Diário impertinente | Bruno Garschagen | Digestivo Cultural

busca | avançada
70460 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> IA 'revive' Carlos Drummond de Andrade em campanha do Rio Memórias
>>> mulheres.gráfica.política
>>> Eudóxia de Barros
>>> 100 anos de Orlando Silveira
>>> Panorama Do Choro
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
Colunistas
Últimos Posts
>>> Pondé mostra sua biblioteca
>>> Daniel Ades sobre o fim de uma era (2025)
>>> Vargas Llosa mostra sua biblioteca
>>> El País homenageia Vargas Llosa
>>> William Waack sobre Vargas Llosa
>>> O Agent Development Kit (ADK) do Google
>>> 'Não poderia ser mais estúpido' (Galloway, Scott)
>>> Scott Galloway sobre as tarifas (2025)
>>> All-In sobre as tarifas
>>> Paul Krugman on tariffs (2025)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Chega de verdade, viva alguns enganos
>>> Dependências
>>> TV pública ou estatal?
>>> A verdade, uma flor e os três cães da vida
>>> O Mundo Nunca Foi Tão Intenso Nem Tão Frágil
>>> Coque, o violeiro de uma mão só
>>> Cupido era o nickname dele
>>> Alameda de água e lava
>>> Churrascaria Ponteio Grill, 30 anos
>>> Como sobreviver ao Divórcio de Ricardo Lísias
Mais Recentes
>>> Tirania da Contingência de E. M. Pastore pela Do Autor (2015)
>>> O Que Faz O Brasil, Brasil? de Roberto Damatta pela Rocco (1986)
>>> Vinland Saga Deluxe Vol. 1 de Makoto Yukimura pela Panini (2025)
>>> X Men, Vol. 27 de Hickman pela Panini Comics (2021)
>>> X Men, Vol. 21 de Hickman pela Panini Comics (2021)
>>> X Men, Vol. 20 de Hickman pela Panini Comics (2021)
>>> X-men, Vol. 19 de Jonathan Hickman pela Panini Comics (2021)
>>> X-men, Vol. 18 de Hickman pela Panini Comics (2021)
>>> X Men, Vol. 17 de Hickman pela Panini Comics (2021)
>>> X Men, Vol. 16 de Hickman pela Panini Comics (2021)
>>> X Men, Vol. 15 de Hickman pela Panini Comics (2021)
>>> X-men, Vol. 14 de Hickman pela Panini Comics (2021)
>>> X-men, Vol. 13 de Hickman pela Panini Comics (2021)
>>> X-men, Vol. 12 de Jonathan Hickman pela Panini (2021)
>>> X-men, Vol. 11 de Hickman pela Panini Comics (2021)
>>> X-men, Vol. 10 de Hickman pela Panini Comics (2021)
>>> X-men. Vol. 09 de Jonathan Hickman pela Panini (2021)
>>> Mao Tsé-Tung: O imperador vermelho de pequim de E Krieg (tradução de Pedro Reis) pela Otto Pierre
>>> X-men, Vol. 08 de Jonathan Hickman pela Panini Comics (2021)
>>> X-men, Vol. 07 de Jonathan Hickman pela Panini (2020)
>>> X-men, Vol. 06 de Jonathan Hickman pela Panini (2020)
>>> X-men, Vol. 5 de Hickman pela Panini Comics (2020)
>>> L'origine et L'évolution de la Vie de A Oparine pela Éditions de La Paix
>>> Só para os fortes de coração de Lex Croucher pela ‎ Verus (2025)
>>> Dream of The Red Chamber de Tsao Hsueh-Chin pela Anchor Books (1989)
COLUNAS

Terça-feira, 19/3/2002
Diário impertinente
Bruno Garschagen
+ de 6700 Acessos

Sim, há vida além das montanhas que sufocam esta cidade (Cachoeiro de Itapemirim é cercada de morros como se houvesse sido construída num buraco. Nada mais apropriado). Mais do que aqui, aliás. Nada mais revigorante - mais até do que uma colher de biotônico Fontoura ou de Power Up - do que visitar cidades com intensa vida cultural.

Estive no Rio de Janeiro Babilônia Salve Salve resolvendo alguns assuntos (não sejam curiosos e indiscretos para querer saber do que se tratavam) e, por alguns dias, esqueci que cumpria pena em Cachoeiro de Itapemirim (uma punição divina, talvez, para quem crê nisso).

No teatro, Casa de Boneca, de Ibsen; exposições de arte gráfica russa e pintores modernistas brasileiros no Centro Cultural do Banco do Brasil; livrarias com ar condicionado simulando o clima de cidades européias e cafés; sebos grandes e com o maravilhoso cheiro de traça e papel velho (sete ótimos livros por quarenta pratas). Banho de civilidade, que seria completo se não fossem a falta de educação do carioca médio, o trânsito infernal, o preço da comida - maldições a atormentar qualquer grande cidade. Entendo agora porque Cachoeiro de Itapemirim era tão ligada culturalmente ao Rio em boa parte do século 19. E os efeitos nefastos desse afastamento nos dias de hoje.

Não pretendo fazer elegia gratuita à capital do Rio de Janeiro, que por uma dessas ironias do destino (e falta de criatividade!) também se chama Rio de Janeiro. Mas sou desses que acreditam que uma sucessão de acontecimentos é um acontecimento seguido do outro, que, no fim, dá em alguma coisa.

Tentarei ser mais didático, como um professor de grego: uma produção cultural pulsante, com todos os artistas estimulados a produzir leva inexoravelmente (e me perdoem o óbvio) à arte de boa qualidade - mesmo que seja em menor grau. Óbvio que leva a produções chinfrins, que até podem ser maioria. O que quero dizer é que um ambiente, digamos, besuntado em arte, propicia a busca de algo melhor, sem essa apatia ou a terrível escolha do menos pior porque é o que existe - Cachoeiro é pródiga nisso. A aceitação do sórdido leva (é incrível essa incrível capacidade de influência do gosto questionável), pasmém, à produção em escala do sórdido. E se o sórdido é o que existe, e se sórdido é considerado bom, logo, o bom é sórdido. Sacaram?

Percorrendo algumas ruas do Rio me senti como numa outra dimensão, acostumado que já estava (afinal fazem cinco longos anos) com o ar insuportável desta waste land capixaba. Tive vontade de parar em vários lugares, sentar no chão e me por a escrever. O ar poluído e quente do centro da cidade parecia até colaborar; a correria nas calçadas me lembrava a todo o instante de que é preciso fazer algo, logo, mesmo que de forma mais lenta para atingir um grau razoável de satisfação com o resultado. Numa cidade do interior quem trilha os caminhos da arte segue sem ceder à tentação da ação - como na frase de Jorge Luis Borges referindo-se a Macedônio Fernandes (quem não conhece, corra para ler). E quando cede, não raro consuma um desastre. Difícil saber o que seria morar numa cidade como o Rio, com todos os defeitos que carrega. Ouço que o estresse não compensa e o que se ganha se gasta na sobrevivência, o que não inclui custos para mim vitais como livros, teatro, cinema, exposições, restaurantes e bares. Como o sujeito pode viver sem essas garantias básicas a uma sobrevivência digna?

Desconheço até que ponto a cantada em prosa e verso violência carioca perturba a vida de quem lá mora. Quem está fora e acompanha tudo pela imprensa, tem a impressão de que o faroeste foi institucionalizado, a exemplos de outras coisas perigosas à saúde, como o piscinão de Ramos, César Maia e Garotinho, o Anthony.

Não vi nada, acho que por sorte. Mas quase roubaram o carro do meu tio quando saía da faculdade. Nada é perfeito, dizem por aí, e eu nunca entendi muito bem o real significado da frase. Tenho um sério problema com ditos populares. Para ser mais preciso, tenho sérias divergências com o popular.

Acreditem, passar uma semana no Rio foi o maior legal (e me perdoem por uma expressão tão juvenil e antiga). Terrível foi desembarcar em Cachoeiro; ver que a cidade continua com aquela clássica arquitetura de reboco exposto; que nenhum motorista utiliza a seta; que o cinema só passa blockbuster; que no teatro só haja peça infantil de gosto questionável; que a única livraria é indecente (de ruim!); que os escritores tenham mais pompa do que circunstância (se é que vocês me entendem); que o modernismo tenha passado por cima da cidade, como os ventos; que o absurdo tenha se tornado moeda comum nas relações profissionais, econômicas, políticas e culturais.

Ainda bem, restam alguns poucos amigos com quem é possível conversar, rir e beber. São pessoas de gerações anteriores a minha, e talvez isso faça a grande diferença entre eu aderir à mediocridade instituída ou buscar olhar sobre os morros ocupados ilegalmente (bom, nunca vi o contrário); são como guias a orientar-me pela estrada sem fronteiras dos que resolvem buscar a graça da vida numa ironia ao riso fácil de uma piada de português.


Bruno Garschagen
Cachoeiro de Itapemirim, 19/3/2002

Mais Bruno Garschagen
Mais Acessadas de Bruno Garschagen em 2002
01. O romance da desilusão - 6/8/2002
02. Eu quero é rosetar - 12/2/2002
03. Niilismo e iconoclastia em Thomas Bernhard - 26/2/2002
04. Paz é conto da Carochinha - 28/5/2002
05. Anauê - 21/5/2002


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Perscrutando as escrituras II. são marcos (I)
Frei martinho
Vozes
(1969)



Dança do Gueto
Thales Alves
Do Autor
(2011)



Desce do Muro Moleca Ma
Rcus Vinicius de Arruda Camargo
Quinteto
(1988)



Freedomnomics
John Lott
Saraiva



Desigualdades Sociais, Redes de Sociabilidade e Participação Política
Neuma Aguiar (org)
Ufmg
(2007)



Revista Piaui - 14
Piaui
Piaui
(2007)



Progress to First Certificate Teachers Book
Leo Jones
Cambridge
(1990)



O Ambiente do mar
Samuel Murgel Branco
Moderna
(1992)



Professor Oliveira S. Ferreira
Carlos Enrique Ruiz Ferreira
Edusp
(2017)



Comunicação: as Funções da Propaganda
Alfredo Carmo / Armando Dalmeida
Publinform
(1970)





busca | avançada
70460 visitas/dia
2,5 milhões/mês