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Terça-feira, 24/11/2020
Carol Sanches, poesia na ratoeira do mundo
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 3800 Acessos



O primeiro contato que tive com a poesia de Carol Sanches foi através do seu livro Não me espere para jantar, publicado pela editora Patuá, em 2019, e que resenhei aqui no Digestivocultural. Agora volto a encontrar a sua poesia através de seu novo livro, Devo admitir que me dá um certo prazer, publicado pela editora Urutau.

A linguagem e as imagens de sua poesia mantêm-se basicamente na mesma clave: perscrutar o cotidiano, as relações humanas, os acontecimentos (sejam domésticos ou do mundo social ou existencial) e, com argúcia, transformar essa matéria – ou material – numa forma através da qual os contornos que a cercam possibilitem ver e reconhecer a experiência interior do seu mundo.

Em seus quase 40 poemas novos, a poeta “passeia” os olhos pelas coisas do mundo, enfrenta-as com a resistência do olhar crítico de quem não as reconhece como normais e/ou assentadas numa “realidade” tranquila. Elas passam por seu crivo crítico o tempo todo, por vezes desafiando sua verdade com uma narrativa irreal, onde bichos como coelhos e jacarés passam a serem vistos pelo centro da cidade. A angústia diante da linguagem – a que pretende já tudo ter dito -, a incomoda, como no poema “Elipse”, em que a realidade “se estica/ encolhe” e o que sobra “você e eu”, são apenas abstrações – ou seja, a incomunicabilidade inerente aos homens.

Não estamos aqui no reino da “poesia feminina” (essa bobagem conceitual), mas a poeta protesta, por exemplo, contra as convenções que edificaram o cárcere privado do casamento – como paraíso ou inferno para as mulheres? - no poema de mesmo nome, onde, pressupõe-se, aquilo que seria bom, torna-se “a fartura dos fatos/ os poemas vencidos/ os boletos a pagar”. Não se trata, insisto aqui, em “poesia feminina”, mas numa averiguação crítica dos espaços sociais edificados que são confrontados com o humor, com a ironia e com a psicologia que desbrava a situação peculiar das ciladas postas diariamente ao ser humano – em geral - na sua relação com o mundo.

Ironia e sarcasmo, também, porque não!? Poemas como “despertar”, “A dúvida” e “A mudança” nos lançam diretamente nesses modos de operar a linguagem contra o campo da atividade e das ações pragmáticas da existência.

A poesia vai ganhando no âmbito da autonomia da linguagem nesse livro. As palavras começam a brincar, a saberem-se instrumentos de um jogo, por vezes lúdico, por vezes perverso, que rompe a desfaçatez de um mundo que se quer levado à sério. Desconstruir o espaço, o tempo, a forma como os objetos do mundo se alinham, passa a ser quase uma obrigação de sua poesia.

Não estamos diante de uma poética que apenas se atordoa frente ao mundo, pois também há muita ventilação dentro do livro. A poeta admite que lhe “dá um certo prazer” essa capacidade da linguagem em desconstruir o universo organizado do mundo em que habita. Não à toa o título do livro: Devo admitir que me dá um certo prazer. “A colheita”, título de um dos poemas, embora guarde um desconforto com as memórias guardadas, mesmo sendo jogadas fora, são ainda sementes, estas que frutificam na forma dos poemas que lemos ao longo do livro.

No livro há sempre um jogo de tensão entre aquilo que se apresenta como negativo, aquilo que pede um encolhimento, um silêncio e a possibilidade – “ainda que à sombra de tudo” - de alguma réstia de tranquilidade: um desejo por “bons sonhos”. É o que diz o poema “Esconderijo”. Essa tensão permanente serve ao jogo da linguagem poética e ao mesmo tempo produz uma reflexão sobre as inconstâncias da existência, sobre aquilo que se pretende edificar e sua possibilidade de desmoronamento.



Carol Sanches sabe criar imagens densas, geralmente finalizando um poema que parecia anunciar ao longo de seus versos alguma positividade – esta positividade, no entanto, num átimo, se desfaz e “como o corte/ sangra limpo/ sem vestígios”. Uma espécie de dor calada, como no poema “O meridiano” onde “falo baixo/ para contrapor/ meus gritos”.

Um dos poemas mais fortes do livro é “O fio”, intrigante reflexão sobre o existir e o finalizar da existência. Por seu tamanho, infelizmente, não o publicaremos aqui. Memória, corpos, a colcha de retalhos que é a vida, a natureza, os seres inferiores, tudo o que é ligado no tecer do presente e do passado, preservados numa seiva subterrânea, o fio. Apesar de que... “na morte/ todos nós seres/ enquanto vivos/ voltamos ao chão”.

A poesia de Carol Sanches tem crescido e a base desse crescimento é a tensão alimentada entre o existir e a linguagem. A poesia, essa ferramenta de resistência dos seres sensíveis, invoca as “dores do mundo”, mas também liquidifica esse mesmo mundo em sua pretensão de calar as forças vitais dos descontentes.

Para ir além:

Carol Sanches. Devo admitir que me dá um certo prazer. Editora urutau, 2020. Pedidos pela www.editoraurutal.com.br.

Ilustração: Fabricius Nery. A ratoeira do mundo. óleo/ tela.


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 24/11/2020

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