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Terça-feira, 11/6/2019
O espelho quebrado da aurora, poemas de Tito Leite
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 6700 Acessos



O poeta Tito Leite acaba de publicar Aurora de Cedro, pela editora 7 Letras. O livro é dividido em cinco seções, com um total de 51 poemas. Há um desejo de equilíbrio entre as seções, pois, com exceção de uma com 11 poemas, todas as outras possuem exatamente 10.

Cada seção parece trazer uma preocupação específica, que vai das questões sócio-existenciais, com a denúncia de um real insuportável, ao desejo de uma transcendência do mundo ordinário, com devaneios espirituais – que buscam o silêncio - ou mesmo composições de versos com imagens mais radiantes, menos sombrias ou sob o peso da melancolia.

O livro nos transmite a sensação de que o poeta está a fazer uma via-crucis que vai do inferno do mundo concreto e intragável – que o esgota – ao mundo das sensações (ou das imagens) que podem produzir ainda algum prazer- que o liberta.

O fato do poeta ser monge, formado em filosofia, tem alguma coisa a ver com isso? Não, nenhuma. Esqueçamos isso. Quem se apresenta aqui é o poeta e é como poeta que ele pensa e repensa o mundo, pensa a vida e/ou a possibilidade de evadir-se dela. “O mundo foi feito para ser transformado em um livro”, como disse Mallarmé. E o poeta está, antes de tudo, interessado mais na operação da linguagem – a poesia - do que em produzir reflexões ordinárias a partir de suas ocupações mundanas (seja como monge ou estudioso da filosofia). O poeta pensa com a poesia. “A solidão transmuta-se/ em poema”, diz no poema denominado justamente “Poeta”.

Apesar dessa divisão meio estanque que eu apresento, que parte do peso do social dos versos ao prazer mais ligeiro das imagens “felizes”, creio que há um elemento insubordinado que atravessa todo o livro. É a inadequação do poeta a quase todos os fatores da existência. “É dilacerante escolher/ a pior parte”, vaticina no poema “Dilacerante”. Essa “pior parte” está em todo lugar, em cada poema, se observarmos bem. O poeta moderno é um ser dilacerado, como que carregando a lava vulcânica de sua inadequação, inclusive, como ferramenta para continuar escrevendo poesia. Não é incomum na poesia moderna e contemporânea o branco da página sulcada pelas sombras de uma desilusão em relação ao mundo: “o tempo dos homens ocos”, de T. S. Eliot, não se encerrou, como sabemos.

Em Aurora de Cedro Tito Leite consegue, por operações poéticas bem pensadas, catalisar oposições, tensões, que fazem todo o livro vibrar em dissonância, desmantelando qualquer crosta lírico-sentimental salvacionista. É bom prevenir – “abandonai todas as esperanças” quem vier a procurar no livro um espelho, alguma imagem de um estado de paz desejado ou de verdade assentada – Tito quebrou os espelhos, que se pisados no chão produzirão fortes cortes nos pés desprevenidos.

Desse modo, se o poeta se liga a um ou outro dado da realidade, ele procura ao mesmo tempo negar ou trilhar espaços de salvação possíveis. O que se apresenta nos versos do livro são incômodos, aversão ao mundo, é certo, mas proposições sacrificadas em nome da máquina da linguagem que é o poema. Este é um livro de poemas, livro de poeta, não um empastelamento de páginas de auto-ajuda.

O que Aurora de Cedro parece dizer é: somos filhos da queda, assim é o homem, assim sua natureza, assim seu destino. Diferente do que sugere o caquético pensamento cristão, não virá um salvador. Estamos em queda livre porque essa é nossa condição enquanto humanos. A mais poética revolução, em nome do bem-comum, gerou também milhares de cadáveres. O Capital, alma desse mundo, não para de abrir covas e se dirigir para o auto-esfacelamento. “Todo dia/ o mesmo esquartejamento”, diz em “Carteira de trabalho”. E continua “Adão, tu ganhas/ o pão com o suor/ da tua tarde, mas muitos dos teus/ filhos comem/ a nossa carne”.



O poeta é o único ser verdadeiramente marginal. À margem de tudo, tudo pode ver à distância. Não podendo nem gerar Capital (quem paga por poesia?), “ele se liberta do cativeiro servil face ao mundo, que aparece como patrão, cliente, consumidor, oponente, árbitro e desvirtuador de sua obra”, para usar os temos de Susan Sontag.

Falando dos demônios pessoais ou do vácuo da existência, todo bom poeta é também visceral, propõe Tito Leite em seu poema “Sondareza”. Faz das vísceras o coração. Então, o imbróglio que cada poema se propõe ser, sustentado na contradição de estar na lama e adorando o brilho das estrelas celestes, é o que o torna uma ferramenta não dogmática da leitura do mundo. O poeta aceita contradições, como podemos ver no poema “Stravinsky”: “Em cada ode, o poeta canta/ uma morte: como quem recria/ uma semente de alegria/ no recreio dos segregados.

Aurora de Cedro radicaliza a historicidade em uma poética da negatividade: o ritmo do mundo pessoal e cultural interiorizado pela força da consciência poética. Ao mesmo tempo, a linguagem do poeta é a tradução e a traição dessa consciência. “O poeta moderno é aquele que sabe o que há de instável na condição de encantamento de seu texto, sempre dependente de sua condição de enigma” (J. A. Barbosa). A linguagem (sempre em crise) da poesia, sua tensão corrosiva, procura converter o enigma em espaços onde o leitor pode decifrar as tensões do mundo, não como certeza do real, mas como impossibilidade de retê-lo como imagem símile refletida num espelho.

“Tenda dos Milagres”, poema da última parte do livro, parece um aviso do poeta aos leitores afeitos à tábuas de salvação: se o que Jorge Amado escreve é real, eu quero é o gosto do mar, como um pescador que leva flores para Iemanjá com o nome do seu amor, eu quero “em cada/ agrado, meu sonho/ sagrado”.

Ah, mas que contradição! Depois de nos lançar todo seu desespero o poeta quer fugir para o éden! Mas o poema “Infindo” vem para dissolver esse lugar especial que parece existir e se desvanecer tão rápido: “Vão-se pétalas/ e relicários/ e o que temos de sagrado/ se esgarça.” Sim, eis o espelho quebrado que ele vos oferece! Sou “Anômalo”, indica o poema com mesmo nome, “Não quero chão./ Quero nuvens, lua ou a queda.”

“A balança/ não pesa/ para o sol/ da virtude:// o escuro é frágil/ e desleal à vida/ se os sinos não/ dobram para os lírios/ do campo.” Precisa dizer mais do que diz o poema “Desrazão”?

Liberto do cativeiro do leitor que espera salvação, Aurora de Cedro é um livro insuportável, porque o mundo é insuportável.


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 11/6/2019

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