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Segunda-feira, 30/9/2002
Um afro-nordestino tocando para o mundo
José Nêumanne
+ de 4900 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Se o pianista Sérgio Mendes deixou o Beco das Garrafas, no Rio, para fazer sucesso, fama e fortuna com sua adaptação ao gosto americano do beat brasileiro, nos idos de 60 e 70, o percussionista Naná Vasconcelos saiu de Recife, passou pelo Rio e cumpriu a sina daquele velho slogan da Rádio Jornal do Commercio ("Pernambuco falando para o mundo") ao seduzir o sofisticadíssimo universo cult do jazz consumido (e venerado) na Europa. Tendo acompanhado com seus chocalhos e tambores instrumentistas guindados ao panteão – do intérprete mineiro Milton Nascimento ao saxofonista argentino Gato Barbieri e ao guitarrista americano (de alma mineira) Pat Metheny – e gravado no selo que representou a excelência da música instrumental planetária nos anos 70 e 80, o ECM alemão, ele passou a ser considerado, sem favor nenhum, o melhor percussionista do mundo. Daí, sua opção por morar em Nova York, capital do Planeta. Só que agora ele vive também numa casa na Praia do Janga, na velha Recife de Gilberto Freyre e do "mangue beat", de Francisco Brennand, Ariano Suassuna, Geraldinho Azevedo, Ascenso Ferreira e Alceu Valença.

Naná Vasconcelos é assim mesmo: uma fusion em constante movimento. Da própria pele negra faz atabaques que lhe ressoam na mente e percutem o ritmo de um coração macumbeiro e folião. Seu berço recifense (ninguém nasce à toa numa cidade de cujo calendário turístico consta uma festa chamada "a noite dos tambores silenciosos") remete-o ao remelexo safo e safado do xote, do xaxado e do baião. Sua vocação de globe-trotter e de permanente guardião das tradições do presente fê-lo mergulhar com competência e sensibilidade nos mistérios nem sempre gozosos da vanguarda musical do século 20, particularmente o legado eletrônico de John Cage. Some-se a isso um sorriso absoluto de marfim, sem meios tons, sem peias, sem mais nem menos – e aí já se torna possível entender a beleza, o bulício e sobretudo a alegria sem pudor do CD Minha Lôa, lançado por um selo independente, Fábrica Discos, pernambucano tal e qual ele próprio.

Esse CD é uma visita marcada às raízes de onde se produziu a seiva de que se nutre a verve de um artista consagrado fora de casa, mas que nunca se perdeu no caminho da volta para lá. De saída, o título refere-se ao maracatu rural de Pernambuco (a ópera popular que tanto encanta o dramaturgo paraibano Ariano Suassuna, recifense por adoção): "minha lôa" – esclareceu Naná à repórter Adriana del Ré, do Estadão – significa "minha maneira, o que estou gostando de fazer agora". Um my way de Paul Anka, que Frank Sinatra consagrou, mas bem brasileiro, na medida em que a música eletrônica se mistura com os ritmos nativos, para resistir aos quais não dá.

Sim, porque o último lançamento fonográfico de Naná se assume dançante mesmo, sem subterfúgios – pode claramente se inserir no panorama da Música Pra Pular Brasileira. O "Afoxé do Nego Véio" pisa no barro do chão dos terreiros de candomblé ("E agora nêgo só quer dançar"). No "Forró das Meninas" ("Tira a faca da bananeira, deixa de besteira e vem morar mais eu") assoma o aconchego sem-vergonha de outro tipo de samba – palavra pela qual também se designam os bailes populares no sertão, os forrós.

E, assumindo-se brasileiro até na citação da "Bachiana" do maestro Villa-Lobos (na faixa "Curumim"), o CD não seria completo sem carnaval – marcando ponto no maracatu "Caboclo de Lança" ("é rural, é o baque solto abrindo caminho para a capital") – e sem futebol. A canção entre as 12 que o abre chama-se exatamente "Futebol" e chora a arte que se perdeu na relva num refrão-síntese: "Não deixe o futebol perder a dança". Só que, como tudo o que Naná faz é prático, esse manifesto, que seria assinado por todos os fãs nostálgicos de Zizinho, Garrincha, Didi, Pelé, Tostão e Zico, não pára na teoria. Ao reproduzir a narração radiofônica de lances de uma partida do ludopédio, o autor mostra que, apesar de bretão de origem, esse esporte não pode ser só força nem apenas estratégia & tática, pois é sobretudo ginga, ou seja, música mais dança.

Bem, é aí que o ouvinte chega ao xis da questão: em Naná Vasconcelos tudo é música e tudo é dança. Por isso, a homenagem nostálgica que faz aos tempos do Codona (trio que ele formou com o trompetista Don Cherry e o baixista Collin Walcott, ambos de jazz, e que gravou um disco antológico) – ao registrar duas vezes o "Don's Rollerskates", de Don Cherry, sendo a segunda, a que encerra o CD, remixada pelo conterrrâneo DJ Dolores – mostra que o Brasil também fica na África e o Saara chega até o Nordeste. Pelo menos no universo musical, rítmico e dançante desse afro-nordestino feliz, que toca para fazer o mundo dançar.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no caderno "Variedades" do Jornal da Tarde.


José Nêumanne
São Paulo, 30/9/2002
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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
5/10/2002
19h09min
Sendo moradora de Recife, me impressiona sempre a inesgotável possibilidade musical que essa cidade apresenta. Esse cd de Naná, minha lôa, agrada desde os admiradores da música erudita até aqueles que adoram pagode. O trabalho, é por assim dizer, universal embora esteja plantado na zona da mata pernambucana.
[Leia outros Comentários de Elaine Carvalho]
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