O mistério em Thomas Pynchon | Luiz Rebinski Junior | Digestivo Cultural

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Quarta-feira, 22/6/2011
O mistério em Thomas Pynchon
Luiz Rebinski Junior
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Harold Bloom disse que ele é um dos únicos escritores "canonizáveis" de nosso tempo. Seus romances costumam passar, com folga, as quinhentas páginas. Há centenas de personagens em suas histórias, mas quase nenhuma trama. Ele é uma máquina de referências pop-eruditas e tem pouco apreço pela narrativa linear. É recluso e sua última foto data dos anos 1960.

Thomas Pynchon é considerado um gênio literário, mas não é de se estranhar que um leitor menos afeito à literatura mais experimental, tome-o como um escritor intransponível, quando não chato e "difícil". De fato, o senhor Pynchon não facilita as coisas. Seus livros não são para ler no ônibus, entre uma olhada na paisagem e uma espiada nas horas.

Seu primeiro livro, simplesmente chamado V., é um catatau sobre personagens bizarros que se cruzam em tramas não menos esquisitas. O livro foi lançado em 1963 e não poderia ter arrematado um prêmio mais adequado: ganhou o prêmio da Fundação Willian Faulkner, escritor que também desbravou a prosa menos convencional. Mas talvez seja ao lado de Joyce que Pynchon se sinta mais à vontade. A anarquia calculada da prosa é parecida.

Para um livro de estreia, V. é perigosamente complexo e ambicioso. Apenas um escritor audaciosamente seguro de sua linguagem poderia entrar na literatura pelo caminho de V.. Se fosse um outro que não ele mesmo, Pynchon certamente iniciaria sua carreira com O leilão do lote 49, seu segundo romance, menos ambicioso e mais palatável. Em seu segundo livro, o leitor continua alvo da metralhadora digressiva de Pynchon, mas está esteado por uma trama menos caótica e por personagens um pouco (não muito, só um pouco) menos malucos.

Em V., Benny Profane e Herbert Stencil percorrem caminhos tortuosos na tentativa de desvendar o mistério do romance: o que ou quem é V ― essas duas trajetórias, ao final, se encontrariam e formariam o "vê" do título. Esses dois personagens se movem através do tempo, em digressões sem aviso prévio, pelas mais alucinadas situações: depois de sair da marinha, Profane arranja um emprego de caçador de crocodilos nas galerias subterrâneas de Nova York, se junta com uma trupe de artistas chamada "A turma muito doida" e vaga sem destino pelas ruas da cidade. Profane é denominado como um "schlemihl", que no dialeto de Pynchon quer dizer um homem derrotado, um "ioiô humano", que vê o mundo por meio de lentes muito, mas muito, particulares.

Profane, de uma forma que nem mesmo o mais fértil dos leitores pode imaginar, vai fazer parte da investigação de Stencil, que tenta desvendar o enigma que seu pai, um diplomata e espião do Foreing Office britânico, preso na Segunda Guerra Mundial, deixa em seus diários antes de morrer. É o V da questão. Depois de muitas voltas e centenas de páginas, o leitor deduz (mas não pode cravar) que V é uma mulher (às vezes chamada de Vênus, às vezes de Void ou de Virgin), que nunca aparece. Então grande parte da narrativa se refere à busca incessante de Stencil a V. Nada muito complexo se os fatos narrados não fossem parte verdadeiros, parte alucinações da mente obcecada de Stencil. Nunca se sabe quando a narrativa é objetiva ou apenas fruto dos sonhos de Stencil ― como as passagens em que um padre catequiza os ratos de Nova York.

Um quebra-cabeça montado às escuras, assim é V.. Não sei qual a maneira mais correta de ler o romance, se é que existe uma maneira "certa" de lê-lo. Mas dar a largada com o espírito livre, sem se amarrar a informações que, lá na frente, Pynchon tratará de desmentir, pode tornar a leitura mais atraente e prazerosa. Então o lance é ler os capítulos de forma autônoma, sem esperar que ganchos narrativos te levem ao fim do arco-íris. E, depois, no final, tentar montar as peças. Mas é preciso ser persistente. O primeiro contato com um autor como Pynchon nunca é fácil. Mas quando você saca qual é a do cara, as coisas começam a mudar, e aí há uma grande possibilidade de você começar a achar que os críticos, dessa vez, estavam certos: o cara é gênio.

Costuma-se dizer que a narrativa de Pynchon se baseia no conceito da entropia e que é permeada por um clima de paranoia constante. Mas acho que na verdade Pynchon é um autor policial que subverte a lógica dos romances policiais: ele nunca revela o mistério das tramas. Ou revela apenas parcialmente. Claro que tem a sua pegada narrativa, que é muito peculiar e ajuda a embaraçar ainda mais as coisas, mas basicamente (se é que se pode usar esse tipo de termo aqui), é isso.

É mais ou menos assim que as coisas andam em Vício Inerente, seu último livro lançado aqui. O livro gira em torno do sumiço de um figurão do mercado imobiliário da Califórnia nos anos 1970. E quem vai tentar desvendar o mistério, por conta própria, fazendo um frila de graça, é Doc Sportello, um detetive particular hipongo, que usa "costeletas anos 50, bigode imbecil e corte de cabelo de uma escola de cabeleireiros lá em algum bulevar desolado distante de qualquer definição corrente de na-moda". A narrativa é tão alucinada quanto as viagens de LSD de Doc. Como em V., aqui também não se tem muita certeza de nada: um misterioso Canino Dourado está no centro da trama, mas não se sabe ao certo o que é: pode ser um sindicato de dentistas ou um navio, ou as duas coisas.

E aqui a regra-para-a-leitura-dos-livros-de-Pynchon continua a mesma: se você passar dos primeiros capítulos, vai ter diversão na certa. Cada fio de investigação de Doc, leva a outra ponta do caso, desdobrando a trama inicial em várias. Um pequeno ato de Doc, como fumar um baseado, pode levar páginas e páginas de uma escrita irônica, divertida e muito ácida. Viagem literária, pura. Pynchon tem um tipo de humor muito singular, inteligente e maluco. Uma espécie de Woody Allen chapado. E se você gosta de música, vai fechar o Pynchon e correr para escutar um som. Doc é movido à maconha e surf music, tem um conhecimento enciclopédico de obscuras bandas e até, acreditem, Tom Jobim. Os fãs mais ardorosos estão dizendo que Vício Inerente é um Pynchon menor. Pode até ser, mas ainda assim é daqueles livros que não se esquece facilmente. Pynchon tem uma qualidade que anda meio fora de moda na literatura nesses tempos fragmentados: com seus livros não há meio termo, ou se entra de cabeça ou não se entra. Pynchon é exigente com seu leitor. Não dá para ler duas páginas por dia, a literatura se evapora assim. E a culpa, nesse caso, não é dele.

O arco-íris da gravidade, livro que deu a Pynchon o National Book Award e lhe rendeu ainda mais fama, diz o consenso, é o seu grande romance (em todos os sentidos, pois tem mais de setecentas páginas). Não duvido e já estou preparando o espírito para encará-lo. Em breve a Companhia das Letras lançará Against the Day, o único de seus romances não lançado por aqui (Slow Learner, uma coletânea de contos, também ainda não sabe o que é a língua portuguesa). Já ouvi por aí que se trata de seu melhor livro. Também não duvido. No release que o próprio Pynchon escreveu sobre o romance (Dalton Trevisan fazia isso também até os anos 1990), diz que os personagens são "anarquistas, balconistas, apostadores, magnatas corporativos, entusiastas das drogas, inocentes e decadentes, matemáticos, cientistas loucos, xamãs, físicos, ilusionistas, espiões, detetives, aventureiras e assassinos profissionais. Com participações especiais de Nikola Tesla, Bela Lugosi e Groucho Marx". Bem, não quero parecer otimista demais, mas isso parece mais um Pynchon que vale a pena. Veremos.

Nota do Editor
Leia também "Mistério à americana" e "Crime e mistério nas letras nacionais".


Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 22/6/2011

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