Quincas Borba: um dia de cão (Fuvest) | Renato Alessandro dos Santos | Digestivo Cultural

busca | avançada
54835 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Bailarinos de Brasília apresentam espetáculo gratuito em Planaltina e Sobradinho
>>> Evento: escritora paulistana Daniela Bonafé lança “Rosas de Chumbo” na 7ª FLIMA
>>> Evento: poeta mineira Thaís Campolina lança “estado febril” na Ria Livraria, dia 23/5
>>> Livro de André Moravec traz uma nova proposta para entender o átomo
>>> Lecadô vai celebrar o Dia Nacional da Coxinha com campanha solidária dia 18 de maio
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
Colunistas
Últimos Posts
>>> Drauzio em busca do tempo perdido
>>> David Soria Parra, co-criador do MCP
>>> Pondé mostra sua biblioteca
>>> Daniel Ades sobre o fim de uma era (2025)
>>> Vargas Llosa mostra sua biblioteca
>>> El País homenageia Vargas Llosa
>>> William Waack sobre Vargas Llosa
>>> O Agent Development Kit (ADK) do Google
>>> 'Não poderia ser mais estúpido' (Galloway, Scott)
>>> Scott Galloway sobre as tarifas (2025)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> A Trilogia de Máximo Górki
>>> E os blogs viraram mainstream...
>>> O caso Luis Suárez
>>> Vargas Llosa mostra sua biblioteca
>>> Instantes: a história do poema que não é de Borges
>>> El País homenageia Vargas Llosa
>>> God save the newspapers!
>>> Meu querido aeroporto #sqn
>>> Insensatez por Metheny
>>> Um gourmet apaixonado por Paris
Mais Recentes
>>> Pântano De Sangue de Pedro Bandeira pela Moderna (2009)
>>> Livro Quem Abre O Bocão? de Lulu Lima pela Leiturinha (2018)
>>> O Aprendiz. Matemática - Coleção Contador De Histórias de Egídio Trambaiolli Neto pela Ftd (2010)
>>> O Segundo Dia da Criação de Ilya Ehrenburg pela Bloch
>>> Os Construtores Do Império de João Camilo De Oliveira Torres pela Câmara (2021)
>>> Os Pilares da Terra - Volume II de Ken Follett pela Rocco (1992)
>>> Sonhando alto de Julian Edelman pela Pj Library (2016)
>>> Organismos Internacionais De Comércio de Félix Alfredo Larrañaga pela Aduaneiras
>>> Antologia Brasileira de Literatura de Afrânio Coutinho pela Livros Escolares (1967)
>>> A Velhinha Maluquete de Ana Maria Machado - Rogerio Borges pela Moderna (2008)
>>> De Volta Ao Mosteiro - O Monge E O Executivo Falam De Liderança E Trabalho Em Equipe de James C. Hunter pela Sextante (2014)
>>> Livro O Pirata Nhac de Jonny Duddle pela Brinque-book (2010)
>>> A República de Platão pela Edipro (2025)
>>> Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional de Alexandre de Moraes pela Atlas (2002)
>>> Laços de Familia de Clarice Lispector pela Rocco (1998)
>>> Historia do Plano Real de Luiz Antonio Mattos Filgueiras pela Boitempo Editorial (2000)
>>> Microfisica Do Poder de Michel Foucault pela Paz & Terra (2022)
>>> A defensoria pública e a atuação na defesa da mulher de Diversos Autores pela Cejur (2017)
>>> Seis Suspeitos de Vikas Swarup pela Companhia Das Letras (2009)
>>> Livro As Capivaras de Alfredo Soderguit pela Leiturinha (2021)
>>> Livro Dns and Bind Help for System Administrators de Paul Albitz, Cricket Liu pela O'reilly & Associates (1998)
>>> Livro O Caracol E A Baleia de Julia Donaldson; Axel Scheffler pela Brinque-book (2019)
>>> A Cidade Antiga de Fustel De Coulanges pela Edipro (2009)
>>> História de Quem Foge e de Quem Fica de Elena Ferrante pela Biblioteca Azul / Globo (2016)
>>> O Evangelho Segundo Espiritismo de Allan Kardec pela Boa Nova (2007)
COLUNAS

Terça-feira, 16/6/2020
Quincas Borba: um dia de cão (Fuvest)
Renato Alessandro dos Santos
+ de 4300 Acessos

Quincas Borba é um romance estranho. A começar pelo título: que história é essa de Joaquim Borba dos Santos, Quincas 1, bater as botas logo ao início da trama e, de repente, um enfermeiro, Rubião, ex-professor e néscio, subir ao palco, assumindo o protagonismo, amparado por Sofia e seu LEGO, o Palha, oportunista até o roer dos ossos? Ou seria o cão, Quincas 2, o verdadeiro merecedor da homenagem de Joaquim Maria Machado de Assis, o Mestre dos Magos do Cosme Velho, que sem minar a importância do rafeiro alça-o à condição de razão social – se é que algo assim é possível – quando era só o nome fantasia da empresa? Na última página, aquele narrador onisciente impecável – voltaremos a ele – pergunta o que a gente acha disso, mas não dá uma resposta capaz de sossegar o espírito confuso dos leitores, e ficamos sem saber se é o cão ou se é o homem que, através do espelho, recebe tal honraria do brujo. O que vocês acham, Ursa Maior e Urso do Cabelo Duro?


Eu, se me perguntasse, diria, “Os dois, oras”, mas é um chute apenas; um chute que, se vai na direção do gol e contando com a boa vontade do arqueiro, pode dar certo e virar golo. Até Rubião imagina que o humanitas vai lá dentro do animal, ocupando a alma do bicho. Ao vencedor, as batatas fritas! Mas deixemos essa questão onde está, isto é, no lugar onde as perguntas sem respostas repousam, rutilando que nem as estrelas que, de lá da Via Láctea, nestes tempos de pandemia, fazem lives apenas aos apaixonados ― como grifou Bilac. Questões sem respostas? A quem atravessa outro romance de Machado, Dom Casmurro, ao final da peleja, a pergunta fica lá, na retina do leitor (Capitu: traiu ou não?), e, ao lado dela, decerto fica Quincas 1, pensando em batatinhas que se esparramam pelo chão, enquanto Quincas 2 gira, gira, sem nunca alcançar o próprio rabo, como sói acontecer. Vai entender. A gente sabe que a obra machadiana nunca circulou ao rés do chão, sempre volitando – sideritas que preferem o percurso inesperado ao GPS incapaz de oferecer qualquer transtorno. É Garrincha Pernas Tortas em campo e Machado dirigindo tudo, diretamente do estúdio; até Brás Cubas aparece, tocando a bola num único e decisivo lance. Um clássico.

Vamos ao derby.

Rubião ama Sofia, que ama Palha, que ama "publicar" a mulher: nos bailes, o marido gosta que outros mirem a esposa, desejando-a, mas sem que consigam que ela lhes dê a menor bola. Ao menos até que surge Carlos Maria, um Fitzwilliam Darcy meio deslocado aqui nos trópicos e que é mais apaixonado por si mesmo do que por qualquer outra pessoa. Sofia não tem a menor chance. Do adultério, que não se concretiza, o máximo que conseguem, juntos, é formar uma rima: Carlos Maria e Sofia, como tão bem ressalta o narrador. Não passa disso. Não porque ela não queira, ou ele, mas ambos são tão autossuficientes que, claro, se bastam. Carlos Maria é Narciso, enquanto Sofia, por dentro, não é grande coisa, para tristeza dela mesma. Mesmo assim, as figuras geométricas surgem, e estão menos para um triângulo e – mais – para um quadrado: Sofia, Palha, Carlos Maria e Rubião, eis o quarteto fantástico no sofá da sala especial, e nas mãos de Joaquim Maria agonizam.


Quincas Borba é um grande Machado, e o mérito recai sobre o narrador, que está à vontade, acompanhando tudo, de bermuda e Havaianas, de lá da salinha VIP, de onde mergulha até chegar aos fundilhos dos trapézios de todos os personagens que, aguardando, revelam o amor, a inveja, a vaidade, a cobiça, a paixão e a loucura que habitam a gira moringa deles. O narrador, por conta da correria de acontecimentos que se atropelam, nunca descuida da leitora e do leitor, chamando-os sempre para perto de si, onde rapidamente, aos seus pés, nos aconchegamos. É como se, em vez de ler, ouvíssemos uma história, enquanto o bruxo gago carioca, de cartola e tudo, vai tirando e atirando os coelhos à plateia, que se anima, aplaudindo.

Sem contar que Machado, quando quer ser engraçado...


"Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona, – um triste molambo de mulher, – chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Senão quando, indo a passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela.
– É minha, sim, meu senhor; é tudo o que eu possuía neste mundo.
– Dá-me então licença que acenda ali o meu charuto?"


Este é o capítulo XXXX de Quincas Borba, que, como outros capítulos de sua alma gêmea (o romance Memórias póstumas de Brás Cubas), não é moroso ou sem por quê. É que sempre há aquele carinhoso contato de cílios aos leitores. É um expediente que, com Machado, é sempre bem-vindo. Eis um ótimo romance do bruxo que, na lista da Fuvest por três anos, só vai fazer aumentar o número de leitores que, de um lado a outro, vão perseguir Rubião e Cia., mesmo que, ao final, fiquem sem saber se, no título, vai Joaquim Borba dos Santos ou o cão. Será que faz frio na Catalunha?

Nota do Autor
Renato Alessandro dos Santos, 48, é autor de Lado B: música, literatura e discos de vinil, de Todos os livros do mundo estão esperando quem os leia (volumes I e II), de O espaço que sobra, seu primeiro livro de poesia (todos publicados pela Engenho e arte), além de outras obras. A ilustração acima é de Rodrigo Caldas e foi feita especialmente para o volume 2 de Todos os livros do mundo estão esperando quem os leia.



Renato Alessandro dos Santos
Batatais, 16/6/2020

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Desperte seu lado Henry Ford de Débora Carvalho


Mais Renato Alessandro dos Santos
Mais Acessadas de Renato Alessandro dos Santos em 2020
01. Meu malvado favorito - 22/9/2020
02. Quincas Borba: um dia de cão (Fuvest) - 16/6/2020
03. A redoma de vidro de Sylvia Plath - 20/10/2020
04. Contentamento descontente: Niketche e poligamia - 25/8/2020
05. Um grande romance para leitores de... poesia - 14/7/2020


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Mídia
Mizuho Tahara
Global
(2004)



Cozinha maravilhosa da ofelia - massas e molhos
Ofelia
Klick



Bruxos e Bruxas
James Patterson
Novo Conceito
(2013)



Sonhos de umas Férias de Verão
Gustavo Reiz
Rocco
(2008)



Dano Moral Nas Relações de Consumo: Doutrina e Jurisprudência
Nehemias Domingos de Melo
Saraiva
(2008)



Des. Caminhos
Adri Aleixo
Patuá
(2014)



Nas Fronteiras da Loucura
Divaldo Pereira Franco
Leal
(1982)



As Curvas do Tempo - Memórias
Oscar Niemeyer
Revan
(2000)



O Grito dos Torturados
Elias José
Nova Fronteira
(1986)



Análise do homem
Erich Fromm
Zahar
(1974)





busca | avançada
54835 visitas/dia
2,5 milhões/mês