Poesia em zona de perigo: Donizete Galvão | Jardel Dias Cavalcanti | Digestivo Cultural

busca | avançada
87962 visitas/dia
2,4 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Georgia W. Alô celebra o legado das divas Etta James e Aretha Franklin no Soberano Jazz Club
>>> “Soul Jazz Nights” encerra temporada em Botafogo com show do ícone da MPB Maurício Einhorn
>>> Projeto “Som na Lagoa” estreia no Mandarim com show de Victor Biglione e Marcos Ariel
>>> Simões de Assis apresenta exposição com pinturas inéditas de Jorge Guinle
>>> Belas Artes recebe a partir desta quinta-feira (20) experiência em realidade virtual sobre as sondas
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
Colunistas
Últimos Posts
>>> O concerto para dois pianos de Poulenc
>>> Professor HOC sobre o cessar-fogo (2025)
>>> Suicide Blonde (1997)
>>> Love In An Elevator (1997)
>>> Ratamahatta (1996)
>>> Santo Agostinho para o hoje
>>> Uma história da Empiricus (2025)
>>> Professor HOC sobre Trump e Zelensky
>>> All-In com John e Patrick Collison (2025)
>>> Jakurski, Stuhlberger e Xavier (2025)
Últimos Posts
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
>>> Editora lança guia para descomplicar vida moderna
Blogueiros
Mais Recentes
>>> O que é um livro
>>> Revelando a Ditadura: entrevista com Carlos Fico
>>> Apresentação
>>> Língua de fora
>>> Um menino à solta na Odisseia
>>> Por que Fidel destruiu Havana
>>> A Palavra Mágica
>>> Mind for Sure
>>> Um guia para as letras
>>> Tabacaria - Álvaro de Campos
Mais Recentes
>>> Zeca, O Elefante de Manica K. musil pela Carocinha
>>> Livro Angel Sanctuary Volume 24 de Kaori Yuki pela Panini Comics
>>> O Jacare Bile de Alessandra Roscoe pela Biruta Ltda.
>>> La Nina Nina / Nina The Girl (spanish Edition) de Ziraldo Alves Pinto pela Companhia Melhoramentos De Sao
>>> Extraordinário de R J Palacio pela Intrinseca (2013)
>>> A Cidade do Sol de Khaled Hosseini pela Nova Fronteira (2007)
>>> Trudi E Kiki de Eva Furnari pela Moderna (2025)
>>> Livro O Sucesso É Ser Feliz de Roberto Shinyashiki pela Gente (1997)
>>> Livro Angel Sanctuary Volume 40 de Kaori Yuki pela Panini Comics
>>> Livro Angel Sanctuary Volume 40 de Kaori Yuki pela Panini Comics
>>> Noites no Circo de Angela Carter pela Rocco (1991)
>>> Livro O Santo e a Porta O Casamento Suspeitoso Coleção Agarana Volume 105 de Ariano Suassuna pela José Olympio (1979)
>>> O Fantasma Da Segundona de Menalton Braff pela Ftd (2014)
>>> Viatges Per L'scriptorium de Paul Auster pela Edicions 62 (2007)
>>> Duelo: Churchill X Hitler de John Lukacs pela Ed Zahar (2002)
>>> Livro Angel Sanctuary Volume 10 de Kaori Yuki pela Panini Comics
>>> Livro Teatro de Joracy Camargo Deus Lhe Page Figueira do Inferno Um Corpo de Luz de Joracy Camargo pela Martins
>>> O Que É Morar No São Francisco de Danieli Costa Wal ; Key Imaguire Junior pela instituto Arquibrasi (2016)
>>> Livro O Fantasma Lambão Série Juca e Chico Volume 3 de Wilhelm Busch pela Melhoramentos (1976)
>>> Livro Angel Sanctuary Volume 38 de Kaori Yuki pela Panini
>>> A Senha de Irving Wallace pela Nova Fronteira (1972)
>>> Mudança No Código Florestal Brasileiro de Varios Autores pela Ipea (2016)
>>> Diversão e Tédio de Blaise Pascal pela Wmf Martins Fontes (2011)
>>> Contraponto de Aldous Huxley pela Globo (1968)
>>> Uma Loucura Discreta de Mindy Mcginnis pela Plataforma 21 - Vergara (2016)
COLUNAS

Terça-feira, 21/9/2010
Poesia em zona de perigo: Donizete Galvão
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 5800 Acessos
+ 1 Comentário(s)

O novo livro de poesias de Donizete Galvão tem um tom grave. Diferente dos outros, onde o poeta buscava uma certa transcendência através da transfiguração dos elementos do mundo, o que se publica agora desvela perdas, retalhos, estilhaços. Mais doloridos, os poemas não são melancólicos como em outras safras. Aferram-se a uma certa brutalidade dos fatos.

Talvez uma resposta irritada a um estado de coisas que já o cansou. Decide, por isso, aceitar mais o fato (com nervos expostos, é claro) de que nós e, por que não, o mundo, temos como marca principal o fato de termos nos tornados seres inacabados, como sugere o título do seu livro O homem inacabado, editado pela Portal Editora.

Diferente da ideia de se tirar leite das pedras, agora Galvão decide dar ouvido às pedras por elas mesmas. Revela "o grão amargo do equívoco", mas sabe que "ninguém sai dele de mãos vazias", como sugere no poema "Saturação". E a ideia do próprio título do poema não revela o que eu disse acima? Saturado, o poeta deixa os estilhaços aparecerem na sua poética, às vezes em belíssimas imagens, plásticas, mas violentas, como no fantástico poema "A romã": "aberta/ ― cicatriz risonha ―/ a exibir dentes de rubis", mas sangrenta fruta como "ninfa deflorada".

Não há mais morada tranquila nessa poesia que é "cicatriz de um ninho quente", "infância onde o homem já não cabe", como no poema "(Abrigo)". O abrigo do título do poema se fecha em parênteses como proteção ou prisão? Ao terminar o livro com o poema "Um outro homem inacabado" não faz mais que concluir de forma dura o sentido da existência na cidade moderna, onde "cada homem é estilhaço,/ entulho jogado na caçamba".

Na incerteza do existir, na total ausência de concretude, tomado pelo mundo flutuante, o poeta anota a identidade entre a "cidade impermanente" e o fato de que ali o "homem jamais está inteiro". Retalhos, mutações, perdas, demolições, palavras que revelam a total irrelevância de se tentar construir um lar para si mesmo, que seria o mesmo que plantar uma "flor amarela que teima em brotar/ em zona de perigo".

O sinal mais trágico dessa poesia se revela na irrelevância da transcendência, ainda no poema "(Abrigo)", quando o poeta mira uma "casa branca" e "imaterial" como possibilidade perdida de guarida, pois "a vida/ já perdeu/ o seu sal". Resultado de uma depreciação do humano no mundo fetichista de uma existência falsa, apenas imagética, onde não se precisará da organicidade do suor do rosto, nem do rosto, posto que os seus músculos são apenas "um objeto em desuso".

Os poemas são, um após o outro, uma "guerra íntima", sem "nenhum indício de paz", já que a existência se concretiza apenas na negação, como no poema "Esquivo", onde a sombra do poeta é fora de foco, do eixo, da ordem, da forma, "vulcão de afeto,/ tua desavença/ com o mundo".

Retomando a ideia da alienação do trabalho, tal como Marx a via, o poeta denuncia o vazio sisifiano do existir: "Preso no círculo da repetição/ morre um pouco/ ao fim de cada dia". Não é um poema social, mas, ao contrário, uma percepção existencial da impossibilidade de se realizar inteiramente em qualquer tarefa, já que, como no poema "Uso", "o que o homem gasta/ em suas mãos/ adquire a aura/ de suas dores".

O que pensar do poema "Vida minúscula" se não que o poeta, esse ser descentrado, teve uma destinação traída, alimentado por "um veneno/ que o aparta dos seus", fazendo-o viver "num mundo/ que sempre lhe será estranho". Errado nos dois mundos, o da terra, da enxada, das tarefas e "da descoberta da língua" desordinária (da poesia), ele se condena à errância. A imagem que se adéqua a essa ideia pode ser lida em alguns dos versos do poema "Relento":

"na terra e no vento
no desamparo da queda
sem colo
ventre
útero
como último abrigo".

O poeta se conscientiza de sua total inadequação e também de sua total inutilidade. Poemas para quê? Metáfora disso está em "O cortador de bambus":

"Cortei bambu: para ti, meu filho
quando não precisamos mais de bambus
se temos cimento e tijolos?".

Um outro poema merece destaque, é "Night Windows". Talvez um dos mais pessimistas do livro, pois leva às últimas consequências a ideia do fracasso da existência deste "homem inacabado". Consumido na solidão das noites, "está por um fio" e poder vir a ser "um corpo que cairá no negrume da noite":

"O quarto está deserto
Uma das janelas está aberta.
O vento suga a cortina branca para fora da casa.
Alguém está por um fio.
Alguém aposta sua última ficha.
Um corpo cairá no negrume da noite".

Vários poemas no livro podem estar falando da condição do poeta, ou da condição humana como um todo, como uma condenação ao desterro. Em "Anedota japonesa" as imagens da vida negativa desfilam para um final no mínimo pessimista. Imagens de peixes mecânicos, terno de vidro quebrado, armários de espanto, corvos com bicos de ferro que furam o cérebro, vísceras de Mishima... imagens de uma solidão atroz pela qual "Nenhum cão na imensa Tóquio ganirá".

A orelha do livro, escrita por Reynaldo Damazio, relembra "a imagem do anjo de Klee, contemplando as ruínas do mundo, evocando a situação do poeta no tempo presente". E se o corpo, lugar da existência aos pedaços, é pura miséria na poesia de Galvão, as ilustrações do artista plástico Rogério Barbosa radiografam os destroços.

Donizete Galvão afina sua língua nesse novo livro com poesias agora mais ácidas e fruto de tormentos, mas se o que emite é "grito, gemido, uivo, corte, ferimento", o que se pode ver é que aqui é que sua poesia tem ainda mais "cabimento".

Nota do autor
Para comprar o livro acesse www.portaleditora.com.br.


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 21/9/2010

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Notas confessionais de um angustiado (VII) de Cassionei Niches Petry
02. O Rapto da Sabina de Juliano Maesano


Mais Jardel Dias Cavalcanti
Mais Acessadas de Jardel Dias Cavalcanti em 2010
01. Poesia sem ancoradouro: Ana Martins Marques - 23/3/2010
02. Rimbaud, biografia do poeta maldito - 10/8/2010
03. 29ª Bienal de São Paulo: a politica da arte - 12/10/2010
04. A letargia crítica na feira do vale-tudo da arte - 5/1/2010
05. Inhotim: arte contemporânea e natureza - 2/3/2010


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
27/9/2010
11h07min
O bom da poesia é que o poeta aprende a juntar o concreto com o abstrato, ou até mesmo com o lúdico. E viaja na poesia, como quem busca o finito do infinito.
[Leia outros Comentários de Manoel Messias Perei]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Expandir
Sonia Castellar
Ftd
(2020)



Feliz Aniversário!
Kristiane Wybranietz e Volker Wybranietz
Vergara & Riba
(2012)



Ana Terra
Erico Verissimo
Globo
(1976)



Já Vi esse Filme: Reportagens e Polêmicas
Luiz Maklouf Carvalho
Geração Editorial
(2005)



Longo Caminho de Volta
Ricardo Lucena Junior
Ftd
(1995)



Livro Literatura Estrangeira Guerra Civil
Marvel
Novo Século
(2014)



História do Direito Romano
Eduardo Pessôa
Habeas
(2001)



Alegria e Triunfo
Lourenço Prado
Pensamento
(1995)
+ frete grátis



Batismo de fogo
Mario Vargas Llosa
Nova Fronteira



Agenda De Sabine na qual a extraordinária correspondênncia de Griffin & Sabine Continua
Escrito e Ilustrado por Nick Bantock
Marco Zero
(1995)





busca | avançada
87962 visitas/dia
2,4 milhões/mês