Sobre as ilusões perdidas | Fabio Silvestre Cardoso | Digestivo Cultural

busca | avançada
48464 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Banda Star Beatles sobe ao palco do Hard Rock Cafe Florianópolis
>>> Estão abertas inscrições para cursos, vivência e residência artística no Teatro do Incêndio
>>> Nas férias, Festival ALLEGRIA reúne atrações gratuitas de teatro musical e circo na capital
>>> Lacerdine Galeria agita no dia 12/7 a programação com a Festa Julinarte, banda de forró de rabeca e
>>> Festival exibe curtas-metragens online com acesso livre
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
Colunistas
Últimos Posts
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Leituras, leitores e livros – Final
>>> Machado sem corte
>>> Trinca de livros e um bate-papo
>>> Alguém para correr comigo, de David Grossman
>>> Gênios e seus Amores Loucos
>>> A quem interessa uma sociedade alienada?
>>> Tim Maia Racional, o disco
>>> Rinoceronte, poemas em prosa de Ronald Polito
>>> Podcast mental
>>> De Bach a Borges, com J. M. Coetzee
Mais Recentes
>>> Livro O Surgimento Das Nações Coleção Discutindo A Historia de Leon Pomer tradução Mirna Pisky pela Atual (1994)
>>> Etica Urgente! de Unknown pela Sesc (2014)
>>> A evolução anímica de Gabriel Delanne pela Feb (2025)
>>> Livro O Surgimento Das Nações Coleção Discutindo A Historia de Leon Pomer tradução Mirna Pisky pela Atual (1994)
>>> Filosofia ensino medio - Lumen volume 1 de Poliedro pela Poliedro
>>> Antes Da Tempestade de Dinah Jefferies pela Paralela (2017)
>>> Quimica ensino medio - Lumen volume 1 de Poliedro pela Poliedro
>>> Japonês para Brasileiros de Susumu Fukuma pela Pioneira (1990)
>>> Livro A Guerra Dos Tronos As Cronicas De Gelo E Fogo de George R. R. Martin pela Leya (2010)
>>> Arte ensino medio - Lumen volume 1 de Poliedro pela Poliedro
>>> Lingua inglesa ensino medio - Lumen volume 1 de Poliedro pela Poliedro
>>> Look Listen And Love - Barbara Cartland de Barbara Cartland pela Bantam Books (1977)
>>> Novas (velhas) Batalhas de Iphan pela Iphan (2019)
>>> Cartas A Um Jovem Advogado: Paixao, Determinacao E Talento de Francisco Mussnich pela Elsevier (2007)
>>> Livro Escritos Selecionados Presbiterianos Escoceses Convenanters E Saceders de Christopher Vicente pela Nadere Reformatie (2024)
>>> Psicanalise na Terra do Nunca: Ensaios Sobre a Fantasia de Mário Corso pela Penso (2011)
>>> O astronauta cosmico de Girassol pela Girassol
>>> Aquela Água Toda de João Anzanello Carrascoza pela Alfaguara (2012)
>>> Agent In Place - Helen Macinnes de Helen Macinnes pela Fawcett (1976)
>>> Um Passeio Pela Cidade Do R. De Janeiro de Joaquim Manuel De Macedo pela Planeta (2004)
>>> Livro Escritos Selecionados Presbiterianos Escoceses Convenanters e Saceders de Christopher Vicente pela Nadere Reformatie (2024)
>>> Meu Primeiro Livro De Atividades Em Inglês de Libsa pela Ciranda Cultural (2017)
>>> Livro Northlanders Book 1 The Anglo-saxon Saga de Brian Wood pela Vertigo (2016)
>>> O Reu E O Rei de Paulo Cesar De Araujo pela Companhia Das Letras (2014)
>>> Gypsy Magic - Barbara Cartland de Barbara Cartland pela Bantam Books (1983)
COLUNAS >>> Especial Mensalão

Terça-feira, 30/8/2005
Sobre as ilusões perdidas
Fabio Silvestre Cardoso
+ de 6700 Acessos
+ 2 Comentário(s)

O escritor e jornalista Nelson Rodrigues tinha uma frase essencial sobre si mesmo. Frase, não. Era um epíteto, uma espécie de marca que o definia como personalidade. Sem mais rodeios, vamos a ela: "Eu não seria nada sem as minhas obsessões". Grosso modo, arrisco aqui a fazer um paralelo com o Anjo Pornográfico. Assim como ele, eu não seria nada sem minhas obsessões. Sou obsessivo e um obcecado por natureza. Note o Leitor, por exemplo, que já devo ter citado inúmeras vezes o livro que dá título a esta coluna: Ilusões Perdidas, do francês Honoré de Balzac. Como bom francófilo, sou um apreciador da cultura e da Literatura francesas, mas a referida obra do Napoleão das Letras me fascina mais do que qualquer outra coisa. Costumo utilizar suas passagens para definir e/ou ilustrar períodos em que a complexidade pede algo a mais, algo que está fora do meu escasso repertório analítico. Nessas ocasiões, tomo Balzac. É o caso do presente artigo. Na atual conjuntura política, o título "ilusões perdidas" parece cair como uma luva, de modo que não há como não sorrir, ironicamente, para os companheiros e companheiras, em meio ao fracasso que foi o governo do presidente Lula.

Antes que as patrulhas venham dizer que sou apenas mais um a repisar o que já foi dito e escarrado pela "grande imprensa que conspira contra o Lula", afirmo aqui que há tempos que este governo parece ter acabado. Desde quando começou a falar mais do que fazer; desde que começou a viajar mais do que falar (tendo, inclusive, comprado um avião para isso); desde que passou a demonstrar mais inaptidão que as piores expectativas dos críticos mais ácidos; desde quando tornou-se um motivo de chacota (ao dizer, por exemplo, que a "Aqui nem parece a África", ou que "queria aprender com um ditador como é que se fazia para ficar tanto tempo no poder", entre outras pérolas já célebres do bestiário nacional). Em outras palavras, para mim, há muito que esse governo já deu o que tinha de dar (reprisando, em todos os aspectos, a política econômica do seu antecessor, o criticado FHC). Contudo, esse não é a maior de todos os problemas.

As ilusões às quais me refiro não são de ordem administrativa. São, ao contrário, de ordem ética, de ordem moral. Afinal de contas, o Partido dos Trabalhadores era a legenda que possuía um valor no que se refere ao campo ético que nenhum outro partido tinha. Era, inclusive, elogiado por isso, até mesmo por muita gente que sequer era simpatizante da causa. Daí que quando o Roberto Jefferson explode (ele não era o homem-bomba?) e solta parte de um passado e todo um presente que condenavam o partido a frustração é o sentimento mais próximo, para não mencionar num ceticismo geral em relação à política. Num aspecto mais crítico, o PT se igualou aos demais naquilo que mais atacava quando era estilingue: a corrupção. Agora, por fazer parte desse episódio, a legenda que um dia representou a esperança de muitos intelectuais, jornalistas e da classe trabalhadora transforma o sonho em pesadelo, o sorriso em desespero, a comédia em tragédia.

É curioso notar, a propósito, o comportamento dos que são vinculados ao PT. Questionados acerca dos escândalos, nota-se como a reação mudou com o passar do tempo. Lembro-me que quando Roberto Jefferson apresentou as primeiras denúncias à Folha de S.Paulo muitos afirmavam - com veemência, como é de praxe - que o PT era, "mais uma vez, vítima de um complô da mídia para derrubar o Lula. Que a elite tinha excedido; afinal, era impossível ser verdade. Se fosse...não, com o PT não era possível". A soberba não permitia que se pensasse assim do partido do presidente da República, etc, etc, etc. O cenário mudou bastante depois do depoimento de Jefferson à Comissão de Ética, em 14 de junho. O encanto começava a se quebrar. De lá para cá, a ficha caiu para alguns; e, aos poucos, já existe um consenso sobre a gravidade do escândalo, ou seja, já não há como esconder a sujeira para debaixo do tapete.

Para os petistas, as ilusões se perderam nesse momento. Foi o fim da idade da inocência. Eles viram, então, que o mostrengo (ou O Ornitorrinco, como escreveu Francisco de Oliveira já em 2003) era mais feio do que eles imaginavam. Penso, no entanto, que o pior se mostrou tempos depois. Digo, o país ter perdido as esperanças com a quebra de conduta ética do partido do presidente da República, o mesmo que não corrompia nem deixava corromper, não é mais grave do que a condescendência geral à medida que as revelações são feitas. Ora, em meio a tantos escândalos, muitos dos quais foram confirmados, ainda existe quem prefira desqualificar a imprensa e os acusadores, em vez de atentar para a verdadeira raiz do problema. Isto é, fica mais fácil dizer que as informações foram mal-apuradas do que averiguar as denúncias estampadas nos noticiários. Há quem chame isso de cautela, pois um processo de impeachment, ou uma punição equivalente aos culpados, deverá ser severa se tudo for confirmado. Confesso que não me recordo de opiniões, digamos, relevantes das personalidades (os petistas célebres). Ainda assim, a mais notória foi a de Chico Buarque, que estava nas manchetes dos sites enquanto escrevia esse texto, para quem "o Brasil está com a alma ferida". Notem, Leitores, que, mesmo quando é feita, a tomada de consciência ocorre indiretamente, como se as palavras e os gestos pudessem camuflar os crimes (sim, porque erro, como querem alguns, é outra coisa) dessa incúria administrativa.

Assim também para a população, a noção de que nada deu certo parece, enfim, ter chegado. Tanto é assim que as pesquisas mostram a queda de popularidade do presidente da República, algo inimaginável há três meses. E talvez as cenas mais incríveis de tudo isso sejam, não há dúvida, as lágrimas dos parlamentares petistas quando souberam do depoimento de Duda Mendonça na CPI do Mensalão. De lá para cá, óbvio, o petismo deu um jeito de emendar o discurso e fazer a memória coletiva não se lembrar do ocorrido, mas é para lá de simbólico a forma como isso aconteceu. Em primeiro lugar, porque foi a partir das palavras da mesma personagem, o Duda Mendonça, que criou o slogan da esperança; em segundo, porque, até então, o discurso de defesa das acusações era tão contundente que aparecia sempre como um contra-ataque.

Se na obra de Balzac, o provinciano Lucien de Rubempré se frustrava à medida que conhecia a crueza da vida parisiense em contraste com seus sonhos e ideais, o mesmo pode ser dito a respeito de boa parte daqueles que acreditaram na "Esperança" proposta por Lula em 2002. Por hora, essas ilusões estão todas perdidas.


Fabio Silvestre Cardoso
São Paulo, 30/8/2005

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Minha plantinha de estimação de Elisa Andrade Buzzo
02. Conselhos para jovens escritores de Isabel Furini
03. Livros, revistas, jornais e displays eletrônicos de Ana Elisa Ribeiro
04. Erotismo, sensualidade e literatura de Marcelo Spalding
05. Impressões sobre São Paulo de Nanda Rovere


Mais Fabio Silvestre Cardoso
Mais Acessadas de Fabio Silvestre Cardoso em 2005
01. Brasil e Argentina: uma História Comparada - 3/5/2005
02. O século da canção - 5/4/2005
03. Os Clássicos e a Educação Sentimental - 8/2/2005
04. Estudo das Teclas Pretas, de Luiz Faccioli - 22/2/2005
05. O Afeto Autoritário de Renato Janine Ribeiro - 22/11/2005


Mais Especial Mensalão
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
7/9/2005
12h07min
Que alívio ler textos como este. Quem sabe, agora, a imprensa fazendo a sua parte, esclarecendo, opinando com bom senso e coerência, a população não desperte... É isso que mais quero: acorda, Brasil, deixa de acreditar em profetas e premeie a inteligência, a competência, a responsabilidade!
[Leia outros Comentários de Mirtes Oliveira]
18/9/2005
16h58min
"Num aspecto mais crítico, o PT se igualou aos demais naquilo que mais atacava quando era estilingue: a corrupção." Parabéns pela escrita, pela linguagem, pela clareza de idéias, pela construção do texto. As ilusões podem ter sido perdidas, mas será que a esperança as acompanhou na descida da ladeira e, depois, rumo ao horizonte sem destino?
[Leia outros Comentários de Ana Claudia]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Manual de Direito Individual e Coletivo do Trabalho 561
Francisco Antonio de Oliveira
LTr
(2015)



Harvard Business Review on Negotiation and Conflict Resolution
Harvard Business Press
Harvard Business Press
(2000)



Sonetos
Florbela Espanca
Bertrand Brasil
(2002)



O Que uma Mulher Não Deve Dizer a um Homem Nem Sob Tortura
Jânio Queiroz
Novo Século
(2005)



Great Thinkers of the Western World
Ian P. McGreal
Harper Collins Publishers
(1992)



A Intriga Retrospecto de Intricados Acontecimentos Históricos e Suas
Carlos Tasso de Saxe Coburgo e Bragança
Senac
(2012)



Confesso Que Vivi - Memórias
Pablo Neruda
Difel
(1974)



Geoatlas. Mapas Políticos, Físicos, Temáticos...
Maria Elena Simielli
Atica
(2012)



Torne-se um Lider Eficaz
Sam Deep & Lyle Sussman
Campus
(1998)



Livro Didático Moderna Plus Geografia Parte II Volume Único
Lygia Terra e Outros
Moderna





busca | avançada
48464 visitas/dia
1,7 milhão/mês