Chantibeijos | Elisa Andrade Buzzo | Digestivo Cultural

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Quinta-feira, 18/10/2007
Chantibeijos
Elisa Andrade Buzzo
+ de 5800 Acessos
+ 2 Comentário(s)


ilustra: Luli Penna

Chantibeijos é quase uma idealização - mais do que isso, é uma aceitação prazerosa dos defeitos, perda da consciência em pleno deslumbre. Aquilo que parece que não existe, mas é onde bate um coração apressado, é chantibeijos.

Não é algo que se encontre no Google ou Houaiss. Palavra inutilizada pelos escritores, chantibeijos não consta nos clássicos da literatura brasileira. Ouvia-se no rádio? Se estivesse nas revistas de fofocas e celebridades, chantibeijos sairia na capa em letras brancas, num quadrado vermelho.

Chantibeijos não se compra, nem se encontra à venda. Toca a campainha e sai correndo em seguida. Torta na cara de políticos e homens sérios, na seqüência uma lambida. Adjetivo todo-poderoso, diga-se de passagem.

É usar rosa sem receio da opinião alheia. Acordar numa manhã de inverno, enxergar o rosto sujo e decidir cortar a barba. Estar um pouquinho acima do peso, e mesmo assim, irresistível. É ter cabelos de propaganda de xampu Elsève e ser desejado pelos cabeleireiros. Também é molhar as madeixas na pia achando que vai ajudar a baixar a crista.

Chantibeijos, que se adapta a qualquer situação e vive em constante gemido, se desfaz em picolé de baunilha quando atinge picos de felicidade. Acompanha cantando as músicas que ouve no rádio, mas não sabe as letras de cor. Sabe tocar apenas uma canção no violão. Por trás da corpulência de chantibeijos se esconde ainda mais exuberância. Mal se nota quando desafina...

Chantibeijos, essencial e dispensável, é muito mais do que tudo de bom, excelente ou fantástico. É gostar de lavar louça, ainda que não limpe bem as panelas. Dormir fora de casa sem ter de dar explicações a ninguém. É prometer que sempre estará disponível. Não ter vergonha de falar com ninguém, estar à beira de um escândalo público.

Ser chantibeijos é não ter medo de ser brega, qualquer coisa multifaces, mas reconhecível em figura geométrica, porque chantibeijos pode ser uma atitude, um jeito adorado de ser, homem ou lugar... é tomar uma pose, ora de soneto moderno, ora de minueto, sem que se dissipe a unidade essencial.

É uma pâtissier cor-de-rosa com mesinhas de ferro formando arabescos; sabonete à base de gordura vegetal e nunca testado em animais. Uma tia de sonhos loucos e expressões inusitadas que cozinha bolo de chocolate com gosto de terra.

Quem sai serelepe pelas ruas com um spray de chantilly, pichando os muros e as casas, estalando um beijo molhado em cada alvo-bochecha. Caprichar no visual para o trabalho, mas às vezes não dar a mínima se a roupa está combinando. Investigar-se no espelho com o desdém que os metrossexuais não têm. Bruto e delicado, tem mãos crespas de agricultor e palmas macias de escritório.

Distraidamente concentrado, Chantibeijos respeita muito seu chefe, mantém uma leve rotina doméstica, tem uma gaveta cheia de moedas e tranqueiras que vai jogando sem qualquer critério. Desarma qualquer um com seu sorriso de marfim (mil pontas), se excita com facilidade.

É mulher nua montada no querido pônei, ou qualquer outra relação constrangedora e absurda. É gritar por comida, como criança. É o ridículo estourando - mensagem no espelho com batom vermelho. Ainda dizem, numa outra imagem pitoresca da palavra, que é um beijo no cume de uma montanha de chantilly fresco. Mas se chantibeijos fosse chanteclair!

É o lugar-comum de se dizer perfeccionista quando alguém pergunta seu maior defeito. Encontrar o que se perdeu onde menos se espera. Encontrar o que não se espera. Caixa-surpresa explodindo em palhaço engraçado ou caixinha-de-música de bailarina.

Não ter hora para chegar em casa e sequer pensar nela. Fumar de vez em quando com os amigos e continuar com os dentes branquinhos. Ter cara de mocinho e jeito de bandido. Achar que as séries de ação americanas são os melhores programas do mundo. Ter preguiça de ler e de escrever.

É dizer as coisas espontaneamente, e ainda assim não chocar. Ter um bom humor inabalável e uma lucidez assustadora. Também é desejar ser feliz, esperar algo grandioso da vida, e ainda não saber como será possível. Adorar viajar, um dia casar e ter filhos, mas não levar muito jeito para a coisa.

Ser chantibeijos é dormir com a facilidade de um gato. Ficar em paz com o estômago depois de comer dois cachorros-quentes e uma porção de batata-frita. Os olhos grandiosos e brilhantes são glóbulos capazes de engolir o mundo, porque o mundo é dele se ele estalar seus dedos mágicos.


Elisa Andrade Buzzo
Bordeaux, 18/10/2007

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
25/10/2007
17h57min
Maravilhoso, mágico e delicioso esse texto, Elisa. Na correria do dia-a-dia, mal percebemos nossos chantibeijos, mas era só querer. Acrescentar uma pitada de chantily e um leve toque cor-de-rosa... O texto passa a sensação de felicidade plena, encantadoramente eterna... Muitos chantibeijos pra você!
[Leia outros Comentários de Débora Costa e Silva]
1/11/2007
15h49min
Amei este texto, todos somos e vivemos chantibeijos eventualmente. Parabéns!!
[Leia outros Comentários de Aloi Schneider]
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