A vida sexual da mulher feia | Fabrício Carpinejar | Digestivo Cultural

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Sexta-feira, 17/2/2006
A vida sexual da mulher feia
Fabrício Carpinejar
+ de 39600 Acessos

O título gruda no ouvido como letra de axé. Mas no bom sentido. É também nonsense, divertido e surpreendente, Campos de Carvalho (de A Lua Vem da Ásia e O Púcaro Búlgaro) iria gostar.

A Vida Sexual da Mulher Feia (2005, Agir, 136 págs.) já provocou gafes em algumas livrarias. Algumas pensaram que era auto-ajuda, um manual prático para as mulheres pouco abençoadas fisicamente. Outras acreditaram que se tratava de uma biografia. Difícil conciliar a estante biográfica com a fotografia de Claudia Tajes, publicitária gaúcha, bela morena de 42 anos e autora de outros quatro livros de ficção, Dez quase Amores; Dores, Amores e Assemelhados; As Pernas de Úrsula e Vida Dura.

Confusão por confusão, o livro vendeu sua primeira tiragem em semanas e já alcançou a marca de 15 mil exemplares. Mérito para a qualidade da ficção, que traz - em primeira pessoa - as agruras de Jucianara, uma mulher, diga-se, literalmente feia. É uma sátira ao romance de formação, seguindo a trilha de sucessos franceses tal Como me Tornei Estúpido, de Martin Page (que conta a história de um jovem que não consegue adquirir nenhum vício, muito menos se matar) e Mamíferos, de Pierre Merot (que flagra as mazelas de um tio fracassado diante da família). Dois parâmetros brasileiros de sua escrita ágil, fluente e leve é Fernando Sabino, da primeira safra como O Grande Mentecapto, e Luis Fernando Verissimo, numa versão Maitena.

Claudia Tajes tem um humor coloquial, pop e acachapante. A força está nos comentários espirituosos das cenas de humilhação de Jucianara, que já começa torta a vida no cartório. "Nas vezes em que reclamei com a minha mãe por me chamar assim, ela respondeu: - Não poderia haver nome que combinasse mais com você". É inviável não rir à toa e alto durante a leitura, como se houvesse um megafone embutido na garganta. Não se trata da risada sádica, que segrega as formosas das horríveis e aponta o dedo para torturar. Tajes alcança a proeza da risada generosa e solidária, imbuída da reflexão e do combate aos condicionamentos.

Apresenta um viés de conversa séria em um fundo cômico. Até se assemelha a um guia de etiqueta e dicas de revistas femininas - porém no tom de paródia. Os ensinamentos e as ilustrações reproduzem o hábito de privilegiar as más notícias. Até porque a boa notícia sempre é contada rapidamente. Por sua vez, a má notícia é lenta e cinematográfica.

Em A Vida Sexual da Mulher Feia, o trágico se torna patético e ganha Ibope de carisma. Da forma como a trajetória é pontuada, acompanhada de uma pedagogia da resistência, evoca o Big Brother. A autora-narradora tem um quê de Pedro Bial, abrindo caminho para a pobretona ganhar o prêmio.

Nenhuma mulher ou homem ficará imune à insegurança da personagem. Afinal, quanto mais se olha no espelho, mais imperfeições aparecem, independente se o tamanho é P ou G. Cada capítulo do livro, em um crescente, acaba se transformando em provador de roupa insuportavelmente apertado e estreito. Alheio à loteria genética, qualquer um se imaginará nas saias justas, seja perante o esforço de não dançar sozinha em uma balada, seja no papel que sobra de confidente. Tajes cria uma protagonista sem rosto, não define qual é o motivo da fealdade, não esmiúça descrições físicas, não impõe uma caracterização isolada. No máximo, sabe-se que Jucianara é gorda e só. O recurso facilita a identificação ampla e abrangente do público.

Esta é a principal virtude do livro: não se propagar como um conto de fadas às avessas. (Aviso de antemão:) O final feliz, com um príncipe encantado, não acontecerá sob hipótese alguma. Uma mulher feia não tem tempo para as distrações. Vai se esforçar o dobro para se considerar normal. E não mudará de condição, mesmo nas mãos de Pitanguy. Já que a mulher feia não é uma aparência, como explica Tajes, é um "estado de espírito".

Ju, como é conhecida para disfarçar seu batismo, goza de uma autocrítica impagável. Não perde um momento de se indispor à ditadura da magreza. Apresenta suas fases com requintes de crueldade. Como é a própria que se goza, não fica politicamente incorreto. Com uma crueza de consultório de terapeuta, é possível acompanhar desde o primeiro beijo, passando pela primeira transa e primeiro abandono até as relações maduras e - nem por isso - estáveis.

Suas aventuras amorosas começam com um colega do terceiro ano, Marcos, o único que parava para conversar. A transa rápida ainda era custeada pela divisão de um pacote de balas de jujuba. "Mulheres costumam esconder sua primeira vez no sexo. Com as mulheres feias a tendência é acontecer o mesmo, com uma diferença: no caso delas, é o deflorador quem prefere evitar a divulgação dos fatos". O histórico afetivo ainda inclui relacionamentos, entre outros, com um cobrador, um pintor frustrado e um porteiro.

No formato de teses, a escritora define e exemplifica os horrores vividos por Jucianara, que sempre sofrerá a companhia de eufemismos como "prestativa, simpática, confiável, boa-praça, exemplar e grande companheira".

O único pecado (venial) da novela é a quebra de ritmo no final. Tajes parece que apressou o passo, arrematou o que merecia um maior fôlego, lentidão e cuidado. O livro ficou assimétrico, as tensões envolventes e didáticas do início e do meio não encontram um desaguadouro merecido ao término. O sucesso de Ju como locutora na rádio Baticum FM e a inclusão de cartas dos leitores esfriam o conjunto, porém não sacrificam a revelação da autora como uma das mais bem-humoradas e peculiares ficcionistas brasileiras.

A Vida Sexual da Mulher Feia refaz a "Receita de Mulher", do poeta Vinicius de Moraes: "As muito bonitas que me perdoem, mas feiúra é fundamental."

Nota do Editor
Fabrício Carpinejar é poeta, autor de sete livros: entre eles, Como no céu/Livro de visitas (2005), Cinco Marias (2004) e Caixa de Sapatos (2003). Esta resenha, gentilmente cedida pelo autor, foi publicada originalmente no "Caderno2", de O Estado de S.Paulo, em 15 de janeiro de 2006.

Para ir além






Fabrício Carpinejar
São Leopoldo, 17/2/2006

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