Um jeito Mirador de ver a Wikipedia | Adriana Baggio | Digestivo Cultural

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Quinta-feira, 3/5/2007
Um jeito Mirador de ver a Wikipedia
Adriana Baggio
+ de 4100 Acessos

Morei na mesma casa até os 26 anos. Ela foi sendo aumentada, reformada, melhorada. Pintada, mobiliada, equipada, de acordo com a prosperidade dos meus pais e as necessidades das crianças em crescimento. Senti muito quando rebocaram uma parede de tijolinho à vista e quando decidiram se desfazer do couro de boi que cobria o chão de lajota (hoje, vejo esses couros sendo vendidos nas ruas do meu bairro, que é repleto de lojas de móveis e decorações, e sinto uma grande saudade, apesar de achar que é meio brega tê-los na sala).

Uma sensação ruim também me invade quando lembro o descaso com que passamos a tratar a imponente coleção de volumes de Mirador Internacional, enfileirada na prateleira mais baixa da estante da sala. A gente sentava no pedacinho do couro que chegava até a estante para poder escolher o volume, tirá-lo com cuidado e um certo esforço, e depois folheá-lo com reverência, em busca do saber que ele continha. Aqueles livros foram os depositários do conhecimento exigido pela professora para os trabalhos escolares.

Mais tarde, quando aprendi sobre forma e conteúdo, descobri que forma é conteúdo. E a Mirador Internacional é um bom exemplo dessa premissa. Livros imensos, pesados, revestidos de couro marrom, macio e distinto, transmitiam erudição a qualquer biblioteca. Na lombada, uma parte em verde servia de fundo para a impressão do número e da letra do volume. E esse espaço era delimitado por duas finas linhas, que eu sempre gostei de considerar como preciosos filetes de ouro.

Dentro, folhas de um macio e brilhante papel couché tinham o poder de despertar, se não o interesse, pelo menos a curiosidade pelas informações ali contidas. Afinal, somente coisas muito importantes para os seres humanos poderiam ter o privilégio de ser impressas em base tão nobre, algumas até acompanhadas de fotografias ou ilustrações.

Mas o mundo da enciclopédia passou a ficar um pouco limitado para atender as exigências dos trabalhos. O exército de livros começou a ser visitado mais raramente, embora nunca perdesse a pompa e a distinção da sua armadura de couro. Continuava perfilado na estante como a tropa de um país pacífico, digno na sua função cerimonial e decorativa, como se fosse uma guarda de honra do conhecimento. Os livros pareciam dizer que talvez não soubessem de tudo, mas que poderiam ainda ser muito úteis. E nos lembravam de seu peso e imponência a cada faxina mais caprichada, quando eram desalojados da prateleira, folheados com impaciência e espanados descuidadamente, para que o pó e o mofo não maculassem as letras, as imagens e a alvura do papel liso e de boa qualidade.

Tento lembrar onde foi parar a coleção de Mirador. Acho que está na casa do meu pai, que tinha na época o apego que tenho hoje por coisas que pessoas 10 ou 15 anos mais novas já começam a desprezar (a minha máquina fotográfica de filme, por exemplo). Não um apego nostálgico, mas o reconhecimento do que é importante e do que vale a pena guardar e preservar. É evidente que o conteúdo da Mirador talvez caiba hoje num CD, que esteja desatualizado, que as fronteiras desenhadas nos mapas já tenham mudado de lugar mais de uma vez, bem como o nome do países e a importância de cada um deles na política internacional. Mas o papel que ela teve não pode ser apagado.

Sei que meu pai até hoje não perdoa eu ter emprestado um volume para uma amiga descuidada, que nunca mais devolveu. Era o livro da letra S ou T, se não me engano. Parece castigo, mas várias vezes apelei para a enciclopédia e o que eu buscava estava no volume perdido. E a minha promessa de buscar um substituto em sebos nunca foi cumprida.

Imagino quanto deve ter custado aquela coleção toda. Imprimir em papel couché e encadernar em couro não é um processo barato. Gosto de pensar que a seleção do conteúdo desses livros deveria ser muito criteriosa. A enciclopédia precisava ter uma credibilidade inabalável, por ser fonte dos fatos e conhecimentos que as crianças utilizavam em seus primeiros trabalhos escolares, antes de irem buscar informações em outros lugares. Portanto, a forma da Mirador também nos dava uma pista do seu conteúdo: sério, rico, pesado.

Hoje, a maneira pela qual a informação é criada, distribuída e avaliada impede que a gente tenha uma pista do conteúdo pela forma que o envolve. Serviços como a Wikipedia são exemplos dos aspectos positivos e negativos desse processo. A parte boa - boa não, maravilhosa - é a possibilidade de qualquer um criar conteúdo, ser provedor de informação, dar origem a um verbete. Imagine quantas pessoas contribuem com as wikis e quantas contribuíram para a Mirador. Ou melhor, compare o perfil das pessoas de um caso com as de outro. Qualquer um pode enriquecer as wikis, enquanto que essa função nas enciclopédias de papel deve ter sido muito mais restrita, exigindo diplomas e currículos de importância equivalente.

Por outro lado, a mesma acessibilidade que democratiza o conhecimento nas wikis é responsável pela sua falta de credibilidade - e pelo cuidado que devemos ter ao avaliar as informações ali contidas. Nem sempre as pessoas que contribuem têm boas intenções. Mesmo as que têm, nem sempre sabem o que estão escrevendo. O dispendioso processo de produção da Mirador exigia um "controle de qualidade" do conteúdo que, ao mesmo tempo, tornava-o limitado e parcial. Nas wikis, os próprios usuários fazem esse controle, mas o sistema e as pessoas ainda não estão maduros o suficiente para que se confie cegamente.

Acho que o pé atrás com a Wikipedia é o mesmo que devemos ter com qualquer fonte de informação. Utilizar ferramentas como essa ou como os search engines é fantástico, desde que se saiba pesquisar. Esse verbo envolve: ter em mente o que você quer, ter algum ponto de partida e utilizar alguns truques para verificar a credibilidade da informação (como fazer a busca em sites de instituições confiáveis ou cruzar dados).

Em termos de relação com a web e suas ferramentas, acredito que a minha geração seja privilegiada. Nós tivemos que aprender do jeito antigo, ou seja, entendemos o princípio da coisa. Sabemos como encontrar o que desejamos em uma biblioteca, conhecemos a lógica da pesquisa. Isso tudo vale para a internet. Mudou a ferramenta, mas o espírito é o mesmo.

Para usar bem as wikis, as buscas e até mesmo os outros recursos que a internet oferece, tem que ter essa base. E um pouco de tudo aquilo que minha mãe me falava na infância, quando brincávamos no tapete de couro de boi da sala: não acredite em tudo que dizem, preste atenção nas coisas, tenha sempre um pezinho atrás com o que e com quem você não conhece.

P.S.: Clique aqui e, se quiser, contribua com o verbete sobre a Mirador Internacional, na Wikipedia.


Adriana Baggio
São Paulo, 3/5/2007

Quem leu este, também leu esse(s):
01. A Dama Dourada, de Anne-Marie O'Connor de Ricardo de Mattos
02. A literatura da falência do macho de Paulo Polzonoff Jr


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