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Sexta-feira, 6/12/2013
Selton Mello
Wellington Machado
+ de 1800 Acessos

A vocação profissional pode ser inata, surgir prematuramente, ou pode ser descoberta ao logo da vida. Sorte dos que a descobrem logo. Azar dos que passam a vida toda fazendo o que não gosta. Selton Mello, natural de Passos (MG), é conhecido no Brasil principalmente por sua atuação como ator de novelas e séries televisivas. Desnecessário falar de seu talento e de sua versatilidade como ator (talento inato). Sua primeira aparição na tevê se deu em 1979, quando tinha apenas sete anos.

Paralelamente à sua carreira na tevê, Selton Mello atuou de forma memorável também no cinema. Quem esqueceria seu personagem Chicó, em O auto da compadecida ? Mas suas grandes atuações se deram em filmes de baixo orçamento, como Lavoura arcaica, Árido movie, O cheiro do ralo - filmes que giraram mais pelo circuito alternativo.

Quem acompanha a carreira, as entrevistas, os passos de Selton Mello, desconfia que uma outra função parece tocar mais fundo em seu coração: a direção de cinema. Essa espécie de "paixão dormente" pelo cinema foi demonstrada no programa Tarja Preta, do Canal Brasil, cujos entrevistados eram atores - somente bons atores, há de se destacar - do cinema brasileiro.

Com o lançamento do segundo filme, O palhaço, o grande público brasileiro começa a descobrir seu talento também por trás das câmeras. O filme narra o dilema de Benjamim (o próprio Selton Mello): um palhaço que desconfia que perdeu a graça e tem dúvidas quanto à sua vocação. O palhaço é um filme atemporal, singelo e, para citar uma entre várias influências que lhe afetam, "felliniano". Conta com participações de um time de atores como Paulo José, Tonico Pereira e Moacyr Franco. O filme já atingiu a marca de 1 milhão de espectadores.

Selton Mello sabe o que faz e o que quer. Tem domínio das atuações e da técnica cinematográfica. Que o sucesso de O palhaço desperte o interesse dos brasileiros a assistirem ao seu primeiro longa, Feliz Natal (2008), cuja temática é radicalmente oposta (trata-se de um drama psicológico). Na entrevista a seguir, gentilmente cedida com exclusividade para o Digestivo Cultural, Selton fala de seu mais recente filme, do seu trabalho como diretor e de suas influências cinematográficas e literárias.


1. Há um belíssimo travelling no final de seu mais recente filme, O palhaço. Fale-nos sobre as dificuldades em filmar uma seqüência tão longa. Quantas vezes você teve de repetir a cena?
Usamos um steady cam nessa sequência final. Ensaiamos umas cinco vezes e rodamos umas oito. Tudo tinha que funcionar perfeitamente, por isso as repetições. Mas já participei de filmes que rodaram bem mais do que isso. Na verdade sou um diretor bastante objetivo.

2. Parece haver um colorido especial dos personagens na fotografia do filme em relação às locações, dando-lhe um tom onírico e de fantasia. Até que ponto você faz sugestões técnicas (sobre lentes, luz etc.) com os diretores de fotografia? Como se dá esse diálogo?
Ser diretor envolve pensar em tudo, alargar as fronteiras da minha criação. Tive que pensar nos figurinos de todos, no comportamento de todos, como é a trilha sonora, qual seria o ritmo do filme, etc. Sou um diretor atento a tudo. Escolho pessoalmente os planos, as lentes, os enquadramentos. É muito perigoso dirigir e atuar ao mesmo tempo e a equipe achar que o filme está sem comando. Desde o início eu e minha equipe nos entendemos no sentido de não deixar isso acontecer. Eu estava em cena mas ligadíssimo em cada detalhe da direção.

3. Você fez dois filmes totalmente diferentes em estilo, temática e conteúdo. Feliz Natal é um drama psicológico, um filme forte e realista. Já O palhaço é um filme alegre, singelo e com uma certa dose de fantasia. Há diretores que seguem uma linha temática, alguma coerência em seus filmes, como Truffaut (alter ego), Fellini (onírico, circense) e Godard (ensaístico). A mudança radical de Feliz Natal para O palhaço foi intencional? Podemos dizer que cada filme seu é um projeto que se encerra no lançamento? Você sente essa necessidade - ou proposta - de fazer algo sempre diferente dos projetos anteriores?
Essa variedade de temas abordados em cada filme faz parte desse exercício de ampliar a minha criação. O Feliz Natal foi um filme deliberadamente sombrio, niilista. Já O palhaço é um filme solar. Ultimamente eu via o cinema brasileiro dividido entre os filmes radicais, ousados, que são pouco vistos e os filmes claramente comerciais, com 5 milhões de espectadores, mas que não oferecem nenhuma reflexão. A minha ideia era chegar num meio termo, tentar ocupar esse espaço no cinema brasileiro. O que eu tentei fazer em O palhaço foi isso: um filme que fosse profundo e que ao mesmo tempo se comunicasse com esse grande público. E ambos são importantes na minha formação autoral e refletem o que se passa na minha mente e no meu coração. Somos muitas coisas: desesperançosos e radiantes, brilhantes e ignorantes, um dia assim, no outro assado; isso é humano e o meu cinema reflete uma parte de meu espírito. Um cinema que antes de qualquer coisa tem uma necessidade de dizer algo.

4. Fale-nos sobre improvisações dos atores. Como é que você trabalha a interseção, o limite entre a liberdade de improvisação dos atores e a sua concepção como diretor para o papel?
O elenco do filme é uma mistura de gente nova com atores mais experientes e com figuras que acho que deviam estar mais em evidência, como o Moacyr (Franco), o (Jorge) Loredo e o Ferrugem. Então, com essa mistura, você acredita que aquela trupe existe. Eram 14 atores, de várias escolas, e essa integração foi muito interessante. Essa troca fez com que a gente tivesse uma equipe feliz trabalhando junta. E isso abre esse espaço pra criatividade das pessoas, improvisações e tudo mais. Mas o improviso fez parte basicamente da preparação, dos ensaios. Depois seguimos à risca o roteiro escrito por mim e pelo Marcelo Vindicatto. Absorvemos os improvisos e mantivemos ali nosso esqueleto, a estrutura fundamental para o filme ficar de pé.

5. De onde partiram as idéias para o roteiro de Feliz Natal e O palhaço? Qual foi a motivação - uma notícia de jornal, experiência própria, algum livro, um outro filme - que lhe serviu de impulso?
Há vários motivos para se fazer um filme. No caso de O palhaço, o mais forte e determinante foi a vontade de falar sobre identidade, sobre o peso e a beleza que o destino exerce na busca de cada um. Falar do talento natural e dos questionamentos que são levantados sobre isso. A escolha do palhaço para representar isso tudo é porque ele é o artista mais primitivo e carrega essa alegria dúbia de poder levar sua arte pra muita gente. Tive necessidade de falar de incomunicabilidade familiar no Feliz Natal e necessidade imperativa de criar uma pequena fábula sobre identidade em O palhaço.

6. O diretor brasileiro Beto Brant (Os matadores, O invasor, Cão sem dono) costuma utilizar obras literárias como base para seus roteiros. Orson Welles filmou Shakespeare, Kafka e Cervantes. Você já pensou em fazer um filme baseado em alguma obra da literatura? Se sim, você poderia nos revelar algumas?
Adoraria um dia fazer uma adaptação de O alienista, de Machado de Assis. Um belo ensaio sobre a insanidade versus a razão.

7. Qual é a sua relação com a literatura? Que tipo de livros/autores fazem a sua cabeça?
Leio bastante, um pouco de tudo. Admiro Philip Roth, José Roberto Torero, Italo Calvino, Marçal Aquino, Eça de Queiroz, John Fante, Machado de Assis, Nelson Rodrigues e sobretudo Dostoiévski, o maior de todos.

8. Desde Griffith, Eisenstein, Orson Welles, Antonioni etc., vários diretores revolucionaram o cinema ou adicionando novos ingredientes ao que já existia ou fazendo rupturas. Você conseguiria nos apontar um filme que, na sua opinião, foi o mais importante (e por que motivo) na história do cinema?
Difícil sempre essa pergunta. Mas cito um filme brasileiro que misturou tudo e criou uma linguagem própria: Faroeste Caboclo, um thriller, com comédia e desespero. Um filmaço que fez muito minha cabeça: O bandido da luz vermelha, do Rogério Sganzerla.

9. Como você procede na "carpintaria" da sua formação e aperfeiçoamento como diretor? Você estuda sistematicamente o cinema, assistindo aos clássicos, fazendo anotações em cadernos, comparações entre estilos e épocas etc.? Enfim, sua escola é sistemática e planejada ou aleatória e casual?
Sou uma flor de obsessão. Estudo compulsivamente. Anoto tudo o que me interessa. Me interesso em saber dos processos dos outros diretores para ver se algo ali me inspira. Vejo muitos filmes, leio tudo que posso sobre cinema e cada vez mais me interesso pelas artes plásticas. Fazer cinema é pintar uma tela em branco. Me interesso pela dramaturgia literária e pela dramaturgia do quadro em si. A imagem conta muito da história e por isso os diálogos devem entrar somente se forem realmente necessários. Falar o menos possível e se fazer entender. Acho isso na vida também. Cinema e vida se misturam na minha cabeça.

10. Que filme(s) você mais revê?
Fellini, Clint, Kubrick são diretores que produziram coisas que sempre que posso, revejo.

11. O cinema argentino vive um bom momento, inclusive conquistando importantes prêmios mundiais. Você conseguiria nos traçar um paralelo entre esse momento feliz argentino e o cinema brasileiro? Está faltando algo ao nosso cinema?
O que o cinema argentino faz brilhantemente é falar de assuntos pessoais, íntimos. E ao fazer isso, se torna universal. O palhaço se alinha nesse tipo de filme. Falando de algo bem pessoal, o público se identifica e, portanto, se comove.

12. Haveria alguma cidade, no Brasil ou em outro país, na qual você gostaria de fazer um filme?
Nunca pensei nisso. Mas Tokyo deve ser bem instigante.

13. Qual ator/atriz estrangeiro(a) você gostaria de dirigir? Com qual diretor estrangeiro você gostaria de trabalhar como ator?
Adoraria dirigir o Benicio del Toro e o Sean Penn - já que sonhar não custa nada né? (risos). E porque não ser dirigido pelo mesmo Sean Penn, ator/diretor como eu? Mas se o Scorsese me chamar eu não colocaria nenhum empecilho(risos). Grande abraço pra vocês!

Para ir além:
O palhaço, de Selton Mello.


Wellington Machado
Belo Horizonte, 6/12/2013

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Eu e o Digestivo de Eduardo Carvalho
02. TV, cinema e quadrinhos em 2004 de Gian Danton


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