Sobre o Hino Nacional Brasileiro | Ricardo de Mattos | Digestivo Cultural

busca | avançada
41111 visitas/dia
2,0 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Inscrições abertas para o Festival de Cinema de Três Passos
>>> Lenna Bahule e Tiganá Santana fazem shows no Sons do Mundo do Sesc Bom Retiro
>>> CCBB Educativo realiza oficinas que unem arte, tradição e festa popular
>>> Peça Dzi Croquettes Sem Censura estreia em São Paulo nesta quinta (12/6)
>>> Agenda: editora orlando estreia com livro de contos da premiada escritora Myriam Scotti
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
Colunistas
Últimos Posts
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
>>> Claude 4 com Mike Krieger, do Instagram
>>> NotebookLM
>>> Jony Ive, designer do iPhone, se junta à OpenAI
>>> Luiz Schwarcz no Roda Viva
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Dias de Sombra e de Luz
>>> Entrevista com Pedro Doria
>>> Dona do Umbigo
>>> Quem é (e o que faz) Julio Daio Borges
>>> A importância do nome das coisas
>>> A revista Bizz
>>> Temporada 2008 do Mozarteum Brasileiro
>>> O iPad muda tudo? #tcdisrupt
>>> Vida e morte do Correio da Manhã
>>> E a Holanda eliminou o Brasil
Mais Recentes
>>> O Belo Antonio de Vitaliano Brancati pela Círculo do Livro (2000)
>>> O Rei Arthur de Rosalind Kerven pela Companhia Das Letrinhas (2004)
>>> Livro Talhas Vazias Eles Não Têm Mais Vinho de Mariazinha pela Canção Nova (2024)
>>> Tomar A Vida Nas Proprias Mãos de Gudrun Burkhard pela Antroposofica (2000)
>>> Livro Dez Novas Competências Para Ensinar de Philippe Perrenoud tradução Patrícia Chittoni Ramos pela Artmed (2000)
>>> Medicina Ambulatorial de Kurt Kloetzel pela EPU (1999)
>>> A Consciência de Zeno de Italo Svevo pela Biblioteca Folha (2003)
>>> Livro 111 Questões Sobre A Terra E O Espaço de Isaac Asimov, traduzido por Ieda Moriya pela BestSeller, Círculo Do Livro
>>> 20000 Léguas Submarinas de Júlio Verne pela Companhia Das Letrinhas (2004)
>>> História do Cerco de Lisboa de José Saramago pela Folha de São Paulo (2003)
>>> Quem Tem Medo Da Física Quântica? de Ramayana Gazzinelli pela Ufmg (2013)
>>> A Tipologia De Jung - Nova Edição de Marie-louise Von Franz pela Cultrix (2016)
>>> Livro A Mão Amiga de Carlos Torres pela Vida E Consciência (2016)
>>> Química: Segundo Grau, Volume Um de Ricardo Feltre e Setsuo Yoshinaga pela Moderna (1977)
>>> Quando eu Voltar a Ser Criança de Janusz Korczak pela Círculo do Livro (1990)
>>> O Advento Do Algoritmo de David Berlinski pela Globo (2002)
>>> The essence of chaos de Edward Lorenz pela University Of Washington Press (1995)
>>> Livro Cake Boss Receitas E Técnicas Essenciais de Buddy Valastro pela Benvirá (2015)
>>> Livro Japão Guia Visual de Vários Autores pela Publifolha (2000)
>>> Livro The Mouse And The Motorcycle de Beverly Cleary, ilustrado por Jacqueline Rogers pela Harpercollins Publishers (2016)
>>> Drácula de Bram Stoker pela Companhia Das Letrinhas (2004)
>>> O Reverso da Medalha de Sidney Sheldon pela Círculo do Livro (1987)
>>> Razão Áurea de Mario Livio pela Record (2006)
>>> Fontamara de Ignazio Silone pela Berlendis e Vertecchia Editores (2003)
>>> O Fim Do Brasil: A Crise Da Economia, Os Bastidores Da Censura, A Proteção Do Seu Patrimônio de Felipe Miranda pela Escrituras (2014)
COLUNAS

Segunda-feira, 29/8/2011
Sobre o Hino Nacional Brasileiro
Ricardo de Mattos
+ de 6800 Acessos

"A música está em tudo. Do mundo sai um hino"(Victor Hugo).

Somos do tempo em que o Hino Nacional Brasileiro era ensinado e cobrado com rigor na escola. Era nossa obrigação pesquisar as palavras desconhecidas, copiá-lo determinado número de vezes e decorá-lo para a temível chamada oral e individual. Esta prova era um recurso das professoras, pois as deficiências imperceptíveis em meio aos colegas revelavam-se no cantar isolado. A trabalheira da época converteu-se em gosto sincero pela música dedicada a simbolizar oficialmente nosso país. É comovente quando os primeiros acordes são emitidos e logo as pessoas demonstram lembrar a letra.

Foi surpreendente descobrir que a introdução, hoje apenas instrumental, também já teve uma letra para ser cantada. Recebemos por e-mail o vídeo no qual uma senhora explica como era na sua época e canta a parte até então para nós desconhecida. Ei-la:

"Espera o Brasil que todos cumprais com o vosso dever
"Eia! avante, brasileiros! Sempre avante
"Gravai com buril nos pátrios anais o vosso poder
"Eia! avante, brasileiros! Sempre avante

"Servi o Brasil sem esmorecer, com ânimo audaz
"Cumpri o dever na guerra e na paz
"À sombra da lei, à brisa gentil
"O lábaro erguei do belo Brasil
"Eia sus, oh sus!"

Atualmente o ensino é obrigatório em escolas públicas e particulares. Ignoramos como isto é feito. Dada a má qualidade do ensino e o desânimo que assola o professorado, suspeitamos que péssima gravação em CD tocada para que alunos insatisfeitos mexam a boca seja um quadro freqüente. Porquanto deficitário o estímulo, apostamos ainda que no futuro recrudescerão as vozes defensoras da substituição da peça ou, ao menos, da "atenuação" da letra. Volta e meia alguém cisma de investigar a este respeito. Em nossa opinião, a única música a altura seria Aquarela do Brasil, de Ary Barroso.


Francisco Manuel da Silva

A música do Hino foi composta em 1822. O autor foi o maestro e compositor brasileiro Francisco Manuel da Silva (1795-1865). Curioso descobrir que ele foi aluno do padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), nome forte de nossa música no período colonial. A finalidade da composição foi outra, mas a melodia alcançou tal popularidade que atravessou os séculos XIX e XX, alcançando ilesa o século XXI. O concurso para um novo hino foi frustrado, restando à República nascente providenciar outro certame na busca de letra que melhor se adaptasse. Somente em 1909 o poema de Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927), com enxertos de Gonçalves Dias (1823-1864), foi definida vitoriosa. As datas adrede indicadas revelam que a concepção do Hino deu-se sob a regência da forma e da ideologia de dois importantes "ismos" - romantismo e nacionalismo - o que explica a exultação dos versos.

Salvo pesquisa minuciosa da imprensa e da correspondência pública e privada da primeira metade do século XIX, dificilmente podemos avaliar o que significou para os habitantes do novo país a independência de Portugal e o clima de autonomia instalado. Nós mesmos não temos noção da amplidão de nossa terra. Sequer aprendemos chamá-la "nossa". Com extrema lentidão e má vontade desenvolve-se a mentalidade que encara como problema pessoal as questões públicas. Quase um século separa a letra da melodia e o poema de Duque Estrada ainda insiste na admiração pelo "impávido colosso", a admiração que se tem diante do desconhecido.

Reparemos que o hino contém certa narrativa. Conquistamos a liberdade de viver neste país imenso: "Ouviram do Ipiranga (...) desafia o nosso peito à própria morte". Esta liberdade era um antigo desejo: "Brasil, um sonho intenso (...) à terra desce". Nosso novo país tem riquezas naturais que parecem inesgotáveis: "Gigante pela própria natureza (...) 'mais amores'". Reconhecida nossa autonomia, queremos paz no futuro: "paz no futuro e glória no passado". Todavia, saberemos lutar pelo que é nosso: "Mas, se ergues da justiça (...) a própria morte". Notemos ainda que, embora fale duas vezes na morte, o Hino menciona as palavras "amor", "amores" e "amada" num total de nove vezes.


Joaquim Osório Duque Estrada

Pode-se alegar que a existência ou não de um hino é indiferente ou mesmo irrelevante. Pode-se argumentar que hinos são vestígios de um militarismo que se quer esquecer. Entretanto, podemos resumir o Hino Nacional como um acerto de contas com o passado e como projeção para o porvir, mesmo que as gerações seguintes ou não mais acreditem, ou nem sejam ensinadas a buscar este futuro. Quando pipocam as crises, seria importante retomar os anseios de nossos ancestrais e tomar verdadeiramente as rédeas da nação. A leitura deve ser atualizada. Não se deve entender como povo heróico capaz de brado retumbante apenas aquelas pessoas que viveram nas primeiras décadas do século XIX. Este heroísmo deve alcançar o brasileiro de hoje. Continua bravo e audaz este povo, embora a Administração, através de tributos infindáveis, tome compulsoriamente parte substancial de seus rendimentos e depois faça-o pagar tudo novamente em convênios, planos e serviços. Conserva traços de heroísmo aquele que, não encontrando amparo para suas necessidades básicas, nem recebendo educação sólida que lhe desperte ou fortaleça suas boas disposições, entrega-se ao vício e tomba pelas ruas, apesar de financiarmos bolsas e mais bolsas com a suposta finalidade de evitar justamente isto.

Isentemos de culpa o Hino Nacional, pois não é sua culpa nossos concidadãos não aprenderem - e não haver interesse em ensiná-los - que a paz no futuro depende da glória em relação às lides do passado, e que o entendimento do binômio glória-paz não poderia ser apresentado como próprio de um tempo distante e de figuras vagas e espectrais, e sim, como algo que faz parte de nossa atualidade. Não amará a terra a juventude constrangida a repetir o que não entende, sem que lhe seja mostrado de alguma forma que berço esplêndido é este em que ela mesma vive, que campos e que bosques são estes com mais flores e mais vida. Nenhum peito será desafiado à própria morte caso esteja oprimido por obrigações diversas que lhe tolham o entendimento, e nenhuma pátria será amada enquanto o mutualismo do amor e do respeito não for atendido.


Ricardo de Mattos
Taubaté, 29/8/2011

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Sim, Thomas Bernhard de Ronald Polito
02. Com quantos eventos literários se faz uma canoa? de Ana Elisa Ribeiro
03. Lendo Virgílio, ou: tentando ler os clássicos de Julio Daio Borges
04. Essa tal de Dança Contemporânea de Airton Tomazzoni
05. Da Tolerância Religiosa de Ricardo de Mattos


Mais Ricardo de Mattos
Mais Acessadas de Ricardo de Mattos em 2011
01. Geza Vermes, biógrafo de Jesus Cristo - 7/3/2011
02. Do preconceito e do racismo - 18/4/2011
03. A lebre com olhos de âmbar, de Edmund de Waal - 5/12/2011
04. Clássicos para a Juventude - 27/6/2011
05. Dois Escritores Húngaros - 26/9/2011


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Gestão Integrada Em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente
Alice Itani e Outros (organizadores)
Olho DÁgua
(2008)



Muito além do que sonhe
Isadora Ribeiro
Nacional
(2022)



Depois a Louca Sou Eu
Tati Bernardi
Companhia das Letras
(2016)



Degas - los grandes genios del arte
Carlos Reyero
El Mundo
(2003)



Freud - Ética e Metafísica - o Que Ele Não Explicou
Olindo A. Pegoraro
Vozes
(2008)



Homo Sapiens Sexualis
Marcelo Frazão e Paulo Villela
Villa Olívia
(2015)



O Cacador De Pipas
Khaled Hosseini
Globo
(2013)



Londres + mapas rough guides
Guia visual
Publifolha
(2007)



Caderno de Prática Forense -recursos Sentença e Coisa Julgada
Sugestões Literarias
Sugestões Literarias



Ágora - estudos em teoria psicanalítica
Vários Autores
Contra Capa
(2006)





busca | avançada
41111 visitas/dia
2,0 milhões/mês