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COLUNAS
Quinta-feira,
29/5/2008
Conto do café
Elisa Andrade Buzzo
+ de 3700 Acessos
 foto: Sissy Eiko
Vocês já têm em casa alguma máquina de café expresso ou cafeteira tradicional? Não? Nada? Então vivem à base de chá? Nem isso?! Bom... Em primeiro lugar, o que vocês esperam de uma máquina? Algo completamente automático, que prepare café, cappuccino, felicidade ou basicamente um expresso de qualidade?
(Olhe nos meus olhos, são castanhos e profundos, meus cílios são negros e meigos; consegue ver se sou sincero ou apenas bem treinado?)
Nada mal o atendimento pra quem entra como cachorro magro e acaba como convidado cinco estrelas. Lá, onde o principal produto vinha, ironicamente, de seu país num aroma reascendendo à colônia. E onde nada se toma nem bebe, mas degustam os membros do clube.
Era difícil se lembrar da origem de todo aquele artefato. Reles grãos, obra primária da natureza transformada em gota metalizada, industrializada ao gosto europeu. O astro norte-americano, garoto-propaganda da marca, sorri imóvel, agradando tanto aos homens, por seu maxilar firme, quanto às mulheres, por seu olhar adocicado. Que tal um pezinho da leguminosa na decoração? Nada. Somente gotas e mais gotas caindo do teto e inundando o vazio.
Essa máquina, assim como todas da outra linha, é dotada da mais alta tecnologia. Aproximem-se! O procedimento de preparo da sua bebida é muito simples, senhorita, pode testar, isso mesmo. Levante a alavanca, coloque delicadamente a cápsula ― ela se acopla com firmeza ― agora feche e aperte o botãozinho da medida de café que desejar. Isso foi só um treino, hein? Como foi? Fácil, não? Vocês pensam em efetuar a compra hoje mesmo? Excelente, querem fazer uma degustação enquanto pensam no modelo que vão levar? Por aqui...
(Agora eu os deixo, perdidos em seus pensamentos, numa conversa franca, coisa que não poderá haver comigo ao seu lado, já que posso atrapalhar o momento de reflexão da compra.)
Onipresentes, as cápsulas, brotos multicoloridos escorrendo das estantes, decorando as paredes e metidas dentro de diversas embalagens. Praticamente tudo está à venda com o aval da marca, da bandeja à colher, do pano de prato ao petit four. Pequenas filas se formam nas bancadas de madeira. Uma profusão de cores, gotas, sofisticação, que pode ser levada para casa por um preço abaixo daquele praticado no mercado.
O vendedor se dirije aos fundos da loja, abre um armário, pergunta qual tipo de bebida preferem ― fraca, forte, encorpada, suave... ― e sorteia duas jóias reluzentes dentro de uma caixa de papelão. Os próprios clientes vão prepará-la, passo a passo, diante do olhar atento do professor. A mágica é produzida em poucos segundos. Um ruído corta o ambiente, logo após um cheirinho de café da mamãe sobe no ar enquanto o caldo vai pingando para dentro da xícara. Depois, abrem um tubinho de açúcar de beterraba, as partículas escorregam tão rápido quanto seus pensamentos. E é neste ritual que discutem numa língua estranha, agora não tem mais volta, o clube os espera, tomara que seja bom, e sorvem algo marrom, indefinido, cor-de-burro-quando-foge. Agora podem observar o que antes ficava ocultado pela vitrine, mas são embebidos pela bebida num fascínio de luzes e sensações vibrantes. Poderiam até dançar abraçados naquele castelo quente de ilusão, não fosse...
E então? Gostaram do café? A gama de sabores é muito ampla, chegando até o descafeinado... Além da variedade permanente de expressos e longos. O novo sabor desta temporada é este aqui, a cor da cápsula é a mesma, aliás, da minha gravata e da echarpe das vendedoras, lilás suave, como vocês podem ver. Já escolheram o modelo que vão levar? É, eu sei, são todos apaixonantes, mas tem que escolher um só! Ah, sim, estão em dúvida entre a cor piano e o novo modelo futurista? Venham dar uma olhadinha de novo pra chegarem a um consenso.
(Só estou fazendo o meu trabalho, vocês querem comprar e eu quero vender da melhor maneira, que mal haveria nisso?)
O seleto clube, mesmo que sem poltronas ou quadras de tênis, proporciona um mergulho diário numa piscina psicodélica e para tanto, é claro, a compra ilimitada das cápsulas refrescantes. Além do acesso aos novos sabores exclusivos, o que mais seria? Engrossar as fileiras de consumidores que saem da loja nesta grande avenida, com suas sacolinhas de papel pardo sacolejando entre os dedos, repletas de pérolas. Daqui a pouco começa o amargor na boca, o azedume no tubo digestivo corroído.
A partir desta compra, vocês podem levar também este mostruário exclusivo mais esta caixa contendo todos os sabores com uma redução significativa de preço. Dá pra mostrar aos amigos na hora de escolher o que tomar, não é chique? Ótimo! O conjunto de xícaras também sai com uma redução de 10%. Tudo bem. Também queria avisá-los que esta máquina que vocês estão levando hoje sofrerá uma redução de 50 euros na semana que vem. Mas vou fazer pra vocês este desconto mesmo assim, ok? Não poderia fazer, mas vou. De nada. A maletinha de transporte fica para uma próxima?
Elisa Andrade Buzzo
Bordeaux,
29/5/2008
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