Release: subsídio ou substituto? | Ana Maria Bahiana

busca | avançada
53025 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Responsabilidade dos planos de saúde na cobertura de tratamentos para autistas
>>> Eunucos [Irmãs Brasil] + Repertório N.3 [Wallace Ferreira e Davi Pontes]
>>> Projeto com concertos gratuitos promove encontro entre obras de Haydn, Mozart e Brahms em outubro
>>> Trajetórias Cruzadas reúne fotografias de Claudia Andujar, Lux Vidal e Maureen Bisilliat
>>> Associação Paulista de Medicina leva orquestra a hospitais de São Paulo
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
Colunistas
Últimos Posts
>>> Mesa do Meio sobre o Primeiro Turno de 2024
>>> MBL sobre Pablo Marçal
>>> Stuhlberger no NomadCast
>>> Marcos Lisboa no Market Makers (2024)
>>> Sergey Brin, do Google, sobre A.I.
>>> Waack sobre a cadeirada
>>> Sultans of Swing por Luiz Caldas
>>> Musk, Moraes e Marçal
>>> Bernstein tocando (e regendo) o 17º de Mozart
>>> Andrej Karpathy no No Priors
Últimos Posts
>>> O jardim da maldade
>>> Cortando despesas
>>> O mais longo dos dias, 80 anos do Dia D
>>> Paes Loureiro, poesia é quando a linguagem sonha
>>> O Cachorro e a maleta
>>> A ESTAGIÁRIA
>>> A insanidade tem regras
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Entrevista com Douglas Diegues
>>> A trilogia da vingança de Park Chan-Wook
>>> Cornos e burros
>>> A Estratégia de Barack Obama, por Libert e Faulk
>>> Dia do Livro!
>>> Ensaio.Hamlet e a arte de se desconstruir quimeras
>>> La desvalorización del hecho
>>> Inspire me
>>> Competição
Mais Recentes
>>> Respostas Aquelas Perguntas de JOnh Mcdowwell pela Candeia (1985)
>>> Vou deixar minha luz brilhar de Aline Caetano Begossi / Diana Leite Chacon pela Arvore da vida (2014)
>>> Til - Texto Integral de Jose De Alencar pela Fisicalbook (2012)
>>> Dicionário Júnior Da Língua Portuguesa de Geraldo Mattos pela Ftd (didaticos) (2005)
>>> Watchman - A Vida Exênctrica E Os Crimes Do Serial Hacker Kevin Poulsen de Jonathan Littman pela Record (1998)
>>> Assassinos: Deixados Para Trás - 6 de Tim Lahaye pela United Press (2001)
>>> Monteiro Lobato Vivo de monteiro Lobato pela Mpm (1986)
>>> Sangue De Tinta de Cornelia Funke pela Companhia das Letras (2010)
>>> Marca: Deixados Para Trás - 8 de Lahaye pela Fisicalbook (2005)
>>> El Gran Capy de Patrícia Iunovich pela Geração Editorial (2017)
>>> Deixados Para Trás. Armagedom - Volume 11 de Vários Autores pela United Press (2003)
>>> Praticando o Enem 2- 600 questões de Ademar Celedonio pela SAS editora (2024)
>>> Desvarios No Brooklyn de Paul Auster pela Companhia das Letras (2005)
>>> A Droga Do Amor de Pedro Bandeira pela Moderna (paradidaticos) (2009)
>>> O Discípulo Da Madrugada de Fábio de Melo pela Planeta (2014)
>>> Primeiro Catecismo Da Doutrina Crista - Volume 1 de Vários Autores pela Vozes Didático (1991)
>>> Ficções Do Interlúdio de Fernando Pessoa pela Companhia das Letras (1998)
>>> Oxford Bookworms 5. Brat Farrar de Joséphine Tey pela Oxford University Press España, S.a. (2009)
>>> Alexandre e Outros Heróis de Graciliano Ramos pela Record (2016)
>>> São Bernardo de Graciliano Ramos pela Record (2009)
>>> Manual Completo De Coaching de André Percia pela Ser Mais (2011)
>>> A Breve Segunda Vida De Bree Tanner de Stephenie Meyer pela Intrínseca (2010)
>>> Ombro Frio de Lynda La Plante pela Record (1999)
>>> Mano Descobre A Arte de Gilberto Dimenstein pela Ática (2010)
>>> Redação Cientifica de Joaƒo Bosco Medeiros pela Atlas (1991)
ENSAIOS

Segunda-feira, 26/7/2004
Release: subsídio ou substituto?
Ana Maria Bahiana
+ de 6600 Acessos
+ 6 Comentário(s)

Uma pessoa muito próxima de mim escreveu, recentemente, o press release de uma (muito boa, aliás) banda de rock com a qual já havia trabalhado num passado não muito distante.

Qual não foi a nossa surpresa quando, semanas depois, demos de cara com o press release - não todo, é claro, mas quase todo - nas páginas de um grande veículo da imprensa, com a assinatura de outra pessoa, ocupando um lugar que, deduzimos, deveria ser o da crítica do CD. O que mais chamava a atenção não era tanto o fato do release ter sido usado - afinal, isto apenas indicava que a informação nele contida havia sido útil. A questão era que praticamente todas as conclusões, deduções, comparações, raciocínios, ou seja todo o balizamento estético proposto pelo meu amigo no release como ponto de vista dele ao trabalho da banda tivesse sido alegremente encampado pelo “crítico”, que nele apôs sua assinatura.

Isto, em idos tempos, era o que se chamaria, em bom português, um escândalo.

O que seria, agora?

O release, em si, não é nem bom nem mau. Deveria ser um simples instrumento de comunicação, mais um dos materiais disponíveis para a alimentação do bom fluxo de idéias e pautas numa redação, especialmente nos setores de arte e entretenimento. Mas, de todas as ferramentas disponíveis a quem cobre cultura ele é, sem dúvida alguma, o mais perigoso, por ser o mais tentador. Atire a primeira pedra quem, a quinze minutos do fechamento, não viu uma “pauta recomendada” aterrissar sobre sua mesa, tendo como único subsídio o tal do press release - e dele não tomou emprestado o máximo possível para não dar vexame dentro das exíguas circunstâncias. Eu certamente é que não aprumo a atiradeira.

Não é disso que estou falando. Estou falando da prática, cada vez mais comum, de tornar o release não o subsídio mas o substituto da matéria - especialmente da matéria opinativa, da matéria que deveria conter algum tipo de reflexão sobre o material proposto.

É claro que sabemos a causa deste triste fenômeno - as redações magérrimas, a sobrecarga, os prazos cada vez mais apertados. Num quadro desses, a bem da verdade, análise da produção cultural, raciocínio sobre tendências e propostas, a crítica, enfim, não seria honestamente possível. E, portanto, deveria ser abolida. Mas como não é, e a natureza odeia um vácuo, em seu lugar temos o release-como-comentário.

Deixo a vocês as conclusões sobre o papel desta prática no aviltamento da nossa profissão e no insulto à inteligência de nossos leitores.

O outro lado da moeda, é claro, é o jornalsta que faz releases. Conheci uma vez um rapaz muito animado e passional que se gabava de “jamais ter escrito um release” e “jamais ter trabalhado ou querer vir a trabalhar” com alguém que o tivesse feito. Minha conclusão imediata foi de que ele deveria ser ou muito solitário ou muito medíocre.

O jornalista de cultura bem formado, bem informado, bem relacionado e apaixonado pelo que cobre é um recurso inestimável para a própria produção cultural. Seu envolvimento no endosso deste ou daquele produto é, neste contexto, inevitável. O que ele não pode, não deve fazer é manter as duas frentes abertas - se ele fez o release de um livro, disco, peça, se ele está envolvido criativamente com o assunto que cobre, ele tem como obrigação moral e profissional se eximir da cobertura do que endossou ou ajudou a criar. É um modo simples e elegante de manter vivo um diálogo no qual todos só tem a ganhar.

Parece claro, não é? E no entanto... Houve uma vez uma revista de música em que os nomes de quem escrevia as matérias eram praticamente os mesmos dos que apareciam nas matérias como temas de pautas. Uma ciranda parecida pode ser notada, a médio prazo, na maioria dos suplementos literários (e o do New York Times é o mais notório deles): faça uma lista dos autores de livros e outra dos autores dos artigos. Garanto que em pouco tempo voce não vai conseguir distinguir uma da outra...

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pela autora. Originalmente publicado no portal Comunique-se, o qual autorizou a repodução no Digestivo Cultural.


Ana Maria Bahiana
Los Angeles, 26/7/2004
Mais Ana Maria Bahiana
Mais Acessados de Ana Maria Bahiana
01. A Rolling Stone brasileira - 27/6/2005
02. O dia em que a música rachou - 28/7/2003
03. Release: subsídio ou substituto? - 26/7/2004
04. Jornalismo cultural: quem paga? - 17/11/2003
05. Os anos 90 e o mini-gênio - 19/4/2004


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
26/7/2004
13h44min
Ana Maria abordou esse tema com realismo. Muitos se envergonham de tais práticas mas, como ela disse, não há ninguém que não o tenha feito. Esta prática é, a cada dia, mais comum.
[Leia outros Comentários de Juliano Maesano]
27/7/2004
08h07min
Trabalhei como assessora de imprensa em dois orgãos públicos na cidade de Macapá, no Amapá. E todos os releases produzidos por mim e enviados para os orgãos de imprensa passavam por esse caminho... Eram publicados nos jornais locais com nomes de outros repórteres. Já aconteceu de um mesmo release ser copiado por dois jornais com dois nomes diferentes... Lamentável!
[Leia outros Comentários de Carolinne Assis]
27/7/2004
12h29min
Sempre achei que o ofício de escrever releases - e mais abrangentemente, das próprias assessorias de imprensa - pendesse mais para o marketing do que para o jornalismo. Num mundo ideal (e portanto utópico), caberia ao jornalista a função investigativa, a crítica imparcial, o expressar de opiniões isentas de influências. O release é apenas uma ferramenta de marketing, e deveria ser visto tão somente como um panfleto, uma peça de informação que visa promover este ou aquele produto, mesmo que irresistivelmente bem redigido, embalado e pronto para o consumo. Mas isso, só mesmo em um mundo ideal...
[Leia outros Comentários de Cozete Gelli]
27/7/2004
12h32min
Infelizmente vivemos um tempo aonde a banalidade intelectual e cultural massificada impera, claro salvo raras exceções. Como leitor sinto-me ofendido, porém acho necessário sairmos desta imobilidade e passividade.
[Leia outros Comentários de Rodrigo Pereira]
28/7/2004
07h41min
Como produtora cultural (artista plástica e escritora) agradeço à Ana pelas informações. Agora eu sei porque é que a divulgação do meu trabalho parece tão medíocre e tão aquém do que ele poderia render como pauta. É possível que alguns jornalistas tenham mesmo pouco tempo para refletir ou pesquisar sobre o material que recebem. Mas vejo também muita preguiça de trabalhar. Como artista, o ideal seria que a exposição recebesse uma visita. Como escritora, que o jornalista ao menos passasse os olhos pelo livro que recebe como cortesia.
[Leia outros Comentários de paula mastroberti]
13/11/2007
21h11min
Muito bom o texto, Ana. Colocaste em palavras muito do que a gente vê e pensa, na lida diária. Nesse contexto, de enxugamento de redações, fica até difícil de culpar o repórter (algumas vezes, um mero revisor e "enxertador" de releases mesmo). Fica até difícil, pior, de culpá-lo por erros de apuração ou por má-vontade, porque chega uma hora que o "dar o sangue" acaba sendo o mesmo que fazer "papel de palhaço" perante as condições salariais, de trabalho e que tais, principalmente de veículos de comunicação do interior. É um mercado "nojentinho", com o perdão da palavra. Um mercado que precisa produzir rápido, sem muito nexo, para preencher um número indiscutível de caracteres, sem saber se o público vai ler aquilo no dia seguinte. Uma coisa sem muita lógica mesmo, já que o texto deveria ser o espaço da criação, da reflexão, da análise, do conhecimento. Virou produto envasado, no qual às vezes basta ajeitar um pouco o rótulo e mandar para as prateleiras. Bom texto, boa reflexão. Abraços
[Leia outros Comentários de Rogério Kreidlow]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Direito das Famílias
Cristiano Chaves de Farias- Nelson Rosenvald
Lumen Juris
(2008)



Almanaque Correio do Povo 1972
Sem Autor
Não Consta
(1972)



Livro As Invenções De Navi
Fábio Monteiro.
Do Brasil
(2023)



O Cavalinho e o Velho Camelo
A. P. Fournier
Atica
(1988)



Transforme seu Emprego no Melhor Trabalho do Mundo
Lilit Marcus
Gente
(2012)



Pessoas Na Organização, As
Maria Tereza Leme Fleury
Gente
(2002)



Serviço de Informação Em Bibliotecas
D. J. Foskett
Polígono
(1969)



Livro Religião O Filho Rejeitado A Busca de um Homem Por Esperança e um Lar
R. B. Mitchell
Vida



Celulas-tronco - Esses Milagres Merecem Fé
Martha San Juan França
Terceiro Nome
(2006)



Livro Auto Ajuda O Sucesso é Ser Feliz
Roberto Shinyashiki
Gente
(1997)





busca | avançada
53025 visitas/dia
1,7 milhão/mês