Tarantino e o espírito do tempo | Luiz Rebinski Junior | Digestivo Cultural

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Quarta-feira, 28/10/2009
Tarantino e o espírito do tempo
Luiz Rebinski Junior
+ de 7500 Acessos

Cada época tem o cineasta que merece. Se os anos do pós-guerra foram marcados por realizadores que enfatizavam a desesperança de seu tempo, com um realismo à flor da pele, a década de 1960, no cinema, teve como fio condutor a efervescência das ruas, dos levantes e das revoluções que afloravam pelo mundo. A nossa época, imersa na cultura pop e na revolução tecnológica, também tem seu retrato bem desenhado na telona. E o cineasta que parece encarnar com mais fervor o espírito do nosso tempo atende pelo nome de Quentin Tarantino.

Goste-se ou não das doses de bobagem que recheiam seus filmes, o cinema feito pelo norte-americano é o retrato fiel de nossa época, um mundo fragmentado, onde as fronteiras da arte se evaporam em um cipoal de referências onde Mao Tsé-Tung é tão pop quanto Elvis Presley.

O último trabalho de Tarantino, Bastardos Inglórios, talvez seja o seu filme mais representativo. Mais até do que Pulp Fiction, o filme-vídeoclipe, e Kill Bill, o escarro de um cinéfilo exibido.

Mudar os rumos da História em um filme não é propriamente algo inédito. Mas a maneira com que Tarantino o faz é que lhe dá o status de realizador afinado com seu tempo, mesmo quando olha para trás. O longa, que retrata um período da Segunda Guerra Mundial, quando a França esteve sob ocupação nazista, tem a cara da nossa cultura atual. Ainda que recrie o ambiente, as roupas e as paisagens de sessenta anos atrás, tudo ali nos é familiar. Não só por conta das intervenções gráficas, que deixam certas passagens do filme com cara de desenho animado ou propaganda publicitária. O esquadrão de caçadores de nazistas que dá nome à obra, bem que poderia ser uma banda de rock. Apresentados ao público em cortes narrativos que mostram suas peripécias violentas, os integrantes da legião da má vontade, liderados por um surpreendente Brad Pitt, são anti-heróis que não precisam de muito para ganhar a plateia. As atrocidades que cometem, como tirar o escalpo de prisioneiros nazistas, têm, claro, um bom propósito: matar Hitler, um dos maiores carrascos de todos os tempos. E isso é o bastante. Mas Hitler mesmo não bota medo em ninguém, é um arremedo de carrasco, mais para cômico do que para malvado. Essa é a senha para Tarantino divagar, mandar a história da Segunda Guerra pro espaço e assassinar Hitler em um teatro de Paris, com a cara desfigurada por rajadas de metralhadora. Afinal, quem nunca sonhou com um fim mais cruel do que aquele que teve o Führer em seu bunker?

Tarantino sacia a vontade alheia e brinca com um dos temas mais sérios e discutidos do cinema. Daí a ousadia de seu longa: fugir da lenha que é falar, de modo original, de um assunto tão batido, ainda por cima com a pilhéria que lhe é característica.

Mas o público, mesmo o mais desavisado dos espectadores, sabe que ali, na história de Tarantino, só há espaço para as meias-verdades, àquilo que poderia ser e não foi. O cineasta brinca de fazer cinema, se diverte e diverte seu público, que não deixa de rir nos momentos mais aterrorizantes, ciente do humor por trás de cenas aparentemente sérias e dramáticas. A exceção é a cena inicial, em que uma família de judeus é dizimada, sobrando apenas uma garotinha, que mais tarde vai desempenhar papel fundamental no desfecho da trama. Essa passagem até engana, sugerindo que Tarantino vai conduzir um filme de acordo com a História e as convenções realistas. Ledo engano. Na cena seguinte já se vê Brad Pitt, com o queixo proeminente e um sotaque hilário, recrutar seus bastardos para a cruzada contra os nazi.

Mesmo sendo claramente picaresco, o filme consegue incutir altas doses de suspense no espectador. Mesmo o coronel Hans Landa, um implacável caçador de judeus, tem seus momentos divertidos, com um humor negro afinado. A violência, característica do cinema de Tarantino, dá as caras em cenas grandiosas, muito menos nonsense do que em Kill Bill. Aqui Tarantino parece muito menos preocupado em mostrar que conhece as mais obscuras cinematografias e se concentra em seu próprio cinema - ainda que isso represente uma série de citações subliminares aos mais diversos filmes e cineastas.

Os diálogos longos e caprichados estão de volta. A cena inicial, em que Landa interroga um agricultor que esconde a família judia, deve durar, por baixo, uns dez minutos. A cena faz lembrar os diálogos contidos em Cães de Aluguel, em que os homens de preto divagam sobre quase tudo. São essas pequenas bobagens que dão corpo ao roteiro de Tarantino, que continua com um humor ácido e politicamente incorreto.

Nem sempre as escolhas de Tarantino são compreendidas. Godard, que talvez tenha sido o primeiro cineasta a rechear um filme com referências à cultura pop e a unir alta e baixa cultura em um mesmo take, sempre achou o cinema do norte-americano uma grande idiotice. Nem mesmo a homenagem que Tarantino lhe fez, colocando o nome de sua produtora de "Band a Part" (filme do francês da década de 1960) fez Godard digerir melhor o samba do crioulo doido que é o cinema de Tarantino. Realmente é pouco provável que um cineasta engajado como Godard pudesse gostar de filmes que mais parecem séries de TV.

Mas é a capacidade de transformar lixo cultural em cinema que fez de Tarantino um nome cultuado da sétima arte. É impossível não pensar nas origens cinéfilas do diretor quando se assiste Uma Thurman posando de samurai com aquela roupa amarela em Kill Bill. Mas, no meio de tudo isso, do sangue em excesso surrupiado dos filmes de George Romero e dos tiroteios inspirados nos faroestes de Sergio Leone, há substância. Tarantino é um bom roteirista, que sabe a hora de falar sério em um história cheia de gags. Suas tramas inteligentes fizeram de seus filmes da década de 1990 grandes clássicos do cinema. A dança de Thurman com Travolta em Pulp Fiction já faz parte da galeria de cenas antológicas do cinema mundial. E Bastardos Inglórios parece que terá o mesmo destino: entrar para o cânone. A notícia triste é que Tarantino pretende filmar o Kill Bill 3. Um indício perigoso de autoplágio, desnecessário a um cineasta tão inspirado e singular quanto Quentin Tarantino.


Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 28/10/2009

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