Quincas Borba: um dia de cão (Fuvest) | Renato Alessandro dos Santos | Digestivo Cultural

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Terça-feira, 16/6/2020
Quincas Borba: um dia de cão (Fuvest)
Renato Alessandro dos Santos
+ de 3600 Acessos

Quincas Borba é um romance estranho. A começar pelo título: que história é essa de Joaquim Borba dos Santos, Quincas 1, bater as botas logo ao início da trama e, de repente, um enfermeiro, Rubião, ex-professor e néscio, subir ao palco, assumindo o protagonismo, amparado por Sofia e seu LEGO, o Palha, oportunista até o roer dos ossos? Ou seria o cão, Quincas 2, o verdadeiro merecedor da homenagem de Joaquim Maria Machado de Assis, o Mestre dos Magos do Cosme Velho, que sem minar a importância do rafeiro alça-o à condição de razão social – se é que algo assim é possível – quando era só o nome fantasia da empresa? Na última página, aquele narrador onisciente impecável – voltaremos a ele – pergunta o que a gente acha disso, mas não dá uma resposta capaz de sossegar o espírito confuso dos leitores, e ficamos sem saber se é o cão ou se é o homem que, através do espelho, recebe tal honraria do brujo. O que vocês acham, Ursa Maior e Urso do Cabelo Duro?


Eu, se me perguntasse, diria, “Os dois, oras”, mas é um chute apenas; um chute que, se vai na direção do gol e contando com a boa vontade do arqueiro, pode dar certo e virar golo. Até Rubião imagina que o humanitas vai lá dentro do animal, ocupando a alma do bicho. Ao vencedor, as batatas fritas! Mas deixemos essa questão onde está, isto é, no lugar onde as perguntas sem respostas repousam, rutilando que nem as estrelas que, de lá da Via Láctea, nestes tempos de pandemia, fazem lives apenas aos apaixonados ― como grifou Bilac. Questões sem respostas? A quem atravessa outro romance de Machado, Dom Casmurro, ao final da peleja, a pergunta fica lá, na retina do leitor (Capitu: traiu ou não?), e, ao lado dela, decerto fica Quincas 1, pensando em batatinhas que se esparramam pelo chão, enquanto Quincas 2 gira, gira, sem nunca alcançar o próprio rabo, como sói acontecer. Vai entender. A gente sabe que a obra machadiana nunca circulou ao rés do chão, sempre volitando – sideritas que preferem o percurso inesperado ao GPS incapaz de oferecer qualquer transtorno. É Garrincha Pernas Tortas em campo e Machado dirigindo tudo, diretamente do estúdio; até Brás Cubas aparece, tocando a bola num único e decisivo lance. Um clássico.

Vamos ao derby.

Rubião ama Sofia, que ama Palha, que ama "publicar" a mulher: nos bailes, o marido gosta que outros mirem a esposa, desejando-a, mas sem que consigam que ela lhes dê a menor bola. Ao menos até que surge Carlos Maria, um Fitzwilliam Darcy meio deslocado aqui nos trópicos e que é mais apaixonado por si mesmo do que por qualquer outra pessoa. Sofia não tem a menor chance. Do adultério, que não se concretiza, o máximo que conseguem, juntos, é formar uma rima: Carlos Maria e Sofia, como tão bem ressalta o narrador. Não passa disso. Não porque ela não queira, ou ele, mas ambos são tão autossuficientes que, claro, se bastam. Carlos Maria é Narciso, enquanto Sofia, por dentro, não é grande coisa, para tristeza dela mesma. Mesmo assim, as figuras geométricas surgem, e estão menos para um triângulo e – mais – para um quadrado: Sofia, Palha, Carlos Maria e Rubião, eis o quarteto fantástico no sofá da sala especial, e nas mãos de Joaquim Maria agonizam.


Quincas Borba é um grande Machado, e o mérito recai sobre o narrador, que está à vontade, acompanhando tudo, de bermuda e Havaianas, de lá da salinha VIP, de onde mergulha até chegar aos fundilhos dos trapézios de todos os personagens que, aguardando, revelam o amor, a inveja, a vaidade, a cobiça, a paixão e a loucura que habitam a gira moringa deles. O narrador, por conta da correria de acontecimentos que se atropelam, nunca descuida da leitora e do leitor, chamando-os sempre para perto de si, onde rapidamente, aos seus pés, nos aconchegamos. É como se, em vez de ler, ouvíssemos uma história, enquanto o bruxo gago carioca, de cartola e tudo, vai tirando e atirando os coelhos à plateia, que se anima, aplaudindo.

Sem contar que Machado, quando quer ser engraçado...


"Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona, – um triste molambo de mulher, – chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Senão quando, indo a passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela.
– É minha, sim, meu senhor; é tudo o que eu possuía neste mundo.
– Dá-me então licença que acenda ali o meu charuto?"


Este é o capítulo XXXX de Quincas Borba, que, como outros capítulos de sua alma gêmea (o romance Memórias póstumas de Brás Cubas), não é moroso ou sem por quê. É que sempre há aquele carinhoso contato de cílios aos leitores. É um expediente que, com Machado, é sempre bem-vindo. Eis um ótimo romance do bruxo que, na lista da Fuvest por três anos, só vai fazer aumentar o número de leitores que, de um lado a outro, vão perseguir Rubião e Cia., mesmo que, ao final, fiquem sem saber se, no título, vai Joaquim Borba dos Santos ou o cão. Será que faz frio na Catalunha?

Nota do Autor
Renato Alessandro dos Santos, 48, é autor de Lado B: música, literatura e discos de vinil, de Todos os livros do mundo estão esperando quem os leia (volumes I e II), de O espaço que sobra, seu primeiro livro de poesia (todos publicados pela Engenho e arte), além de outras obras. A ilustração acima é de Rodrigo Caldas e foi feita especialmente para o volume 2 de Todos os livros do mundo estão esperando quem os leia.



Renato Alessandro dos Santos
Batatais, 16/6/2020

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