Teatro anárquico-dionisíaco de Zé Celso M. Corrêa | Jardel Dias Cavalcanti | Digestivo Cultural

busca | avançada
205 mil/dia
2,9 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Espetáculo inspirado na vida cotidiana do Bixiga volta ao cartaz comemorando 28 anos do Teatro do In
>>> Semana Gastronômica do Granja
>>> Mulheres em meio ao conflito:sobre inclusão, acolhimento e sororidade incondicional
>>> Arsenal da Esperança faz ensaios de teatro com moradores em situação de rua
>>> Vem pra Feira do Pimp Estoque: Economia Circular com catadoras, catadores e artistas!
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
>>> The Nothingness Club e a mente noir de um poeta
>>> Minha história com o Starbucks Brasil
>>> O tipógrafo-artista Flávio Vignoli: entrevista
>>> Deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar
>>> Olimpíada de Matemática com a Catarina
>>> Mas sem só trapaças: sobre Sequências
>>> Insônia e lantanas na estreia de Rafael Martins
Colunistas
Últimos Posts
>>> Inteligência artificial e o fim da programação
>>> Temer fala... (2023)
>>> George Prochnik sobre Stefan Zweig (2014)
>>> Hoffmann e Khosla sobre inteligência artificial
>>> Tucker Carlson no All-In
>>> Keleti: de engenheiro a gestor
>>> LeCun, Bubeck, Harris e a inteligência artificial
>>> Joe Satriani tocando Van Halen (2023)
>>> Linger by IMY2
>>> How Soon Is Now by Johnny Marr (2021)
Últimos Posts
>>> Toda luz que não podemos ver: política e encenação
>>> Sarapatel de Coruja
>>> Culpa não tem rima
>>> As duas faces de Janus
>>> Universos paralelos
>>> A caixa de Pandora do século XX
>>> Adão não pediu desculpas
>>> No meu tempo
>>> Caixa da Invisibilidade ou Pasme (depois do Enem)
>>> CHUVA
Blogueiros
Mais Recentes
>>> A história de cada livro
>>> O poeta do pesadelo e do delírio
>>> Além do Mais em 2004
>>> Sites que mudaram o mundo
>>> Textos, contextos e pretextos
>>> Dicas da Semana
>>> 19 de Abril #digestivo10anos
>>> A Pathétique de Beethoven por Daniel Barenboim
>>> O perfeito cozinheiro das almas deste mundo
>>> O sol na cabeça
Mais Recentes
>>> Os 27 desafios que todo chefe deve enfrentar de Bruce Tulgan pela Sextante (2015)
>>> Design para crescer - aprenda com a Coca-Cola sobre escala e agilidade de David Butler - Linda Tischler pela Campus (2015)
>>> Implantando uma Empresa de Cesar Simões Salim e outros pela Elsevier - Campus (2011)
>>> Competências - conceitos e instrumentos para a gestão de pessoas na empresa moderna de Joel Souza Dutra pela Atlas (2013)
>>> Um novo jeito de trabalhar de Laszlo Bock pela Sextante (2015)
>>> Pipeline de Desempenho de Stephen Drotter pela Campus (2011)
>>> Nocaute - Como contar sua historia no disputado ringue das redes sociais de Gary Vaynerchuk pela Hsm (2016)
>>> Liderança - a inteligência emocional na formação do líder de sucesso de Daniel Goleman pela Objetiva (2015)
>>> Excelência em atendimento ao cliente de Alexandre Luzzi Las Casas pela M.books (2012)
>>> 100 Maneiras de motivar as pessoas de Steve Chandler - Scott Richardson pela Sextante (2008)
>>> Lições de Impacto e Inovação - O executivo transformador no jogo da indústria de Jeffrey J. Fox - Robert Reiss pela Rocco (2014)
>>> ( Re ) Descobrindo A Matriz Nine Box de Rogerio Leme pela Qualitymark (2013)
>>> Net.com.classe. Um Guia Para Ser Virtualmente Elegante de Claudia Matarazzo pela Melhoramentos
>>> Como Se Tornar Um Lider Servidor de James C. Hunter pela Sextante (2006)
>>> Reinvente Sua Empresa - mude sua maneira de trabalhar de Jason Fried - David Heinemeier Hansson pela Sextante (2012)
>>> Os Testamentos (capa dura) de Margaret Atwood pela Rocco (2021)
>>> A Ralé Brasileira - Quem é e Como Vive de Jessé Souza pela Civilização Brasileira (2022)
>>> Em Seus Passos... O Que Faria Jesus ? de Charçes M. Sheldon pela Abba
>>> A Magia Do Atendimento - As 39 regras essenciais para garantir servios excepcionais de Lee Cockerell pela Saraiva (2013)
>>> Racismo Cordial: A Mais Completa Análise Sobre O Preconceito De Cor No Brasil de Cleusa Turra; Gustavo Venturi pela Atica (1998)
>>> Como Encantar Seus Clientes de Bob Miglani pela Sextante (2009)
>>> Seleções de Flávio Josefo de Flávio Josefo pela Edameris (1974)
>>> Estratégia de Portfolio de Marcas de David A. Aaker pela Bookman (2007)
>>> Racismo à Brasileira: Raízes Históricas de Martiniano J. Silva pela A. Garibaldi (1995)
>>> Coaching Eficaz - tradução da 3a edição norte-americanaConsultoria Efetiva de Myles Downey pela Cengage (2010)
COLUNAS

Terça-feira, 16/2/2010
Teatro anárquico-dionisíaco de Zé Celso M. Corrêa
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 10000 Acessos

Um presente divino para os amantes do teatro é a caixa Festival Teat(r)o Oficina, com gravações em DVD de quatro peças dirigidas por José Celso Martinez Corrêa. As obras são Boca de Ouro (Nelson Rogrigues), Cacilda! (Zé Celso), Bacantes (Eurípedes) e Ham-Let (Shakespeare).

Para quem não teve a oportunidade de ver no calor da hora as criações de Zé Celso, esta é uma oportunidade única, que deve ser louvada. Um empreendimento cultural desta força e dimensão não pode ficar longe das escolas de teatro, dos amantes da arte, de quem quer entrar em contato com uma das maiores forças vivas do teatro brasileiro: Zé Celso e sua Companhia.

Nestas peças encontra-se o espírito do teatro de Zé Celso. Criador avesso às macaqueações do teatro burguês, o diretor retoma a ideia do teatro-templo das forças dionisíacas. Reunindo todas as forças místicas, musicais, culturais dotadas de apelo irracional, Zé Celso cria suas obras a partir de uma prática que nos faz pensar em antigos rituais pagãos, no carnaval, nas festas das colheitas regadas a vinho e bacanais.

Mobilizando o espírito herético das músicas afro, do rock, do samba, do brega, seu teatro operístico-anárquico transforma corpos, cenários, textos e público em partícipes de um ritual profundamente imaginativo, emotivo, festivo e, se se quiser, transcendente. E a música é um dos elementos principais desse teatro. A música, como sabemos, mobiliza nossa consciência e inconsciência sem a necessidade do conceito. Pela música somos tomados e arremessados em regiões nas quais o controle da razão não pode operar. Wagner sabia disso. Nietzsche mais ainda. Os românticos, então, se alimentavam basicamente disso, ao ponto de sugerirem uma poesia que fosse, ela também, música.

No teatro de Zé Celso, a música é a ponte entre a fala poética, a liberação dos corpos e o andamento do enredo (ou antienredo, o que seria mais fiel no caso). É na música e em seus compassos que se esquadrinham os altos e baixos da emoção das peças. Todos os atores cantam, pois participam do drama como coautores com a particularidade de suas vozes, de seus timbres, de seus gestos. E os corpos dançam ao sabor das músicas, quase nunca se mantendo estáticos sob a vibração de um blues, rock, reggae ou samba. Tornam-se, na verdade, uma metáfora viva do movimento cósmico engendrado por este teatro-ritual. Colocam a existência em movimento e criam a realidade concreta do fluxo da vida.

Zé Celso não procura respeitar academicamente os textos dos quais se serve. A ebulição criativa de sua mente distorce as falas, acrescenta ideias, refaz percursos, reescreve os autores, anima-os com uma saraivada de contemporaneidades sem prejudicar sua existência histórico-temporal. O Oficina reanima textos como se reanimasse corpos, tornando-os mais brilhantes, instigantes, desejados. Não poderia ser diferente num teatro que pretende refundar a energia da vida a cada nova atuação. Um teatro que não veio para adoçar o perfume da burguesia que consome cultura como mais um produto conformista que seu capital pode pagar.

O ideal anárquico de Zé Celso e sua trupe é o de produzir a combustão, o incêndio, o rito criador-destruidor sonhado por Bakunin. E esse componente básico da alquimia do Oficina é que renova a dramaturgia brasileira e internacional, muitas vezes consumida por protótipos decorativos ou vanguardismos frios pra lá de caquéticos.

Não que o teatro intelectual, o engajado, o existencial-absurdo-pessimista ou outra coisa não possa existir, mas faz-se necessário a existência de um teatro que desestruture as certezas ao mesmo tempo instaurando os ritos do "sim à vida" nitezscheniano e reichiano. Um teatro que seja anticlássico, anticartesiano, antiaristotélico. É preciso que a inssurreição das fontes irracionais da criação tomem corpo e que o corpo dos atores e do público tornem-se fonte de paixão para que "a estrela bailante" possa ressurgir a cada novo rito.

A ideia de um teatro dos oprimidos vai por água abaixo com as explosões viscerais de Zé Celso, que impõe Eros contra Thanatos, que impõe a arte contra a vida petrificada.

Talvez seja em Bacantes que se possa encontrar a metáfora mais perfeita para todo o teatro de Zé Celso. A presença sedutora de Dionisius, que faz vibrar o desejo e o delírio, faz oposição à morte em vida dos corpos congelados, armados e sem emoção dos seguidores/empregados de Penteu. O Oficina encarna esse espírito dionisíaco. E a joyceana ― palavra "tragycomédiorgia" ― pode definir melhor que qualquer outra a postura criativa e existêncial do Oficina e toda a sua história por consolidar um teatro sem a caretice da classe média culpada ou da prepotência antierótica e destruidora da classe alta.

Em entrevista à IstoÉ, em 1996, quando da primeira apresentação de Bacantes, Zé Celso comentou sua peça: "Tentei fazer uma ópera brasileira de Carnaval. Recuperar a enorme riqueza do musical nacional, que vem da época de Arthur de Azevedo e que não é esta coisa mecânica, importada da Broadway. Mas que mistura a música brasileira, que tem uma ligação com o amor, a paixão, a religião, o rito, o Carnaval, com a coisa meio improvisada brasileira, suprida pela cena teatral feita ao vivo, sem dinheiro. Dionísio é o deus que se bebe, que se come. É o deus do vinho, das plantas, o deus da maconha, da ayahuasca. O deus de todos estes prazeres que são proibidos e temidos na sociedade global, aqueles prazeres que despertam a mente e o desejo".

Desde a peça O rei da vela, de Oswald "Canibal" de Andrade, dirigida por Zé Celso, o Oficina tem injetado coragem, rebeldia e atitude contra um mundo sem opinião, formatado em ditaduras inescrupulosas. Agora, o Oficina reinvindica para si e para todos o direito ao delírio, ao erotismo, às paixões criativas da arte em oposição a esse mundo ascético, tomado pela ideologia do bom e medíocre comportamento classe mérdia de shopping center que transforma o ser humano numa dócil e embotada máquina de consumir lixo industrial.

As peças do Oficina reanimam forças latentes, dialetizando-as em pulsões alegres e trágicas, no riso solto, nos corpos livres e numa concepção prá lá de libertária do que seja o teatro. Vida eterna para Zé Celso e o Oficina!

Para ir além
Site do Teatro Oficina


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 16/2/2010

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Fique de cinto até a parada total da aeronave de Ana Elisa Ribeiro
02. Sideways Rain: Pausa, Choque, Fluxo e Corpo de Duanne Ribeiro


Mais Jardel Dias Cavalcanti
Mais Acessadas de Jardel Dias Cavalcanti em 2010
01. Poesia sem ancoradouro: Ana Martins Marques - 23/3/2010
02. Rimbaud, biografia do poeta maldito - 10/8/2010
03. 29ª Bienal de São Paulo: a politica da arte - 12/10/2010
04. A letargia crítica na feira do vale-tudo da arte - 5/1/2010
05. Inhotim: arte contemporânea e natureza - 2/3/2010


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Quimica na Abordagem do Cotidiano Volume 2 Modernaplus
Tito/canto
Modernaplus
(2010)



Enigmas do vampiro 389
Catherine Zarcate
Sm
(2007)



Livro Filosofia Para Além do Leviatã Crítica do Estado
István Mészáros
Boitempo
(2021)



Globalização e Competição
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Campus
(2010)



A Deriva dos Continentes
Samuel Murgel Branco
Moderna
(1992)



Livro - Turma da Monica - Ilha do Tesouro - Coleção Fantasia
Mauricio de Sousa
Girassol
(2015)



Deuses Americanos
Neil Gaiman
Conrad
(2011)



Livro Infantil Como Apavorar os Fantasmas?
Catherine Leblanc e Roland Garrigue
Vergara & Riba
(2013)



1808
Laurentino Gomes
Planeta
(2007)



Samantha Sweet executiva do Lar 483
Sophie Kinsella
Record
(2007)





busca | avançada
205 mil/dia
2,9 milhões/mês