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Segunda-feira, 27/6/2011
Clássicos para a Juventude
Ricardo de Mattos
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"A música, melhor que a palavra, representa o movimento, que é uma das leis da vida; eis porque a música é a própria voz do mundo superior"
Léon Denis

Lemos algures que o curso de literatura inglesa ministrado por Jorge Luis Borges era lacunoso justamente no período de florescimento de William Shakespeare. O escritor argentino alegou que tudo que havia para ser dito a respeito do bardo de Stratford-upon-Avon já o fora, restando ler suas obras. Uma discoteca básica deverá começar pela chamada "música erudita", mas o que resta a dizer sobre ela?

Quanto mais antiga uma obra musical, maior seu vínculo à História e maior necessidade de amparo no que respeita à sua origem artístico-cultural. Mais que uma exigência esnobe, é um benefício para o ouvinte. "Não posso simplesmente ouvir uma música do século XVII para flauta"? Pode. Todavia, noções a respeito de quem a compôs ou, ao menos, a respeito do meio em que ela nasceu, enriquecem a apreciação. Conhecimento não ocupa espaço, disse-o certa amiga. Evidente, alguma peça causará comoção profunda e imediata, mas tal caso é tão raro e pessoal que é indevido regular. Contudo, desprezar a aproximação histórica não apenas faz obras belíssimas serem esquecidas, como, em casos extremos, faz com que sejam requentadas, aguadas, reapresentadas de forma reprovável. A ignorância favorece o cometimento de crimes contra a cultura, conforme a "Família Lima" poderá muito bem exemplificar antes de ser levada ao Tribunal Penal Internacional.

Temos a referência histórica como alternativa à apreciação impressionista. A boa crítica parte da situação histórica da peça em comento, discorre sobre a técnica e então aprecia. No correr dos anos, todavia, colhemos em jornais e revistas certa essência impressionista que acaba afastando o ouvinte tímido em vez de convidá-lo à fruição das obras mestras. Por seu lado, análises excessivamente técnicas seguem o mesmo passo. Não adianta apresentar uma peça quando, para entender o crítico é necessário ter a partitura em mãos.

Quem desenvolveu trabalho ideal foi o jornalista, radialista, escritor e político brasileiro Artur da Távola (1936-2008). Aos sábados, comandava na TV Senado o programa Quem tem medo da música clássica?, onde apresentava com propriedade grandes obras do repertório erudito, mas sem ocultar sua admiração pela música popular. No intervalo entre um movimento e outro, chamava a atenção para este ou aquele instrumento, ou trecho especialmente belo ou bem executado. Era visível sua preocupação em traduzir os termos técnicos. Consideramo-lo um transmissor de entusiasmo.

Do período barroco, queremos mencionar a tríade Vivaldi, Bach e Handel. A vida dedicada ao conhecimento da totalidade da obra de qualquer um deles "não seria uma vida desperdiçada". Sempre haverá algo novo, alguma peça encontrada nos arquivos de castelos e igrejas. Os líderes do mercado musical não fornecerão ao público muito além do que é conhecido e traz retorno seguro, mas gravadoras menores podem oferecer boas surpresas. De forma alguma desprezamos As Quatro Estações apenas por serem os concertos mais conhecidos do Padre Vermelho ― nem isso seria um critério racional. Contudo, gostaríamos que a divulgação não se limitasse a eles.

Germanófona é a tríade seguinte: Mozart, Haydn e Beethoven. Cada qual com sua própria dicção. De Beethoven sugerimos as nove sinfonias completas. A Sinfonia número cinco, em Dó menor, opus 67, escrita entre 1804 e 1808, é a nossa preferida. Sabemos que a de número nove, em ré menor, opus 125, causa muita impressão devido ao coral de seu quarto movimento. A peça tem por base a Ode à Alegria, de Friedrich Schiller (1759-1805), poeta expoente do romantismo alemão. Quem conhece algo a respeito da biografia de Beethoven, surpreende-se com este grito de otimismo. Ouça a peça. Pesquise o poema. Ouça de novo. Tire dela ― de todas em geral ― a aura de mistério cuja única conseqüência é manter o espírito na indigência.

Nomes como Chopin, Rachmaninov e Mahler não devem ser esquecidos. De Chopin, os concertos para piano e orquestra. Si alguém ovir apenas uma vez e disser que gostou, desconfiaremos que mente. O mesmo quanto a Rachmaninov e seus concertos também para piano e orquestra, mormente os de número 2 e 3. É preciso ter mais de sessenta anos ou lembrar de ao menos duas encarnações anteriores para degustá-los com dignidade. Quanto a Mahler, o apreciador pode escolher entre ler tratados filosóficos ou ouvir suas sinfonias.

Tentemos estabelecer uma ponte entre o universal e o regional. Embora nunca tenhamos perguntado a um indiano ou a um somali si eles compartilham conosco o gosto pelo barroco italiano ou o romantismo francês, partamos do princípio que estas expressões são de gosto geral. Alguns músicos parecem ter composto para o mundo, embora grande parte deles talvez não tivesse tal alcance em mente. Todavia, os que trabalharam apenas para os próximos também têm grandes méritos e de forma alguma devemos hierarquizar os feitos regionais. Lobo de Mesquita no século XVIII mineiro, e Nunes Garcia na corte joanina fluminense no século XIX são representantes máximos de um grupo de exilados pelo desinteresse contemporâneo, desinteresse fraca e esporadicamente quebrado. Contudo, merecem respeito pelo esforço feito em estabelecer um elo entre o mundo em que viviam e a cultura refinada oriunda dos grandes centros. Anote, pois, caro leitor, estes nomes.

A música não possui idioma, mas sua expressão, sim. Desta forma, queremos mencionar dois nomes da música portuguesa: Amália Rodrigues e Teresa Salgueiro. Amália sensibilizou-nos fortemente, percutindo acordes anímicos relativos a vivências anteriores. Conhecendo-a, tiramos de sobre o fado todo entulho de estereotipia que nos foi transmitido. A apologia da tristeza é presente, mas não o caracteriza com exclusividade. Provam-no peças alegres como Fado alfacinha e Campinos do Ribatejo.

Chegamos a Amália levados por Teresa Salgueiro. Conhecendo a contemporânea, procuramos saber quem veio antes, apenas isso. A interpretação mais conhecida de Salgueiro é a da música O Pastor, tema da minissérie Os Maias. Trata-se de música imperativa, caso seja lícito empregar este termo para dizer que ela reclama a atenção do ouvinte. Primeiro, assistimos uma apresentação do grupo Madredeus na TV Cultura, do qual ela foi vocalista. Gostamos de tal forma que à primeira oportunidade buscamos informações e discos. Neste começo de século, optou por cantar sozinha, lançando o CD Obrigado! e outro de MPB. Seu timbre educado, refinado, "poético" demais para o gosto hodierno que consagrou Joelma, não alcançou popularidade.

Outro programa da TV Cultura, apresentado por Pasquale Cipro Neto, falava a respeito da língua portuguesa no mundo. Tivemos então nosso primeiro contato com a cantora cabo-verdiana Cesária Évora, também conhecida como "a musa dos pés descalços". Seu nome ficou armazenado por anos em nossa memória. Depois que procuramos algo no YouTube sobre ela, sossegamos apenas quando conseguimos nossos discos e DVD. Sodade é sua carta de apresentação. Seu português regionalista ao extremo talvez não recrute admiradores de imediato, mas nenhuma dedicação será vã.

Há ausências que superaremos no correr da vida. Jazz, rock, blues, soul music. O avanço é lento, mas seguro. Nossa simpatia por Benny Goodman, Louis Armstrong, Charlie Parker, Madeleine Peiroux e Amy Winehouse foi rápida, mas queremos maiores informações.

O nome da MPB que mais agrada-nos atualmente é o de Roberta Sá. Não sabíamos de quem se tratava até que adquirimos aleatoriamente ― como fazemos ocasionalmente ― seu CD Que belo estranho dia para se ter alegria. A admiração consolidou-se em 2010, quando lançado o álbum Quando o canto é reza. Antes dela, um grande número de nomes da música brasileira ― seja erudita, seja popular ― goza de nossa afeição sincera e nenhuma discoteca seria completa sem ao menos uma coletânea de cada um. Referimo-nos a Alberto Nepomuceno, Chiquinha Gonzaga, Villa-Lobos, Ernesto de Nazareth, Cartola, Adoniran Barbosa, Ary Barroso, Dorival Caymmi, Ataulfo Alves, Lupicínio Rodrigues, Luiz Gonzaga. Não gostamos quando determinada interpretação de uma música é referida como "definitiva", mas ainda não encontramos versão melhor para Sabiá, de Luiz Gonzaga, mais bonita que a de Clara Nunes.

E como a beleza de um jardim está na harmonia, e mesmo no contraste, entre as mais diversas plantas, queremos mencionar aquelas flores que tornam mais completo nosso horto pessoal. Trata-se da música caipira, da música interiorana que resistiu à hibridação com o estilo country. É a música de Rolando Boldrin, quer sozinho, quer integrando a dupla Alvarenga e Ranchinho. É a música de Tonico e Tinoco, Sérgio Reis, Cascatinha e Inhana, Irmãs Galvão, Almir Satter e tantos outros que ecoam de nossa infância. De lá chegam as primeiras memórias sonoras. Tudo correndo conforme o pretendido, uma delas acompanhará nossos despojos materiais antes que sejam devolvidos com gratidão à Natureza. Deixamos expressamente solicitado aos nossos familiares que, antes de fechar o ataúde, seja tocada A majestade, o sabiá, na versão gravada por Jair Rodrigues.


Ricardo de Mattos
Taubaté, 27/6/2011

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