Lula e a imprensa | Mario Sergio Conti

busca | avançada
95668 visitas/dia
2,1 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Nouveau Monde
>>> Agosto começa com música boa e grandes atrações no Bar Brahma Granja Viana
>>> “Carvão”, novo espetáculo da Cia. Sansacroma, chega a Diadema
>>> 1º GatoFest traz para o Brasil o inédito ‘CatVideoFest’
>>> Movimento TUDO QUE AQUECE faz evento para arrecadar agasalhos no RJ
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Two roads diverged in a yellow wood
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
Colunistas
Últimos Posts
>>> As Sete Vidas de Ozzy Osbourne
>>> 100 anos de Flannery O'Connor
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> A Mentira, de Nelson Rodrigues
>>> Uma norma para acabar com os quadrinhos nacionais?
>>> Em Londres, à caça do mito elementar
>>> Cenas de um casamento
>>> A vida subterrânea que mora em frente
>>> A morte da revista Set
>>> O Original de Laura
>>> Livrarias, bibliotecas e outros paraísos
>>> O Brasil não é a Suécia
>>> O tamanho do balde
Mais Recentes
>>> Ensinar A Viver: Manifesto Para Mudar A Educacao de Edgar Morin pela Sulina (2015)
>>> Como Ensinar Seu Bebê a Ler A Suave Revolução de Glenn Doman pela Artes e Ofícios (1990)
>>> História do Turismo de Massa de Marc Boyer pela Edusc (2003)
>>> Tai Chi Chuan A Alquimia do Movimento de Wu Jyh Cerng pela Mauad (1998)
>>> Um Milagre, Um Universo O Acerto De Contas Com Os Torturadores de Lawrence Weschler pela Companhia Das Letras (1990)
>>> Livro Temas Da Conscienciologia Waldo Vieira 1997 de Waldo Vieira pela Fisicalbook (1997)
>>> Seducidos Por El Accidente de Paul Virilio; David Barro, Stéphanie Jennings; Annick Prévot (tr.), David Barro; Agar Ledo pela Fundacion Luis Seoane (2005)
>>> As Cinco Pessoas Que Você Encontra no Céu de Mitch Albom pela Sextante (2004)
>>> A Boa Sorte: Criando as Condições de Sucesso na Vida e nos Negócios de Fernando Trías de Bes pela Sextante (2004)
>>> As Aventuras de Tintim - os Charutos do Faraó ( Capa Dura ) de Hergé pela Flamboyant
>>> Tintim no país do Ouro Negro - 22 de Herge pela Record (1970)
>>> As aventuras de Tintim - as joias da castafiore - 20 de Herge pela Record (1972)
>>> Oh La La! Level 1 - methode de français de C. Favret - M. Bourdeau - I. Gallego pela CLE International (2003)
>>> O Tempo É Uma Ilusão de Chris Griscom pela Siciliano (1989)
>>> Fire And Blood (hardcover) de George R.R. Martin pela Harper Voyager (2018)
>>> Caim (lacrado na embalagem plastica) de José Saramago pela Companhia Das Letras
>>> Ensaio sobre a cegueira (60º reimpressão) de Jose Saramago pela Companhia Das Letras (2011)
>>> Ensaio sobre a cegueira (49º reimpressão) de Jose Saramago pela Companhia Das Letras (2008)
>>> A Cancao De Aquiles de Madeline Miller pela Planeta Minotauro (2021)
>>> As Cronicas Marcianas (2º edição) de Ray Bradbury pela Biblioteca Azul (2013)
>>> Desenhos Ocultos de Jason Rekulak pela Fisicalbook (2025)
>>> As Aventuras De Mike de _Gabriel Dearo / Manu Digilio pela Outro Planeta (2019)
>>> China Painting - For fun , fame or fortune de Ruth Little pela Ruth Little (1997)
>>> English Silver de Oliver Chadwick pela Merlin Press (1975)
>>> Fenomenologia da Educação de Gustavo F. G. Cirigliano pela Vozes (1972)
ENSAIOS

Segunda-feira, 27/3/2006
Lula e a imprensa
Mario Sergio Conti
+ de 10300 Acessos

Quando o governo vai mal, e cai a sua popularidade, há sempre alguém à esquerda do príncipe que surge com a tese de que a culpa é da imprensa. Argumenta-se que a imprensa, na sua má vontade, reflete os interesses contrariados pelo governo. A conclusão lógica é o governo criar ou reforçar mecanismos próprios de divulgação dos seus feitos, deixando os jornalistas em segundo plano. O governo deve fazer mais propaganda. Como as peças publicitárias governamentais são veiculadas em jornais, no rádio, na televisão e em revistas, o conselheiro do príncipe que começou atacando a imprensa na prática termina por beneficiá-la da maneira mais direta possível: carreando verbas públicas para empresas privadas de comunicação.

À direita do príncipe, surge então um argumento oposto. O governo vai mal porque se comunica mal. É necessário mudar a "estratégia" de comunicação. A patranha consiste em aproximar o príncipe de determinados jornalistas e órgãos de imprensa (os de maior prestígio e audiência), em descarregar verbas publicitárias em veículos selecionados (os mais vulneráveis economicamente, e portanto dóceis ao governo) e em incrementar a presença institucional do governante – por meio de entrevistas coletivas. Também nessa alternativa a imprensa sai ganhando. Uns órgãos terão mais verbas. Outros, mais príncipe.

Desde que a crise política estourou, o governo Lula fez atabalhoadamente todos os movimentos possíveis em matéria de manipulação de verbas publicitárias e de aproximação do príncipe da imprensa. Nada deu certo.

Nem por isso o governo Lula deixa de inovar. A Secretaria de Comunicação Social tem um funcionário que se dedica a esmiuçar diariamente o que sai na imprensa. O funcionário é o jornalista Bernardo Kucinski, professor licenciado da Universidade de São Paulo. Todas as manhãs ele entrega um relatório sobre o assunto ao presidente, que o repassa a uma meia dúzia de ministros e assessores próximos.

Pois Kucinski concedeu uma entrevista à Agência Repórter Social na qual reconhece o seguinte: "Fundamentalmente, o nosso governo não foi capaz de mudar o País como prometeu". E complementa: "Mudar para sentir que estamos caminhando para alguma coisa, você não muda de um dia para outro, mas você cria o sentimento da mudança, e esse sentimento não foi criado". Eis, enfim, alguém no Planalto que flagra o problema central do governo Lula: ele não cumpriu a promessa de mudar o País.

Kucinski não analisa o problema que ele mesmo enuncia lisamente. Em vez disso, assume o papel de conselheiro de comunicações do príncipe. Como de praxe, ataca repórteres, colunistas, diretores de órgãos de imprensa (que insistem em não reconhecer que "o governo Lula tem muita coisa boa"). Também nos conformes é a defesa da "comunicação institucional" (como se a enxurrada de entrevistas coletivas de Lula nos últimos tempos tivesse surtido efeito). Bernardo Kucinski faz afirmações que, pelo tom peremptório ("os jornalistas não aceitam um líder político que não tenha diploma", "os jornalistas não têm respeito com a pessoa do Lula"), podem passar por verdades absolutas. Na verdade, são apenas impressões.

Minhas impressões são outras. Nas redações que freqüentei ao longo das últimas três décadas, o que vi foi simpatia por Lula. Por três motivos. Primeiro, ele simbolizava aquilo que Kucinski chama de "sentimento de mudança". Em segundo lugar, ao contrário do político-padrão, no qual o cálculo e a defesa do interesse próprio são disfarçados com marquetices ou lengalenga patriótica, Lula era franco e objetivo, dizia o que pensava. Por fim, o homem é brasileiramente afável: faz piada, trata o jornalista com cordialidade.

O que Lula nunca teve foi a matreirice das velhas raposas, aqueles políticos que passam pistas de matérias e, em determinado dia, telefonam para contar uma notícia exclusiva. Em compensação, quando confiava num jornalista, Lula lhe dava acesso quase irrestrito.

Um exemplo. Passei dois anos, no final da década de 90, tentando entrevistar Lula para um livro que preparava sobre as relações de Fernando Collor com a imprensa. Queria que ele contasse a campanha presidencial de 1989. Achei que seria fácil, já que, durante os sete anos que dirigi Veja, nunca tivemos um atrito. Ele se recusou, alegando que não queria rememorar fatos que lhe eram dolorosos: a questão da sua ex-mulher, que Chico Santa Rita, o marqueteiro de Collor, levou ao ar na propaganda eleitoral para acusá-lo de forçá-la a fazer um aborto. Três amigos tentaram convencê-lo a mudar de idéia e não conseguiram: o jornalista Ricardo Kotscho, o escritor Frei Betto e José Américo Dias, então seu assessor de imprensa.

Dois meses depois da publicação do livro, Notícias do Planalto, Lula me convidou para um jantar, em companhia de José Américo Dias, hoje vereador pelo PT em São Paulo. Disse que, nas partes em que tratava dele, o livro era correto. (Entre parênteses: pelos comentários que fez, Lula demonstrou que tinha lido o livro, o que põe por terra a lenda, impregnada de preconceito e má-fé, de que ele não sabe ler.) No fim do jantar, perguntou no que poderia ajudar-me. Pedi-lhe que me desse acesso e notícias.

Acesso ele sempre deu. Permitiu que, para fazer uma reportagem, eu o acompanhasse durante uma semana de viagem na campanha municipal de 2001. Nos aviões, Lula passava a maior parte do tempo lendo jornais – as páginas de política e esporte, de cabo a rabo, e nas outras uma olhada por cima. "Se tivesse tempo, gastaria umas três horas por dia lendo um monte de jornais", afirmou. Do que não gostava era da fofocaiada e de manipulação. Deu como exemplo a coluna Painel, da Folha de S.Paulo. "Para muitos petistas, o Painel é o instrumento para eles mentirem e falarem mal uns dos outros; isso eu não faço."

Depois de eleito, Lula continuou a dar acesso a jornalistas que conhecia, confiava e/ou representavam órgãos de imprensa importantes. Na sua primeira viagem a Paris como presidente, ele e seu então assessor, Ricardo Kotscho, permitiram que Reali Jr., do Estadão, Merval Pereira, de O Globo, Clovis Rossi, da Folha, e eu, da Rede Bandeirantes, participássemos do coquetel que ofereceu para dirigentes do Partido Socialista – enquanto dezenas de colegas foram impedidos de entrar.

A situação só mudou com a explosão da crise. Em julho, Lula foi novamente a Paris. Recusou-se a falar com todos os jornalistas, inclusive os franceses. Em compensação, aceitou que se armasse uma entrevista com uma desconhecida, que não é jornalista nem no Brasil nem na França, para afirmar que o PT faz como todos os partidos brasileiros quando recorre ao caixa dois.

Essas historinhas demonstram que Lula entende perfeitamente o papel dos jornalistas. Um entendimento maior do que é a imprensa que o de Bernardo Kucinski. O que ele não tem é a avaliação política de Kucinski, a de que seu governo não foi capaz de cumprir o prometido: começar a mudar o Brasil.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Publicado originalmente no suplemento “Aliás”, de O Estado de São Paulo, em 15 de janeiro de 2006. Mario Sergio Conti é jornalista. Foi diretor de redação da revista Veja e do Jornal do Brasil. É autor do livro Notícias do Planalto.


Mario Sergio Conti
São Paulo, 27/3/2006
Quem leu este, também leu esse(s):
01. As redes sociais como filtros de Raquel Recuero
02. Coração de mãe é um caçador solitário de Sonia Nolasco


Mais Mario Sergio Conti
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




O senhor Henri e a enciclopédia
Gonçalo M. Tavares
Casa da Palavra
(2012)



Livro So Paulo De Colina A Cidade
Amir Piedade
Fisicalbook
(2004)



Mistério-bufo - 2ª Edição
Vladimir Maiakóvski
Musa
(2001)



Os Bastidores da Disney na Vanity Fair
Graydon Carter
Agir
(2010)



Fernando Pessoa - Estudos Criticos
Vilson Brunel Meller / Sergio de Castro Pinto
Hernani Cidade
(1985)



A Espada Selvagem de Conan 38
Conan
Panini Comics
(2021)



Psicología Social de las Organizaciones
Leonardo Schvarstein
Paidos
(1992)



Our Green Future intermediate book with online
Diane Naughton
Cambridge
(2014)



Box Conecte Live História 3
Ronaldo Vainfas e Outros.
Saraiva
(2018)



Le Voleur de Parcours
Simon Harel
Le Preambule
(1989)





busca | avançada
95668 visitas/dia
2,1 milhões/mês