de transição - 20/6/2008
02. A evolução da nova democracia brasileira - 12/9/2008
03. A arte contemporânea refém da insensatez - 16/5/2008
04. Contramão, de Henrique Schneider - 26/2/2008
05. Quais são os verdadeiros valores? - 29/1/2008


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




O Poder Disciplinar do Empregador
Arion Sayão Romita
Freitas Bastos
(1983)



Envelhecimento - Estudos e Perspectivas (lacrado)
Manuel José Lopes
Martinari
(2014)



A Armada do papa
Gordon Urquhart
Record
(2002)



As Armas da Persuasão
Robert B. Cialdini
Sextante
(2012)



Conjuntura Atual em OSPB 1º e 2º Graus
Gleuso Damasceno Duarte
Ed Lê
(1978)



The Moment Of Lift: How Empowering Women Changes The World
Melinda Gates
Flatiron Books
(2019)



História do Ministério Público de Minas Gerais Vol. 1 Joaquim Cabral
Joaquim Cabral Netto
Speed



Were in Business
Susan Norman
Longman
(1983)



Filhos Longe da Pátria - o Desafio de Criar Filhos Em Outras Culturas
Márcia Tostes
Vale da Benção
(2011)



Voo Fantasma
Bear Grylls
Record
(2016)





busca | avançada
42527 visitas/dia
1,7 milhão/mês