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Sexta-feira, 19/2/2010
Ruy Castro para a posteridade
Luis Eduardo Matta
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Crédito das fotos: Daniel Ramalho

Desde 1966, o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro desenvolve o projeto Depoimentos para a Posteridade, cuja meta é preservar a memória cultural e artística nacional em todos os seus segmentos, como a música, as artes plásticas, as artes cênicas, a dramaturgia e a literatura. Pelo auditório do antigo palacete que abriga uma das sedes do MIS carioca, vizinho ao Museu Histórico Nacional, já passaram figuras notáveis como Dorival Caymmi, Clarice Lispector, Pixinguinha, Cícero Dias, Jamelão, Isaak Karabtchevsky, Tatiana Leskova, entre muitos outros, totalizando, até o momento, a impressionante marca de cerca de mil depoimentos. Um fantástico tesouro documental à disposição do público e, sobretudo, um legado precioso para as futuras gerações que terão a chance não só de travar contato com o que de melhor a cultura brasileira produziu ao longo dos tempos, mas, também, de conhecer a história de vida de cada um dos entrevistados, seus percalços, suas alegrias, suas conquistas, suas reviravoltas, suas paixões e suas visões do mundo, e, com isso, encontrar a necessária inspiração para também operar a sua revolução interior. Num mundo massacrante, carente de reflexão e permeado por toda sorte de cobranças fúteis, é sempre um alento ― e, em alguns casos, uma verdadeira salvação ― ter a chance de estar em contato, ainda que por poucas horas, com o testemunho inteligente e sensível de alguém que devotou a vida ao pensamento e à arte.

Foi o caso de Ruy Castro, um dos nossos mais importantes biógrafos e jornalistas em atividade, cujo depoimento ao MIS foi dado no último dia 27 de janeiro. Atendendo a um convite do próprio Ruy e aproveitando que eu tinha a tarde livre, parti para o centro do Rio. Minha expectativa quanto ao evento já era alta, mas Ruy Castro conseguiu superá-la, e muito, e brindou a mim e aos demais presentes na plateia com mais de cinco horas memoráveis do relato de sua trajetória como pessoa e como jornalista, escritor e pesquisador, sempre com um senso de humor apurado e um invejável desembaraço. Ruy não gaguejou uma única vez. As cinco horas passaram voando e todo mundo que estava ali lamentou sinceramente quando o evento chegou ao fim.

Ruy Castro é alguém com muito a dizer e, a despeito da sua capacidade de sintetizar fatos e de falar com clareza e rapidez, prevaleceu no auditório do MIS a impressão de que seriam necessários vários depoimentos com a mesma duração para que ele pudesse transmitir a sua mensagem por completo. Rodeado por um afiado time de entrevistadores formado por Rosa Maria Barboza de Araújo, João Máximo, Muniz Sodré, Isabel Lustosa e Álvaro Costa e Silva, Ruy recordou a infância, contando que aprendeu a ler sozinho aos quatro anos de idade, estimulado pela mãe que todas as tardes o punha no colo e lia em voz alta as crônicas de Nelson Rodrigues na coluna A vida como ela é, publicada no jornal Última Hora. Falou também da sua paixão pelo Rio de Janeiro, cidade que amou desde sempre, da carreira como jornalista e a passagem por diversos veículos de comunicação ― entre os quais Correio da Manhã, Playboy e Jornal do Brasil no qual, em abril de 1976, criou a revista Domingo, uma iniciativa pioneira no Brasil, inspirada em suplementos encartados em publicações estrangeiras, como a Sunday Magazine, do The New York Times. A Domingo permanece em circulação e ainda conta com grande prestígio, sendo, inclusive, lançadora de tendências na sociedade carioca.

O ponto alto do depoimento, contudo, foi a parte dedicada às biografias, em especial a trinca formada por O anjo pornográfico (1992), sobre Nelson Rodrigues, Estrela solitária (1995), sobre Garrincha, e Carmen (2005), sobre Carmen Miranda. Todo candidato a biógrafo no Brasil ― e mesmo alguns veteranos ― deveria tomar conhecimento da experiência de Ruy Castro nesse campo. Pois para se escrever uma biografia ampla e confiável é necessário muito mais do que pesquisa, cultura livresca e escrita competente. O biógrafo precisa ter um verdadeiro fascínio pela vida do biografado e pela História em geral, além de uma saudável obsessão em levantar e checar informações, por menores que sejam, à exaustão e de uma boa dose de experiência de vida ― a experiência das ruas, nas palavras de Ruy ― para, por exemplo, buscar compreender realmente por que Carmen Miranda se tornara dependente de psicotrópicos ou por que Garrincha se destruiu no alcoolismo. No caso de Garrincha, Ruy teve de descobrir os antepassados indígenas do jogador para chegar à resposta. Carmen Miranda, por sua vez, foi objeto de uma interessantíssima análise que Ruy fez do ambiente contraditório onde ela cresceu ― o bairro da Lapa na década de 1910 onde a boemia nascente convivia com um arraigado conservadorismo religioso ― e as consequências determinantes disso ao longo de sua vida, algo que seria muito difícil caso o biógrafo não conhecesse intimamente a história e a geografia da cidade do Rio de Janeiro.

Todos os Depoimentos para a Posteridade estão à disposição do público nas dependências do Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro. O depoimento de Ruy Castro vale a pena ser visto. Eu próprio tenho pensado em assisti-lo novamente e recomendo a todos que reservem uma tarde para isso. Não será tempo perdido e o único risco que se corre é sair de lá convertido a uma espécie de "ruy-castrismo".

Nota do Editor
Leia também "Ruy Castro n'O B_arco".


Luis Eduardo Matta
Rio de Janeiro, 19/2/2010

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