Página de rosto | Daniela Sandler | Digestivo Cultural

busca | avançada
99180 visitas/dia
1,3 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Netos de Mercedes Sosa e João do Vale, Araceli Matus e Gabriel Vale estreiam show no RJ
>>> Aumente o som: Revista 440Hz retorna em novo formato
>>> Músicos de rua ganham palco e cachê, com shows gratuitos para público, dia 5/2, no Bourbon Street
>>> Duo Atthiê - Pensamentos
>>> KDEIRAZ com Natália Mendonça e Mauricio Flórez/Maurício Alves
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
Colunistas
Últimos Posts
>>> All-In sobre DeepSeek
>>> L'italiana in Algeri par Georges Prêtre
>>> Le siège de Corinthe par Solti
>>> DeepSeek by Glenn Greenwald
>>> David Sacks no governo Trump
>>> DeepSeek, inteligência que vem da China
>>> OpenAI lança Operator
>>> Um olhar sobre Frantz Fanon
>>> Pedro Doria sobre o 'pobre de direita'
>>> Sobre o episódio do Pix
Últimos Posts
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
>>> Editora lança guia para descomplicar vida moderna
>>> Guia para escritores nas Redes Socias
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Brasil, Egito, Eike e Gay
>>> Despedida Jarbas Vasconcelos
>>> Um Furto
>>> Uma vida bem sucedida?
>>> Doida pra escrever
>>> Histórias de gatos
>>> Um certo tom musical
>>> Jornal da Cultura - 18/11/2014
>>> Fuser
>>> Dos amores possíveis
Mais Recentes
>>> Todas As Coisas Querem Ser Outras Coisas de Leticia Wierzchowski pela Nova Fronteira (2014)
>>> Teogonia Hesíodo de Ana Lúcia S. Cerqueira; Maria Therezinha arêas Lyra pela Brochura) Capa íntegrs.Bordas, página de guardae final com pigmentos. Pequeno amassadpo no rodapé, n (2025)
>>> Ventana 2 - al español de Izaura Valverde pela Moderna (2021)
>>> Prince Of Thorns (Trilogia Dos Espinhos - capa dura) de Mark Lawrence pela Darkside (2013)
>>> Eu no espelho - col ludo - ludens jovens de Regina Rennó pela Do Brasil (2010)
>>> Banco De Dados de Sandra Puga pela Pearson (2014)
>>> Fantasmas Da Minha Vida: Escritos Sobre Depressão, Assombro de Mark Fisher pela Autonomia Literária (2022)
>>> Maestro Batuta - a turma do Gérson de Gérson de Abreu e outro pela Atual (1995)
>>> O Que Faz O Brasil, Brasil? de Roberto Damatta pela Rocco (1984)
>>> A Construção Social Da Cor de José D'assunção Barros pela Vozes (2017)
>>> Pachinko de Min Jin Lee pela Intrínseca (2020)
>>> Caixa Surpresa de Angela Carneiro pela Ediouro (1994)
>>> Revista Internacional Dezembro 1982 + 18 de Revista Internacional pela Loveland (1982)
>>> Retratos Da Arte - História da arte de Nereide S Santa Rosa pela Leya (2015)
>>> Michael Jackson de Gordon Matthews pela José Olympio (1985)
>>> O Navio Negreiro E Outros Poemas de Castro Alves pela Antofágica (2022)
>>> Pesquisa Operacional: 170 Aplicacoes Em Estrategia, Financas, Logistica, Producao, Marketing E Vendas de Emerson C. Colin pela Ltc - Grupo Gen (2007)
>>> O sublime objeto da ideologia de Slavoj Žižek pela Civilização Brasileira (2024)
>>> Diagnósticos em pediatria - 100 casos clínicos comentados de C E Schettino pela Atheneu (1997)
>>> Revista You Carnaval Ano 01 nº 01 Carnaval Carioca de Revista You Carnaval pela Evictor (1982)
>>> Monster High - Minha Vida Monstruosa - onde o assustador se torna fabuloso! de Dcl pela Dcl (2014)
>>> Jim Morrison: Life, Death, Legend de Stephen Davis pela Ebury Press (2005)
>>> Revista Fiesta n 01 Janeiro 1973 - Edição Italiana de Revista Fiesta Italia pela Inteuropa Spa (1973)
>>> Morangos Mofados de Caio Fernando Abreu pela Agir (2005)
>>> Feliciano Machado Braga - avante tocantinenses de Feliciano Machado Braga pela Esmt (2012)
COLUNAS >>> Especial Literatura

Quarta-feira, 14/11/2001
Página de rosto
Daniela Sandler
+ de 5900 Acessos
+ 4 Comentário(s)

Sinto como se me vigiassem, inquisitivos: eles, meus livros. Lombadas impassíveis, ombro a ombro, como um escudo em cada prateleira; seus nomes proclamam todas as idéias, todas as belezas, toda a dor de cada um dos romances, contos e poemas que já li. E então, Daniela, qual livro você vai escolher? Vasculho as estantes, estas aqui, exiladas, dominadas pelo outro idioma, o inglês, e pelos títulos de história filosofia arte sociologia e arquitetura, por ensaios e teoria, teses e crítica (suspiro). Eu aqui nos EUA, fazendo meu doutorado. Quem há de carregar livros, os livros da vida inteira, numa mudança temporária? No Brasil, as paredes do meu quarto abarrotadas, minha mãe coitada quase se afogou em tanto livro quando fez a mudança da casa. É lá que estão os outros: lá os romances, contos e poemas, lá o português dos autores intraduzíveis. Vasculho aquelas estantes também. Elas também me vigiam.

Tantos livros há tanto tempo, tão pouco tempo para os livros que ainda faltam: resultado, não releio, quase nunca. Esses livros habitam minha vida fisicamente, os volumes criando pó, as capas invólucros mudos e os textos escapando aos poucos da memória – sem que eu perceba. Afinal, esqueço o texto, mas ainda amo a obra. Lembro-me não do discurso dos autores, mas do meu próprio; com o tempo, até esse esqueço, e guardo apenas o vago sentimento: daquele livro gostei, o outro amei; um abriu mundos, outro roubou as palavras da minha boca; naquele mergulhei como uma alucinação, o outro levou meses para terminar.

Fora o fetiche dos livros como objeto concreto – a decoração involuntária formada pelas cores das capas, a curiosa série de mensagens enunciada nos títulos, nomes de autores, editoras –, sem falar na já abandonada ilusão da osmose (ah, se os livros entrassem na minha cabeça apenas por dividir o mesmo quarto...), há outras maneiras pelas quais os livros nos definem, ou me definem. Trocar, no primeiro encontro amoroso, confidências sobre os livros preferidos, como a sondar terreno. Transcrever passagens prediletas, epígrafes da nossa vida. Nunca mais ver o mundo da mesma forma, depois de ler aquele romance! Habitar por semanas um universo paralelo, deixar o livro invadir os sonhos, os afetos, os humores. E por fim – o maior terror? – ver meus próprios escritos impregnados involuntariamente pelos escritos dos outros que já li.

Delongas. E então, Daniela? O velho recurso, um monte de palavras, a distração da escrita, e ainda não citei um título sequer. O mais espantoso é que passei semanas recitando as obras e os autores favoritos, uma profusão de nomes e de motivos para escolher um ou outro (senão como prediletos, ao menos como tema desta coluna). Tenho pruridos, como se estivesse lidando com gente: como decidir a ordem de menção dos livros? como deixar claro que a seqüência à qual me obriga o fluxo da língua não corresponde à hierarquia afetiva ou intelectual? E quem disse que há hierarquia? E quem disse que não há? E os gêneros? E os híbridos?

Claro que tenho pruridos como se estivesse lidando com gente. “Os livros que amamos” – título deste especial – revela muito menos dos livros, os amados, e muito mais de nós, que amamos. Demoro a desvelar os nomes, os primeiros títulos da lista, como quem hesita ao remover a peça de roupa. Penumbra, por favor...

Sim, porque não há outra maneira de contar por exemplo que apesar de todas as minhas pretensões de originalidade eu também rezo pela cartilha dos livros-comuns, primeiros-clichês, como numa lista dos dez-mais publicada na virada do milênio: Grande Sertão: Veredas; No Caminho de Swann; O Retrato do Artista Quando Jovem; Hamlet, Macbeth, Rei Lear; contos de Chekov, estórias curtas de Wilde, Esperando Godot, Fernando Pessoa, Walter Benjamin, Werther, Fausto.

Ou como mostrar, então, as minhas idiossincrasias, o fato de eu amar segundos-livros, “obras menores”: de James Joyce, os Dublinenses; de Italo Calvino, Marcovaldo; ou de amar segundos-autores, aqueles que perderam favor intelectual ou saíram de moda: Mario de Andrade (a obra toda, poesia e prosa), Fitzgerald, Singer; ou o fato de eu ter chorado no final de O Nome da Rosa porque nunca mais poderia ler o livro pela primeira vez. Ou, mais curioso ainda, os motivos para gostar de cada obra – como uma certa refeição de ervilhas descrita num dos contos Dublinenses (que infelizmente não consegui achar a tempo de citar aqui), uma das passagens mais tocantes que já li (mais tarde, vi o comentário de um crítico dizendo que essa é uma das refeições mais melancólicas da literatura – hum, não fui a única a prestar atenção na tal passagem!). Ou outra refeição – uns miolos refogados que o Marcovaldo come, ou tenta comer, numa de suas desventuras urbanas. Esse episódio, juro, levou-me às lágrimas.

Terminar esta coluna não há de ser mais fácil que o resto do percurso. Hoje a memória, persuadida mais por fadiga que por julgamento, me oferece essa lista limitada de motivos e pensamentos, títulos e nomes. Amanhã, antes mesmo que eu releia meu relato, irei me lembrar de todos os outros, serei invadida pelos livros esquecidos, pelas passagens fundamentais que não citei, pelas minhas próprias razões – ainda que eu possa tentar me reconfortar (nos confortar), observando que afinal as nossas afeições e idéias mudam mesmo o tempo inteiro.

Ainda sinto como se me vigiassem. Fugi da questão. Como sempre, não escolho. Você tem idéia do quanto demoro quando vou à livraria? Não é só indecisão. Sou dispersiva. Enfio-me em alas secundárias, vielas; distraio-me. Distraio-me agora: terá todo leitor o impulso de escrever também, assim como eu? Na minha estante uma lombada não tem título: é um caderno, um diário, em forma de livro. Ler é tão fundamental que não consigo adormecer sem pôr meus olhos sobre ao menos um par de páginas. Surpreendo-me com colegas que contam ter passado o verão inteiro sem ler um livro. Ou aqueles (a maioria) que deixam de ler ficção durante o semestre porque os textos obrigatórios para os cursos já são carga de leitura suficiente. Ora, como se eu fosse ler “apenas” o que me mandam!... onde eu estava mesmo? Ah, o diário. Queria dizer, aliás, de novo, como não vivo sem livros – ah, que clichê! Esses livros todos pedindo uma resposta. Lembro-me menos do discurso dos autores do que do meu próprio... esqueço o texto, ainda amo a obra. Como responder à questão – os livros que amamos, quais? – senão com o desvio de caminho, digressões? Ler, sem parar; não há um livro apenas, não há só um livro. Sem falar naqueles que ainda virão.


Daniela Sandler
Rochester, 14/11/2001

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Lisboa obscura de Elisa Andrade Buzzo
02. A Virada, de Stephen Greenblatt de Ricardo de Mattos
03. Diário da Guerra do Corpo de Vicente Escudero
04. Realeza de Daniel Bushatsky
05. A geração que salvou Hollywood de Gian Danton


Mais Daniela Sandler
Mais Acessadas de Daniela Sandler em 2001
01. O primeiro Show do Milhão a gente nunca esquece - 8/8/2001
02. Quiche e Thanksgiving - 21/11/2001
03. A língua da comida - 29/5/2001
04. Notícias do fim-do-mundo - 24/10/2001
05. Mas isso é arte??? - 29/8/2001


Mais Especial Literatura
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
14/11/2001
14h38min
Caríssima Daniela.Gosto de como você escreve.Seduz.Gostaria que você comentasse nas próximas colunas aqueles livros que te comoveram.Mais um de cada vez.Abraços.Contineu escrevendo.
[Leia outros Comentários de heraldo vasconcellos]
14/11/2001
20h18min
Daniela Essa vez deu fome.Me lembrei do cozido que o marinheiro comeu no inicio de Moby Dick. A tua escrita começa a dar fome de ler.Um abraço, Jacques.
[Leia outros Comentários de Jacques Stifelman]
14/11/2001
20h18min
Querida Daniela Que bom ler você mais uma vez! E desta vez quis mandar meu comentário para lhe dizer que sinto, frequentemente, como você, essa espécie de nostalgia ao ver um livro querido e pensar que esqueci o texto embora continue amando a obra. Sabendo que deixou uma marca, que acabou fazendo parte da minha vida, mas sem conseguir mais encontrar os contornos de tudo isso. Eu achava que era uma questão de idade. Fico reconfortada ao ver que você expressa um sentimento semelhante. Obrigada, um abraço saudoso, Ligia
[Leia outros Comentários de Ligia Lessa Mattos]
23/11/2001
17h35min
Daniela. Adoro teus textos, a identificação é enorme, principalmente quando você fala das pessoas que não têm tempo para leituras que não sejam as obrigatórias; mas isto só entende quem descobriu este universo sublime. Parabéns.
[Leia outros Comentários de Roberto Mafra]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Competências Para Ensinar No Século Xxi, As
Philippe Perrenoud, Monica Gather Thurler, Lino de Macedo, Nílson José Machado e outros
Penso
(2010)



Grandes Aventuras - Mulan
Roberto Belli
TodoLivro



Plano municipal de habitação a experiência de São Paulo 1 e 2
Plano municipal de habitação a experiência de São Paulo
Sem



Poéticas do Maravilhoso no Cinema e na Literatura
Carolina Marinho
Autentica
(2009)



Fora de Controle
Nelson Demille
Landscape
(2005)



Kimiko Yoshida: Là Où Je Ne Suis Pas (autoportrait)
Kimiko Yoshida
Actes Sud
(2010)



La Pierre La Feuille et les Ciseaux
Henri Troyat
Librio
(1995)



Michaelis - Espanhol - S o S - Guia Prático de Gramática
Miguel Ángel Valmaseda Ragueiro e Outro
Melhoramentos
(1997)



Sinpro Minas 80 Anos uma História Dentro da História
Clodomir Ramos Marcondes
Infoartes
(2014)



Goth Chic um guía para a cultura dark
Gabin Baddaley
Rocco
(2005)





busca | avançada
99180 visitas/dia
1,3 milhão/mês