Meu querido Magiclick | Ana Elisa Ribeiro | Digestivo Cultural

busca | avançada
24815 visitas/dia
1,2 milhão/mês
Mais Recentes
>>> BuZum! encena “Perigo Invisível” em Itaguaí, Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty (RJ)
>>> Festival de Teatro de Curitiba para Joinville
>>> TIETÊ PLAZA INAUGURA A CACAU SHOW SUPER STORE
>>> A importância da água é tema de peças e oficinas infantis gratuitas em Vinhedo (SP)
>>> BuZum! encena “Perigo Invisível” em SP e público aprende a combater vilões com higiene
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O batom na cueca do Jair
>>> O engenho de Eleazar Carrias: entrevista
>>> As fitas cassete do falecido tio Nelson
>>> Casa de bonecas, de Ibsen
>>> Modernismo e além
>>> Pelé (1940-2022)
>>> Obra traz autores do século XIX como personagens
>>> As turbulentas memórias de Mark Lanegan
>>> Gatos mudos, dorminhocos ou bisbilhoteiros
>>> Guignard, retratos de Elias Layon
Colunistas
Últimos Posts
>>> Barracuda com Nuno Bettencourt e Taylor Hawkins
>>> Uma aula sobre MercadoLivre (2023)
>>> Lula de óculos ou Lula sem óculos?
>>> Uma história do Elo7
>>> Um convite a Xavier Zubiri
>>> Agnaldo Farias sobre Millôr Fernandes
>>> Marcelo Tripoli no TalksbyLeo
>>> Ivan Sant'Anna, o irmão de Sérgio Sant'Anna
>>> A Pathétique de Beethoven por Daniel Barenboim
>>> A história de Roberto Lee e da Avenue
Últimos Posts
>>> Nem o ontem, nem o amanhã, viva o hoje
>>> Igualdade
>>> A baleia, entre o fim e a redenção
>>> Humanidade do campo a cidade
>>> O Semáforo
>>> Esquartejar sem matar
>>> Assim criamos os nossos dois filhos
>>> Compreender para entender
>>> O que há de errado
>>> A moça do cachorro da casa ao lado
Blogueiros
Mais Recentes
>>> O inventário da dor de Lya Luft
>>> Música em 2004
>>> Gatos mudos, dorminhocos ou bisbilhoteiros
>>> Desdizer: a poética de Antonio Carlos Secchin
>>> Índio quer apito
>>> A profecia de Os Demônios
>>> 9º Festival Internacional do Documentário Musical
>>> Viciados em Internet?
>>> Viver é preciso; navegar, nem tanto
>>> Sou um de vocês
Mais Recentes
>>> O Mal-Estar na Civilização de Sigmund Freud pela Penguin (2011)
>>> Ative Sua Bondade de Shari Arison pela Valentina (2015)
>>> A Ciência de Ficar Rico de Wallace D. Wattles pela Best Seller (2007)
>>> O Monge e o Executivo - Uma História sobre a Essência da Liderança de James C. Hunter pela Sextante (2004)
>>> Helena de Machado de Assis pela Germape
>>> Minha Breve História de Stephen Hawking pela Intrínseca (2013)
>>> Peça e será atendido: Aprendendo a manifestar seus desejos de Esther & Jerry Hicks pela Sextante (2016)
>>> A Sutil Arte de Ligar o Foda-se de Mark Manson pela Intrínseca (2017)
>>> Linguagem Corporal de Allan & barbara Pease pela Sextante (2005)
>>> Guia Politicamente Incorreto da Politica Brasileira de Rodrigo da Silva pela Leya (2018)
>>> Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil de Leandro Narloch pela Leya (2011)
>>> A Revolução dos Bichos de George Orwell pela Companhia das Letras (2007)
>>> A Teoria da Relatividade de Albert Einstein pela L&PM Pocket (2017)
>>> Pachamama Missão Terra 2 Ações para Salvar o Planeta de Vários Autores pela Melhoramentos (2005)
>>> Pachamama Missão Terra 2 Ações para Salvar o Planeta de Vários Autores pela Melhoramentos (2005)
>>> Mi Telescópio y Yo de Cláudio Martins pela Formato (1992)
>>> Geoatlas Básico-mapas Políticos -maps Físicos-mapas Temáticos-imagens de Maria Elena Simielli pela Atica (2013)
>>> Mito de Sísifo de Albert Camus pela Best Bolso (2010)
>>> Issao e Guga de Matthew Lipman pela Filosofia para Crianças (1997)
>>> Como é Diferente um Coração Valente de Thiago Mazucato pela Ideias e Letras (2014)
>>> Humanitas - 158 - Filosofia Vegetal de Vários Autores pela Escala
>>> Química Geral vol 1 de Ricardo Feltre pela Moderna (2000)
>>> Jantar Secreto de Raphael Montes pela Companhia das Letras (2016)
>>> Como fazer amigos e influenciar pessoas de Dale Carnegie pela Cia nacional (1995)
>>> Tênis de Guilherme de Almeida/ Ilust. Ellen Pestili pela Global (2006)
COLUNAS

Sexta-feira, 12/2/2010
Meu querido Magiclick
Ana Elisa Ribeiro
+ de 9900 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Acender fogão é desejo de toda criança. O entorno daquele objeto é sempre lugar proibido. Desde pirralhinha escuto minha mãe dizer que criança não chega perto de forno quente. Sai daí, sai pra lá, volta aqui. Nada disso impediu que eu espiasse um bolo assando e queimasse meu braço inteiro aos dois ou três anos de idade. Sofri caladinha, sem chorar nem gritar, para que mamãe não descobrisse minha façanha proibida. Mas quando foi me dar banho, ela viu a pele retorcida. Tive de tratar o machucado.

Mais do que o forno ou o fogão, o objeto que me encantava (como gosta de dizer o pessoal de vendas) era o Magiclick. Fogão com acendedor automático, coisa do capeta. Fósforo não tem charme. Minha avó usava cada bitela, Fiat Lux, nome bem apropriado, não? Minha mãe usava outro, da caixinha muito mais famosa, menorzinho, escrito Pinheiro no rótulo. Já vi até livro de publicidade brincando com essa embalagem. Já vi livro de poesia brincando com caixa de fósforo. Já vi convite de formatura. No fundo, a caixinha de palito de fósforo é parte de nossa cultura mais cotidiana. Todo mundo, de todas as classes sociais, reconhece.

Magiclick era um charme. Uma espécie de isqueiro muito grande que servia para acender o fogo nas trempes. Minha avó tinha um. Meu avô era muito tecnológico. Gostava de tudo fresquinho: Magiclick, videocassete, CD player, televisão de trocentas polegadas. O resto da família vinha a reboque, depois que perdiam o preconceito.

O Magiclick era um acendedor de forno e fogão, mas parecia uma arma. Quando eu e os primos conseguíamos furtar o aparelho da cozinha de vovó, brincávamos de polícia e ladrão, até alguma tia perceber a troca de tiros e o perigo de atearmos fogo na casa (e uns nos outros).

Alguns objetos povoam nossa memória e nosso imaginário para sempre. Alguns nos trazem lembranças carregadas de boas emoções e bons afetos. Outros trazem uma raivinha arrefecida, mas ainda um afeto negativo. Que o digam os proprietários dos primeiros carros VW modelo Fox. Uma tal argolinha no rebatedor do banco traseiro decepava dedos. Mas a marca alemã não é a única que presenteia o consumidor com más escolhas de design. Outras ocorrências já foram devidamente abafadas pelo tempo e pelo marketing a favor.

A torneira de aço da minha casa não é exatamente um primor de design, embora o seja de funcionalidade. Quando se vai fechá-la, os dedos de alguém do meu tamanho cabem entre o pegador (com a rosca) e a haste que conduz a água. Vez ou outra me pego tirando o dedo com pressa, com medo de apertá-lo.

Alguns designs são primorosos, pena que as pessoas insistam em se apropriar deles de um jeito engraçado. Maçanetas, puxadores, cabides e ferrolhos são aplicados em portas inadequadas. Outro dia, num livro do Donald Norman, li que, por motivos óbvios, toda porta de auditório deve se abrir para fora. Passei a fiscalizar todo lugar onde caiba muita gente, a começar pela escola em que leciono. Qual não foi minha surpresa! Porta de igreja, porta de teatro, porta de estádio. Mais adiante, Norman aponta que portas para serem puxadas devem ter pegadores verticais; portas para serem empurradas os devem ter horizontais. O shopping Pátio Savassi, da capital mineira, obedeceu direitinho, mas a cena mais comum é ver as pessoas brigando com as portas ou lendo os dizeres pregados lá: "puxe" e "empurre", antes de tomar alguma atitude. O briga é maior ainda quando os dizeres estão em inglês...

Por falar em salas, como ficam os interruptores? Todo eletricista deveria aprender a ligar os fios aos interruptores de maneira articulada com a posição das lâmpadas no ambiente. Morei na casa de meus pais por 26 anos (os outros dois foram em outra casa) e nunca soube acender as luzes da garagem, do jardim, do corredor interno e da entrada. Eram umas nove teclas que acendiam onze lâmpadas e eu sempre fazia isso por tentativa e erro. Sempre brinco com isso nas salas de aula onde entro, cujas lâmpadas são sempre duas ou três, daquele tipo cumprido e ecológico. Raramente a primeira lâmpada está na primeira tecla e assim por diante.

Para que simplificar se a gente pode complicar? Não é esse o nosso lema? Para que fazer um lustre bacana sem qualquer probleminha? Os da minha sala, por exemplo, são lindões, mas quando formos trocar as lâmpadas, teremos de contar com as mãozinhas do meu filho de 5 anos. O mesmo ocorre com apartamentos e casas com pé direito duplo em que se opta por colocar lâmpadas sem pendentes. Quem vai trocar? Lembre-se de comprar uma escada de alumínio bem grande e bem segura.

E não apenas o design do objeto ou do ambiente são importantes. O design do som também nos ajuda. É uma angústia quando digito minha senha numa máquina que não faz barulhinhos tu tu tu tu tu tu, para eu ter certeza de que estou digitando. Por que será que aparecem aqueles asteriscos ou aquelas bolinhas no lugar dos números? É por ali que monitoramos a ação que executamos. Qualquer criança percebe som de coisa boa e som de estrago. Buzina estridente em joguinho faz pensar que alguém perdeu a vez. Game over. De que lado eu entro? De que lado começa a fila? Por onde devo passar? Por onde começo a ler? Nossas mediações diárias quase imperceptíveis são, a bem dizer, uma espécie de anjos da guarda.


Ana Elisa Ribeiro
Belo Horizonte, 12/2/2010

Mais Ana Elisa Ribeiro
Mais Acessadas de Ana Elisa Ribeiro em 2010
01. O menino mais bonito do mundo - 29/1/2010
02. Por que a Geração Y vai mal no ENEM? - 30/7/2010
03. Meu querido Magiclick - 12/2/2010
04. Caçar em campo alheio ou como escrever crônicas - 11/6/2010
05. Palavrão também é gente - 26/2/2010


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
16/2/2010
08h19min
Minha avó me assustava com seu Magiclick. Dizia que ia colocar fogo em meus cabelos. "A Coisa" me traumatizou.
[Leia outros Comentários de gerusa de souza]
10/5/2010
10h09min
Muito legal seu texto. Meu pai foi gerente da Magiclick por muitos anos, e ainda hoje temos produtos da empresa em casa. Apesar de muito antigos, todos ainda funcionam... só não tenho mesmo o tradicional acendedor kkk
[Leia outros Comentários de Fernando Tomazin]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Atlas Geográfico Escolar
Varios Autores
Fename
(1957)



Pet Food Brasil Ano 14 - Edição 79 - Mar-Abr 2022
Stilo
Stilo



Leite Derramado
Chico Buarque
Companhia das Letras
(2009)



Simbolos da Nova era Volume 2
S V Milton C11B3
A D Santos



Agatha Christie o Incidente da Bola de Cachorro
John Curram
Leya
(2010)



O Berço da Aprendizagem - um Estudo a Partir da Psicologia de Jung
Claudete Sargo
Ícone
(2005)



Livro - Auto da Barca do Inferno
Gil Vicente
Ftd
(1997)



Il Cile Tra Rivoluzione e Reazione
Luis Corvalan
Riuniti
(1973)



Todo Aquele Imenso Mar de Liberdade
Carlos Marchi
Record
(2015)



Bolos de Aniversário
Fiona Cairns
Publifolha
(2012)





busca | avançada
24815 visitas/dia
1,2 milhão/mês