Cartier-Bresson: o elogio do olhar | Pedro Maciel

busca | avançada
54850 visitas/dia
2,4 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Última peça de Jô Soares, Gaslight, uma Relação Tóxica faz breve temporada em São José dos Campos
>>> Osasco recebe o Teatro Portátil gratuitamente com o espetáculo “Bichos do Brasil”
>>> “Sempre mais que um”, de Marcus Moreno, reestreia no Teatro Cacilda Becker
>>> #LeiaUmaMãe: campanha organizada pela com.tato promove a diversidade na literatura materna
>>> Projeto Experimente inicia sequência de eventos para comemorar 10 anos
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Scott Galloway sobre o futuro dos jovens (2024)
>>> Fernando Ulrich e O Economista Sincero (2024)
>>> The Piper's Call de David Gilmour (2024)
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
Últimos Posts
>>> A insanidade tem regras
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Irracionalidade coletiva
>>> Ter filhos é...
>>> A Ditadura e seus personagens (II)
>>> Ivan Junqueira desvendando Otto Maria Carpeaux
>>> Picasso versus Duchamp e a crise da arte atual
>>> Memórias de um caçador, de Ivan Turguêniev
>>> Les Chefs & Décors
>>> I-ching-poemas de Bruna Piantino
>>> Por que Coetzee
>>> Um conto-resenha anacrônico
Mais Recentes
>>> Livro Administração Atendimento Cinco Estrelas de Leonardo Inghilleri e Micah Solomon pela Saraiva (2013)
>>> O Tronco do Ipê de José De Alencar pela Ática (1977)
>>> Livro Sociologia Carta Aos Escroques da Islamofobia que Fazem o Jogo dos Racistas de Stephane Charbonnier pela Casa da Palavra (2015)
>>> Livro Direito Autores de Homicídios e Distúrbios da Personalidade de Ana Paula Zomer Sica pela Revista dos Tribunais (2003)
>>> Livro Literatura Brasileira Carta aos Escroques da Islamofobia Que Fazem o Jogo dos Racistas de Charb pela Leya (2015)
>>> O Homem Por Trás De O Código Da Vinci de Lisa Rogak pela Verus (2006)
>>> Livro Economia Traduzindo o Econômes de Paulo Sandroni pela Best Seller (2000)
>>> Livro Ilustrado A Família do Futuro de Mônica Alves pela Abril (2007)
>>> Livro Infanto Juvenis Gol de Padre e Outras Crônicas Coleção Para Gostar de Ler Volume 23 de Stanislaw Ponte Preta pela Ática (2003)
>>> Box Conecte Live Sociologia Volume Único de Nelson Dacio Tomazi; Marco Antonio Rossi pela Saraiva (2018)
>>> Box Conecte Live História 3 de Ronaldo Vainfas; Sheila de C. Faria; Jorge Ferreira pela Saraiva (2018)
>>> Box Completo Moderna Plus Literatura Tempos, Leitores e Leituras de Maria Luiza M.. Abaurre; Marcela Pontara pela Moderna (2018)
>>> História Sociedade e Cidadania 8 De Acordo com a BNCC + Fascículos para o 8º ano de Alfredo Boulos Jr pela Ftd (2018)
>>> Animais, Nossos Irmãos de Eurípedes Kuhl pela Petit (2003)
>>> Memórias de um Sargento de Milícias + Suplemento de Manuel Antônio de Almeida pela Saraiva (2013)
>>> Macário e Noite na Taverna + Suplemento de Álvares de Azevedo pela Saraiva (2010)
>>> O Cortiço + Suplemento de Aluísio Azevedo pela Saraiva (2008)
>>> Este Amor Veio Para Ficar + Suplemento de Álvaro Cardoso Gomes pela Ática (2009)
>>> Auto da Barca do Inferno + Suplemento de Gil Vicente pela Saraiva (2008)
>>> Senhora + Suplemento de José de Alencar pela Saraiva (2007)
>>> Os Lusíadas + Suplemento de Luís de Camões pela Saraiva (2010)
>>> O Alienista + Suplemento de Machado de Assis pela Saraiva (2009)
>>> Iracema + Suplemento de José de Alencar pela Saraiva (2009)
>>> Guia Rápido Para um Cão Feliz de Cesar Millan pela National Geographic (2014)
>>> O Jogador de Dostoievski pela Bertrand Brasil (1998)
ENSAIOS

Segunda-feira, 4/10/2004
Cartier-Bresson: o elogio do olhar
Pedro Maciel
+ de 11400 Acessos

Qual a importância da fotografia na cultura contemporânea? A fotografia é um meio artístico capaz de revelar o inexprimível? Qual o mundo imagético é digno de duração? Hoje vemos a proliferação de imagens sem sentido. Imagens repetitivas que nascem com os mecanismos de simulação. A realidade se tornou hiperrealidade. Será que estas imagens conseguem mostrar o interior das pessoas, das coisas, das paisagens? A fotografia contemporânea se propõe a ser testemunha do inexprimível. Mas como dizer o indizível? Talvez seja impossível para uma arte de representação que nasceu da vontade de revelar as aparências. A arte é um sistema de signos e sua função consiste em buscar o significado das coisas; materializar o mundo. A arte não comporta as aparências.

A fotografia (imagem) é um elogio do olhar. Narra a arte da ilusão. Henri Cartier-Bresson, artesão da imagem, fundador de um estilo geométrico e humanista, ao capturar a imagem, repara o momento exato em que as pessoas ou coisas se mostram por inteiro, e nos faz ver algo que até então era desconhecido, ou que havíamos entrevisto com os olhos embaçados pela pura e simples realidade.

Bresson, último mito da fotografia, diz que "o aparelho fotográfico é um caderno de croquis, instrumento da intuição e espontaneidade, o mestre do instante que, em termos visuais, questiona e decide ao mesmo tempo. Para revelar o mundo, é preciso sentir-se implicado no que se enquadra através do visor". Para ele somente duas coisas o interessam: o instante e a eternidade. Talvez o maior segredo da obra de Bresson seja a idéia de colocar no mesmo ponto de mira, a cabeça, o olho e o coração. Para Bresson a emoção é fundadora da razão.

O fotógrafo fez de sua câmera Leica uma extensão do seu olho. Um olho que captou composições no breve intervalo do tempo e "apanhou a vida no laço", expressando a emoção e não a visualidade banal do sentimentalismo ou do sensacionalismo. Bresson vivia "tocaiando seres humanos como um caçador tocaia animais", escreveu John Berger. Nos seus instantâneos nota-se as regras básicas do fotógrafo: concentração, disciplina de espírito, sensibilidade e senso de geometria.

Bresson tem a noção exata do "momento decisivo" para capturar a imagem. No prefácio de seu ensaio sobre o momento decisivo, publicado em 1952, ele anota que "alguém entra repentinamente no seu campo de visão. Você começa a seguir essa pessoa através do visor da máquina. Você espera, espera, e finalmente aperta o disparador - e sai com a sensação (embora não saiba exatamente por quê) de que realmente pegou alguma coisa".

O momento decisivo é uma fração de segundos em que os personagens em movimento adquirem um equilíbrio geométrico. Ele considera "a atenção e a antecipação do momento decisivo", o instante único quando a imagem pode ser roubada do tempo, como uma ocupação que o fotógrafo deve adquirir naturalmente, como a arte do arco-e-flecha de um mestre zen, que se transforma no alvo para poder atingi-lo.

Em Tête à Tête: Retratos de Henri Cartier-Bresson (Companhia das Letras), o fotógrafo apresenta uma coletânea de retratos e desenhos a lápis que exploram a paisagem variada do rosto humano. Ele não recorre a artifícios de composição, mas busca nos retratados os traços expressivos. Revela o silêncio dos retratados; amplia o humor desconcertante de Saul Steinberg com o gatinho, a face existencial de Giacometti e Beckett, a alegria contagiante de Che, a sombra infinita de Erza Pound, a solidão de Sartre em Paris. Bresson retrata a época em que viveu e, por isso, nos oferece uma profunda investigação da nossa permanência no mundo. Suas imagens, em estado de graça, dotadas de densidade e história, revelam as coisas vividas. Para ele, fotografar é olhar de verdade para o mundo. Sua arte é um tributo ao ser humano.

O fotógrafo aventureiro
Henri Cartier-Bresson, francês, nascido em 1908 (e morto neste ano) se autodenominava foto-jornalista. Mas poucas fotos de sua autoria tratavam de fatos jornalísticos, num sentido convencional. Fotografou mais entre a década de 30 e os anos 70. Estudou pintura com o cubista André Lhote. Em seguida estudou cinema nos EUA com Paul Strand e depois trabalhou como assistente de Jean Renoir, no filme "A Regra do Jogo".

Bresson começa a fotografar em 1932, com fascínio tanto pelo Surrealismo - "sua ética mais que sua estética" - como pela ebulição política na França que acabou na Frente Popular contra o fascismo. "O aventureiro em mim sentiu-se obrigado a registrar com um instrumento mais rápido que um pincel as feridas do mundo".

O fotógrafo foi preso em 1940 pelo exército alemão em Paris. Fugiu e continuou a fotografar a "resistência" para revistas como Life. No final da Segunda Guerra, fundou com Robert Capa, David Seymour-Chim e George Rodger a agência de fotografias Magnum e passou duas décadas seguintes em missão, testemunhando as revoluções que assolaram a China e a Índia. Suas fotos, tiradas com a lendária Leica 35mm, comentam os eventos e personagens mais singulares deste século. Em 1954 tornou-se o primeiro fotógrafo ocidental a entrar na União Soviética após a distensão promovida por Nikita Kruschev. Em 1966 desliga-se da agência Magnum e passa a dedicar-se exclusivamente ao desenho e à pintura.

Bresson anotou em 1992 que "a fotografia é um impulso espontâneo de uma atenção visual perpétua, que captura o instante e sua eternidade. Já o desenho elabora por sua grafologia o que nossa consciência captura desse instante. A foto é uma ação imediata; o desenho uma contemplação".


Pedro Maciel
Belo Horizonte, 4/10/2004
Mais Pedro Maciel
Mais Acessados de Pedro Maciel
01. Italo Calvino: descobridor do fantástico no real - 8/9/2003
02. A arte como destino do ser - 20/5/2002
03. Antônio Cícero: música e poesia - 9/2/2004
04. Imagens do Grande Sertão de Guimarães Rosa - 14/7/2003
05. Nadja, o romance onírico surreal - 10/3/2003


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro Pedagogia Quem Educa Quem?
Fanny Abramovich
Summus
(1985)



Camilón, Camilón
Ana María Machado
Sm
(2012)



Somos Todos Médiuns
Carlos A. Baccelli e Odilon Fernandes
Didier
(2010)



Coleção problemas Estruturalismo
Vários Autores
Portugália
(1968)



Análise de uma fobia em um menino de cinco anos o pequeno hans 34
Freud
Imago
(1975)



Livro Teatro D. Miguel - Rei de Portugal - Teatro Moderno
Roberto Athayde
Agir
(1998)



The Intemperate Zone - The Third World Challenge to U.S. Foreign Policy
Richard E. Feinberg
W.W. Norton
(1983)



Heidegger E Sua Heranca: O Neonazismo, O Neofascismo E O Fundamentalismo Isl¿mico
Víctor Farías
É Realizações
(2017)



Altos e Baixos
Giovana Madalosso
Leiturinha
(2021)



Timbre do Silêncio
André Cannavaro
Desconhecido





busca | avançada
54850 visitas/dia
2,4 milhões/mês