Jô Soares (1938-2022) | Julio Daio Borges | Digestivo Cultural

busca | avançada
56774 visitas/dia
2,1 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Simões de Assis | Individual de Carlos Cruz-Diez
>>> Jazz Festival: Primeira edição de evento da Bourbon Hospitalidade promete encantar com grandes nomes
>>> Coletivo Mani Carimbó é convidado do projeto Terreiros Nômades em escola da zona sul
>>> CCSP recebe Filó Machado e o concerto de pré-lançamento do álbum A Música Negra
>>> Premiado espetáculo ‘Flores Astrais’ pela primeira vez em Petrópolis no Teatro Imperial para homenag
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
Colunistas
Últimos Posts
>>> A melhor análise da Nucoin (2024)
>>> Dario Amodei da Anthropic no In Good Company
>>> A história do PyTorch
>>> Leif Ove Andsnes na casa de Mozart em Viena
>>> O passado e o futuro da inteligência artificial
>>> Marcio Appel no Stock Pickers (2024)
>>> Jensen Huang aos formandos do Caltech
>>> Jensen Huang, da Nvidia, na Computex
>>> André Barcinski no YouTube
>>> Inteligência Artificial Física
Últimos Posts
>>> Cortando despesas
>>> O mais longo dos dias, 80 anos do Dia D
>>> Paes Loureiro, poesia é quando a linguagem sonha
>>> O Cachorro e a maleta
>>> A ESTAGIÁRIA
>>> A insanidade tem regras
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Mais que cego em tiroteio
>>> Nosso Lar
>>> Bárbara Heliodora
>>> Uma leitura jornalística
>>> Prática de atelier: cores personalizadas *VÍDEO*
>>> Cheiro de papel podre
>>> O Nome Dele
>>> Um Leitor sobre Daniel Piza
>>> Um Furto
>>> Homenagem a Pilar del Río
Mais Recentes
>>> Dicionario Houaiss Da Lingua Portuguesa Com CD de Antonio Houaiss pela Objetiva (2024)
>>> Mulher Enjaulada de Jussi Adler-olsen pela Record2 (2014)
>>> As Melhores Receitas da Cozinha Portuguesa - Os segredos da cozinha das nossas avós de Vários Autores pela Globo
>>> As Melhores Receitas da Cozinha do Nordeste - Os segredos da cozinha das nossas avós de Vários Autores pela Globo
>>> As Melhores Receitas da Cozinha Baiana - Os segredos da cozinha das nossas avós de Vários Autores pela Globo
>>> Quem vai Salvar a Vida? de Ruth Rocha pela Salamandra (2015)
>>> Livro Cáuculo - volume 2 de Maurice D. Weir pela Pearson (2024)
>>> O Código da Vinci - Roteiro Ilustrado de Akiva Goldsman pela Sextante (2006)
>>> Delícias da Kashi - Gastronomia Vegana Gourmet de Kashi Dhyani pela Mauad X (2016)
>>> Livro Microbiologia Para As Ciências Da Saúde de Paul G. Engelkirk pela Guanabara Koogan (2005)
>>> Livro Comunicação E Comportamento Organizacional PLT 111 de Geraldo R. Caravantes pela Fisicalbook (2014)
>>> Livro Finanças Corporativas: Conceitos E Aplicações de Jose Antonio Stark Ferreira pela Pearson (2005)
>>> Livro Introdução a Genética PLT 248 de Anthony J F Griffiths ; RiCHARD C. Lewontin pela Guanabara (2008)
>>> Teoria Geral Da Administração. Da Revolução Urbana À Revolução Digital de Antonio Cesar Amaru Maximiano pela Atlas Br (2011)
>>> LivroTeoria Geral Da Administração: Da Revolução Urbana À Revolução Digital de Antonio Cesar Amaru Maximiano pela Atlas (2008)
>>> O Porco de William Hope Hodgson pela Diário Macabro (2024)
>>> Arvore Do Beto de Ruth Rocha pela Salamandra (2010)
>>> A Casa No Limiar e Outras Histórias Macabras de William Hope Hodgson pela Diário Macabro (2024)
>>> Ponto De Vista de Sonia Bergams Salerno Forjaz pela Moderna (2014)
>>> A Grande Campea de Maria Cristina Furtado pela Do Brasil (2015)
>>> Amigos De Verdade de Telma Guimarães Castro Andrade pela Brasil Literatura (2010)
>>> Bleach 57 - Out of Bloom de Tite Kubo pela Panini Comics (2014)
>>> O Fantástico Mistério De Feiurinha de Pedro Bandeira pela Moderna (2009)
>>> Cantigas Por Um Passarinho A Toa de Manoel de Barros pela Companhia Das Letrinhas (2018)
>>> Bleach 56 - March of the Stacross de Tite Kubo pela Panini Comics (2013)
COLUNAS

Sexta-feira, 12/8/2022
Jô Soares (1938-2022)
Julio Daio Borges
+ de 5700 Acessos

Quando soube da morte de Jô Soares, pensei em discorrrer sobre como me converti em seu “inimigo público número um” - ou, no mínimo, em seu principal detrator. (Parece exagero, mas ocorreu de fato.)

Só que - vendo as manifestações de pesar nas redes sociais - eu decidi ser mais construtivo, digamos assim, e discorrer sobre como o mesmo Jô Soares foi uma grande influência para mim, nos anos 90, com o “Jô Onze e Meia”, no SBT.

Quem assistiu ao Jô nos seus derradeiros anos, na TV Globo, guardou a impressão do humor mais escrachado, do tipo “pastelão”, dominante no “Programa do Jô” (2000-2016). Graças à pressão da audiência, e possivelmente da própria Globo, Jô Soares fazia mais sucesso explorando as “idiossincrasias” - ou literalmente tirando sarro - de cada entrevistado... do que tendo conversas minimamente produtivas e interessantes.

Fora que o “padrão Globo” de qualidade - o mesmo que leva à divulgação dos artistas e das atrações da própria Globo - foi progressivamente inibindo qualquer crítica, ou até ponto de vista mais controverso, principalmente em relação ao “poder” (político ou não), transformando o Jô Soares “sem papas na língua” do SBT no “Gordo” anódino, e finalmente sem graça, da Globo.

O “Jô Onze e Meia” (1988-1999) foi ao ar no SBT, sempre gosto de frisar, como uma homenagem, do próprio Jô Soares, aos grandes programas de entrevistas da tevê americana, cujo formato - uma espécie de revista de variedades, com pitadas de jornalismo sério e até editoriais - fez com que essas atrações, quando bem sucedidas, durassem décadas, convertendo seus apresentadores em ilustres presenças na vida nacional e no debate público. Mais ou menos como foi Jô Soares nos anos 90.

Nada exemplifica melhor a influência de Jô, sobre os destinos da nação, do que a sua campanha pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Melo, junto a Boris Casoy, na televisão. Jô Soares não derrubou o presidente sozinho, nem o Boris, mas, sem eles, Collor não teria caído tão rápido, ou talvez não tivesse caído. A artilharia do Jô “daquele tempo” - aplicada ao mandatário de turno - não teria deixado o Congresso tão engessado e nem a audiência tão dividida.

Nessa época, eu assistia ao “Jô Onze e Meia” diariamente. Estava na faculdade e obviamente não ficava até à meia-noite aguardando a entrada do Jô, mas eu gravava, todos os dias, ou simplesmente programava a gravação. Hoje, videocassete é uma palavra quase esquecida, mas não havia internet, vídeo “on demand”, nem streaming.

O que mais me impressionava, contudo, não era seu ativismo, historicamente importante, nem seu jornalismo, igualmente pertinente - e, sim, a sua cultura. Para começar que Jô Soares falava inglês, francês, espanhol, se virava em italiano e até se arriscava em alemão. Nos três primeiros, era fluente e conduzia suas entrevistas como um “native speaker”.

Paulo Francis dizia que, com seu inglês, Jô poderia, tranquilamente, montar um espetáculo na língua de Shakespeare e se aventurar em palcos nova-iorquinos. Mas Jô Soares, em todo seu cosmopolitismo, nunca abandonou a cultura brasileira - e essa postura foi, igualmente, objeto de minha admiração. “Pense globalmente; aja localmente”, profetizou Yoko Ono (o slogan da IBM veio depois).

Lembro de entrevistas inesquecíveis, como, por exemplo, a de Tom Jobim, em que ele reclamava da “obrigação” de ter de compor toda manhã (ele usava a palavra “task”, para exemplificar). Lembro de entrevistas marcantes como a de Caetano Veloso, ao lado de Gilberto Gil, no lançamento de “Tropicália 2” (1993), em que Caetano perdia a paciência, as estribeiras e se exaltava contra um jornalista do New York Times. “Se você fala português!”, berrava.

Lembro até das entrevistas que Jô Soares não fez e que gostaria de ter feito. Com Dorival Caymmi, por exemplo, que, na sua proverbial “preguiça” de compositor bissexto, preferia não sair da Bahia (e nem da frente do ventilador). E lembro da entrevista, não realizada, com Senor Abravanel, o Silvio Santos, que Jô Soares mencionou ao receber dele - do “patrão” - o troféu Imprensa.

Provavelmente li o “Chatô” (1994), de Fernando Morais - um livro que me mostrou como o jornalismo poderia ser uma grande aventura - graças ao Jô Soares, que o mencionava frequentemente. A editora Companhia das Letras, aliás, era uma presença constante, sendo que contava poucos anos de vida. Jô Soares era um leitor, no melhor sentido do termo, e só por isso já se diferenciava da maioria dos apresentadores, entrevistadores e mesmo “podcasters” de hoje.

Tive a oportunidade de assistir a uma gravação do “Jô Onze e Meia”, que convidou os alunos da Poli para servirem de plateia, em 1994, ano em que o Ayrton Senna morreu e traumatizou o país. Fiquei impressionado que Jô gravava tudo - todas as quinze entrevistas da semana - em apenas dois dias. Era cansativo de assistir ao vivo, até para mim, que era fã, mas Jô conduzia com maestria e trocava de assunto sem fazer esforço.

Encontrei-o pessoalmente, no show do “Quanta” (1997), de Gilberto Gil, no então Palace - e aproveitei para perguntar quando sairia a entrevista com Rubem Fonseca, minha maior influência na literatura brasileira contemporânea. Eu sabia que Jô havia tentado e não tinha conseguido atrai-lo. “É muito meu amigo”, declarou, “mas me disse que só vai me dar uma entrevista... na Alemanha!” (país de predileção do grande contista).

Minha polêmica com Jô Soares teve menos a ver com ele, como pessoa, do que com ele, como autor. Foi na época em que comecei uma newsletter, logo depois de “A Poli como Ela é...” (1997), assinando J.D. Borges, e antes do Digestivo. Resolvi comentar, com desassombro e sem nenhum opinião preconcebida, seu romance “O Homem que Matou Getúlio Vargas” (1998).

O problema é que não era um bom livro, para dizer o mínimo. E eu não me conformava que o mesmo Jô Soares - que eu admirara tanto - pudesse ter escrito aquilo... Das duas, uma: ou escrevia muito mal e nunca deveria ter publicado; ou tinha um ghost writer péssimo e nunca deveria ter autorizado a publicacão. De qualquer modo, ficou ruim para ele e para seu editor (que tampouco deveria ter publicado).

O problema do Brasil é que as pessoas não leem - ou leem pouco, e acabam consagrando embustes. Mormente quando o autor é influente em sua área de atuação - e ninguém se atreve a contestá-lo. Ou seja: primeiro que ninguém lê; segundo que, quando lê, não tem base para saber se é bom; e, terceiro: mesmo quando acha ruim, não se anima a enfrentar o consenso. Até porque... Quem se importa?

Eu me importava. Eu era um franco atirador, tinha me formado na Poli/USP - uma façanha maior do que passar no vestibular da Poli -, era trainee do Itaú, ou já estava no ABN (não me recordo exatamente), namorava a mãe da Catarina, me correspondia com o Daniel Piza e nada poderia me abalar. Fora que eu não pleiteava uma posição na imprensa e nem sonhava em publicar na Companhia.

Meu texto poderia ter caído no vazio, mas o “Observatório da Imprensa”, de Alberto Dines, resolveu compartilhar - inclusive na sua versão impressa, que circulava por todas as embaixadas... Aconteceu que a BBC de Londres estava fazendo uma matéria sobre o Jô e um jornalista inglês - cujo nome não guardei - resolveu me entrevistar, porque eu era a única pessoa, no Brasil, que tinha coragem de criticar o Jô.

A entrevista foi em inglês e lembro que tivemos uma certa dificuldade para explicar que o Jô Soares era uma “unanimidade”. “Unanimously acclaimed”, por fim sugeriu o jornalista inglês. Nunca soube se foi ao ar... Hoje me parece mais uma tentativa de descobrir(em) se eu realmente existia, se eu não era um simples pseudônimo - ou um “laranja” -, fazendo declarações em nome de alguém (que não queria aparecer ou que preferia não se identificar).

Depois desse livro, Jô Soares lançou um último volume de ficção (se não me engano) e nunca mais se aventurou no gênero. Seus livros de memórias saíram em co-autoria com o Matinas Suzuki Jr., um jornalista experimentado. No auge do Digestivo Cultural, alguns Colunistas insistiam para que eu fosse ao Jô, conceder uma entrevista... Por mais que o Digestivo merecesse, eu nunca tive essa cara de pau...

Infelizmente, para o Brasil, depois do “Jô Onze e Meia”, Jô Soares decidiu ser menos combativo, seduzido pela “estrutura” da Globo, onde fazia mais sucesso com menos esforço. Não acredito que o programa do Pedro Bial tenha a mesma repercussão. Mas seguimos tão carentes de cultura - e de crítica - quando antes. Ou mais.

Jô Soares morreu... Vida longa ao “Jô Onze e Meia” no YouTube!

Para ir além
Leia também Quem tem medo do Jô Soares? e Anti-Jô Soares.


Julio Daio Borges
São Paulo, 12/8/2022

Mais Julio Daio Borges
Mais Acessadas de Julio Daio Borges em 2022
01. Jô Soares (1938-2022) - 12/8/2022
02. 80 anos do Paul McCartney - 18/6/2022
03. As maravilhas do modo avião - 27/5/2022
04. Maradona, a série - 1/1/2022
05. A compra do Twitter por Elon Musk - 26/4/2022


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Lord Jim
Joseph Conrad
Abril
(1980)



La Magia de La Batuta
Herzfeld
Labor



O espinheiro de Arimateia
Frank G. Slaughter
Itatiaia
(1964)



Diário do Futuro 10
Mirai Niki
Jbc



Iacobus
Matilde Asensi
Planeta
(2013)



O Pensamento Vivo de Buda
José Geraldo Simões Jr Tradução e Pesquisa
Martin Claret
(1985)



Uma Mulher Inacabada
Lillian Hellman
Francisco Alves
(1981)



Mestre NOZA (Xilogravura Popular)
Carolina Dumaresq
Demócrito Rocha
(2002)



Livro Pedagogia A Aula Como Processo Um Programa de Auto-Ensino
Juracy C. Marques
Globo
(1978)



Expatriados Com Um Novo Desafio Para Os Rhs Interculturais
Andréa Sebben, Andréa Sebben
Artes E Ofícios
(2009)





busca | avançada
56774 visitas/dia
2,1 milhões/mês