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BLOG

Sábado, 13/1/2007
Blog
Redação
 
Cinema em Atibaia III

Depois da última sessão de curtas brasileiros, a cidade de Atibaia entrou em clima de expectativa. Em 2007, o Festival de Atibaia Internacional Audiovisual alcançou a popularidade esperada: as mostras receberam uma quantidade considerável de espectadores e as intervenções artísticas, promovidas por uma delegação francesa, atraíram quem passava por perto. Os que circularam pelo Centro de Convenções entre uma sessão e outra puderam assistir à performance do grafiteiro Blade e do músico Khalid K., que criou sons extraordinários apenas com a voz e recursos eletrônicos.

Outra grande sensação do festival - fora as mostras de cinema - foi o show com o cantor e compositor Luiz Melodia. Com voz de veludo que lembra os grandes mestres do jazz e do blues, Melodia deitou seu repertório musical entre as quatro paredes do Cine Itá, no centro de Atibaia. Levou o público ao êxtase com as músicas "Estácio, eu e você", "Codinome beija-flor" e "Ébano". Quando encerrou a apresentação, a platéia aglomerou-se em frente ao palco, aos delírios, com pedido de bis. Melodia voltou com "Negro gato" na ponta da língua.

Antes do show, aliás, os últimos filmes da mostra competitiva vieram a público. Em termos de qualidade, a média da seleção foi razoável se comparada às sessões anteriores. O primeiro curta a rodar, no formato de vídeo, foi Tinha a gata Gioconda, de Ivan Spacek. O diretor fez um passeio nostálgico pela infância em Atibaia, por meio de colagens e recortes com fotografias, trabalho que desembocou em engraçadas criações. Entre elas, os quatro super-heróis que habitam a antiga cidade. O curta é um criativo projeto de humor.

Em seguida, o documentário Lectures percorreu os metrôs e trens da França para documentar as principais leituras dos passageiros. Flagrou momentos de introspecção e cenas curiosas, como a de uma mulher contando uma história, através de um livro, para o filho pequeno. Pautado pela imagem, o vídeo foi totalmente gravado por uma câmera de telefone celular, o que rendeu uma baixa qualidade visual. Apesar do feito experimental, não merece maiores elogios.

Já o também curta-metragem de não-ficção A resistência do vinil faz uma interessante imersão pelo universo dos que resistem em colecionar, vender ou pechinchar discos de vinil, dez anos depois de sua substituição pelo CD - e, agora, pelo DVD e pelo MP3. Capta depoimentos curiosos e engraçados e resgata memórias já esquecidas sobre o tempo em que as agulhas choravam em muitas vitrolas. Grande filme, completo e sem lacunas evidentes, foi merecidamente indicado para figurar na mostra.

Quanto ao curta De Glauber para Jirges, de André Ristum - o mesmo diretor de 14 Bis, um dos mais bem orçados da história brasileira, também exibido no Festival de Atibaia - relê trechos de cartas enviadas por Glauber Rocha ao amigo Jirges Ristum - pai do diretor - em meados dos anos 70. Mostra o olhar crítico de Glauber sobre as características brasileiras da época e presta uma homenagem aos dois amigos, ambos falecidos na década de 80. A ótica de Ristum, assim como em 14 Bis, é predominantemente emotiva. No desenrolar do filme, os movimentos de câmera são sempre atribulados e inconstantes. Pode ser definido como um documento memorável, mas não como uma obra-prima.

No caso de No princípio era o verbo, ficção de Virgínia Jorge, descortina-se um forte resgate de situações tipicamente brasileiras e há muito esquecidas pelo cinema. O roteiro desenvolve três histórias simultâneas em um dia de Carnaval, que se fundem em ritmo poético e bem-humorado. Tece uma reflexão simples, porém brilhante, sobre os mistérios do cotidiano pelo prisma de pessoas comuns. Um retrato fiel do cotidiano que se repete todos os dias no Brasil. Este, sim, um filme de sensibilidade ímpar.

O próximo curta, Deu no jornal, é uma animação que mostra as fantasias sexuais de um solitário leitor de jornal. Nos classificados, o personagem dá asas ao desejo e a lembranças eróticas. Arrancou risos da platéia, mas constrangeu algumas mães com crianças pequenas. Já o filme mais aguardado da noite, Eletrodoméstica, de Kleber Mendonça Filho, não é nenhum lampejo de genialidade, mas faz o gênero do gosto popular. Havia sido bem comentado em outros festivais. O roteiro desenvolve a relação de uma dona de casa com seus afazeres domésticos e com os recursos eletrônicos que cercam seu trabalho. Mas as cenas finais, dependendo da ótica pessoal, podem ser interpretadas como uma idéia sem graça ou como uma saída fantástica. As opiniões se dividiram.

Agora resta aguardar o resultado final da competição. O melhor curta-metragem em 35mm receberá 16 mil reais dos organizadores, mais oito mil em equipamentos de filmagem. Já o melhor vídeo recebe oito mil reais dos organizadores, mais quatro mil em equipamento. O melhor diretor, fotógrafo, ator e atriz também recebem premiações. Além do prêmio do júri, a Federação Internacional de Cineclubes vai conceder o prestigioso Troféu Dom Quixote a um dos trabalhos apresentados.

O Digestivo vai fazer um balanço, aqui no blog, dos resultados que saem esta noite.

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Postado por Tais Laporta
13/1/2007 às 14h27

 
Foi assim

Rolei de lado, ajeitei o travesseiro pela última vez. Lá fora, barulho de hóspedes colocando malas, coisas em carros, voltando para os lugares de onde vieram. O quarto já estava cheio de uma luz bem fraquinha, me dizendo que eu podia desistir de tentar dormir, levantar. Levantei. Lavei o rosto, vesti a camiseta regata verde amassada, peguei o livro, saí. Desejei BOM DIA aos hóspedes que se preparavam para a viagem de volta, sorri OLÁ para a menininha sentada na escada da pousada. O dia prometia ser bonito, recompensa para a noite mal-dormida, ruim. Resolvi caminhar até a praia, sentei na areia, abri o livro, olhei o mar. A quatro dedos acima da linha do horizonte, umas nuvens de chuva, lá longe. No meio da página 152, vi o sol surgindo devagarinho. Ele foi nascendO nascENDO nASCENDO e em pouco tempo estava INTEIRO, sobre o mar, sob as nuvens. Sorri o meu segundo sorriso do dia. Tinha esquecido como é bonito ver o sol nascer. Fiquei feliz.

Do Tiago A., cujo blog, claro, linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
12/1/2007 às 16h24

 
Cinema em Atibaia II

Depois de um dia marcado por exibições mornas, finalmente a segunda edição do Festival de Atibaia Internacional Audiovisual começa a ferver. Ontem foi a vez de fragmentos de genialidade ganharem espaço na sala de projeção do Centro de Convenções. A seleção de curtas mostrou temáticas mais diversificadas e abriu portas para o humor inteligente. Grandes surpresas lançaram luzes, inclusive, sobre produções mais medianas, tornando a média de ontem bem superior ao dia anterior.

A mostra não competitiva dos filmes exibidos durante o Festival de Emden, na Alemanha, trouxe ficções com roteiros indiscutivelmente bem-elaborados. Seria melhor que todos fossem exibidos com legendas em português, assim como os brasileiros receberam cuidadosa tradução para o francês. A organização se desculpou pela falha, mas o detalhe não passou batido. Um festival aberto para o grande público - que, não necessariamente, entende mais de uma língua - não poderia se dar a esse luxo. Um curta alemão, recheado de diálogos, ganhou projeção sem qualquer legenda. Outro foi traduzido em inglês. Por sorte, o público captou a expressividade na dupla "forma-conteúdo" dos filmes.

Dentro da sessão, o curta Clube de Chicxu metaforizou a tragédia de um casal diante do acidente da filha. O "choque humano", sempre abordado por óticas convencionais, ganhou adequada comparação ao período em que um meteoro se chocou à Terra, há 65 milhões de anos. Transportou o horror do fim do mundo dentro de duas pessoas. Outro curta que literalmente emocionou o público foi Romance. Embora discutisse o velho estigma da solidão e da enfermidade em um quarto de hospital, transbordou em delicadeza e sensibilidade, sem cair no perigo da comoção "barata".

Ainda na mostra alemã, a animação em stop motion, Kater, alucinou o público com sua veia humorística - gênero que quebrou, em boa hora, a sequência de filmes dramáticos. O curta alcançou visibilidade no Anima Mundi e provou que a técnica em stop motion agrada tanto ou mais que o desenho em três dimensões. Para finalizar a sessão estrangeira, o curta Chinese take away foi daquelas ficções em que o conteúdo fala mais alto que a forma. Propositadamente engraçado e catártico, completou a lista dos grandes trabalhos da mostra.

Quanto aos curtas brasileiros, ontem foi o dia dos documentários e filmes de humor. Todos trouxeram um dinamismo que esteve em falta na média da mostra anterior. Os trabalhos de não-ficção Z.inema, de Carol Thomé, e Canto de cicatriz, de Laís Chaffe, exploraram lacunas inéditas em suas respectivas temáticas. O primeiro contou a história de um homem que construiu uma sala de cinema com sucatas encontradas na rua. Já o segundo discutiu um problema ainda indigesto no Brasil: a exploração sexual de crianças. Ambos redondos e bem documentados, valeram pelo conteúdo.

O esperado Alguma coisa assim, de Esmir Filho e Mariana Bastos, se salvou pela composição visual e pelo jogo de câmeras, mas se apagou perto dos outros curtas. O roteiro, cheio de mensagens subentendidas, começa e termina com uma indefinição confusa. Ontem foi mesmo o dia dos humorísticos. A começar por Santa de casa, animação inspirada em conto de Aldir Blanc que satiriza a sociedade brasileira sem agressividade. Os grandes estereótipos presentes no país do Carnaval ganharam destaque em um enredo leve e bem-humorado.

O fim do mundo - Flashback Society, classificado como documentário, é um retrato propositadamente engraçado sobre a tensão do ser humano perante o fim do mundo, durante a virada do ano de 1999 para 2000. O vídeo caseiro e sem comprometimento com a forma chamou a atenção pelas brincadeiras ilustrativas sobre a posição dos planetas no momento da "destruição final". Também captou depoimentos e cenas igualmente sarcásticos. Um tipo de humor que não estaciona na superficialidade ou nos preconceitos sociais. Alcança as bases da sociedade - fé, morte, religião e amizade.

Mas o projeto que realmente surpreendeu foi A espera da morte, de André Luís da Cunha. De longe o mais comentado, chamou a atenção quando ninguém mais esperava produções ímpares. No curta, a companhia de teatro brasiliense Os Melhores do Mundo interpreta a tripulação do submarino soviético Krushev. O cenário, o figurino e os planos de câmera convencem. E o roteiro também impressiona por intercalar, de forma apropriada, momentos de tensão e de humor. Um detalhe curioso: os diálogos são todos em russo. O elenco ensaiou por meses para satirizar as tripulações russas com mais intimidade. Outra surpresa foi a interpretação de Jovane Nunes no papel do comandante. O público ovacionou o curta, que encerrou a mostra com saldo positivo.

O Festival de Atibaia encontra, aos poucos, o seu norte. Mas ainda é cedo para tirar conclusões definitivas. Faltam mais dois dias de exibições. E o Digestivo vai cobrir os melhores momentos.

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Postado por Tais Laporta
12/1/2007 às 15h16

 
Banheiros

O templo sagrado da humildade é o banheiro. Estamos ali a sós, percebendo a fragilidade da carne, olhando o espelho que nos confronta com um outro ser que nos olha, pasmo, atrás do vidro e nos mostra a realidade de uma anatomia que sente, mais do que supúnhamos, a passagem do tempo.

Ali permanecemos às vezes quietos e pelas paredes, em silêncio, reverberam memórias, alguns sonhos, uma gota de água estala musicalmente em algum canto e acordamos de repente no meio de uma função qualquer, extremamente física.

Ali testamos, meio sem graça, algumas posturas a serem talvez usadas a posteriori, mas não, não funcionou.

Ali descobrimos recantos do corpo ainda não mapeados, testamos as juntas, joelhos, juventudes idas, nos tocamos como desconhecidos e em silêncio, até que a água de um chuveiro nos absolva e, talvez, cantemos alegres porque sentimos, estamos vivos.

Acredito piamente que a água de uma pia é um bálsamo e que o brilho nos ladrilhos, latrinas e canos dissipam o engano, o humano engano.

Todos aqueles que saem de um banheiro são, em proporção direta com o tempo em que lá estiveram e ainda que minimamente, seres humanos melhores.

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Postado por Guga Schultze
11/1/2007 às 15h51

 
Cinema em Atibaia I

Os melhores curtas-metragens de 2006 encontraram um destino que promete ser o novo endereço do cinema brasileiro: Atibaia, no interior de São Paulo. O segundo ano do Festival de Atibaia Internacional Audiovisual mantém clima de expectativa e salas de projeção cheias. Até ontem, o terceiro dia do evento, a cidade mostrou um vigoroso interesse pelos projetos mais premiados nas principais mostras do país, entre elas o Anima Mundi e É Tudo Verdade.

Até o dia 14 de janeiro, o festival exibirá 27 projetos dentro da mostra competitiva de curtas brasileiros. Já entre os filmes não competitivos, sete curtas franceses, seis alemães e quatro afro-brasileiros ganharão projeção. O mesmo acontecerá com a seleção de longas brasileiros que tiveram boa recepção em 2006, programados para serem exibidos em praça pública nos próximos dias.

O grande homenageado desta edição é o cineasta e ator Anselmo Duarte, que completa 87 anos de vida e 65 de carreira em 2007. Consagrado pela conquista da Palma de Ouro do Festival de Cannes pelo filme O pagador de promessas (1962), Duarte desfruta, hoje, de grande prestígio na Europa. É considerado, por muitos, o melhor diretor brasileiro de todos os tempos.

Os destaques da mostra em 35mm são Alguma coisa assim (Esmir Filho), Eletrodoméstica (Kleber Mendonça Filho), Deu no jornal (Yanko del Pino), O Som da luz do trovão (Petrônio Lorena e Tiago Scorza), O maior espetáculo da Terra (Marcos Pimentel), No princípio era o verbo (Virgínia Jorge) e De restos e das solidões (Petrus Cariry). Já entre os vídeos, Arquitetos do mar (Marcelo Abreu Góis), Lectures (Consuelo Lins), A resistência do vinil (Eduardo Castro), O fim do mundo (Alan Langdon) e Canto de cicatriz (Laís Chaffe) despertam as maiores expectativas.

Aos moldes de 2006, como mostrou Marcelo Miranda aqui no Digestivo, o festival pretende premiar "o melhor entre os melhores" curtas brasileiros nas categorias 35mm e vídeo, a fim de receber, definitivamente, o título de "festival dos festivais". Para tanto, procurou cortar as falhas da edição anterior. A organização reduziu pela metade o número de filmes por sessão este ano, contabilizando uma média de sete trabalhos. Isso levou as projeções de "quase três horas ininterruptas", nas palavras de Miranda em 2006, para pouco mais de uma hora. De fato, a mudança ajudou a segurar o público até o final das sessões.

A programação de ontem trouxe uma delicada seleção de curtas franceses anteriormente exibidos no Festival de Contis (que este ano fechou parceria com a organização do Festival de Atibaia). Dos sete trabalhos apresentados, o que mais surpreendeu foi Veneno de Abril, cuja temática é a desconfiança - para reafirmar a típica sensibilidade francesa para conflitos essencialmente humanos. Com roteiro inteligente e sarcástico, o curta recebeu os maiores aplausos do dia.

Quanto à temática, a infância foi o grande alvo da mostra francesa. Seja para traduzir a subjetividade de uma pintura aos olhos de uma criança (Olhares Livres), seja para encarnar o menino que planeja a morte do irmão bebê, por ciúmes (Um nascimento). O personagem deste curta, aliás, foi inspirado na história de ninguém menos que o cineasta sueco Ingmar Bergman. A crítica social também retorna à infância na pele do garoto Ousmane, habilidoso em pedir esmolas pelas ruas do Senegal (Deweneti).

Em comparação aos curtas brasileiros exibidos ontem, os franceses estiveram bem à frente, tanto na forma quanto no conteúdo. O segundo dia da mostra competitiva não convenceu, com exceção de poucos trabalhos. O público demonstrou evidente preferência pela seleção do primeiro dia. Mas o que mais prejudicou a exibição dos curtas foi a má qualidade do áudio. Embora num volume altíssimo, as trilhas e diálogos mal puderam ser compreendidos.

O documentário Maior espetáculo da Terra, de Marcos Pimentel, captou imagens sensíveis e inimagináveis ao acompanhar a turnê de um circo em um vilarejo subdesenvolvido no interior do Brasil. Outro filme que merece atenção é O Homem-livro, de Anna Azevedo. Acompanha a rotina de um senhor que possui 42 mil livros aglomerados em sua pequena casa. A edição conseguiu transmitir aspectos curiosos do personagem.

Já a ficção Balada das duas mocinhas de Botafogo, de João Caetano Feyer e Fernando Valle, embora apresente belas trilhas e planos sequências, não acrescenta supresas no roteiro. A abordagem sobre a vida marginalizada é exaustiva. Pode-se dizer que, na mostra do dia, prevaleceram abordagens interessantes, porém com um certo abuso de cenas longas e repetitivas, o que tornou muitos dos filmes pouco convidativos.

As exibições de ontem só deixam uma certeza: os próximos dias devem trazer uma leva melhor. Acompanhe a programação completa para o resto da semana. Amanhã volto com novidades, aqui no Digestivo. Até lá.

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Postado por Tais Laporta
11/1/2007 às 14h38

 
Mais Kaizen

Aqui em Ipanema ouço muito a expressão chique "estou Zen", ou a exortação "fica Zen". No caso preferiria substitui-la pela expressão "um pouco mais de Kaizen". O método Kaizen, adotado largamente na indústria japonesa, consiste em motivar funcionários a sugerirem melhorias microscópicas em uma empresa. Com o tempo, a coleção de pequenas melhorias resulta em um grande salto.

No livro Um pequeno passo pode mudar a sua vida: o método Kaizen (Nova Fronteira, 2005, 144 págs.), o psicólogo Robert Maurer advoga e exemplifica o uso da idéia no nosso dia-a-dia. Não sou muito fã de livros de auto-ajuda, justamente por pecarem ao não oferecerem sugestões de como alguém pode se auto-ajudar... Neste caso, no entanto gostei muito do livro. Ainda mais numa sociedade como a nossa que advoga revoluções para tudo. Um exemplo do livro é de uma senhora que não tinha nem tempo nem motivação para se exercitar. A sugestão do psicólogo foi diariamente, aproximadamente no mesmo horário, caminhar por 2 minutos na frente da televisão. Em um mês, a senhora se exercitava regularmente.

O livro fica como uma sugestão para muitos dos nossos autores e políticos. Que tal adotar o Kaizen em suas vidas? Todo dia, mais ou menos no mesmo horário, leiam duas frases de um livro de fição compreensível e divertido... Todo dia, mais ou menos no mesmo horário, falem e pensem sem mentiras ou demagogias, por dois minutos. Quem sabe, não teremos uma verdadeira revolução na maneira de se fazer arte e política?

Como me disse um amigo, no Brasil estamos a espera de epifanias, soluções miraculosas caídas do céu ou clássicos das letras que se manifestam ao partir as ondas de Ipanema... Mas em realidade até mesmo criar, descobrir, consiste em uma série de pequenos passos, pequenos incrementos - práticas, treinamentos - que com o tempo, a sorte e a experiência podem ser uma grande revolução.

Para ir além
Um pequeno passo pode mudar a sua vida: o método Kaizen

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Postado por Ram Rajagopal
11/1/2007 às 11h29

 
Então tá

Perdedor, lastimável, deplorável, lamentável, assexuado, obcecado, que tem a inteligência obscurecida, cego de espírito, contumaz no erro, insano, insensato, doido, estulto, excessivo, custoso, deprimente, aviltante, inútil, improfícuo, desnecessário, escusado, sem préstimo, frustrado, baldado, incapaz, inábil, embuste, velhacaria, fraude, virgem, intacto, isento de, puro, casto, inocente, singelo, sincero, patético, tocante, comovente, ridículo, que provoca ou desperta o riso ou o escárnio, irrisório, de pouco valor, insignificante, imaturo, que não tem ocupação, ocioso, abandonado, devoluto, vazio, atormentado, confuso, equivocado, confundido, embaraçado, perplexo, envergonhado, acanhado, obscuro, duvidoso, ambíguo, desordenado, imperfeito, mal distinto, incerto, avoado, distraído, tonto, imaginativo, fantasiador, sonhador, que tem capacidade para criar, que tem originalidade inventiva, criador, que devaneia, que divaga. Blogueiro.

A Lívia, no seu recente Bunda Furada.

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Postado por Julio Daio Borges
11/1/2007 à 00h32

 
Pílulas de amor e loucura

Já não é novidade um escritor jovem revelar-se na internet e publicar uma bela antologia de contos, mas por algum tempo se acreditou que essa geração, a geração dos adolescentes dos anos noventa, pudesse ser vista em conjunto como uma geração hedonista em crise de identidade. Algo meio Clarah Averbuck. Ainda bem que a sucessão de lançamentos dessa turma mostra a pluralidade de discursos, ideologias e propostas.

Ana Beatriz Guerra, carioca, nascida em 1979 (mesmo ano de Clarah e Daniel Galera, por exemplo), formada em jornalismo (mesmo curso de Galera e do qual Clarah desistiu no meio) e costumaz autora de textos ficcionais ou não para sites acaba de lançar uma coletânea de contos digna de um livro de estréia. Amor em pílulas (Íbis Libris, 2006, 126 págs.) reúne textos com variados estilos, narradores e temas mas consegue manter certa unidade ao agrupá-los em "contos de amor", "contos de loucura" e "quase contos", este último experimentos formais.

"Contos de amor" - a primeira parte e responsável pelo título do conjunto - revela uma narradora marcadamente feminina, intimista e voltada ao cotidiano, chegando a lembrar em alguns momentos Adélia Prado. Em "Fidélio", por exemplo, temos uma história de amor narrada a partir dos ícones cotidianos do casal que, ao invés de terminar em tragédia ou traição, premia o dia-a-dia e a cumplicidade das relações amorosas com o seguinte desfecho: "o beijo que você me dá é mais um de uma longa série. E sei que mais ninguém beijaria desse jeito. A não ser que esse alguém fosse você". Fica clara aqui a opção de Ana Beatriz pelo amor e não pelo sexo - ainda que o sexo apareça de forma equilibrada nos textos -, a opção pela convivência harmoniosa e não pelo hedonismo das relações frívolas.

Em outro conto desta parte, chamado "Prudente", surge o narrador em terceira pessoa e o protagonista é um homem morto. Mas não se trata de uma narração da memória do morto, como Brás Cubas, e sim da narração dos últimos momentos do espírito do protagonista na terra, a melancolia com que visita sua casa pela última vez e lá encontra a filha transando com o namorado e o filho ouvindo música clássica. Em nenhum momento o conto - ou qualquer outro conto do livro - deixa transparecer credo religioso ou dogmatismo, mas fica claro neste e em outros textos que a transcendentalidade da vida faz parte do rol de preocupações da jovem autora, algo também pouco comum no estereótipo de jovens escritores que se tenta construir.

A mudança para os "contos de loucura" não altera completamente o panorama do livro, ainda está lá o intimismo e o cotidiano, mas muitas histórias já se passam "fora da casa", na violência da cidade grande como em "Corpo de delito" ou numa tenda esotérica como em "A cigana da estrada". Aqui o narrador em terceira pessoa ganha muita força e os homens tornam-se protagonistas em diversos contos.

"Compro, vendo, troco, financio", por exemplo, narra a negociação de um homem para vender sua alma, um tema pra lá de batido mas que aqui ganha tratamento diferenciado em que a maldade não é questão de fundo, e sim a alma. Por isso, feita a negociação, Afonso lamenta que não "pode desfazer o trato, mas este é o preço que pagou pela verdade. A alma não é nada do que dizem, mas, pelo menos, Afonso já não tem mais dúvidas".

Poucas páginas adiante, passando da liberdade literária de inventar mundos à possibilidade literária de representar o pior dos mundos, "O bonde" conta uma noite de um homem numa cidade grande do futuro em que "os poucos que ainda têm coragem de deixar o conforto de seus lares são os repórteres, os taxistas, as putas e os entregadores" porque "foi instaurada definitivamente uma ditadura do pó e não há quem possa interferir". Neste cenário o homem contrata uma prostituta e, depois de saciado, pede que ela durma com ele, mas a mulher nega. Para aliviar um pouco a solidão, enche sua boneca inflável, e chega a oferecer pó para ela antes de injetar em si próprio: "prepara tudo e injeta aquele montante de realidade na veia, porque já não suporta mais viver de ilusões.".

Entre os contos de amor e loucura estão os quase contos, exercícios que podem ser de oficina literária, enumerações, textos interessantes em que a qualidade literária não se perde e nem a preferência pelo cotidiano, sempre pano de fundo nos textos de Ana Beatriz.

Reparo talvez se faça a uma frase do apresentador do livro, João José de Melo Franco, que na orelha diz que Ana Beatriz "vem nos curar de nossa falta de promessas literárias". Não é verdade, Ana Beatriz não vem curar e nem precisa curar: o problema é que o país e a grande rede de novos escritores é muito maior do que qualquer bom leitor possa apreender, e gente como meus conterrâneos Ítalo Ogliari, Monique Revilllion, Daniel Rocha e Caco Belmonte permanecem desconhecidos e deixam em alguns a falsa sensação de vivermos uma "falta de promessas literárias". Quiçá Ana Beatriz consiga emergir nesse oceano e ajude pessoas com este pensamento a mudarem de idéia.

Para ir além
Amor em pílulas

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Postado por Marcelo Spalding
10/1/2007 às 15h43

 
Fazer o quê?

¿Qué putas puedo hacer con mi rodilla,
con mi pierna tan larga y tan flaca,
con mis brazos, con mi lengua,
con mis flacos ojos?
¿Qué puedo hacer en este remolino
de imbéciles de buena voluntad?
¿Qué puedo con inteligentes podridos
y con dulces niñas que no quieren hombres sino poesía?
¿Qué puedo entre los poetas uniformados
por la academia o por el comunismo?
¿Qué, entre vendedores o políticos
o pastores de almas?
¿Qué putas puedo hacer, Tarumba,
si no soy santo, ni héroe, ni bandido,
ni adorador del arte,
ni boticario,
ni rebelde?
¿Qué puedo hacer si puedo hacerlo todo
y no tengo ganas sino de mirar y mirar?


Jaime Sabines, no blog do Paulo da Luz Moreira, que escreve pra nós de Yale.

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Postado por Julio Daio Borges
10/1/2007 à 00h47

 
Programas infantis na TV

Nas férias, a programação da tevê aberta se modifica completamente. Os filmes da Sessão da Tarde deixam de ser Curtindo a vida adoidado e passam a desenhos animados e a produções da Xuxa. Quem tem criança em casa sabe do que estou falando. As escolinhas oferecem colônias de férias, mas grande parte dos pais precisa dar conta dos guris na sala do apartamento. Depois dos presentes de Natal, isso fica apenas mais bagunçado.

Estou falando em tevê aberta por dois motivos: porque é dela que fala a maior parte da população brasileira e porque eu não pago tevê a cabo. Então vou mencionar apenas a programação que está disponível a todos.

Na Globo, a infância fica mais assistida pela manhã, mas a Xuxa poderia ter se aposentado numa boa, faz tempo. O que sobra com um pouco mais de qualidade é o Sítio do Picapau Amarelo, com a nova roupagem. A Sessão da Tarde faz revisão das produções da própria Globo ou da Disney.

As tevês públicas educativas têm a melhor oferta, disparado. Pela manhã, os desenhos animados em ritmo de quintal de casa (sem pancadaria ou sacanagem) vêm aos borbotões. Alguns são meio lisérgicos, mas valem pela narrativa. Clifford é um cachorro vermelho gigante, que mora numa ilha e tem amigos cães e humanos; Os Sete Monstrinhos são filhos de uma bruxa e dão lições de colaboração e convívio com a diferença; Timothy vai à Escola trata do convívio em um ambiente escolar muito bacana (os personagens pricipais são guaxinins); Harry e o Balde de Dinossauros é uma viagem muito doida entre um menino (o Harry) e os dinos de brinquedo dele, que ficam "de verdade" de vez em quando; Os amigos de Miss Spider é uma animação com insetos e aracnídeos (meu irmão biólogo insiste nisso e morre de raiva dos jornais: aranha não é inseto).

Com gente, há clipes do Palavra Cantada, o Baú de Histórias (em que dois atores e músicos contam boas narrativas), os bonecos do Cocoricó (fantástica narrativa feita com bonecos de espuma) e a trilha sonora do Hélio Ziskind.

Em Minas Gerais, a programação apresenta o Dango Balango, que não consegue segurar a atenção de crianças por muito tempo. Apesar da produção bem-intencionada, com uma equipe bacana (Giramundo, poetas conhecidos, hora do conto, externas com crianças na rua e trilha do Grivo), tem um clima soturno, de terror, escuro e esquisito que não parece ter sido feita com astral para crianças. Talvez a família Adams curtisse.

Aos sábados, passa uma coisa estranha, mas interessante, chamada Jay Jay, o Jatinho, uma animação em que os personagens são aviões e teco-tecos. Grande parte dos desenhos e dos programas com pessoas são importados do Canadá ou da Itália, até do Japão (como é o caso do Pitágoras, programa em que os japas dançam e ensinam coisas científicas). Há também os irmãos Kratt apresentando o Zoboo Mafoo, uma conexão animal narrada por um lêmure e dois caras engraçadinhos. O Pitágoras é apresentado pelo Senhor Enciclopédia e pelo Tevê Cão. Coisa mais estranha, mas depois a gente se acostuma.

Entre os programas nacionais, além de Minas, grande parte da boa produção é feita em São Paulo ou no Rio de Janeiro, o óbvio. Acredito que estejamos perdendo muita coisa legal que deve estar rolando em outros cantos do país.

A dica é a seguinte: a tevê pública ainda bate de 10 a 0 em qualquer coisa feita pela tevê comercial aberta. Isso deve se aplicar a grande parte da tevê paga também, convenhamos.

[1 Comentário(s)]

Postado por Ana Elisa Ribeiro
9/1/2007 às 15h47

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