Contos Gauchescos chega ao cinema | Marcelo Spalding | Digestivo Cultural

busca | avançada
47694 visitas/dia
1,9 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Festival Curta Campos do Jordão abre inscrições para a décima edição
>>> De médica a paciente: a emocionante jornada de Mariana Mendes
>>> César Oiticica inaugura exposição Frente a Frente no Paço Imperial
>>> Ícone do jazz internacional, saxofonista Igor Butman se apresenta pela primeira vez no Brasil em dez
>>> Ética do Cuidado e Anticapacitismo
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
Colunistas
Últimos Posts
>>> Henrique Meirelles conta sua história (2024)
>>> Mustafa Suleyman e Reid Hoffman sobre A.I. (2024)
>>> Masayoshi Son sobre inteligência artificial
>>> David Vélez, do Nubank (2024)
>>> Jordi Savall e a Sétima de Beethoven
>>> Alfredo Soares, do G4
>>> Horowitz na Casa Branca (1978)
>>> O jovem Tallis Gomes (2014)
>>> A história do G4 Educação
>>> Mesa do Meio sobre o Primeiro Turno de 2024
Últimos Posts
>>> E-books trazem uso das IAs no teatro e na educação
>>> E-book: Inteligência Artificial nas Artes Cênicas
>>> Publicação aborda como driblar a ansiedade
>>> E-book apresenta ferramentas de IA a professores
>>> E-book: Estágios da Solidão: Um Guia Prático
>>> O jardim da maldade
>>> Cortando despesas
>>> O mais longo dos dias, 80 anos do Dia D
>>> Paes Loureiro, poesia é quando a linguagem sonha
>>> O Cachorro e a maleta
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Um conto-resenha anacrônico
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> YouTube, lá vou eu
>>> Direções da véspera II
>>> Em noite de lua azul
>>> Há algo especialmente podre...
>>> Ivan Junqueira desvendando Otto Maria Carpeaux
>>> A poesia é traduzível?
>>> Quem é (e o que faz) Julio Daio Borges
>>> Armazém de secos e molhados
Mais Recentes
>>> Piratas À Vista! de Samir Machado De Machado pela FTD (2019)
>>> Mestiça cientificidade de Gisele Martins Venancio; André Furtado pela Eduff (2020)
>>> O poder da ação de Paulo Vieira pela Gente (2015)
>>> O Conde De Monte Cristo de Alexandre Dumas pela FTD (2014)
>>> Os Cavaleiros Que Fizeram As Cantigas (estante Medieval 8) de José Antonio Souto Cabo pela Eduff (2012)
>>> Diáspora Negra E Lugares De Memória de Hebe Mattos pela Eduff (2013)
>>> Literalmente Falando de Solange Coelho Vereza pela Eduff (2007)
>>> Realidade Lacrimosa: O Melodramático No Documentário Brasileiro Contemporâneo de Mariana Baltar pela Eduff (2019)
>>> Lutas Por Educação No Brasil Recente: O Movimento Docente Da Educação Superior de Kênia Miranda pela Eduff (2017)
>>> Oficinas da memória teoria e prática de Beatriz Pinto Venancio; Maria Carmen Vilas-Bôas Hacker Alvarenga pela Eduff (2011)
>>> A Copa Do Mundo E As Cidades: Políticas, Projetos E Resistências de Vários Autores pela Eduff (2014)
>>> Prostituição Infanto-juvenil Na mídia de Leandro Feitosa Andrade pela Educ (2004)
>>> Presuncao De Inocencia: Uma Questao De Principio De Vinganca E De Principio De Justica de Monica Paraguassu Cor Silva pela Eduff (2011)
>>> Conceitos De Literatura E Cultura de Various pela Eduff (2013)
>>> Barbante, Ripas E Luta: Ocupações Organizadas De Terras Urbanas No Rio De Janeiro, 1983-1993 de Gerônimo Leitão pela Eduff (2016)
>>> Luz Através Da Janela de Lucinda Riley pela Novo Conceito (2015)
>>> Diário De Um Policial: O Submundo Do Crime Narrado Por Um Comandante Do Gate de Diógenes Lucca pela Planeta Do Brasil (2016)
>>> Deadman Amor Após a Morte - 2 volumes de Mike Baron; Kelley Jones pela Abril (1990)
>>> Educação: A Solução Está No Afeto de Gabriel Chalita pela Gente (2004)
>>> Linguagem Do Corpo 2 Beleza e Saúde de Cristina Cairo pela Mercuryo (2006)
>>> Quarteto Fantástico - Col. Os Heróis mais poderosos da Marvel 30 de John Byrne, Brian Michael Bendis pela Salvat (2016)
>>> O Bosque dos Lilases de Lauretta pela Paulinas (2000)
>>> O Filme Perdido de Cesar Gananian E Chico Franca pela Btfdreem (2023)
>>> Administração De Marketing de Philip Kotler pela Pearson (2015)
>>> A Saga Dos X-men Vol. 19 de Marc Silvestri pela Panini Brasil (2024)
COLUNAS

Sexta-feira, 30/11/2012
Contos Gauchescos chega ao cinema
Marcelo Spalding
+ de 5000 Acessos

Já escrevi aqui no Digestivo sobre o centenário de Contos Gauchescos, mas volto ao tema porque foi lançado neste mês em alguns cinemas aqui do Rio Grande do Sul, ainda em comemoração aos 100 anos de lançamento da obra, o filme Contos Gauchescos, com direção de Henrique de Freitas Lima.

O filme traz cinco episódios com cerca de 25 minutos cada um (quando reunidos, chegam a 1 hora e 40 minutos, tempo ideal para exibição em cinemas). O primeiro desses episódios é um documentário sobre Simões Lopes Neto, e os demais são versões cinematográficas para os contos O cabelo da china, O jogo do osso, Contrabandista e No manantial.


Clipe do filme


O que de imediato impressiona o espectador, em especial se gaúcho ou gaudério, é a beleza das fotografias e a meticulosa reconstituição dos cenários e figurinos de época. Edu Amorim, o diretor de fotografia, valoriza o vasto pampa gaúcho com planos abertos que harmonizam na tela o azul do céu e o verde do pampa, cenário invariavelmente rasgado por belos cavalos e cavaleiros. O diretor de cena Pedro Zimmermann, por sua vez, trabalha com poucos cenários fechados para cada história, mas reconstrói esses cenários em detalhes que ajudam a resgatar o tempo representado pelas palavras de Simões.

Essa riqueza da ambientação revela, inclusive, uma parte do conto que só tínhamos em uma região incerta de nossa imaginação, surpreendendo, por vezes, o espectador que seja também leitor de Simões. Ocorre que a linguagem do cinema requer, por óbvio, a imagem, algo que nem a linguagem literária utilizada por Simões e nem a oralidade de Blau Nunes, por sua vez representada por Simões, priorizam, já que na oralidade, apesar de não haver o texto escrito, materializado, a narrativa se faz apenas de palavras, entonações, gestos, cabendo ao ouvinte criar em seu imaginário os rostos, cenários, expressões.

Por essa perspectiva, qualquer versão cinematográfica de uma obra literária é uma leitura possível da obra, jamais definitiva. A literatura comparada tem trabalho com a ideia de que toda adaptação é uma espécie de tradução, valendo-se do significado do termo em latim traducere, que significa “levar além”.

O risco de uma análise subjetiva como essa, portanto, é analisarmos uma obra cinematográfica pela leitura que fizemos da obra literária, considerando esse ou aquele personagem mais ou menos “fiel” ao texto.

Ainda assim, podemos afirmar que o leitor de Simões Lopes Neto se sentirá “vendo o texto”, pois Henrique de Freitas Lima procura manter seu roteiro apoiado no texto de Simões, algo que talvez seja possível pela própria estética do autor, que antes desse clássico foi um profícuo autor de peças teatrais. Assim, o encadeamento das cenas, a visibilidade das histórias já está no texto e o diretor soube levá-las à cena, preservando aspectos estruturais como a narratividade, a linguagem e o ponto de vista narrativo.

Do ponto de vista narrativo, a escolha de manter o foco narrativo do texto de Simões nas cenas capitais, mesmo que por vezes não tal foco fosse o mais comum para o cinema, também acrescenta muito ao filme. Vale citar, como exemplo, a cena em que a família toda de Jango Jorge observa sua chegada na estância, depois de muito atraso. Na cena anterior, Jango percebe o cerco dos castelhanos e o perigo iminente, partindo em disparada com seus amigos. Aí há um corte e vemos a família de Jango olhando para o horizonte, feliz com a chegada do homem. E a câmera permanece acompanhando os olhares daquela gente que, à medida que vê o cavalo se aproximando com Jango caído sobre ele, se desespera com o prenúncio da tragédia.

Tal inversão de foco narrativo traz um ganho de sutileza ao conto porque, assim como ocorre no conto, transforma o clímax não no tiro levado pelo herói, mas no desespero causado na família. Até porque as histórias de Simões não são histórias de guerras, tiros e assassinatos, são histórias de amor, ciúme, medo e desespero. Como os clássicos de todos os tempos e gentes. Como Shakespeare, Goethe, Machado.

Além disso, o narrador conduzindo os contos com seu linguajar peculiar, por vezes surgindo em background no meio da história, as tomadas longas e por vezes acompanhadas apenas da música ou do som ambiente e a precisão dos diálogos também ajudam a manter os contos próximos de uma estética simoneana.

A maior crítica, se cabe fazer alguma, é exatamente à ausência de tantos contos representativos do livro, em especial Trezentas Onças e talvez, em tempos ecológicos, O Boi Velho. Não que as histórias escolhidas não sejam importantes, mas as quatro têm em comum a tristeza, a morte, o desfecho trágico, passando para quem tem ali o primeiro contato com Simões que essa é a tônica de seus contos. Trezentas Onças, por exemplo, que inclusive inicia o livro, apresenta Blau com uma história comezinha, quase um chiste, culminando naquele ingênuo final feliz que abre caminho para as tragédias seguintes.

É evidente, porém, que era preciso fazer escolhas para levar a cabo um projeto tão audacioso como a filmagem de Contos Gauchescos, e o saldo é largamente positivo pela seriedade e qualidade do trabalho. Verdade que agora muitos e muitos alunos conhecerão Simões pelas telas. E alguns talvez o conheçam apenas pelas telas.

De nossa parte, ver uma obra centenária transformada em uma longa-metragem deve ser motivo de saudação tanto por revelar o renovado interesse pela obra quanto por demonstrar o vigor da produção cinematográfica gaúcha, gênero que produzirá as obras que serão motivos de efemérides movimentadas daqui a cem anos.



Marcelo Spalding
Porto Alegre, 30/11/2012

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Entrevista com Jacques Fux, escritor e acadêmico de Jardel Dias Cavalcanti
02. Dar títulos aos textos, dar nome aos bois de Ana Elisa Ribeiro
03. Europeus salvaram o cinema em 2006 de Lucas Rodrigues Pires
04. Virtudes e pecados (lavoura arcaica) de Daniela Sandler


Mais Marcelo Spalding
Mais Acessadas de Marcelo Spalding em 2012
01. Figuras de linguagem e a escrita criativa - 21/12/2012
02. Capacidade de expressão X capacidade linguística - 30/3/2012
03. O centenário de Contos Gauchescos - 17/2/2012
04. Literatura, Interação e Interatividade - 24/8/2012
05. 3 dicas para a escrita criativa - 12/10/2012


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Bem-vindo À Vida Real
Christian McKay Heidicker
Intrínseca
(2017)



A História do Trabalho no Porto do Rio
Pedro Tinoco
Id Cultural
(2019)
+ frete grátis



Artemisa El Espiritu Indomito de Cada Mujer
Jean Shinoda Bolen
Kairos
(2014)



Do Princípio do Mundo ao Fim do Câncer
Luiz Gonzaga Salgado, Caio Alves de Toledo
Rolengraf
(1976)



Qu'Est-Ce Que la Sémiologie?
Bernard Toussaint
Privat
(1978)



Rio das Flores
Miguel Sousa Tavares
Oficina do Livro
(2007)



Vida e Natureza - Tratamentos e Dietas Naturais 10ª Ed.
Desconhecido
Loyola
(2010)



A Vida Feliz 548
Sêneca
Escala
(2009)



S. Bernardo
Graciliano Ramos
Record
(2008)



Livro Literatura Estrangeira A Herdeira do Silêncio
Jenny Rugeroni
Livre Expressão
(2011)





busca | avançada
47694 visitas/dia
1,9 milhão/mês