a era que se encerra | Rafael Azevedo | Digestivo Cultural

busca | avançada
122 mil/dia
2,0 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Bela Vista Cultural | 'Saúde, Alimento & Cultura'
>>> Trio Mocotó
>>> O Circo Fubanguinho - Com Trupe da Lona Preta
>>> Anaí Rosa Quinteto
>>> Chocolatte da Vila Maria
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> The Piper's Call de David Gilmour (2024)
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
Últimos Posts
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Cuba e O Direito de Amar (3)
>>> Política versus literatura
>>> Pecados, demônios e tentações em Chaves
>>> Brasil, o buraco é mais embaixo
>>> Olavo de Carvalho: o roqueiro improvável
>>> 7 de Novembro #digestivo10anos
>>> Carandiru, do livro para as telas do cinema
>>> Livros de presente
>>> Guerras sujas: a democracia nos EUA e o terrorismo
>>> A Arte da Entrevista
Mais Recentes
>>> Los Hermanos Karamazov II de Fiodor M. Dostoyevski pela Altaya (1995)
>>> Renda Fixa Não é Fixa! de Marília Fontes pela Empiricus (2017)
>>> Entre Necessidade E Desejo. Diálogos Da Psicologia Com A Religião de Geraldo José De Paiva pela Loyola (2001)
>>> Recomece de Bráulio Bessa pela Sextante (2018)
>>> O Príncipe Medroso E Outros Contos Africanos de Anna Soler-pont pela Companhia Das Letras (2015)
>>> Dicionário Alemão-português de Leonardo Tochtrop pela Globo (1943)
>>> A Arte De Escrever Bem. Um Guia Para Jornalistas E Profissionais Do Texto de Dad Squarisi e Arlete Salvador pela Contexto (2015)
>>> Entre Passos E Rastros de Berta Waldman pela Perspectiva (2002)
>>> Assassinato Na Literatura Infantil: Uma Aventura Da Turma Do Gordo de João Carlos Marinho pela Global (2005)
>>> O aprendiz do ladrao de tumulos de Allan Stratton pela Planeta Jovem (2013)
>>> Básico Em Administração de Lilian Soares Pereira Carvalho pela Senac Sp (2017)
>>> Liberte-se dos Medos [Capa comum] [2008] O'Connor, Joseph de Joseph O`Connor pela Qualitymark (2008)
>>> Português Do Dia-a-dia: Como Falar E Escrever Melhor, O de Sergio Nogueira Duarte Da Silva pela Rocco (2003)
>>> Microcontrolador PIC18 com Linguagem C: Conceitos, Exemplos e Simulação de José Sérgio Medeiros Junior e Mario Henrique Luchiarí pela Senai-Sp (2017)
>>> Rapidinhas De Concursos: Matematica de Murilo Oliveira De Castro Coelho pela Rideel (2013)
>>> James E O Pêssego Gigante de Road Dahl pela 34 (2009)
>>> Manual Da Crianca Caicara de Marie Ange Bordas pela Peirópolis (2011)
>>> Pilatos de Carolos Heitor Cony pela Companhia Das Letras (2001)
>>> A Garota Que Só Pensava Naquilo: Confissões de uma Sedutora de Abby Lee pela Prestígio (2007)
>>> Expedição Tumucumaque a Redescoberta da Amazônia de Zig Koch pela Wwf
>>> Confissões de Ralfo de Sérgio Sant´anna pela Literatura Brasileira
>>> Idéia De Revolução No Brasil (1789-1801) de Carlos Guilherme Mota pela Cortez (1989)
>>> O Conde Futreson. Uma Aventura Da Turma Do Gordo de João Carlos Marinho pela Global (2009)
>>> A Mandibula De Caim de Edward Powys Mathers e Torquemada. pela Intrínseca (2022)
>>> Uma Ideia Puxa Outra... de Silvio Wonsovicz pela Sophos (2008)
COLUNAS

Sexta-feira, 8/2/2002
a era que se encerra
Rafael Azevedo
+ de 3700 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Um viva para Paulo Francis, morto no dia 4 de fevereiro de há já não sei mais nem quantos anos, na maior perda intelectual de minha geração. É completa e inteiramente insubstituível, já o era em seu tempo, e será cada vez mais nesta época em que o jornalismo deste país se divide entre o servilismo bundão e a "imparcialidade" rasteira dos Dines da vida e seus "Observatórios"... que esteja bem, se estiver em algum lugar.

Sua opinião, seus comentários, sua postura, seu modo de ver e comentar o mundo, me fazem falta a cada dia - e imagino que também o façam a qualquer um que, mesmo discordando do que ele dizia, se interessava por ver o que tinha a dizer alguém com visão crítica do mundo, com uma cultura invejável e imensa sensibilidade de enxergar por entre os fatos e ditos. Ainda assim, acredito que discordar do que ele dizia denota estreiteza intelectual; é querer tapar o sol com o penico. Paulo Francis via a realidade, enxergava o mundo como poucos, no mundo. Como pouquíssimos no Brasil. Requiem æternam dona eis, Domine.



É inacreditável...
"O horror, o horror!" Mais uma vez exclamo, enfaticamente, empertigado: a humanidade não tem jeito. Desta vez, a gota d'água que mais uma vez transbordou o copo foi uma série de matérias que vi em antigos jornais brasileiros sobre um certo César (Ave César, li no título de uma delas) escultor francês (ex-pintor de parede, chofer, padeiro, e homeless em Marselha) responsável pela estatueta do prêmio que leva seu nome, o "Oscar do cinema francês", como se diz na imprensa. De repente, uma foto do tal sujeito segurando sobre sua cabeça a tal estatueta - imagem das mais emblemáticas e elucidativas do filistinismo charlatão tão característico do meio artístico em nossos tempos. Ao lado, fotos de suas esculturas baseadas em formas humanas, como um gigantesco dedo de bronze. César considerava Picasso (e ele próprio) embustes. Cinquenta por cento de acerto, meu chapa... Sou forçado a reproduzir nas mesmas letras a matéria dum babaquara publicada no Estadão; nada que eu fale pode ser tão engraçado ou demonstrar de maneira tão ilustrada a inesgotável burrice humana. A matéria é quase tão boa quanto o melhor de Woody Allen ou Monty Python:
"Ninguém discute que um automóvel apanhado pelas garras de uma máquina de empacotar sucata possa virar obra de arte. Chamberlain (Nota Minha: whoddafuck?) também fez arte com carros destruídos em acidentes. Mas, para manter a fama de mau, César e Arman (N. M.: ! - mais um picareta, presumo) teriam de fazer algo mais do que colecionar utensílios de cozinha ou se apropriar da máquina industrial. Acumular material reciclado ou objetos como colheres é também uma mania de doentes mentais (Bispo do Rosário construiu sua obra com isso). Por que a coleção de colheres de Arman viraria arte e a dos loucos do hospício apenas uma "mania"? (...) A grande contribuição de César para a história da arte veio mesmo com o poliuretano expansivo (N.M.: !!), em que explorou o material até o limite máximo da deformação. Queria perder o controle sobre a forma, criar uma escultura efêmera. César levantava uma dúvida sobre a viabilidade de afirmar a forma num mundo em desintegração - moral, inclusive - depois da bomba de Hiroshima. A matéria o levou a um estado de exaltação só experimentado com as mulheres, que adorou como a lataria de um carro. Ou quase. (N.M.: triple !) 'Com a matéria é possível falar sozinho sem medo do ridículo', observou o escultor. Ave César." Genial! Ou não?



Os Bach.
Se alguém tem alguma dúvida quanto à validade e utilidade de uma boa educação à formação de uma pessoa - ao menos em seu gênio artístico - recomendo a audição de alguma obra de autoria dos filhos de Bach. Suas composições, raramente ou nunca tocada nas salas de concertos em nosso país, apresentam sempre um toque de brilhantismo que somente poderia ter quem foi educado, desde sua infância, por ninguém menos que Johann Sebastian Bach himself; a maioria deles nem chegou a compositores de primeira linha, e apesar disso compuseram excelentes obras; é o caso de Wilhelm Friedemann Bach (as peças que Bach fez a partir de exercícios que utilizava para auxiliá-lo em seu treinamento no cravo são espetaculares) e Johann Christoph Friedrich Bach (cuja sonata para piano, flauta e violino em dó maior ouvi com Isaac Stern, espetacular); e outros, como Carl Philipp Emanuel Bach e Johann Christian Bach, apesar de também pouco tocados nesta nossa época tão burra, tiveram um papel significante na evolução desta arte - e pode se perceber isto ao ouvi-los. O concerto para cravo e cordas de Emanuel Bach é uma obra-prima, e seu gênio melódico fica evidente desde as primeiras notas. Já de Johann Christian ouvi duas sinfonias, Op.9 No.2 e Op.18 No.4 - absolutamente fascinantes, e o segundo movimento da primeira que citei, em especial, parece ter se encaixado perfeitamente com alguma coisa dentro de mim - é algo que Mozart se orgulharia de ter feito, tenho certeza. Ambos mantiveram com dignidade o valor conferido pelo sobrenome que portaram, e toda a tradição musical dele - a família Bach exibe uma linhagem de músicos (Bach já foi sinônimo de músico em alemão) que remonta a um certo Veit Bach, da Hungria, que pelos idos de 1500 tocava alaúde e chegou a ser Stadtpfeifer da cidade alemã de Gotha. Estes dois foram de longe os filhos de Sebastian Bach que mais se destacaram no métier, ambos músicos importantes de seu tempo: Johann Christian, filho mais novo de Sebastian e pupilo de Carl Philipp, foi amigo de Mozart; conta-se que, certa vez, com o pequeno Wolfgang sentado sobre seu joelho, ficaram a improvisar num órgão diversas variações a quatro mãos; viveu na Itália e na Inglaterra, e foi conhecido como "Giovanni Bach" e "the english Bach"; não obstante, terminou por morrer em relativa pobreza e obscuridade. Já Carl Philipp Emanuel, um dos filhos mais velhos de Bach (o segundo da primeira mulher a sobreviver) foi ainda mais alto; serviu a Frederico o Grande, na corte da Prússia - com quem não consta ter mantido relação, digamos, senão pouco afetuosa, já que eles conviveram por vinte anos ou mais, pelo menos tempestuosa. Certa ocasião, ao ouvir uma execução de Frederico, na flauta, - instrumento que o monarca supostamente dominava- de uma peça sua numa cadência que não lhe agradava, teria exclamado, para comoção geral: "que ritmo!"

Assim como eles, todos os outros exemplos de grandes compositores tiveram, desde o início de suas vidas, uma educação musical, dada por uma pessoa que nutria paixão pela música igual ou talvez maior que seus filhos vieram a ter, ainda que estes tenham acabado por tornar-se superiores aos pais em talento. Mozart aprendeu tudo que sabia com seu pai, Leopold Mozart, inclusive, acima de tudo, a amar a música; seu pai compunha obras como o a Sinfonia dos Brinquedos e a Sinfonia da Caccia que seguramente atraíram o jovem prodígio com seu talento melódico e seu apelo infantil, divertindo-o ao mesmo tempo em que o arregimentavam a serviço da música que tanto o arrebatava. O pai de Bach foi um músico na cidade de Eisenach, e toda sua família praticamente havia ocupado cargos semelhantes, como já falei; o pai de Beethoven foi um tenor da corte e professor de música de talento moderado, em Bonn, e seu avô, Ludwig van Beethoven, Kapellmeister da Corte no eleitorado de Köln; o pai de Wagner foi escrivão de polícia, apesar de sua paixão pelo teatro; morreu cedo. Mas vários de seus irmãos foram cantores de ópera. Os exemplos são infindáveis.



Les Misanthropes
"A misantropia é uma terrível moléstia; ela nos faz ver as coisas tais como são."
- Abade Mongault

"Os que mais desprezam os misantropos são justamente aqueles por cuja causa os misantropos existem."
- J. L. A. Commerson

"A misantropia é a sátira da espécie humana."
- Marquês de Marica


Rafael Azevedo
São Paulo, 8/2/2002

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Elon Musk de Julio Daio Borges
02. Quase uma despedida de Eduardo Carvalho
03. Jack Nickolson arrasa em As Confissões de Schmidt de Clarissa Kuschnir
04. Sobre responsabilidade de Adriana Baggio
05. Obrigado, GV de Eduardo Carvalho


Mais Rafael Azevedo
Mais Acessadas de Rafael Azevedo em 2002
01. Banana Republic - 19/4/2002
02. O injustificável - 12/4/2002
03. Terra Papagalli - 22/2/2002
04. Depois do ensaio - 1/3/2002
05. Vidas Paralelas - 22/3/2002


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
8/2/2002
16h00min
Bach, Mozart, Haendel são compositores puros, angelicais. Beethoven, Wagner são vulcânicos, profundos, perturbadores. O ano de 2001 começou péssimo, com os "trenzinhos" funks sendo apresentados em nossa TV. Mas acabou ótimo, ao menos na TV Record, com o Programa Raul Gil, que nos brindou o tenor Rinaldo Viana e a diva Liriel Domiciano. O 1º disco do duo, "Romance", é encantador, com músicas escolhidas a dedo, entre o clássico, o popular e o sacro. Assim, Rafael, a exemplo dos filhos de Bach, que desde cedo conviveram com a boa música, se tivéssemos mais rinaldos e liréis em nossos meios de comunicação, teríamos um gosto muito mais apurado pela música. Bravíssimo, Rinaldo e Liriel!
[Leia outros Comentários de Félix Maier]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Olga
Fernando Morais
Companhia das Letras
(2004)



Chuta Que E Carma - Ficção - Literatura
Vanessa Bosso
Astral
(2016)



Propaganda de a a Z - 3ª Edição
Rafael Sampaio
Elsevier
(2003)



O Capital Estrangeiro no Sistema Jurídico Brasileiro
Attila de Souza Leão Andrade Junior
Forense
(1979)



Em Casa Para O Natal
Cally Taylor
Bertrand
(2013)



Manual de Ética Profissional do Advogado
Arthur Trigueiros
Foco



Os filhos que ninguém quer
Liège de Castro pelo espírito Luigi
Novo Ser
(2013)



Orfeu, O Encantador
Guy Jimenes
Cia. Das Letras
(2010)



Por Que os Homens Mentem e as Mulheres Choram?
Allan & Barbara Pease
Sextante
(2003)



Biologia y Conocimiento
Jean Piaget
Siglo Veintiuno de España
(1969)





busca | avançada
122 mil/dia
2,0 milhões/mês