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Quinta-feira, 27/2/2003
Professor ou palhaço?
Adriana Baggio
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A canadense Naomi Klein alertou o mundo contra tirania das marcas em seu livro Sem logo, lançado no Brasil em 2002 pela Record. A autora desvenda para o público em geral as estratégias das grandes marcas para estarem cada vez mais próximas do seu público consumidor. Essas estratégias passam pela identificação do estilo de vida e das atitudes do grupo que se quer atingir, pela associação com eventos, experiências e outras marcas de sucesso, e pela apropriação e conseqüente padronização de manifestações culturais.

As estratégias mercadológicas, manifestadas nas campanhas publicitárias, representam fórmulas mais ou menos acessíveis para os profissionais da área, mas que podem passar desapercebidas para o consumidor leigo. Não que sejam procedimentos mágicos, ilusórios, hipnóticos. É, na realidade, uma forma de provocar uma atitude desejada, que está latente. Uma das muitas estratégias citadas no livro mostra como as marcas invadiram um espaço antes considerado inviolável, pelo menos para esse tipo de manifestação: as escolas e universidades.

A dominação corporativa, como a autora chama a ação das empresas para conquistar os consumidores dentro do campus, vai desde a implantação de lanchonetes fast food em escolas e universidades, com a garantia de exclusividade, até a interferência em projetos de pesquisas científicas. Naomi Klein cita vários casos de pesquisadores que não puderam divulgar os resultados de seus trabalhos por serem desfavoráveis às empresas que os patrocinaram. Ou seja, até que ponto as instituições educacionais, e as pesquisas realizadas sob seus auspícios, ainda podem ser consideradas isentas, dignas de credibilidade?

No Brasil, as estratégias de construção e manutenção de marcas passam pelas escolas somente através dos currículos dos cursos de marketing e publicidade, pelo menos por enquanto. As escolas e universidades talvez ainda não tenham sido invadidas por pura falta de necessidade. O Brasil é um mercado cujo potencial está longe de ter sido totalmente explorado. Ainda há muitos segmentos a serem expandidos, milhões de consumidores a serem conquistados. No entanto, alguns alertas colocados pela autora em Sem logo se aplicam muito bem à situação da educação no país.

A educação, em teoria, é um serviço básico a que toda população tem direito. Com o sucateamento da educação pública, as escolas particulares passam a cumprir uma função que deveria ser do governo ou, pelo menos, rigidamente controlado pelo governo. No entanto, como o próprio nome revela, as instituições particulares de ensino não têm caráter filantrópico: elas trabalham visando o lucro. E o lucro, vem de onde? Dos alunos.

Enquanto modalidade de negócio, as escolas vêem o aluno como um cliente, que deve ser conquistado e mantido. Para isso, as escolas utilizam estratégias familiares a outros tipos de negócio. Oferecem outros serviços além do básico: aulas extra-curriculares, área de lazer, praça de alimentação, academia de ginástica. E aí as escolas começam a se parecer muito mais com shoppings do que com instituições educacionais. Se fosse só esse o problema, talvez não houvesse motivo para maiores preocupações. No entanto, o ambiente no estilo de um centro comercial faz com que as relações dentro das escolas também passem a assumir um caráter comercial. Uma passagem do livro de Naomi Klein explicita este processo:

"Muitos professores falam da gradual intromissão da mentalidade comercial, argumentando que quanto mais os campi agem e se parecem com centros comerciais, mais os estudantes se comportam como consumidores. Eles contam histórias de estudantes preenchendo seus formulários de avaliação dos cursos com todo o presunçoso farisaísmo de um turista respondendo a um formulário de satisfação do cliente em uma grande cadeia de hotéis. 'Sobretudo desgosta-me a atitude serena expertise de consumidor que permeia as respostas. Perturbo-me com a serena crença de que minha função - e mais importante, a de Freud, a de Shakespeare ou a de Blake - é divertir, entreter e despertar o interesse!', escreve o professor da universidade da Virginia Mark Edmundson na revista Harper's."

Para manter seus clientes, algumas instituições particulares passam a cobrar de seus professores uma atitude de show man, ao invés de se preocuparem com a qualidade do que é passado em sala de aula. É lógico que, nestes tempos modernos, o papel do professor é muito mais de mediador do que de dono da verdade. Os alunos, muitas vezes, têm mais acesso à informação que o professor, o que traz uma mudança na relação mestre-aprendiz. Mas uma maior participação no processo ensino-aprendizagem por parte do aluno não significa o descarte do professor.

A incoerência é que, quanto mais os alunos tornam-se aptos a assumir um papel ativo em sua relação com o professor, menos se observa uma vontade, ou mesmo uma capacidade, de estabelecer relações por si próprio, de refletir, de pensar. Acostumados a consumir tudo pronto - do sanduíche a informação -, os alunos também esperam que a aula seja uma experiência que não exija participação ativa. Essa participação só acontece mediante dois tipos de estímulo: punição ou recompensa.

Nesse processo, o professor da escola particular precisa se virar entre a cobrança por cumprir o seu papel de educador e formador, e a pressão da instituição para que os alunos não sejam penalizados caso não realizem sua parte no trabalho - afinal, aluno penalizado é aluno insatisfeito, e aluno insatisfeito é cliente em perigo.

Na universidade pública professores e alunos conseguem ter um desempenho melhor, justamente pela ausência do aspecto mercantilista. Sem ser pressionado por uma direção orientada para a manutenção dos clientes, o professor consegue assumir a autoridade dentro da sala de aula sem ter que recorrer a estratégias mais adequadas à educação de crianças, ou a diversão de uma platéia de circo. Os alunos, por sua vez, são responsáveis por seu destino na universidade. Como a universidade pública é um privilégio, uma conquista, a tendência é que os alunos valorizem sua participação nas aulas e procurem cumprir com as tarefas solicitadas. Assim, os alunos aceitam uma nova forma de ensino, e passam a exercitar o pensamento, a crítica, a reflexão e a construção do seu próprio conhecimento - sem esperar que esse conhecimento já chegue mastigado.

A idéia não é fazer uma apologia ao ensino das universidades públicas, ou ignorar que os professores dessas escolas também se aproveitam da estabilidade para perpetuar a mediocridade. O ponto a ser questionado é que algumas relações devem ser preservadas do aspecto comercial ou de espetáculo, e uma delas é a que envolve professor-aluno. O professor deve ter conhecimento e didática para transmitir o conhecimento e participar da formação dos alunos, mas não deve ser cobrado dele o papel de motivador ou animador de auditório.


Adriana Baggio
Curitiba, 27/2/2003

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