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Terça-feira, 13/11/2001
No pé da orelha
Rafael Lima
+ de 3900 Acessos



“Esta é a orelha do livro
por onde o poeta escuta
se delem falam mal
ou se o amam.”

Carlos Drummond de Andrade, Poema-Orelha



A orelha do livro é uma injustiçada. Com tantos apêndices ao corpo principal do texto - prólogo, epílogo, prolegômenos, índice, epígrafe, bibliografia, notas biográficas, agradecimentos - foi justo quem ficou com a fama de apressada, superficial, dispensável. Um erro.

Quem busca informação requer ordem: a divisão em capítulos, a seqüência cronológica, a pesquisa iconográfica e, sobretudo, as apresentações, avais de confiança a um possível leitor, justificam a existência eventual de tantos satélites parasitando os contos, o romance ou a poesia. Há casos em que a apresentação é de tal maestria que acaba roubando a cena da piéce de resistance, mas a regra geral mostra que, tirante seu caráter funcional, tais papagaios de pirata raramente são de alguma valia. Não é por acaso que aquele povo de óculos que habita as livrarias vai direto ao miolo do livro, e deixa para ler o resto em casa quando – se – o comprar. É aqui que entra a orelha.

A orelha é o calcanhar de Aquiles de um livro. É sua parte mais exposta e mais vulnerável. Pode-se argumentar que a capa também o é, mas a capa está condenada à obrigação de agradar (ou agredir) ao se expor. Enquanto isso, a orelha desfila sua graça pelos diversos capítulos, ao marcar onde a leitura parou para atender o telefone, comprar pão ou ir ao banheiro (se bem que para muita gente este é o local preferido de leitura). Na orelha estarão não os comentários formais da crítica da contracapa, mas os elogios dos puxa-sacos; não os sonolentos panegíricos da apresentação, mas a dica cheia de picardia que desnuda o rei, no caso, o próprio escritor; não o enchimento de lingüiça de prólogos e epílogos, mas a síntese, a frase mínima, a que captura o leitor. Na orelha está o caráter de um livro.

Assim, é de estranhar a maneira rude com que a orelha dos livros tem sido tratada, inclusive pelos próprios escritores. Para ficar num exemplo só, Nelson Rodrigues era claramente pejorativo quando referia-se às "leitoras de orelhas de Marcuse", como se elas fossem incapazes de terminar um capítulo. Historicamente desprestigiadas em relação à lombada, que decora, garbosa, as estantes; submetidas a um papel periférico, as orelhas sempre fizeram a alegria dos ratos de livrarias, book worms e bibliófilos pela gratuidade da amostra mais fiel & generosa do que vem por aí. Na orelha o escritor manda uma piscadela de intimidade para o leitor. Na orelha o crítico atesta, objetivo: pode comprar (até porque não há espaço para tergiversação). Mais do que a sedução da capa ou a amostra grátis da contra-capa, é a orelha quem transforma o leitor num comprador em potencial.

Portanto, caro leitor, mais atenção da próxima vez em que comprar um livro sem orelhas. Não se confia num livro sem orelhas.


2 comentários e 1 memória

"Livro e mulher... emprestou volta estragado."
(Tia Zulmira)

"Eu tomo notas. Livro é coisa de pobre."
(Ivan Lessa)

Há 10 anos acontecia no Rio de Janeiro a 1a. Bienal Internacional de Quadrinhos. Evento colossal, pretendia cobrir a cidade de histórias em quadrinhos como acontecia em Angoulême (França) ou Lucca (Itália) na época de seus respectivos congressos, e realmente, espalhou exposições do Planetário ao Forte de Copacabana e do CCBB ao MNBA, além das belas mostras cenografadas do caubói Tex, onde entrava-se por uma mina no Galpão das Artes do MAM, com originais expostos entre fachadas típicas do faroeste (um salão, a delegacia), e dos franceses, que trouxeram o verdadeiro dream team para uma Casa França Brasil decorada por um deles próprios, Enki Bilal. Entre os visitantes, Alberto Breccia, Moebius, Will Eisner, José Muñoz; entre os de casa, Maurício de Souza, Ziraldo, Miguel Paiva, Laerte, Ota. Para alguém que gostava de Hq e tinha certas dificuldades em encontrar edições importadas e álbuns de luxo, aquele mundo de artistas, exposições e gibis à venda era simplesmente um sonho feito verdade. Ainda lembro nitidamente de minha expectativa e ansiedade no ônibus a caminho da Fundição Progresso. Dois anos depois veio a segunda Bienal, qual na primeira, todo mundo achou loucura um evento daqueles - e depois veio correndo. Outro mar de mostras, desenhista estrangeiro tomando cachaça no botequim em frente não era pouco, resultados até hoje sentidos. Em 1997 era Belo Horizonte a hospedar a terceira (pigarro) Bienal, mas isso é outra história, a ser contada por outra pessoa. A mim, resta agradecer aos espadachins que fizeram o milagre acontecer: Roberto Ribeiro, Sergio Portella, Emanuelle Landi e Nilton Santos. Foi demais, valeu. Há 10 anos.


Rafael Lima
Rio de Janeiro, 13/11/2001

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