Elogio ao cabelo branco | Ana Elisa Ribeiro | Digestivo Cultural

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Sexta-feira, 16/8/2013
Elogio ao cabelo branco
Ana Elisa Ribeiro
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Os cabelos brancos são incomuns em minha família. Quem os podia ter, mantinha-os pintados de um castanho claro bastante convincente. O avô mais velho ostentava, desde sempre, uns cabelos prateados que em nada se pareciam com algo deselegante. Jeitosos e frequentemente penteados - com um pequeno pente de bolso -, esses cabelos foram motivo, a vida toda, de comentários elogiosos. É daí que conheço o mito do "homem grisalho charmoso".

Entre os parentes ainda mais próximos, vi reproduzido o mesmo expediente: a mãe com um castanho calculado, uma mistura de duas tinturas, para obter um resultado menos artificial. O pai de cabelos eternamente pretos, naturais, com leves insinuações de fios brancos na barba e nas costeletas.

Não somos uma família em que os fios brancos são precoces. Nenhum tio, nenhum primo. Não posso afirmar sobre as mulheres justamente porque nem elas mesmas devem se lembrar da última vez em que viram seus cabelos como são. Fica, então, a história camuflada dos fios de cabelo e, talvez, do envelhecer dessas pessoas. E a mim? O que caberia?

Certa vez, diante de Angela Lago, autora de literatura infantil que admiro muito, tomei coragem e elogiei seus branquíssimos cabelos curtos. Ela, com aquele olhar sorridente, me respondeu dizendo que "depois de certa idade, o branco traz um semblante de paz". Achei bonito, mas a baliza da "certa idade" ainda me desconcertou. O mesmo talvez eu dissesse a Adélia Prado, aquela senhora poeta mineira, que também traz sobre si uma coroa de fios branquíssimos. Quantos conselhos sobre isso ela deve ter enfrentado na vida? E quantos ela solenemente desconsiderou?

É, então, algo em que ponho reparo, desde sempre. Mas nem sei se sempre achei bonito ou interessante. Na verdade, meu incômodo vem das questões com a liberdade e os moldes - não modelos - que configuram o comportamento estético de uma mulher, em nossa sociedade.

Não quero enveredar por um discurso feminista ou cansativo. Quero mesmo é me lembrar da minha trajetória até o momento em que decidi que meus fios brancos ficariam como estão. E já estão há algum tempo.

Minha amiga, professora da Universidade Federal de São Carlos, tem os cabelos médios extraordinariamente grisalhos. E eu disse isso a ela, certa vez, prevendo meu futuro. Mas eu também investigava, junto ao meu elogio, como ela suportava a vida sendo uma mulher grisalha. E, sim, ela tinha umas experiências a contar.

Quantas pessoas se admiraram, ao me ver de perto, com meus fios longamente brancos? Quantas, quase desconhecidas, me deram conselhos sobre desleixo, cuidados, estética, feminilidade e tinturas? Quantos já me disseram, em tom tão delicado quanto auxiliar, que o cabelo branco me envelhece? Ah, caros, é bem o contrário: o envelhecimento é que os traz. Mas afora as questões de cronologia e lógica, estou diante de um conflito entre o que sou e o que devo ser.

Até hoje, desobedeci, francamente, a todos os conselhos, de amigos ou não, sobre cabelos brancos. Também desprezei as indicações de cor e técnica. Balaiagem pode despistar. Não vem ao caso. Mesmo nos salões de beleza, onde minhas características saltam mais aos olhos, tenho me esquivado dos desejos alheios para dar vazão aos meus. E vamos ficando assim, enquanto dura a persistência.

É teimosia? Não creio. É apenas o que é. Simples como as unhas crescerem e as rugas surgirem são os cabelos embranquecerem. Ou não? Curiosamente, isso não me parece extraordinário. Nem nos outros, nem em mim mesma. Onde está minha beleza? Se há alguma, está num conjunto e talvez na pinta ao lado do olho.

Os fios brancos vêm do couro cabeludo e descem até as espáduas. São transgressores, vivazes, destacam-se dos outros fios, tão mais, que são pretos. Fogem do alinhamento de tudo, esvoaçam mais transparentes. Ao contrário dos velhos da cidade, os fios brancos são pouco penteáveis. Alguns, para minha surpresa, são degradê. Vão ficando brancos, numa trajetória que deve ter ocorrido junto com os fatos da vida. Vão ficando mais duros e menos conciliáveis.

Li, numa revista, que os homens andavam platinando os cabelos pretos. Oh, céus! Para homens, isso é platinar. Quantos discursos não temos para nos driblar. Apenas às muito velhas é permitido desistir de se parecerem jovens. Que xampu é esse que deixa seus cabelos de um cinza lindo?

E então, vivia eu, plenamente, meu conflito entre os outros e meu cabelo, quando um amigo, terrivelmente doce, ao falarmos sobre alguma foto em que meus fios alvos apareciam em destaque, disse: "Deixa assim. Isso te dá um charme". Não foi pequeno meu susto ao ouvir um homem dizer o que quase ninguém diz, especialmente a uma mulher. Uma mulher charmosa não costumava ser a grisalha. Não sou ainda isso, mas posso vir a ser. E alguém me acharia, então, charmosa? É isso o que me anima a sempre pensar que há gosto para tudo, neste mundo. O discurso da diversidade é uma brincadeira, eu sei. Ele, geralmente, não passa de meia dúzia de frases na boca da maioria das pessoas. É, ainda, necessário se "encaixar". Mas quando um homem diz que está tudo bem, é pra se comemorar. E quando uma mulher me disser isso - o que é mais difícil -, vou achar que ainda é tempo de a gente viver como quer, inclusive com os cabelos.


Ana Elisa Ribeiro
Belo Horizonte, 16/8/2013

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