Suicídio, parte 2 | Marta Barcellos | Digestivo Cultural

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Sexta-feira, 15/3/2013
Suicídio, parte 2
Marta Barcellos
+ de 5200 Acessos

(Parte 1)

O problema do suicídio é não ter parte 2 - pelo menos é nisso que acredito. Então o escritor David Foster Wallace, o ator Walmor Chagas e o programador Aaron Swartz não nos darão explicações para suas decisões. Como o suicídio é um tabu dentro de outro maior ainda, que é a morte (há quem defenda que a morte tomou o lugar do sexo no ranking de tabus da modernidade), simplesmente temos dificuldades em pensar nele. No mínimo, não estamos acostumados.

Por muito tempo o suicídio sequer era noticiado na imprensa brasileira, e o primeiro a falar disso, se não me engano, foi o jornalista Arthur Dapieve, que escreveu o livro Morreu na contramão - o suicídio como notícia. Eu mesma, em redação de jornal, lembro de ter ouvido: não "damos" suicídios. Tabus são assim, e quem os estuda sabe como essas frases lacônicas silenciam tudo.

Mas os tempos já são outros, são os tempos da internet, e o fato é que os três suicídios foram considerados notícia, receberam ampla cobertura, e, para mim, de certa forma coincidiram: soube das mortes de Walmor e de Aaron na época em que estava lendo Wallace. Ou melhor, enquanto estava descobrindo o escritor americano e percebendo em sua escrita uma espécie de compromisso com o futuro, uma pregação sobre a importância de se estar atento a tudo - principalmente a si próprio - para poder fazer escolhas verdadeiras.

Tradutor do primeiro romance de Wallace que será lançado no Brasil, Caetano Galindo reconheceu que pode ser "inescapável" entender o escritor a partir de sua depressão e seu suicídio. (Ah, sim: como tantos suicídios, o de Wallace costuma ser "explicado" pela convivência com a depressão e pelas dificuldades com a medicação.) Em entrevista a Francisco Quinteiro Pires, Galindo parece lamentar: "Ficou a sombra de que a morte dele representava uma confissão do fracasso da missão enorme que tinha se imposto".

Ao se matar, Wallace não teve oportunidade, por exemplo, de escrever algo sobre o fenômeno Facebook - embora parecesse bastante visionário sobre os impactos das tecnologias no comportamento humano. Depois de ler seus ensaios, me flagrei tentando reproduzir o seu olhar para pensar as redes sociais. Ou melhor, em como 'nós' agimos nas redes sociais (e ele colocaria a palavra 'nós' em destaque). Por que andamos tão pouco questionadores sobre tanta coisa? Será que os leitores de Wallace, após a sua morte, consideraram a missão pesada demais?

Impossível não relacionar isso tudo, também, ao suicídio de Aaron Swartz, um dos criadores do RSS e fundadores do Reddit. Como Wallace, o programador americano tinha uma mente privilegiada, talento de sobra e a mania de questionar tudo sobre todos. Seu questionamento incessante o levou a ser um ativista na internet e usar a própria genialidade como hacker, em prol do livre acesso ao conhecimento. Parecia ter uma missão, uma missão que talvez tenha pesado demais - estava sendo pressionado e processado. Enforcou-se, aos 26 anos.

Um diagnóstico de depressão também acompanhava Aaron, e realmente seria muito confortável para todos nós que suicídios sempre tivessem como "explicação" uma patologia. De preferência uma patologia com cura possível: fulano se matou porque não tomou o remédio.

Como diria Wallace, individualmente somos serzinhos egoístas, que transpomos para nosso universo pessoal toda e qualquer experiência alheia. É o nosso ponto de vista e são os nossos interesses que imperam, porque não conseguimos de fato 'estar' no lugar do outro. E, para nosso conforto pessoal, buscar explicações fáceis para as mortes dos outros nos desobriga a pensar em nossa própria morte. Ou, mais provavelmente, nos desobriga a pensar em nossa própria existência.

E foi por esse motivo que, numa manhã de sábado, uma semana depois do suicídio de Aaron, quando eu estava lendo Wallace e soube da morte de Walmor Chagas, parei tudo para buscar uma explicação. Walmor era um ator genial. O obituário exaltava isso, e mesmo quem não teve oportunidade de constatá-lo pessoalmente podia percebê-lo por sua postura e conduta (vale a pena rever sua entrevista ao programa Starte, da Globo News). Sabe qual foi o nome da última peça que ele encenou, em 2005? Um homem indignado, de sua autoria.

Se pensar na morte como opção é difícil porque também temos que pensar na vida como uma opção, e no que devemos fazer com toda uma existência sem sentido, naturalmente a explicação fácil nos conforta. Walmor, eu leria, estava deprimido. Isolado há anos em um sítio, reclamava das limitações físicas da velhice. A pior delas, a dificuldade para ler - uma de suas últimas paixões - teria sido a gota d'água. Então era isso: Walmor Chagas se matara com um tiro de revólver calibre 38 na cabeça porque estava cego. E ainda dava para subtrair uma mensagem edificante de seu ato final: é mesmo terrível não poder ler, e viva a literatura.

Mas não era possível ignorar que havia, já em 2005, um homem indignado com a mediocridade reinante, um homem que não estava cego e tinha sete anos a menos que os 82 com que se mataria. Como já deve ter ficado claro, eu resistia em pensar que pessoas admiráveis só se mataram por uma contingência física ou um desequilíbrio químico no cérebro. Só que, ao rejeitar a justificativa da depressão para os suicídios, eu acabava caindo numa outra tentativa de "explicar a morte": eram pessoas geniais, e com uma consciência exacerbada, que queriam mas não conseguiam mudar o mundo.

No fundo, tratava-se apenas de uma hipótese formulada por um serzinho egoísta, ávido por justificar as inquietações de sua própria existência... Pelo menos o suicídio está deixando de ser tabu, e estamos falando e pensando nele ele aqui, agora.



Marta Barcellos
Rio de Janeiro, 15/3/2013

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