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Sexta-feira, 30/9/2011
A busca
Marta Barcellos
+ de 4400 Acessos
+ 2 Comentário(s)

A busca por uma palavra - uma palavra existente e exata - é um prazer e uma aflição. Uma aflição tão intensa que pode paralisar: difícil "tapar o buraco" e deixar correr o texto, para retornar depois, como a experiência mostra ser mais efetivo. Ao reler o trecho, reembarcando em seu sentido sem a peso da aflição, a palavra se revelará, como se estivesse lá todo o tempo, esperando apenas a tinta mágica emergir do papel.

Mas como também é prazer, a busca, uma vez encerrada, ganha ares de anticlímax. Que ótimo, era esta a palavra, perfeita, mas agora... o que fazer? Preciso de novas ideias, ainda mais originais e sofisticadas - ou, ao contrário, banais e descomplicadas - para poder me deparar novamente com o desafio (ô palavra desgastada) da busca.

Esta reflexão me vem porque acabo de dar uma daquelas paradas recomendadas pela experiência, com intuito de voltar ao texto mais tarde. Escrevo um trabalho acadêmico, a monografia da minha especialização em Literatura, Arte e Pensamento Contemporâneo (quanta pompa quando se juntam as palavras certas...). A primeira busca neste trabalho surgiu ontem, quando em vão tentei escrever uma palavra. A palavra. Era daquelas únicas, sem variações ou sinônimos próximos, por se tratar de expressão encerrada numa palavra. Nem adiantava recorrer ao dicionário de sinônimos sobre a minha mesa - sempre um momento apreciado. Tasquei algumas ideias no Google, entre outras a palavra contradição, e de repente ela surgiu, se fazendo de sonsa:

"Eu? É comigo? Mas eu estava aqui na prateleira o tempo todo! Pra que tanto fuzuê?" Ah, respondi, talvez porque não tinhas esse ar descomplicado de fuzuê (que beleza de palavra), estavas na pasta em que coloco as sofisticadas, dessas que se evita numa crônica, mas, preciso reconhecer, parece bastante apropriada em uma monografia. Não foi à toa que nem ao te checar no dicionário eletrônico te achavas: és paroxítona, e eu jurava que eras proparoxítona. Oximoro me respondeu: "Eu ganho a fama de pedante e acadêmica, mas é você quem gosta de complicar nos pronomes e acentos..."

Resolvido ontem meu problema com oximoro (quase me respinga o acento), hoje empaquei num verbo. E é aí que preciso de ajuda. Da sua ajuda. Tenho esperanças de, apenas usando este novo método de falar da busca em uma coluna, chegar ao fim dela com a pendenga resolvida. Mas sempre haverá a possibilidade, nesses tempos de internet (embora a interação já não seja grande coisa fora do Twitter e do Facebook), de precisar do seu assopro no meu ouvido (digo, nos comentários). Aí vou exclamar: "Isso! A palavra! Muito obrigada. Não acredito em como ela foi me fugir por tantos parágrafos, agora que está tão óbvia."

Pois sigamos na busca, por enquanto usando a minha própria rede de pescar palavras, feita de palavras, como dizia o poeta Octavio Paz. Sou refém da linguagem, mas sofro da Síndrome de Estocolmo - me afeiçoei a ela, à minha dominadora. Comecemos pela gramática: trata-se de um verbo. Por algum motivo (que pode ser falso e me conduzir a caminhos equivocados), cismei que é mais usado como transitivo, mas no meu caso seria intransitivo. Assim como sucumbir, que intransitivo torna-se morrer. Não que tenha significado parecido - e já me arrependo dessa associação, com jeito também de desvio de rota.

O tal verbo que busco é algo entre abrir mão e rejeitar. Explicando melhor, ele fica exatamente no ponto neutro da recusa. Quando se rejeita algo, fica subentendido que se trata de coisa ruim; quando se abre mão, de coisa boa, mas... Neste momento, no instante exato deste raciocínio, a palavra me passou de raspão. Escapuliu da ponta da língua da memória e escafedeu-se novamente. Se fosse jogo de quente-frio, eu estaria fria em sucumbir e morna em... qual era mesmo o raciocínio que me levava a ela?

Abrir mão, estar abdicando de algo. Talvez valha a pena digitar abdicar no dicionário eletrônico; pode surgir um sinônimo próximo. Ou no Google. Nada. Nenhuma associação de ideias surge das palavras distanciadas e embaralhadas na tela. É preciso cuidado com os desvios. Nem tento o dicionário de sinônimos.

Volto ao texto original, onde tudo começou. Sei que você, aqui comigo nesta empreitada, percebeu a dificuldade de me ajudar se eu não forneço um mínimo do contexto no qual o tal verbo precisa ser empregado. Tem razão. Mas é uma monografia, lembra? Se eu fosse tentar resumir aqui a ideia do parágrafo acabaria escrevendo todo o capítulo, na verdade introdução, e isso tudo já anda um tanto árduo para mim. Mais de 20 anos lidando basicamente com o texto jornalístico, e agora preciso recorrer à engavetada linguagem acadêmica. Não vou negar que me divirto com o passeio, faço "pontes" entre termos acadêmicos e não acadêmicos (pontes, e não associações como seria no jornalismo, ou links como caberia na internet), mas no fim só eu acho graça de colocar na mesma frase problematização, entrelugar e pertencimento. Ninguém entende a piada.

Pois o contexto - é só o que você precisa saber - é o de se referir a algo que se convencionou positivo e nobre. Mas que algumas pessoas estão rejeitando, ou melhor, abrindo mão, ou melhor... Elas dizem: "passo". Estão neutras. O verbo não traz nele o juízo sobre o objeto rejeitado (então é transitivo???). Mais que isso, é importante que o autor, ao descrever o fenômeno, não perpasse um julgamento de que essas pessoas estão certas ou erradas, ou insinue um posicionamento político em sua atitude.

Compliquei, né? Pois agora me ocorre um paralelo. As pessoas - as tais mencionadas no estudo - estão apenas dizendo: prefiro não. Como em Bartleby, o escriturário de Herman Melville. Corro ao Google novamente. Bartleby, e as letras vão preenchendo sozinhas analysis. Nada. Nenhuma associação, ponte ou link.

Melhor deixar o texto dormir. Nessas alturas, já são dois textos - a monografia e a crônica. Observarei amanhã se a tinta mágica brotou na tela. Eles dormirão e eu também, ainda com a sensação da busca. Sei que a palavra pode dar as caras no meio da noite, como um fantasma alegre. Já aconteceu. (Será mesmo que quero acabar a busca, sem a certeza da próxima?)

No dia seguinte, pela manhã, leio no Globo um ensaio de Francisco Bosco que parece referir-se à minha busca na véspera. O assunto, entretanto, é a dificuldade do escritor diante da língua estrangeira:

"O escritor é aquele que sabe o peso de cada palavra, é quem fez de si um instrumento de alta precisão, um semantômetro, capaz de submeter cada palavra, em frações infenitesimais de um segundo, a cálculos complexos que levam em conta as suas significações possíveis, o contexto (por sua vez formado por outras palavras, submetidas ao mesmo cálculo, ao mesmo tempo) que determinará sua significação, a história de seu uso, a sua incidência atual na língua falada e escrita, entre muitas outras variáveis. É esse instrumento que, ao contato com a língua estrangeira, desafina. A língua sai do registro de alta definição para o da imagem desfocada."

Já pensou uma busca daquelas, a da monografia e da crônica, em inglês? Prefiro não. Declinaria da tarefa. Declinar.

Ei-la.

Ela chega marota, com medo da bronca por ter escapulido, mas acabo sorrindo de sua travessura. Faz uma reverência, inclina-se, em nome de seu outro sentido, e eu complemento com a minha mão o ritual, abrindo passagem. Entre, sente-se no meu texto - que agora são dois - e não me apronte outra dessas.

Nota do Editor
Marta Barcellos mantém o blog Espuminha


Marta Barcellos
Rio de Janeiro, 30/9/2011

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Cidade de Deus, de Paulo Lins de Ricardo de Mattos


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* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
5/10/2011
04h07min
A palavra que foge, não deixa dormir, voa esperta ao redor da cabeça. Quando encontramos um significado, blop: vem outro, e outro, e mais um. E a palavra conhecida? Aquela de que temos todas as definições do dicionário decoradas e ainda corremos para buscá-la. A palavra que tem de se juntar a outra, e se recusa: quer escolher suas próprias companheiras. O coitado do texto lá, paradinho, esperando. Esperando sem poder dizer nada. Fazer o quê? Ele depende das palavras. Pobres de nós, escritores, que também dependemos delas! Felizes de nós! Marta, parabéns pelo artigo. "Parabéns"... Será que existe "parabem"?
[Leia outros Comentários de Adriano Cândido]
11/10/2011
11h31min
Marta, foi demais a sua crônica. Perfeita! Nós que escrevemos, por prazer e por pressão, muitas vezes empacamos, o termo é a palavra perfeita para expressar esse acontecimento, na busca dessas companheiras que dão o ponto, quando tecemos a trama do texto (vide texere). O tecido literário é a sua morada. Obrigado pela argumentação que me fez liberar dos meus libelos quando não encontro a palavra certa. Sucesso na sua monografia. Antes, coragem e paciência.
[Leia outros Comentários de Jopin Pereira]
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