As lanternas da crítica | Bruno Garschagen | Digestivo Cultural

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Terça-feira, 2/4/2002
As lanternas da crítica
Bruno Garschagen
+ de 3800 Acessos
+ 1 Comentário(s)

A crítica cultural só deve dar satisfação à cultura; à arte. A crítica não se dirige ao escritor (para ficar na literatura) e nem deve servir a discussões com o autor da obra, de longe a pessoa menos indicada para avaliá-la. A análise é como uma lanterna a orientar os leitores na difícil tarefa de garimpar os melhores entre tantos títulos; a pontuar os acertos e deslizes que um livro invariavelmente contém.

O bom crítico, aliás, tem a capacidade de trazer ao conhecimento obras geralmente desconhecidas ou rejeitadas pelas academias, alçando-lhes à imortalidade. Foi o caso de Marcel Proust, T. S. Eliot e James Joyce, por exemplo, que se hoje são tidos como escritores geniais coloquem na conta do jornalista Edmund Wilson, um de meus ídolos no jornalismo - e que, por incrível que pareça, desconhecido entre grande parte dos formados nas faculdades de comunicação (mas isso é outra história).

Ao crítico também é necessário doses de coragem, ousadia e independência dos "grupinhos" para identificar publicamente os defeitos de uma obra, independente do autor. Claro que para boa parte dos artistas (escritor, ator, diretor) o bom crítico é o sujeito que nunca expõe as vísceras de um trabalho mal feito e quando o faz, recorre a subterfúgios para esconder sua real opinião. Não raro, evita o confronto sob o manto da "crítica construtiva", cheia de "louvaminhas", para não ofender ninguém, nem que para isso a arte seja ofendida, ou, pior, sacrificada em nome da boa convivência e dos presentinhos.

E ainda há aqueles seres (cujas espécies estão sendo identificadas pelos mais avançados laboratórios de higiene mental) que adoram se gabar de não terem lido ou visto uma obra e, ainda sim, terem gostado, numa estranha forma de análise antecipada que antecede a observação. Talvez seja um desses fenômenos agudos que corroem a capacidade de percepção e os fazem agradecer a existência de amigos "artistas",que fingem que produzem e, inevitavelmente, consumam um desastre.

Essa defesa da crítica é uma defesa de um tipo de literatura essencial a qualquer sociedade civilizada. Qualquer sociedade que se preze tem leitores sofisticados que precisam de críticos dispostos a tirar das sombras obras rejeitadas pelo público porque refinadas ou rechaçar artes consideradas boas porque populares.

O crítico não trabalha para ser endeusado (bem, alguns sim). É uma peça fundamental para a cultura por ser o observador informado e que escreve, nessa tumultuada relação crítico/leitor/artista. Porque é um erro achar que o papel do crítico é ensinar o ofício ou que deva concordar com o leitor. Existem concessões inadmissíveis a um profissional íntegro.

Seria uma impostura de minha parte defender os críticos e não a crítica, porque nem todos os profissionais desse inglório ofício se encaixam no perfil que qualquer leitor exigente deseja. Admiro vários - dos brasileiros, José Guilherme Merquior, Davi Arriguci Jr., José Lino Grünewald, Daniel Piza, Luis Antonio Girón, José Onofre; dos estrangeiros, H. L Mencken, E. Wilson, Northrop Frye, George Steiner, Charles Rosen, Robert Hughes. Outros, porém, tentam camuflar suas análises tediosas e comuns sob uma falsa erudição (e não os enumero para não dar-lhes uma importância desmerecida). E o que é a falsa erudição senão a vontade de mostrar algo a que se almeja possuir, mas a estrada é tão longa e a disposição tão miúda, que qualquer pulguinha é capaz de causar calafrios. E tem gente que gosta tanto dos calafrios (ops!) que se acostuma e estaciona num desses rotativos a R$ 2,00 a hora.

O que mais me impressiona, porém, é a capacidade que os críticos dos críticos têm em inventar formas para desqualificar o exercício da crítica. Numa inspirada seleção, o jornalista Daniel Piza enumerou algumas delas:
1) o crítico é um criador frustrado: Piza concorda que essa afirmação pode ser verdadeira em boa parte dos casos, mas não é sua (in)capacidade artística o fundamental para tornar bom um crítico. Vide Bernard Shaw, Marcel Proust, T.S. Eliot, escritores consagrados (nem sempre em suas épocas) e críticos profissionais. De minha parte, acho que a frase foi criada por um artista medíocre que na sua mediocridade enxerga mediocridade em tudo o que vê. Odeiam qualquer crítica. Até as elogiosas;
2) o crítico é um chato que procura defeitos: o bom crítico nunca se move pelo desejo incontrolável de diminuir a grandeza alheia. Deve ser o maior equívoco de artistas e de uma parcela considerável de leitores em relação ao trabalho do crítico, de resto, um profissional como qualquer outro. O crítico procura o defeito; muitas vezes o defeito busca o crítico. Não consigo achar uma explicação razoável do porquê da falta de qualidade de uma obra saltar aos olhos, tal conjuntivite;
3) o crítico deveria ser um artista: a suposição de que para avaliar uma obra o crítico deveria ser capaz de produzir tão bem ou melhor do que a que foi analisada é uma bobagem infantil e, estranhamente, a mais pensada pelo artista criticado - depois dos insultos, claro. Ter escrito um poema ou pintado um quadro faz-lhe bem, mas não são as decodificadoras de sua apreensão de outra obra. O bom crítico é uma parartista, escreve Piza, que trabalha em contraponto com a arte, aproximando-se e distanciando-se dela a fim de produzir outro corpo de idéias. Concordo quando ele diz que o bom crítico usa a obra de arte quase como um pretexto para falar de algo mais falando dela, indo além de sua decupagem ou aprovação.O resto é limonada sem açúcar (ou adoçante);
4) o crítico deveria ser um cientista: este equívoco parte do princípio de que a crítica deveria ser sistematizada. Por ter olhar parcial das coisas, e, logo, tratar-se de leitura pessoal, a crítica muitas vezes coincide com a filosofia e a memorialística e não pode produzir instrumentos técnicos confiáveis. Crítica é ofício que materializa impressões subjetivas. Não dá para dividir em células ou fazer um clone;
5) o crítico é um leitor/espectador informado: é uma idéia, segundo o jornalista, que propõe ao crítico o papel de intermediário entre autor e público, uma espécie de filantropo da estética, o que ele jamais pode ser numa cultura que se pretenda pluralista. É agir contra a cultura o artista esperar que o crítico lhe diga o que está bom e o que não está, assim como o leitor quer que o crítico concorde com ele sobre o que é bom ou não. "O essencial da arte é que ela se abre às interpretações, e a interpretação do crítico é apenas uma dentre as muitas possíveis, especialmente quando se trata de grandes obras", escreveu. Apesar de rejeitar a crítica, curiosamente, o leitor médio coloca o profissional num pedestal, ao acreditar que o que fulano escreveu é lei, mesmo que discorde e xingue a mãe do pobre. A absorção da cultura é feita de fragmentos que formam um todo, sendo a crítica uma das peças que compõem o mosaico.

Com essas mistificações e lugares-comuns, desprovidos de nexo de causalidade (é física, pô), a crítica segue, por um lado, alimentando gerações em deserto árido e servindo de alvo para ataques infantis e sem argumentos sólidos - na base do beicinho - de uma parcela de artistas e leitores que desconhecem completamente o seu valor numa sociedade eficiente em santificar valores equivocados e julgamentos autoritários.

Crítica é para suscitar dúvidas e estimular o intelecto. Se essa importância é incompreendida, o problema é clínico, não da crítica.

Du cinema
Tradução simultânea do SBT para o Oscar2002 foi soberba. Whoopi Goldberg: "Ooohhh!". Tradutora: "Aaahh!!!"

Retrato da inocência
O programa global "Gente Inocente", decididamente, nos faz ter certeza de que gente inocente só na "Turma da Mônica".

Máximas
A filosofia é uma amante insaciável.


Bruno Garschagen
Cachoeiro de Itapemirim, 2/4/2002

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
3/4/2002
11h05min
Muito bom artigo. Gostaria de relembrar aqui um grande crítico que ficou esquecido: Otto Maria Carpeaux. A leitura de seus "Ensaios Reunidos" (Ed. Topbooks) já me fez conhecer e ler vários autores ótimos! Outra coisa: dizer que o Edmund Wilson é desconhecido por grande parte dos formados em jornalismo é bondade a sua. Quase ninguém o conhece. Aliás, os atuais formandos de jornalismo não conhecem quase ninguém, além dos apresentadores de programas de entrevistas e de 2 ou 3 críticos paulistas. Nem pensar em estrangeiros. E digo isso por experiência própria, pois minha noiva se formou em jornalismo na PUC-MG, que é considerada uma das melhores do país para esse curso. Suas colegas só conheciam quem ia lá dar palestra, e olhe lá! Quanto ao crítico ter de ser um cientista, tal mentalidade já assentou (para usar uma palavra da moda!) nas universidades há tempos, por meio da disciplina de Semiótica nos cursos de jornalismo. É só dar uma olhada nos cursos de "pós" em crítica de arte. Eles quase só estudam semiótica e teorias pós-modernas de estética. Acabam nem conhecendo o trabalho de gente como Edmund Wilson e Mencken. Então saem por aí escrevendo textos tão insuportáveis que nenum leitor aguenta, mesmo porque nem entende aqueles conceitos acadêmicos todos. Esse pessoal é que forma a nova geração de críticos. Gente como o Daniel Piza e o Sérgio Augusto é exceção, vem de outros tempos. A esperança é a Internet, que dá espaço a gente que não passou pelo jornalismo das faculdades, além do fato de que, para crítica de arte, os jornais ainda aceitam gente sem diploma de jornalismo.
[Leia outros Comentários de Evandro Ferreira]
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