As viúvas da Bizz | Luiz Rebinski Junior | Digestivo Cultural

busca | avançada
45168 visitas/dia
1,9 milhão/mês
Mais Recentes
>>> “cicatriz”: escritor Breno Ribeiro retrata em “thriller familiar” as dores da perda de um filho
>>> LIVROS EM MOVIMENTO TERMINAIS PINHEIROS, PIRITUBA E CAMPO LIMPO PROMOVEM AÇÃO DE FOMENTO À LEITURA
>>> Circuito Arte e Cidade apresenta: Cidade Espetáculo - Aventura nos Três Poderes
>>> Cia Dança Sem Fronteiras no dia 08 de setembro em Jaraguá do Sul
>>> FÊNIX – onde nascem os sonhos com Clarin Cia. de Dança
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
Colunistas
Últimos Posts
>>> Bernstein tocando (e regendo) o 17º de Mozart
>>> Andrej Karpathy no No Priors
>>> Economia da Atenção por João Cezar de Castro Rocha
>>> Pablo Marçal por João Cezar de Castro Rocha
>>> Impromptus de Schubert por Alfred Brendel
>>> Karajan regendo a Pastoral de Beethoven
>>> Eric Schmidt, fora do Google, sobre A.I.
>>> A jovem Martha Argerich tocando o № 1 de Chopin
>>> Marilena Chauí lança sua Patrística (2024)
>>> Pondé sobre Olavo de Carvalho (2024)
Últimos Posts
>>> O jardim da maldade
>>> Cortando despesas
>>> O mais longo dos dias, 80 anos do Dia D
>>> Paes Loureiro, poesia é quando a linguagem sonha
>>> O Cachorro e a maleta
>>> A ESTAGIÁRIA
>>> A insanidade tem regras
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Solidão Moderna
>>> Um Daumier no MASP
>>> Um clássico argentino
>>> Quem é (e o que faz) Julio Daio Borges
>>> Adults’ Songs
>>> 50 anos a mil, a vida de Lobão
>>> Torço para quem eu quiser
>>> Um Furto
>>> Nanda Rovere por Nanda Rovere
>>> Torce, retorce, procuro, mas não vejo...
Mais Recentes
>>> Telling Lies: Clues To Deceit In The Marketplace, Politics, And Marriage de Paul Ekman pela W. W. Norton & Company (2009)
>>> Yoga Cristã e Espiritualidade de Santo Inácio de Loyola de Haroldo J. Rahm e Núbia Maciel França pela Loyola (2007)
>>> Outubro História Da Revolução Russa de China Miéville pela Boitempo (2017)
>>> Estado E Burguesia No Brasil. Origens Da Autocracia Burguesa de Antonio Carlos Mazzeo pela Boitempo (2024)
>>> Trabalho Individuo História de Antonino Infranca pela Boitempo (2014)
>>> Reconstruindo Lênin. Uma Biografia Intelectual de Tamás Krausz pela Boitempo (2020)
>>> Guerra Dos Lugares de Raquel Rolnik pela Boitempo (2019)
>>> Karl Marx - Uma Biografia de José Paulo Netto pela Boitempo (2020)
>>> Sketching para Arquitetura e Design de Interiores do Móvel ao Edifício de Stephanie Travis pela Gustavo Gili (2015)
>>> O Capital - Livro I de Karl Marx pela Boitempo (2023)
>>> Chega de Açúcar de Sarah Wilson pela Sextante (2016)
>>> Grundrisse: Manuscritos De 1857-1858 de Karl Marx pela Boitempo (2021)
>>> Experimento Da Intenção de Lynne Mctaggart pela Rocco (2010)
>>> Études de Style - Léo Spitzer et la Lecture Stylistique de Jean Starobinski de Leo Spitzer pela Tel Gallimard (1970)
>>> Diário do Exílio (Obras Completas Volume 1) de Trótski pela Edições Populares (1980)
>>> Visuelles Worterbuch English Deutsch de Vários Autores pela Conventgarden (2009)
>>> Japonês para Brasileiros de Susumu Fukuma pela Pioneira (1993)
>>> Ioga para Fazer em Casa de Sivananda Yoga Vedanta Centre pela Publifolha (2015)
>>> História E Documentação: de Ricardo Selke pela Intersaberes (2020)
>>> Educação para o Século 21 - A Era do Indivíduo Digital de Rui Fava pela Saraiva (2016)
>>> A História E Os Dias de Antonio Fontoura pela Intersaberes (2024)
>>> Nova Pragmática - Modos de fazer de Daniel N. Silva pela Cortez (2010)
>>> Os Egipcios de Isaac Asimov pela Planeta (2024)
>>> The Art Of The Matrix de Vários Autores pela Newmarket Press (2000)
>>> Condão de Giordano Mochel Netto pela Novos Talentos
COLUNAS

Quarta-feira, 4/3/2009
As viúvas da Bizz
Luiz Rebinski Junior
+ de 4600 Acessos
+ 1 Comentário(s)

André Barcinski foi um dos autores preferidos de uma geração que hoje está beirando os 30. E olha que ele não era escritor. Ele somente foi um dos privilegiados, na era pré-digital, que estavam por dentro de todas as novidades da música pop no Brasil antes de todo mundo. Barcinski era repórter da Bizz em uma época que poucos tinham a chance de se informar decentemente sobre música, discos, livros e tudo que envolvia cultura pop. Isso era nos anos 1990, quando a Bizz era a tábua de salvação de quem gostava de generalidades pop, mais precisamente de música, e não tinha acesso a revistas e discos importados. Receber em casa a Bizz era uma alegria ― que durava pouco. Eu devorava a revista em poucas horas e passava o resto do mês folheando o que já tinha lido e relido inúmeras vezes. Era triste. A Bizz para um pré-adolescente ávido de informação no extremo sul de um estado do sul era como santo para carola. Era um objeto meio sacro mesmo, que tratava de preencher a cabeça vazia de quem só podia gravar fitas cassetes se quisesse escutar bandas que só conhecia de ouvir falar. Então, tudo que se tinha era a Bizz e as páginas de cadernos de cultura. Só. Uma época braba até para profissionais, que tinham que ler o New Music Express, a Mojo e a Rolling Stone com semanas de atraso, às vezes meses, para saber o que estava rolando de importante na música.

Assim, Barcinski ― e a trupe que fazia a Bizz ― não precisava de muito para ser admirado. O simples fato de estar onde muitos gostariam e poucos tinham a chance era o que bastava. Mas claro que havia algo mais nisso. E esse algo mais podia ser resumido em uma equação simples: texto bacana + dedicação = bom jornalismo cultural. Menos ácido que o outro André, o Forastieri, também lendário da antiga Bizz, Barcinski ajudou a instruir, musicalmente, talvez mais de uma geração de jovens tarados por música, mas que se viam tolhidos pela falta de informação.

Acompanhado por gente que hoje é referência no jornalismo cultural brasileiro, como Ana Maria Bahiana ― sempre em algum canto especial dos Estados Unidos mandando novidades do hype (àquela época a expressão nem era usada) para a província ―, Pedro Alexandre Sanches, Pedro Só, Alex Antunes e o já citado Forastieri, Barcinski fez parte de uma turma que ajudou a desbravar o jornalismo musical do país. Afinal de contas, até meados dos anos 1985, quando a Bizz foi criada, as experiências com periódicos dedicados ao público jovem não tinham sido nada animadoras ― haja vista a primeira tentativa de lançar a Rolling Stone brasileira em meados dos anos 1970 e coisas primárias como a revista Pop.

Foi só com a onda do rock Brasil nos anos 1980 que uma revista de música dedicada ao público jovem foi possível. Talvez por conta do ineditismo da experiência, surgiram muitos bons jornalistas, todos loucos para mostrar serviço e reviver a saga de ícones como Lester Bangs. Deve ter sido esse espírito que moveu, no início dos 90, auge do grunge, André Barcinski a meter o pé na estrada e ir atrás das bandas americanas que pipocavam no cenário musical da época. A aventura ganhou forma e nome: Barulho ― uma viagem pelo underground do rock americano. Um livrinho meio tosco, em formato de revista e com diagramação sofrível, mas que materializava aquilo que só existia em sonho para muitos leitores e até mesmo jornalistas da própria Bizz.

Afinal, se os discos demoravam a chegar por aqui, imagine os artistas (com exceção de dinossauros que já não interessavam mais ao público gringo). Mas Barcinski não esperou que o novo envelhecesse. Foi em busca de bandas que estavam à frente da novíssima música americana e que tomariam de assalto o mundo com camisas xadrez, calças rasgadas e cabelos sebosos. Sim, o cara foi até Seattle para ver o Nirvana no auge de sua loucura e criatividade; peregrinou pelo Village atrás da estranha figura de Joey Ramone e se trancou no estúdio com o Ministry. Tudo isso, diz a lenda, sem grana de editora ou patrocinador. Certamente, à época, "uma humilhação enorme aos outros jornalistas ligados à música e a cena culturaleba em geral", conforme escreve Forastieri no prefácio da edição.

"... pegar o avião com dois velhos amigos e se enfiar dois meses nos Estados Unidos. Atravessar a coisa toda de costa a costa ― só para ver vídeos com Joey Ramone, assistir a um ensaio dos Red Hot Chili Peppers, detonar a noite inteira com o Ministry. Presenciar o estouro do Nirvana, trocar discos com o líder dos Dead Kennedys Jello Biafra, conhecer a nova capital do rock USA, Seattle. Só para ir a shows toda noite! Ao cinema toda tarde! Comprar zilhões de CDs, discos, vídeos, pôsteres, camisetas! Só para curtir FESTAS ALUCINANTES TODO DIA!", escreve Forastieri sobre a trip do amigo.

O prefácio de Forastieri não só dá o tom da narrativa que virá nas páginas seguintes, mas também evidência a relação dúbia que os jornalistas musicais da época tinham com o seu trabalho. Algo que ainda hoje existe, mas que naqueles tempos, por conta das dificuldades de acesso aos produtos culturais, ficava mais evidente. Separar o jornalista do fã, em uma época de escassez sonora, era muito mais difícil.

Por isso o livro de Barcinski soa, hoje, muito mais como um relato apaixonado de um fã da música jovem do que um livro-reportagem comprometido em dissecar, em tom crítico, os vários lados da cena americana do início da década de 1990. Barcinski não foi investigar nada, não quis procurar respostas, apenas prestar tributo, conhecer e ver com os próprios olhos qual era a real daquilo tudo que nós, brasileiros, só víamos de longe. Era apenas um garoto de 23 anos querendo conhecer seus heróis, bater um papo com os malucos do Cramps e beber cerveja nos inferninhos mais toscos dos Estados Unidos.

E Barulho é isso, uma trip nervosa de uma fã de rock. Mas, mesmo com suas deficiências, o livro de Barcinski, hoje esquecido, foi um marco do jornalismo musical nacional. A evocação tardia do "faça-você-mesmo" tupiniquim encarnado por Barcinski serviu de estímulo a muita gente, não só jornalistas. Yes, we can, gritava com fúria punk o jovem Barcinski sem suspeitar da existência de Obama. Se Barulho é o filho bastardo de Reações Psicóticas, certamente é pai legítimo de Rumo à Estação Islândia.

Em um texto simples e direto, Barcinski revela histórias que só o tête-à-tête faz emergir. Jello Biafra, um profundo conhecedor das ditaduras latino-americanas, fazia-lhe perguntas empolgadas sobre Collor e discursava sobre a história do Paraguai. Isso mesmo, o maluco se especializou em história do Paraguai na Universidade de Santa Cruz, nos Estados Unidos. No apartamento de Joey, uma audição em primeira mão de Mondo Bizarro, um dos discos mais bem-sucedidos comercialmente dos Ramones. Entre uma música e outra, o fã Barcinski se rende ao momento que parece não acreditar estar vivendo.

"Incrível: meu maior ídolo, o cara estampado em três pôsteres na minha sala, o vocalista que me ensinou a gostar de rock, todo contente porque eu gostei de sua música. Parecia que era ele o fã". Reverência pura.

Olhando hoje, folheando os exemplares da Bizz que sobreviveram às minhas várias mudanças, a revista não parece grande coisa, afinal, agora temos a Rolling Stone (e a internet, claro), que, mesmo com suas matérias chupadas da matriz, é uma boa revista de variedades pop. Não de música pop, pois seu projeto, que é bem claro, não é focar apenas na música, o que pode ser bom para um país que tem várias publicações dedicadas somente à música (como Estados Unidos e Inglaterra), mas ruim para nós brasileiros que não temos outras opções.

A ShowBizz, tentativa de modificar o rumo da velha Bizz, era, a bem da verdade, fraquinha. Mas a velha Bizz, mesmo com suas carências editorias, tinha meia dúzia de caras que fazia a diferença e que, só agora, um tanto por saudosismo, é verdade, percebo o quanto eles fazem falta. Caras como Barcinski e Forastieri, que conseguiam realizar a difícil tarefa de transpor para o texto a energia e chapação do rock. Tarefa das mais difíceis e inglórias, diga-se de passagem. Mas os caras, se não conseguiam por completo dizer o que era uma música dos Pistols, por exemplo, chegavam bem próximo. E Forastieri, irmão siamês de Barcinski, escreveu o melhor texto que já li sobre o que é escutar Ramones na adolescência:

"Viver é uma confusão desgraçada ― e nunca isso fica mais claro na vida de um homem do que quando começam a aparecer os primeiros pêlos na cara. O absurdo é que quatro nova-iorquinos broncos tenham capturado com tanta precisão este estado de espírito púbere que-se-foda. Sem intelectualismo nem autoparódia e em plena hegemonia Yes-Led, os Ramones inventaram o som da adolescência. Puro, sem misturas, sem gelo..."

Os Ramones levaram a coisa um passo adiante, indo direto ao esqueleto do negócio: músicas de dois minutos, refrões simples e riffs primários, letras que viam a dor e a delícia de ser teenager através do "rayban" da cultura popular mais acessível e rastaquera.

Tudo tão rápido, pesado e pegajoso quanto possível. Urgente como um comercial de TV. Punk rock, mesmo ― se você pensar que punk originalmente significa vagabundo de rua, tranqueira, cara inútil para a sociedade...

O que importa é Joey Ramone cantando "I don't care about this world/ I don't care about that girl. I don't care". Eu não tô nem aí, não tô nem aqui e quero que tudo mais vá pro inferno. I just wanna have some fun. Ramones, a melhor banda de rock'n'roll da história ― provavelmente."

Assim era a saudosa Bizz!

Nota do Editor
Leia também "A revista Bizz".


Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 4/3/2009

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Os encontros dos estranhos de Elisa Andrade Buzzo
02. Dentes usados, dentes guardados de Vicente Escudero
03. Canto Infantil Nº 2: A Hora do Amor de Daniel Aurelio
04. A guerra contra o Iraque e a desobediência civil de Rodrigo Gurgel
05. Apesar da democracia de Evandro Ferreira


Mais Luiz Rebinski Junior
Mais Acessadas de Luiz Rebinski Junior em 2009
01. As cartas de Dostoiévski - 30/9/2009
02. Reinaldo Moraes fala de sua Pornopopéia - 2/12/2009
03. O primeiro parágrafo - 24/6/2009
04. Dalton Trevisan revisitado - 29/7/2009
05. Tarantino e o espírito do tempo - 28/10/2009


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
27/2/2009
22h10min
A angústia mensal de esperar pela próxima Bizz foi um dos meus calos da adolescência. Adorava a revista (mesmo ela privilegiando pouco o black metal).
[Leia outros Comentários de Guilherme Montana]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Os Caminhos de Uma Mulher
Sulamita Santos
Lúmen
(2012)



Les Oiseaux Se Cachent Pour Mourir
Colleen Mccullough
Belfond
(1979)



Entre Dois Mundos
Roxana Saberi
Larousse/lafonte
(2010)



Conversa Franca Sobre Estresse ( Pocket )
Joyce Meyer
Fapi
(2004)



Chiquinha Gonzaga
Mariza Lira
Funarte
(1978)



Livro Literatura Estrangeira Sombras do Medo
Camila Pelegrini
Garcia
(2014)



O Marido Dela 516
Luigi Pirandello
Folha de S. Paulo
(2016)



Uma Vida Sem Limites
Nick Vujicic
Editora Novo Conceito
(2011)



450 Maneiras de Amar o Rio
Vários Autores
Prefeitura do Rio
(2015)



The Accidental President Of Brazil: A Memoir
Fernando Henrique Cardoso, Brian Winter
Publicaffairs
(2006)





busca | avançada
45168 visitas/dia
1,9 milhão/mês