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Terça-feira, 24/7/2001
Pense no que vai engolir
Vera Moreira
+ de 6300 Acessos

A humanidade está doente. E é uma enfermidade generalizada, como um câncer que começou sorrateiro em algum órgão e foi se esparramando, sem que o paciente percebesse. Quando os sintomas ficam evidentes, resta pouco ou quase nada a fazer. Que ninguém mais percebe o outro é redundância falar, já cheira até lamúria de quem ainda arrisca falar. Mas não é só ao outro que não se percebe mais, é também a si próprio. Um dos sinais mais evidentes disso é o que as pessoas estão fazendo com a saúde física, pura conseqüência da aniquilação mental, da falta de perspectiva, do desencanto, dessa era descartável.

Semana retrasada, a revista Isto É trazia matéria de capa sobre a alarmante situação da diabete no mundo: são mais de 150 milhões de pessoas com a doença e este número deverá dobrar até 2005. Todos pensam saber o que é diabete, mas poucos conhecem seu poder avassalador sobre a integridade física do ser humano. É uma doença muda, traiçoeira, que, no mínimo, encurta em até 10 anos a vida de uma pessoa. Mas as suas conseqüências são ainda piores, vão de cegueira, infarto, derrame e impotência até a amputação de membros. Está parecendo tétrico, não é? Pois é tétrico mesmo.

Assusta o descaso, pois é uma doença controlável. Depende basicamente de alimentação consciente e da prática de um pouco de exercícios (não precisa virar atleta, quanto menos rato de academia). Acontece que está todo mundo sufocado, correndo contra o tempo tal qual o coelho de Alice no País das Maravilhas, atrás de alguma coisa que mal sabemos o que é. Perdeu-se completamente a noção a respeito de uma alimentação razoável, quem dirá saudável. Vivemos a era do fast food, Big Mac, batata frita, coca-cola... Urge repensar nossa alimentação, afinal mesmo o fast food pode ser saudável: uma vitamina de leite com mamão, um sanduíche de pão integral com queijo e presunto magros, alface, tomate e cenoura ralada, uma banana amassada com aveia, uma maçã, um iogurte com cereais, um ovo cozido, por que não?

Pior ainda é ver as crianças plantadas frente à TV com sacos de salgadinhos, balas, bombons, refrigerantes, etc. Nos Estados Unidos, já são seis milhões de crianças obesas. O que ninguém sabia é que por causa disso algumas delas já estão com diabete do tipo 2 (a mais comum, atingindo 90% dos casos, que costumava atacar só adultos acima de 40 anos). Pobres crianças, vítimas fatais de nossa loucura, assimilando nossa falta de rumo, engolindo a precariedade cada vez maior de nossa personalidade.

Num país como o Brasil, com a sua riqueza gastronômica, com a diversidade de grãos, frutas, hortaliças, carnes, etc, é realmente terrível que tenhamos importado com tanta sede o estilo americano de comer e (sobre)viver. Jogamos para escanteio a poderosa dobradinha arroz com feijão e a banana, pra citar apenas três alimentos altamente expressivos de nosso país, além de acessíveis a toda população. Conhece-se largamente a riqueza do arroz com feijão e é um prato à prova de doenças, podem acreditar. O diabético e o hipoglicêmico deveriam eleger o duo preto e branco como obrigatório à mesa, assim como qualquer pessoa, mesmo as mais saudáveis, pra continuarem assim. Com a banana, a mesma coisa, pois é altamente nutritiva.

Muita gente sofre de hipoglicemia, mas não sabe. O hipoglicêmico tem falta de açúcar no sangue. Ao contrário do diabético, que não produz insulina suficiente para queimar o açúcar, o hipoglicêmico produz insulina em excesso e queima todo o açúcar consumido pelo organismo, que pede mais e mais. A pessoa, inconscientemente, passa a consumir cada vez mais açúcar, o que aumentará sensivelmente as suas chances de desenvolver diabete. A dieta de hipoglicêmicos e diabéticos é a mesma, assim como a necessidade de exercícios físicos. Falo de cadeira, pois sou hipoglicêmica e precisei aprender a controlar minha alimentação (vergonhosamente, ainda não venci a preguiça). Busco os grãos, ricos em carboidratos, abuso das verduras e legumes, privilegio as carnes brancas, evito as frituras, fujo dos doces como o diabo da cruz, vou direção às frutas. É lógico que cometo deslizes, não sou um robô. Até porque acho que violar regras é absolutamente necessário, mesmo sendo contra você mesmo. A diferença é fazer disso um meio de vida. Descobri que o prazer está onde você quiser encontrá-lo. Já se deturpou tanto o alimento, que muitas vezes precisamos tentar adivinhar o que estamos comendo. É um prazer consumir o alimento mais perto da sua forma original. Tente.

Não me engana, que eu não gosto

Fiz minha estréia pela Gol, as linhas aéreas inteligentes. Diz a companhia que vôo econômico não pode ser confundido com desagradável. Bom, a aeronave realmente é nova, como anunciam, mas não sei, talvez loucura minha, achei as poltronas mais apertadas do que as de outros boeings. O serviço em terra, bem razoável e racional, economia de papel, você retira um ticket embarque com um código de barras e trate de gravar seu número de poltrona, pois é só um ticket e fica na saída da sala de embarque. Obviamente, dentro do avião tem gente que já esqueceu ou nem conferiu, mas há sempre uma voz de comissário para tranqüilizá-lo, se você não sabe qual seu assento, eles estão ali para ajudá-lo, etc e tal. Aliás, os comissários dão explicação o tempo todo sobre o conceito de vôo inteligente, mais parece se justificarem - sem falar das orientações, como "recolham o lixo descartável em seus assentos, vamos manter limpa a aeronave, para vocês e os que embarcarão..."

Os uniformes dos comissários são anunciados como informais; são básicos, na verdade. Nada contra, muito melhor do que aqueles topes engomados no pescoço das aeromoças. Mas o ânimo deles não é bom não. A Gol diz faltar refeição quente, mas sobrar calor humano. No dia que embarquei, só se os comissários tivessem comido pimenta no almoço... O serviço de bordo, aliás, é um capítulo à parte. Olha aí: comida de avião, eu sei, é ruim, sem exceção.Vai longe, muito longe o tempo em que serviam champanhe e canapés de caviar. Juro por Deus, já comi caviar em avião, sou balzaquiana. As coisas vêm caindo muito, não só no Brasil, eu sei, mais uma vez, mas o carrinho da Gol com seus "simpáticos" comissários é uma experiência à parte, falando sério. Eles encaram você corajosamente e perguntam: cereal de banana, frutas ou castanha? Uau, você pode optar pelo sabor da barra de Nutry! Informação grátis para o fabricante, a grande maioria prefere castanha. Ah, você ganha ainda um snack de amendoim torrado e salgado, guaraná ou coca-cola. Justiça seja feita, normal ou light. Pôxa, já ia esquecendo, pode ser também um copinho d'água. Mas nem pense em pedir só amendoim, por exemplo, achando que vai ganhar dois snacks, afinal você abriu mão dos multi sabores Nutrys, nada disso, é um só, ninguém mandou não querer cereal. Há, há, há, não se anime, vice-versa a regra é a mesma!

Honestamente, não dá. Mas vamos as explicações da Gol: "A refeição quente, além de reduzir bastante o espaço do avião e aumentar seu peso, resultando num consumo maior de combustível, ainda implica um problema que está relacionado com a logística do jato. Até colocar as bandejas em todos os compartimentos, pode acontecer de o avião ficar alguns minutos a mais no chão". A refeição quente, no entanto, é a coisa mais dispensável em qualquer vôo (péssima em todos), basta um mínimo de bom senso e criatividade pra oferecer um lanche frio, balanceado, um copo de vinho tinto e água, e agradar a gregos e troianos.

Estou falando isso, vejam bem, porque o preço das linhas aéreas econômicas e inteligentes é pra enganar bobo. Com aquele golpe de tarifa a partir de ... (no caso R$ 166,00 POA-SP), a Gol cobra o preço da Varig e TAM (pobre Rolim, deve estar se retorcendo no caixão). Com certeza, tudo isso se justificaria se o preço fosse único (R$ 332,00 ida e volta, neste trecho). Seria racional, louvável até. São necessárias opções de vôos pelo menos um pouco mais baratos, a fim de ampliar o leque de pessoas voando ou para quem quer ou precisa economizar. Eu faria minha opção na hora: quero voar barato e segura, ponto final. Se eu quero serviço, opto por outra companhia. Mas não me engana, eu não gosto!

Filosofias de Internet

A Web é um baú de pérolas filosóficas, isso todo mundo sabe. Há coisas circulando de fazer inveja a qualquer autor fervoroso de auto-ajuda. Semana passada recebi duas mensagens "inspiradas" (gostei desse termo, meu amigo Júlio usou recentemente) e acho que estou ficando muito condescendente. Vou contar uma delas, podem me linchar depois, se quiserem. Era o conselho de um cachorro pra você levar uma vida melhor: "Aconteça o que acontecer, dê uma caminhada". Eu adorei, me soou ditado popular. Sempre gostei de ficar olhando os cachorros na rua, em especial os baixotes de pêlo amarelo, com aquele passo trote, o traseiro gordo rebolando, o rabo abanando, me alegra. Fico pensando nos que não tem casa, são vira-latas, pra onde vão? Acho que não se importam, aconteça o que acontecer, "c... e andam". Adaptando pra humanos, pensei que o importante é estar em movimento. Desculpem, ok? A outra era um lugar comum só, mas super gracinha; não vou contar pra não irritá-los.



Vera Moreira
Gramado, 24/7/2001

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01. Medir palavras de Paulo Polzonoff Jr


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