Um texto com esmalte vermelho | Adriana Baggio | Digestivo Cultural

busca | avançada
56261 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Espetáculo-instalação destaca histórias de mulheres pioneiras na construção de Brasília
>>> Bailarinos de Brasília apresentam espetáculo gratuito em Planaltina e Sobradinho
>>> Evento: escritora paulistana Daniela Bonafé lança “Rosas de Chumbo” na 7ª FLIMA
>>> Evento: poeta mineira Thaís Campolina lança “estado febril” na Ria Livraria, dia 23/5
>>> Livro de André Moravec traz uma nova proposta para entender o átomo
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
Colunistas
Últimos Posts
>>> Drauzio em busca do tempo perdido
>>> David Soria Parra, co-criador do MCP
>>> Pondé mostra sua biblioteca
>>> Daniel Ades sobre o fim de uma era (2025)
>>> Vargas Llosa mostra sua biblioteca
>>> El País homenageia Vargas Llosa
>>> William Waack sobre Vargas Llosa
>>> O Agent Development Kit (ADK) do Google
>>> 'Não poderia ser mais estúpido' (Galloway, Scott)
>>> Scott Galloway sobre as tarifas (2025)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Um conto-resenha anacrônico
>>> Desejos e argumentos para 2005
>>> A crise dos 28
>>> Lobão com a boca no trombone
>>> Queen no Live Aid (1985)
>>> São Paulo, que dá nome à nossa cidade
>>> Glenn Gould: caso de amor com o microfone
>>> Seis anos em seis meses
>>> A síndrome da rejeição via internet
>>> O problema da Lei Rouanet
Mais Recentes
>>> Lucíola de José de Alencar pela Saraiva (2011)
>>> MUM Museu da moda 4.000 anos da história da moda de Ministério do turismo pela Ministério do Turismo (2021)
>>> O Sertão Do Conselheiro Antônio de Andrea Ebert pela Cortez (2010)
>>> O Diario De Anne Frank Em Quadrinhos de Ari Folman; David Polonsky pela Record (2021)
>>> É Proibido Miar de Pedro Bandeira pela Moderna (2009)
>>> A Pedra Na Praça E Outras Histórias De Liev Tolstói de Ana Sofia Mariz; Cárcamo pela Rovelle (2012)
>>> O Que Há De África Em Nós de Wlamyra Albuquerque pela Moderna (2013)
>>> O Menino Que Aprendeu A Ver de Ruth Rocha pela Quinteto Editorial (1998)
>>> Mourão, O General Do Pijama Vermelho de Laurita Mourão pela F. Alves (2002)
>>> Sem Fôlego de Brian Selznick pela Sm (2012)
>>> O Menino Do Dedo Verde de Maurice Druon pela José Olympio
>>> Clássicos Favoritos De Todos Os Tempos de Disney pela Brimar (1998)
>>> O Homem Que Calculava de Malba Tahan pela Record (2001)
>>> Malba Tahan Os Melhores Contos de Malba Tahan pela Record (2002)
>>> O Livro Ilustrado Dos Sonhos de Julia E Derek Parker pela Publifolha (1996)
>>> O Despertar Dos Mágicos de Louis Pauwels/ Jacques Bergier pela Bertrand Brasil (1998)
>>> Philosofia Vedanta de Swami Vivekananda pela O pensamento (1921)
>>> Vargas E A Crise Dos Anos 50 de Angela de Castro Gomes pela Relume Dumará (2011)
>>> Pós Impressionismo de Belinda Thomson pela Cosac Naify (1999)
>>> A Noite Dos Mortos-vivos e a volta dos mortos-vivos de John Russo pela Darkside (2014)
>>> Mulheres Do Brasil: A História Não Contada de Paulo Rezzutti pela Leya (2018)
>>> Antropoceno - Notas Sobre A Vida Na Terra de John Green pela Intrínseca (2021)
>>> Ensor de Ulrike Becks-malorny pela Taschen (2000)
>>> Poesia Que Transforma de Braúlio Bessa pela Sextante (2018)
>>> Um Carinho Na Alma de Braúlio Bessa pela Sextante (2019)
COLUNAS >>> Especial 2000 Colunas

Quinta-feira, 23/11/2006
Um texto com esmalte vermelho
Adriana Baggio
+ de 8800 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Ah, o prazer de falar de si! Mesmo quando a gente não tem essa abertura ou possibilidade, é difícil resistir à tentação de colocar um "eu" no meio do texto. Por isso, esse convite para escrever sobre minha experiência no Digestivo é como uma travessa de pudim de leite, uma panela de brigadeiro, uma barra de chocolate. Posso me esbaldar sem culpa e alimentar o ego, esse serzinho exigente e insaciável.

Nós, colunistas digestores, sempre tivemos permissão para a subjetividade, desde que ela acrescentasse algo ao assunto e fosse interessante para os leitores. Acho que deu certo, porque os relatos de experiências pessoais sempre foram grandes hits do Digestivo. E eu, como uma das mais antigas colaboradoras, já acompanhei muitas dessas verdadeiras colunas best-sellers. Antes, até com uma certa inveja: como essas pessoas têm tanta coragem de se expor? E depois, mais "digestivamente" amadurecida, com a sensata constatação de que cada um tem seu estilo e que a gente não deve subvertê-lo apenas para angariar mais leitores.

Essa fidelidade ao estilo não tem a ver com ideologia e nem com valores muito nobres. O motivo, na minha opinião, é mais estético. É como pintar as unhas dos pés de esmalte vermelho. Para ficar sexy e elegante, a mulher precisa ter porte, estilo, personalidade. O mesmo acontece com quem escreve: escancarar a vida pessoal cai bem em quem tem atitude para isso. Nos mais reservados, parece farsa, e os leitores percebem quando estão sendo manipulados.

Eu me vejo no grupo dos mais discretos - questão de estilo. Às vezes, falo de coisas sérias, "inteligentes" e de uma forma conciliadora. Pronto, é a receita para atrair poucos leitores. Olho o contador ao lado da coluna e ele não passa de 200, 300. Em outros dias, porém, surge a inspiração para tratar de um tema polêmico ou enveredar por caminhos mais perigosos. Voltando à comparação, seria como acordar poderosa o suficiente para encarar o esmalte vermelho nos pés e toda a responsabilidade que pesa nos ombros das mulheres de unhas rubras.

É natural que textos mais picantes, polêmicos ou de auto-ajuda atraiam um número maior de leitores. Os meus top ten tratam de sexo, mulheres, de casamento, de Google e de Orkut - os assuntos campeões de audiência em nossos dias. Fico feliz por, algumas vezes, até prestar um serviço de utilidade pública. Minha coluna sobre cruzeiros marítimos sempre atrai interessados em receber dicas de viagem, que eu dou de bom grado; a do casamento já serviu de inspiração para uma noiva e as orientações sobre o Google ajudaram alguns blogueiros a sair do anonimato.

O tal do ego fica feliz em saber que conseguiu ser importante. E é ele também que sofre quando ninguém dá bola para o texto, ou quando pedem alterações. No Digestivo, esse último caso praticamente não acontece. Temos muita liberdade para escrever e, desde que a gente não atire muito fora do alvo, nosso editor, o Julio, é bastante generoso. Não posso dizer o mesmo dos clientes atendidos pelas agências onde trabalho. Eles têm um prazer sádico em mexer no texto, 90% das vezes sem necessidade e com resultado pior do que o original.

Será que todo mundo que escreve tem essa relação afetiva com o texto? Escrever, mesmo que "por dinheiro", sem aspirações artísticas ou literárias, parece ser uma forma de expressão da subjetividade. Uma subjetividade que não está relacionada ao conteúdo do texto ou às idéias do escritor. A presença do "eu" está na forma: o estilo, a escolha das palavras, o jeito de pontuar as frases. Mexer nisso é como pedir para você mudar de opinião, de time, de comida preferida. Se você é modelo, talvez tenha que tingir ou cortar o cabelo - uma das expressões da nossa identidade - para conquistar algum trabalho. Se você é escritor/redator/jornalista, talvez passe pelo mesmo processo, com vírgulas no lugar do cabelo.

Talvez essa dependência pelo ato de escrever explique porque estou há mais tempo no Digestivo Cultural do que com qualquer emprego ou namorado. Já são mais de cinco anos colaborando, enquanto que o meu relacionamento mais longo - o atual, ainda bem - está no 4º aniversário, e o trabalho mais duradouro apenas passou um pouco dos dois anos.

Alguém pode dizer que a escrita não depende de estarmos vinculados a um site, editora ou qualquer outro meio de publicação. E o ego, onde fica? Quem escreve o faz para ser lido. Essa história de botar as idéias no papel para poder desabafar talvez funcione como terapia, mas não resolve o problema do escritor. Tanto é verdade que muita gente transferiu seus diários para os blogs - com certeza, não por causa da ferramenta, e sim pela possibilidade de ter alguém lendo o que escreve.

Não sei dizer se a virtualidade é a causa de o meu relacionamento com o Digestivo durar tanto, ou se isso só torna a façanha da estabilidade ainda mais meritória. Fazer parte dessa equipe é algo importante na minha vida. Posso até arriscar dizer que o início da fase em que estou hoje coincide com minha estréia no Digestivo.

Sempre me vi às voltas com as letras. Primeiro, eu lia muito. Depois, descobri que também gostava de escrever. Meus pais adoravam meus cartõezinhos de Natal. Uma grande frustração foi ter perdido um concurso na escola porque a poesia que eu escrevi estava em forma de prosa. Até assumir que eu gostaria de viver dos meus textos, levou algum tempo. E como se fala em marketing, aproveitei uma mudança de cidade para me "reposicionar" profissionalmente.

Como ninguém me conhecia na nova cidade, me apresentar como "redatora" foi fácil. No meio desse processo, acabei encontrando o Digestivo. Não consigo lembrar como nem onde. Horas navegando na internet me levaram até o site e algo me fez ter a coragem de pedir para ser aceita como colaboradora. Depois de um texto-teste, sobre o filme Náufrago, passei a escrever regularmente. Isso foi no começo de 2001, quando o Digestivo Cultural tinha apenas alguns meses.

De lá para cá, já são mais de 130 colunas. Ultimamente, não tenho colaborado com a regularidade que eu gostaria. Só um tema atraente como esse - falar de mim - para me tirar da inércia e fazer com que eu dedique algumas horas para escrever. Enquanto isso, alguns textos do trabalho ficam de lado. Ah, deixa eles pra lá. O cliente vai mudar mesmo, meu ego vai ficar ferido e o estresse vai estragar tudo. Melhor me concentrar na minha coluna, que a gratificação é bem maior. E mesmo que você ache péssimo, não vai poder mexer. No máximo, criticar. Mas aí já não vai ser o meu texto, e sim o seu.


Adriana Baggio
Curitiba, 23/11/2006

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Pensar Não é Viver de Carina Destempero
02. Patriotada às avessas de Luiz Rebinski Junior
03. Contra os intelectuais de Eduardo Carvalho


Mais Adriana Baggio
Mais Acessadas de Adriana Baggio em 2006
01. Dicas para você aparecer no Google - 9/3/2006
02. Cruzeiro marítimo: um espetáculo meio mambembe - 23/2/2006
03. Eles vão invadir seu Orkut! - 9/2/2006
04. O amor e as mulheres pelas letras de Carpinejar - 20/7/2006
05. Breve reflexão cultural sobre gaúchos e lagostas - 12/1/2006


Mais Especial 2000 Colunas
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
24/11/2006
15h02min
Não sei se as unhas da colunista são rubras, mas os dedos são ágeis no teclado, provavelmente obedecendo a um saudável bom senso que, como ela mesma detecta, a impede de exceder-se além da conta. Minhas palavras ficaram meio empoladas. O que eu queria dizer é que essa discreta maneira de se expressar é a marca de uma maturidade literária. Os textos da Adriana são ótimos.
[Leia outros Comentários de Guga Schultze]
2/12/2006
10h05min
Adriana, na sua linha de pensamento, também acho instigante o mundo das letras. Bem-aventurados os que conseguem decodificar o dia-a-dia das palavras. E mais bem-aventurados ainda os que se permitem afirmar que a opinião está em formação e não tem aquela arrogância de dizer que já possuem um "parâmetro" sobre algo.
[Leia outros Comentários de Elvis Mutti]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Obras mediúnicas de Yvonne Pereira - 6 Livros
Yvonne A. Pereira
Feb
(1974)



Vertigens para o Médico Clínico
Paulo D. Fernandes; Lis T. Fernandes
Robe
(2001)



A Nova Era Apocaliptica: Menino Vesta Azul e Menina Veste Rosa
Lisiane Aguiar Henrique
Viseu
(2019)



Pensadores Que Inventaram o Brasil
Fernando Henrique Cardoso
Companhia das Letras
(2013)



Musicália Musicalium
Irvany Bedaque F. Farias
Orfeu Ltda
(1973)



La Patrouille du Temps - Volume 1
Poul Anderson
Le Bélial
(2016)



Londres + mapas rough guides
Guia visual
Publifolha
(2007)



Introdução às Telecomunicações
Rui Sá
Fca
(2010)



Foucault and Social Dialogue
Falzon
Routledge
(1998)



A Maldição de Mar Saba
A. D. Fróss
Marco Zero
(2005)





busca | avançada
56261 visitas/dia
2,5 milhões/mês