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Quarta-feira, 16/7/2008
Despindo o Sargento Pimenta
Luiz Rebinski Junior
+ de 8500 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Investir em informações que durante muitas décadas soaram apenas como mera especulação é a característica mais cativante de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band ― um ano na vida dos Beatles e seus amigos (Conrad, 2007, 256 págs.), livro escrito pelo jornalista Clinton Heylin que investiga em detalhes a feitura do álbum mítico dos Beatles, lançado em 1967.

Entre as investidas de Heylin, talvez a que mais chame a atenção é a afirmação de que Pepper é uma criação quase que exclusiva de Paul McCartney, relegando, dessa forma, a John Lennon, por vezes exaltado como o gênio do grupo, um papel secundário. Apesar de não ser propriamente nova a informação (que sempre soou como especulação), Heylin apara as arestas e mostra os fatos de forma convincente por meio de uma investigação minuciosa. Em um trabalho de garimpo, vai buscar em arquivos declarações que validem suas insinuações. Utiliza, por exemplo, uma entrevista de Lennon, em 1980, para provar que foi Paul quem construiu aquele que seria apontado por muitos como o disco mais revolucionário da música pop de todos os tempos.

"Fiquei um pouco ressentido depois por causa desse álbum. Eu tinha uma vida mais suburbana na época, com mulher e filho, enquanto [Paul] ainda agitava na cidade, solteiro e saindo bastante. Ele preparava algo para uma música ou um álbum e me ligava dizendo: 'É hora de ir para o estúdio. Escreva algumas canções'. Ele já tinha tudo preparado, com idéias e arranjos prontos, enquanto eu começava do zero. Em Sgt. Pepper, que também foi idéia dele, consegui fazer [...] 'A day in the life', sob pressão e em apenas dez dias. Mesmo assim, eu participava mais no começo. Depois, eu meio que sucumbi ao casamento e à comida".

As palavras de Lennon revelam não só a distância dos membros do grupo no processo de elaboração do disco, mas também deixam transparecer que Pepper foi o começo do fim da banda, outra suspeita que sempre suscitou muitas dúvidas entre os fãs do grupo.

Muito além de mero comentário faixa-a-faixa, Heylin recria o contexto cultural e musical que forjou o ambiente ideal ao aparecimento de Pepper. Tal efervescência ficaria conhecida como psicodelia. Para contar a história de Pepper, Heylin narra a saga de bandas como Pink Floyd e Beach Boys, grupos que à época estavam tão inclinados ao som viajandão que começava a pipocar no underground inglês quanto os Beatles. O Floyd, liderado ainda por Syd Barrett, gravava seu primeiro disco, The piper at the gates of a dawn, no mesmo estúdio que os Beatles, o que facilitava a troca de informações entre os integrantes das bandas. Heylin disseca também o embate velado que Brian Wilson, o líder e cabeça dos Beach Boys, travava com os Beatles, tentando a todo custo produzir uma obra que rivalizasse com o ainda inédito, mas já muito comentado, álbum "psicodélico" dos Beatles. Wilson, infelizmente, sucumbiria à missão de fazer um disco à altura de Pepper, pois não conseguiu terminar Smile, o disco que ficou conhecido como um dos grandes fiascos do rock.

Elemento central na psicodelia inglesa dos anos 1960, o LSD surgiu como a grande fonte de inspiração para os jovens da época que se arriscavam a fazer música. E claro que os Beatles também sentiram a influência da nova droga que surgiu e rapidamente foi glamorizada por gente importante como o escritor Aldous Huxley. O mais irônico da história é que Pepper, à época (e ainda hoje) eleito como símbolo máximo da psicodelia nascente, foi concebido pelo mais careta dos Beatles. Paul McCartney era o certinho da banda, enquanto Lennon "estava muito fora na época [...] porque tomava uma quantidade enorme de ácido". Isso coloca em xeque muitos significados que as letras do disco adquiriram por conta do ambiente altamente tóxico em que foi concebido. "Lucy in the sky with diamonds", composta por Lennon, não tem nada a ver com LSD (o título da canção seria uma referência à sigla pelo qual o ácido é conhecido) e seus efeitos. É mais uma das histórias mal contadas que ganhou ao longo dos anos contornos verossímeis. O que para muitos é uma ode à viagem lisérgica, na verdade é fruto de um ingênuo exercício escolar. A música foi feita a partir de um desenho de Julian, filho de John, em que a criança imaginava Lucy, uma coleguinha de escola, em um "céu com diamantes".

Com a mesma incisão, Heylin desconstrói outra verdade absoluta que se conta sobre Pepper e que freqüentemente é citada como um dos grandes méritos do álbum: sua unidade conceitual. É incontestável que a idéia de subtrair os intervalos entre as faixas foi o "pulo do gato" do disco. Mas a idéia de um álbum fechado em um conceito artístico, tal como uma ópera-rock, só existiu na cabeça dos mais exaltados. Isso fica claro nas palavras de George Martin, o quinto elemento, que também tem sua participação contestada por Heylin, ao falar sobre a disposição das faixas. "Percebi que tínhamos um conjunto muito curioso de canções, na verdade pouco relacionadas umas às outras, músicas díspares. Observando o todo, eu comecei de fato a me preocupar se não estávamos sendo um pouco pretensiosos, um tanto metidos a espertos".

O que não significa que Heylin conteste o valor artístico do álbum ― apesar de ser bastante crítico com relação aos pequenos (mas duradouros) desencontros difundidos ao longo das décadas acerca da realização de Pepper. Além disso, Heylin enumera ao longo de sua grande reportagem, as barreiras conceituais e mercadológicas que o disco derrubou antes mesmo de ser iniciado, como a decisão dos Beatles de não sair mais em turnês, nem lançar compactos (discos com apenas duas canções que tinham como único objetivo disputar posições nas paradas de sucesso), rompendo com um dos pilares da indústria fonográfica da época. Heylin enumera os prós e contras do disco de forma bastante lúcida, o que, felizmente, não faz de seu livro um panfleto de louvação a uma obra em que o elogio vem sempre acompanhado de um ar de déjà vu.

A tão propagada influência que Bob Dylan exerceu sobre o grupo, sendo crucial no momento em que os Beatles rompem com o tipo de música que vinham fazendo antes de Revolver, é esmiuçada a ponto de deixar os fãs do FabFour ruborizados. O respeito messiânico que os Beatles tinham por Dylan fica claro quando McCartney mostra ao ídolo em primeira mão o acetato de "Tomorow never knows" (música de Revolver) e tem como resposta um irônico "ah, já sei, vocês não querem mais ser bonitinhos". Apesar de todo o sarcasmo, Dylan mais uma vez estava certo. A partir de Revolver, os Beatles elevariam o nível de suas canções e partiriam para uma empreitada audaciosa. E com certeza, Dylan seria peça fundamental nessa ruptura. A forma com que o artista rompeu com o público folk em Newport, alguns meses antes, ao eletrificar seu som, certamente teve grande influência nas decisões que os Beatles tomaram antes de gravar Pepper. Harrison, um dos mais afetados pela poesia de Dylan e que décadas depois tocaria com o ídolo no Traveling Wilburys, chegou a declarar em 1966 que "tudo o que fizemos até agora foi lixo, do modo como vejo hoje. Outras pessoas podem gostar do que fizemos, mas nós não nos enganamos".

E foi esse pensamento de mudança estética que permeou as gravações de Pepper, que contou também com inovações técnicas até então inéditas na música pop. E muito da magia do disco se deve às soluções de estúdio, que hoje soam corriqueiras, encontradas pelos Beatles para idéias inicialmente abstratas. Foi realmente surpreendente como a banda concebeu sons que naquela época eram impossíveis de se ouvir em uma canção pop gravada no limitado sistema de quatro canais. Mas ainda assim, apartado das experimentações técnicas, o disco se sustenta por si só. Ainda hoje, músicas como "A day in the life" e "With a little help from my friends" guardam um frescor impressionante, enquanto outras, como "Getting Better" e "Lovely Rita", entrariam em qualquer parada de sucesso pop dos últimos 40 anos.

Deixando de lado o alegre misticismo que cerca Pepper, o jornalista Heylin fez um livro crítico e de apuração exemplar, que revela ao leitor o exato valor de uma obra que sintetizou uma época. Tudo isso sem um pingo de tietagem.

Para ir além






Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 16/7/2008

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* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
16/7/2008
15h41min
Parabéns, Luiz. A matéria está cativante. Mas uma das coisas q mais provam nossa sujeição cultural é q temos o primeiro, o segundo e, quiçá, o terceiro maior compositor individual da música pop de todos os tempos e, se um jornalista nativo contar a história deles, dificilmente chegaremos a editar o livro em mais q 3 idiomas. Quanto mais se contarmos peculiaridades da vida deles, como as dos ídolos da língua inglesa. Sabemos a cor das ceroulas dos roqueiros internacionais quando promoveram "revolutions" na música e, se morrem, então, sabemos até se a empadinha encontrada na dissecação era de palmito ou de camarão. As gentes do primeiro mundo só têm conhecimento de nossos gênios se um dos ídolos internacionais assume que foi influenciado pelo ídolo tupiniquim. Temos pelos menos 5 dos 10 mais geniais compositores em atividade e o mundo não conhece nossa música. A ñ ser quando um Pedro Ribamar se transforma em Peter Ribasea ou um Roberto Alves vira Bob Elvis. Ah, se este comentário fosse em Braile!
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