COLUNAS
Segunda-feira,
3/3/2003
Jogos de escritores
Nemo Nox
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A literatura tem um inegável caráter lúdico, e não é de estranhar que alguns escritores tenham, em suas horas vagas, inventado jogos.
O espirituoso Mark Twain (1835-1910), autor de As Aventuras de Tom Sawyer, era famoso não só por seus escritos mas também por uma incrível falta de memória. Nada mais adequado, então, que criasse um jogo para exercitar e testar a memória dos outros. Com o longo e pomposo título de Jogo de Mark Twain de Desenvolvimento da Memória para Aprender e Reter Todos os Tipos de Fatos e Datas, era um antepassado do Trivial Persuit. Jogado num tabuleiro com orifícios e pinos coloridos, tinha por objetivo ver qual jogador fazia mais pontos acertando datas de eventos históricos como batalhas, invenções, coroações, etc. O brinquedo foi comercializado em 1891 e foi um grande fracasso de vendas.
Lewis Carroll (1832-1898), autor de Alice no País das Maravilhas, era um aficcionado de todos os tipos de jogos, do xadrez ao bilhar. Mas sua verdadeira paixão eram os trocadilhos, jogos de palavras e enigmas de lógica, como pode ser observado em seus livros. Numa tentativa de fazer da Lógica um assunto agradável e fácil de aprender, criou em 1886, em forma de livro, o Jogo da Lógica, uma coleção de proposições, silogismos, sofismas, etc, usando seu característico humor inclinado para o absurdo.
Robert Louis Stevenson (1850-1894), autor de A Ilha do Tesouro, interessava-se muito por jogos de guerra e criou a sua própria versão. Em sua casa na Suiça, reservou uma grande área para servir de cenário, por onde distribuía batalhões de soldadinhos de chumbo. Havia um baralho, onde cada carta continha um segredo militar, dando um toque de acaso às estratégias cuidadosamente planejadas. E os combates eram feitos com pistolas carregadas com letras M de uma impressora. O jogo nunca foi batizado, mas Stevenson escreveu um artigo sobre ele, publicado em 1898.
H.G. Wells (1866-1946), autor de O Homem Invisível, leu o artigo de Stevenson e se entusiasmou. Em 1913, publicou um livro sobre a sua própria versão do jogo, agora simplificada e com um nome: Pequenas Guerras. Apesar das regras simples, os campos de batalha eram complexos, com miniaturas de casas, igrejas e castelos feitas em cartolina. Wells jogava num espaço de quase seis metros, com duzentos soldadinhos e seis canhões que disparavam cilindros de madeira a distâncias incríveis. Passava horas dedicado às suas pequenas guerras, e nem mesmo a visita de um amigo interrompia o jogo.
Quem pensava que escritores de hoje como Tom Clancy (Rainbow Six) e Paulo Coelho (Pilgrim) eram inovadores ao transformar seus livros em jogos, estava enganado. Eles têm predecessores famosos.
Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Nemo Nox é editor do blog Por um Punhado de Pixels e do site Burburinho, onde este texto foi originalmente publicado.
Nemo Nox
Washington,
3/3/2003
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