A terra da bruma, de Arthur Conan Doyle | Ricardo de Mattos | Digestivo Cultural

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Segunda-feira, 24/11/2014
A terra da bruma, de Arthur Conan Doyle
Ricardo de Mattos
+ de 4100 Acessos

"Olhos tão habituados às sombras, como os nossos, dificilmente conseguirão dizer se sua luz era a luz de uma vela ou a de um sol resplandecente. Mas tal avaliação objetiva me parece uma questão de importância secundária que pode ser seguramente legada à posteridade" (Hannah Arendt).

Perdoa-nos, leitor, por trazermos novamente a esta coluna a degustação de outra obra de cunho espiritual. Que podemos fazer si adentramos uma livraria e um livro está posicionado provocativamente à nossa frente? Ou si folheamos um jornal ou revista e uma resenha ou nota parecem laçar nossos olhos? Diversas vezes comentamos que, despertado nosso interesse sobre determinado assunto, livros e outros materiais de estudo caem sob nossa vista ou são colocados em nossas mãos. A exemplo disso, nos últimos meses, fizemos despreocupadas pesquisas sobre psicopatia. Caso fôssemos adquirir todos os livros com os quais já nos deparamos a respeito deste transtorno de personalidade, precisaríamos de uma renda com destinação específica. Esperamos que não seja um convite ao autoconhecimento...

Abrimos uma revista e lá estava a nota apresentando A terra da bruma, de Arthur Conan Doyle. O criador de Sherlock Holmes envolveu-se até o pescoço e além com o Novo Espiritualismo, doutrina espiritual semelhante ao Espiritismo. Embora as duas doutrinas compartilhem a convicção da sobrevivência do espírito à morte do corpo físico, há diferenças práticas e teóricas consideráveis. Primeiro, o Novo Espiritualismo desenvolveu-se nos países de língua inglesa, ao passo que o Espiritismo nasceu na França e consolidou-se no Brasil. Durante décadas do século XIX e XX, cremos que ambos disseminaram-se pela Europa sem grandes distinções conceituais, o que levou alguns estudiosos a denominarem espíritas aqueles que seriam mais simpáticos à corrente anglófona.

Fala-se em Novo Espiritualismo não apenas em oposição ao materialismo, como afirmou Kardec ao estabelecer o termo "Espiritismo", mas também pela intenção dos primeiros envolvidos de rever os dogmas e doutrinas das igrejas existentes - católica, luterana, anglicana - em consonância com as descobertas das então chamadas "pesquisas psíquicas". Ao contrário do Espiritismo, o Novo Espiritualismo não conta, até onde sabemos, com uma base doutrinária sistematizada - a Codificação de Kardec -, é indiferente à prática mediúnica profissionalizada e pretendeu formar igrejas. Sobretudo, a questão da reencarnação não é ponto pacífico entre os novos-espiritualistas. Estas diferenças parecem ter escapado à tradução, que do começo ao fim fala em "espíritas" e sequer menciona Allan Kardec. Não fazemos aqui uma crítica, mas apenas apresentamos a necessária distinção para que eventual recém-chegado possa escolher onde sentar-se.

Conan Doyle escreveu um livro bem amplo e completo a respeito dos movimentos baseados nas pesquisas psíquicas. Este livro ganhou duas traduções no Brasil. A mais antiga desconsiderou a diferenciação que apresentamos acima e intitulou sua tradução como A História do Espiritismo. Lançada no ano passado pela Federação Espírita Brasileira, a tradução recente é mais fiel: A História do Espiritualismo: de Swedenborg ao início do século XX. Nesta História, Kardec é apresentado no capítulo sobre o espiritualismo francês, alemão e italiano. Mencionamos outro opúsculo do autor, A nova revelação, meritória por ser uma apresentação resumida e por conter, na edição nacional, consistente apresentação biográfica e bibliográfica do criador do famoso detetive.

Embora Sherlock Holmes seja seu personagem mais famoso e suas histórias as mais divulgadas, Conan Doyle foi autor de vasta obra. Cinco trabalhos envolvem o irritadiço professor George Edward Challenger. Três deles acabam de chegar ao Brasil, sendo A terra da bruma o prato principal, acompanhado dos contos Quando o mundo gritou e A máquina de desintegração. Todavia, até onde pudemos verificar, o envolvimento de Challenger com o espiritualismo é tratado apenas n'A terra da bruma, sendo que os demais aproximam-se de Jules Verne.

A editora que trouxe Challenger ao público brasileiro é a mesma que já havia trazido a edição "definitiva" dos romances e contos em que Holmes e Watson são os personagens principais, edição organizada e anotada pelo advogado norte-americano Leslie Klinger. Não somos exatamente amigos das notas de rodapé, mas Klinger conseguiu fazer um trabalho excepcional e, inclusive neste aspecto, a editora manteve a qualidade do trabalho.

Excelente este livro de Conan Doyle, escrito em 1926. Realista e honesto, poderíamos acrescentar ainda o adjetivo "corajoso". Realista, pois apresenta o panorama bem amplo do movimento espiritualista iniciado no século anterior e já ramificado em vertentes no que diz respeito a aspectos práticos e teóricos. Honesto, pois dos lábios dos personagens saem não apenas loas à nova revelação, mas também os aspectos contestados e os argumentos dos opositores. Na verdade, a par dos críticos sistemáticos havia - e há - aqueles que apenas desejavam maiores e mais racionais evidências a respeito de temas tão impactantes relativos à existência humana. Corajoso, enfim, pois o público conquistado por Sherlock poderia dispersar-se em decorrência das obras espiritualistas.

Verificarmos que n'A terra da bruma o professor Challenger aparece esperneando no começo e depara-se com fatos incontestáveis no final. Com muito tato, Conan Doyle não leva a uma conversão teatral o personagem cujo ceticismo fora mencionado reiteradas vezes. Não se trata de um Abraham van Helsing, que mergulha de cabeça no assunto em busca de solução para aquilo que o instiga. Na verdade, o personagem mais atuante é o jornalista Edward Malone. Visando completar uma série de artigos sobre as religiões estabelecidas na Inglaterra, ele visita os locais onde o Novo-Espiritualismo desenvolvia-se e acaba envolvido pelo que presencia e para o que ele não encontra explicações científicas. É por meio do périplo de Malone que Conan Doyle apresenta ao leitor as sessões públicas de clarividência e de clariaudiência, com seus acertos e seus equívocos; as sessões particulares de materialização por meio do ectoplasma; a questão das casas assombradas; os abusos cometidos pelas pessoas, médiuns ou não, que visavam promover-se por meio de efeitos psíquicos ou de meras fraudes; as pesquisas realizadas no Instituto de Metapsíquica de Paris... Conan Doyle põe em cena autores cujas obras encontram-se em nossas estantes, como Flammarion, Lombroso e Richet, permitindo-nos imaginar, até mesmo visualizar, seu trânsito na época.

A terra da bruma impressiono-nos por mostrar que muitos pontos parecem ter sido apenas transportados da Inglaterra do final do século XIX e começo do século XX para nosso terreno atual. Primeiro, a contestação e rejeição genéricas da comunidade científica aos fatos, quase sempre sem presenciá-los nem deter-se sobre eles e sobre o que já foi estudado, hábito que conhecemos de leitura e de testemunho pessoal. Segundo, as dificuldades dos pesquisadores - leigos ou não - com pessoas que se apresentam como médiuns e que acabam ridicularizando algo de tamanha importância. Nossa experiência mesma faz-nos desconfiar que nossa Carmela seja médium de maior potencial que dois ou três indivíduos tendo chilique ao nosso lado. Contudo, diante de certas comunicações, temos certeza de que alguém nos acena do outro lado do "véu".


Ricardo de Mattos
Taubaté, 24/11/2014

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