O caminho rumo ao som e a fúria | Luiz Rebinski Junior | Digestivo Cultural

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Quarta-feira, 1/2/2012
O caminho rumo ao som e a fúria
Luiz Rebinski Junior
+ de 3800 Acessos

Alguns livros nos dão a prévia sensação de que estamos diante de um clássico, um monumento literário prestes a nos acachapar. E não me refiro apenas a um tipo de presságio forjado pela crítica, por resenhas e textos laudatórios que, claro, sempre ajudam na construção da imagem de uma obra ou escritor. Mas falo de uma sensação que acontece lá de vez em quando, algo meio místico, que te sopra no ouvido e avisa que você está prestes a iniciar uma leitura que te acompanhará por muito tempo, que vai estar guardada nos porões da mente por décadas e te assombrará nos momentos menos esperados, com um personagem ou mesmo trecho pipocando em sua mente na situação mais inesperada possível. Aconteceu isso quando um dia peguei nas mãos Crime e castigo. Sabia que ia iniciar ali um momento importante de minha vida de leitor e... batata, não deu outra. Ainda guardo comigo muitos detalhes do romanção, mesmo tantos e tantos anos depois da primeira leitura.

Dia desses o "presságio do clássico" me pegou novamente. Havia meses a edição bonitona de O som e a fúria me espreitava no meio da pilha de livros "a ler". Fui protelando a leitura de um livro que, eu imaginava, me exigiria muito como leitor: atenção, longas horas vagas para dedicar à leitura, cabeça limpa, etc. Tudo o que por meses e meses não tive. Mas aí chegou o final de ano e pela primeira vez agradeci aos céus por aquela época piegas e insuportável ter chegado logo. Então finalmente estava livre para ler aquele livro que, ao mesmo tempo em que me trazia a "sensação do clássico", me intimidava. Não foram poucos os relatos de leituras interrompidas no meio do romance. Gente bem mais preparada e inteligente do que eu me dizendo que não conseguira avançar no romance. Não se trata de gente preguiçosa, mas de leitores experimentados que simplesmente não tiveram ânimo para superar um livro complexo. Por outro lado, eu era impulsionado pela "sensação do clássico", que me batia forte. A vontade de me embrenhar no livro era aguçada por textos que funcionavam como verdadeira injeção de ânimo, tal como um texto do Marçal Aquino falando de como o romance o impactou, e, principalmente a orelha da edição que eu tinha em mãos, escrita por Rubens Figueiredo. Um texto que, claro, cumpre seu papel propagandístico (afinal, as orelhas servem para isso), mas que dá a noção exata da importância da obra sem nela jogar um confete sequer. "Faulkner, a princípio, tenta eliminar as perspectivas clássicas do tempo, espaço, casualidade e, até de sintaxe e pontuação, como quem toma, uma a uma, as armas do inimigo. É preciso deixá-lo sem defesa, e assim a primeira voz do romance cabe a um retardado mental que registra percepções imediatas e pensamentos semideformados, sem hierarquia e sem critérios de atenção. Trata-se do idiota de Macbeth em que se diz que a vida é 'uma história cheia de som e fúria, contada por um idiota e que não significa nada.'"

Depois disso, parece impossível não abrir as paginas do livro e se perder naquele caos narrativo prometido por Figueiredo. Sim, mas era exatamente ali, naquele ponto que parecia fascinante, onde um homem com problemas mentais, um jovem-adulto de trinta anos que se comportava como uma criança, começava a contar o romance, que muitos amigos tinham sucumbido. E a dúvida se transformava em curiosidade: como era possível um retardado narrar um romance? Como ordenar isso em uma narrativa que desse a noção exata de uma mente confusa, mas sem que se tornasse hermético para o leitor? Em 1946, mais de quinze anos após publicar o romance, Faulkner escreveu um apêndice em que traçava pequenos perfis da família Compson, cuja saga é contada em O som e a fúria. Não é uma sinopse de filme em caderno de cultura, mas o apêndice é de grande serventia. Escrito na mesma linguagem do livro, o texto não dá as chaves do romance ao leitor, mas indica o caminho para quem está interessado em saber onde elas estão. Alguns textos são muito curtos, outros extensos, consomem páginas e páginas. Mas todos escritos de maneira a aguçar a vontade do leitor em saber mais sobre o personagem a que se refere. Assim Faulkner apresenta Luster, filho da criada que durante décadas serviu os decadentes Compsons: "Um homem, de quatorze anos de idade. O qual não apenas era inteiramente responsável por cuidar de um idiota duas vezes mais velho e três vezes maior que ele e zelar por sua segurança, como também conseguia diverti-lo."

Assim, Faulkner dá um tapinha nas costas do leitor, como se dissesse, vai, meu amigo, você consegue. E eu fui. Encarei aquele que diziam ser um dos mais célebres e complexos romances do século XX. Claro, estava previamente vacinado com o antídoto do próprio senhor Faulkner, mas o que encontrei nas primeiras setenta páginas do romance foi algo como uma recompensa por anos e anos de medo e vontade reprimida. O clima de delírio impregnado na narrativa de Benjamin, o retardado, enreda o leitor em uma história cuja linguagem é tão fascinante quanto a ida ao inferno de uma família decadente no sul dos Estados Unidos no início do século XX, que se afunda em seu próprio preconceito, ódio e ganância. Parte mais complexa e fascinante, a narrativa de Benjamin coloca à prova o próprio leitor, que se sair ileso das primeiras dezenas de páginas, na sequência vai encontrar um livro tão fluído quanto um romance policial de Raymond Chandler. Ou quase.


Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 1/2/2012

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