O medo como tática em disputa eleitoral | Humberto Pereira da Silva | Digestivo Cultural

busca | avançada
55773 visitas/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Núcleo de Artes Cênicas (NAC) divulga temporada de estreia do espetáculo Ilhas Tropicais
>>> Sesc Belenzinho encerra a mostra Verso Livre com Bruna Lucchesi no show Berros e Poesia
>>> Estônia: programa de visto de startup facilita expansão de negócios na Europa
>>> Água de Vintém no Sesc 24 de Maio
>>> Wanderléa canta choros no Sesc 24 de Maio
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
>>> The Nothingness Club e a mente noir de um poeta
Colunistas
Últimos Posts
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
>>> Felipe Miranda e Luiz Parreiras (2024)
Últimos Posts
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
>>> Ser ou parecer
Blogueiros
Mais Recentes
>>> A lei da palmada: entre tapas e beijos
>>> A lei da palmada: entre tapas e beijos
>>> A importância do nome das coisas
>>> Latrina real - Cidade de Deus
>>> Notas de Protesto
>>> Um imenso Big Brother
>>> O enigma de Lindonéia
>>> Breve reflexão cultural sobre gaúchos e lagostas
>>> Orson Welles
>>> Crônica do Judiciário: O Processo do Sapo
Mais Recentes
>>> Livro Infanto Juvenis Babá de Dragão de Josh Lacey pela Escarlate (2015)
>>> Livro Ensino de Idiomas A Kiss Before Dying de Ira Levin pela Macmillan Readers (2005)
>>> A Batalha Do labirinto Vol 4 de Rick Riordan pela Intrísnseca (2010)
>>> Livro Filosofia Pequeno Tratado das Grandes Virtudes de Andre Comte- Sponville pela Martins Fontes (1995)
>>> Livro Literatura Estrangeira Kill All Enemies Voce já Teve a Sensação de Não Se Encaixar no Mundo? de Melvin Burgess pela LePm Ediores (2013)
>>> Livro Infanto Juvenis Authentic Games Duelo Reverso de Marco Túlio pela Astral Cultural (2020)
>>> Livro Esoterismo O Mistério da Intuição de Brian Inglis pela Circulo do Livro (1987)
>>> Esposa - Amante de Nelma Penteado pela Do Autor (1997)
>>> Livro Literatura Estrangeira A maldição do espelho de Agatha Christie pela Nova Fronteira
>>> Livro Bogdan Suchodolski - Coleção Educadores do Mec de Irena Wojnar pela Massangna (2010)
>>> Livro Infanto Juvenis Leonardo da Vinci e Seu Supercérebro Mortos de Fama de Michael Cox pela Cia. Das Letras (2004)
>>> Gravidade de Tess Gerritsen pela Record (2009)
>>> Livro Literatura Estrangeira Eu Sei o Que Você Está Pensando de John Verdon pela Arqueiro (2011)
>>> Livro Literatura Brasileira O Pai da Menina Morta de Tiago Ferro pela Todavia (2018)
>>> Livro de Bolso Gibis Witchblade Mangá 1 de Kobayashi Yasuko pela Panini Comics (2007)
>>> O ladrão De Raios Vol 1 de Rick Riordan pela Intrísnseca (2009)
>>> Livro Domingo Sarmiento - Coleçao Educadores Mec de Héctor Félix Bravo pela Massangna (2010)
>>> Livro Jose Pedro Varela Coleção Educadores e Pensadores de 9788570195388 pela Massangna (2010)
>>> África e africanias de José de Guimarães pela Museu afro brasil (2006)
>>> Caderno de leitura e literatura de Valores culturais pela Sesi-SP (2014)
>>> O Corpo Fala - Aprenda a captar os sinais de alerta de Patricia Foster pela Best Seller (1999)
>>> Historias Divertidas - Coleção Para Gostar De Ler de Vários autores pela Ática (2011)
>>> Livro Jovem Você Vai Se Arriscar? de Collin Standish pela Gutenberg (2022)
>>> Asa Branca de Luiz Gonzaga; Maurício Pereira pela Difusão Cultural do Livro (2007)
>>> Quanto Mais Eu Rezo, Mais Assombração Aparece! de Lenice Gomes; Angelo Abu pela Cortez (2012)
COLUNAS

Quarta-feira, 8/10/2014
O medo como tática em disputa eleitoral
Humberto Pereira da Silva
+ de 14400 Acessos

1
Em 1651 o filósofo inglês Thomas Hobbes publicou o Leviatã. O livro, que se tornou referência obrigatória no contexto de legitimação do Estado Absolutista na Europa, gerou e gera infindas discussões. Seu autor defende a ideia de um estado forte, com o poder centralizado na figura do monarca.

Mas o Estado forte defendido por Hobbes resultaria da concordância dos súditos. Expostos a toda sorte de violência, numa eterna luta de todos contra todos, eles se submeteriam por meio de um contrato a um único homem, que garantiria a segurança de todos.

A ideia básica que permeia o pensamento de Hobbes é o medo. Este seria resultado da situação em que cada homem é um lobo para o outro. Isso, por sua vez, colocaria todos diante de situação de violência sem fim: uma guerra de todos contra todos.

Em certo aspecto é descabido pensar a política hoje, especificamente no Brasil, a partir do estigma do medo, concentrando o poder de decisão numa pessoa, que teria o dever de garantir a segurança coletiva. Claro, em certo aspecto, pois a atemorização não deixa de ser um elemento pregnante em nossa política, mesmo que o contexto no qual vivemos seja tão distinto do que Hobbes viveu.

Ora, se Hobbes hoje não seria exatamente um nome a ser evocado quando tratamos de política, não convém tampouco que um dos temas capitais de seu pensamento, o medo, seja subestimado. Tanto a fim de que ponderemos sobre o que está em jogo numa disputa eleitoral, como, com a eleição presidencial deste ano, para realçarmos que um grande pensador nunca perde a atualidade. Daí, em grande parte, a força de seu pensamento.

2
Uma das discussões mais frequentes da disputa eleitoral deste ano é a de que o partido que está no poder nos últimos doze anos, o PT, faz uso de procedimentos de atemorização para mantê-lo. Para a oposição, a candidata à reeleição pelo partido, Dilma Rousseff, faz propaganda pautada pelo medo, ao acusar seus concorrentes de colocar em risco conquistas sociais de seu governo, como o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida etc.

Os beneficiários destes programas, intimidados, votariam com a pressão de eventual perda. A ameaça de perda de benefícios, de que uma vitória da oposição traria insegurança, tem sido uma constante em praticamente todos os debates eleitorais.

No contexto de disputa eleitoral, o PT e Dilma Rousseff são acusados de fazer uma campanha suja, renhida, sórdida, que ao fim e ao cabo, usaria dos meios mais espúrios para vencer a eleição. Em tom de exagero, há quem afirme ser esta a eleição de nível mais baixo que já houve no país.

Bem entendido, a temperatura de uma eleição desperta paixões. Muita coisa é dita sem o devido cuidado, sem as devidas considerações que permitem entender o porquê de uma disputa que joga com interesses e matizes ideológicos conflitantes.

A esse respeito, não se pode esquecer uma dado importante, quando se fala do agitado clima político atual: as manifestações de junho do ano passado anteciparam o clima de animosidade que contamina o sentimento de necessidade de mudança pelas urnas.

3
As manifestações do ano passado, que expressaram a insatisfação com a forma de condução da política, dão a senha para se considerar as razões de uma disputa pautada pelo medo. Mas, convenhamos, nisso nada de novo em nossa política. O medo incutido pelo PT, hoje, não difere do de 1989, na eleição vencida por Fernando Collor. Assim como não difere do das eleições presidenciais que ocorreram entre 1945 e 1960.

Sem estas lembranças históricas, as discussões se confinam ao mero clima de exaltação de paixões. Agora, a questão é: o medo, a intimidação de eleitores, é um elemento a ser simplesmente ignorado numa disputa eleitoral no Brasil?

Sim, ele não é um ingrediente necessário. Ou não deveria sê-lo, se pensarmos numa sociedade coesa, sem as disparidades sociais da brasileira, num momento em que mudar, para muitos, é uma situação de risco.

O tema do medo traz à baila a relação delicada entre ética e política. Não conviria, convenhamos, como tática a ser empregada numa eleição, digamos, limpa. Acontece que a política, o poder, não é exatamente um exercício entre crianças bem educadas. Basta olharmos nossa própria história. Com exceção em certa medida ao período que teve início com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, que se deu num clima de razoável normalidade, as eleições no Brasil foram invariavelmente tensas, violentas, por baixo do verniz de nossa cordialidade.

Isso em grande parte porque os contrastes sociais no Brasil são maiores do que conviria a um papel do bom mocismo. Para o bem ou para o mal, o que acontece nesta eleição reflete como quem está no poder, com um projeto político definido programaticamente por trás, faz de tudo para mantê-lo.

Em 2002 o PT alçou ao poder com seu projeto de país bem definido na "Carta ao povo brasileiro". E nesta eleição, que coloca em risco esse projeto, não mede esforços e joga com o medo. Mas, alguém imagina que seria diferente se não fosse o PT? Assim, a era Vargas durou quinze anos e a dos militares vinte e um. O medo, então, é tão somente um ingrediente num jogo em que desconsiderá-lo tem seu preço.

Ao adotar a tática do medo, Dilma Rousseff tem consciência de que se assim não o fizer não sairá vencedora da eleição. Sim, Lula venceu José Serra em 2002 com o slogan "Lulinha paz e amor". Sim, uma das maiores fraquezas políticas de FHC foi não ter controle do PSDB e assim emplacado um sucessor com seu aval.

Ainda, Serra é o mesmo que dias atrás disse que o "PSDB não quer colocar fogo no Brasil...". Mas em evidente contraste com essa postura de Serra, Dilma, que na abertura da Copa do Mundo foi hostilizada por segmentos da elite paulistana fiéis ao PSDB, respondeu: "eu perdoo, mas não esqueço...".

Disputa eleitoral é uma arena. Se se quiser de outro modo: nas palavras de Carl von Clausewitz, "a guerra é uma extensão da política por outros meios..."

4
Só um esclarecimento talvez oportuno: tática é qualquer elemento componente de uma estratégia; assim, enquanto estratégia busca uma visão "macro", de conjunto, portanto, tática ocupa-se de visão "micro", e assim sendo particular em relação ao todo. O medo, nesse sentido, é tão somente uma tática de campanha eleitoral.


Humberto Pereira da Silva
São Paulo, 8/10/2014

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Eu, Marília de Marília Almeida


Mais Humberto Pereira da Silva
Mais Acessadas de Humberto Pereira da Silva em 2014
01. Tectônicas por Georgia Kyriakakis - 13/8/2014
02. O medo como tática em disputa eleitoral - 8/10/2014
03. Gustavo Rezende: uno... duplo... - 22/1/2014
04. Monticelli e a pintura Provençal no Oitocentos - 5/2/2014
05. O caso Luis Suárez - 16/7/2014


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Olhos Azuis, Cabelos Pretos
Marguerite Duras
Círculo do Livro



English o curso de inglês da abril way 4 301
Abril Coleções
Abril Coleções



Unidades Básicas do Corpo de Cristo
Ralph Neighbour Jr
Ministério Igreja em Células
(2013)



A Segunda Guerra Mundial 2 425
Raymond Cartier
Primor



A Espada Selvagem de Conan 23
Conan
Panini Comics
(2021)



Hiroshima 45: O grande golpe, da concepção do átomo à tragédia de Hiroshima
Heitor Biolchini Caulliraux
Lucerna
(2005)



O Redentor
Edgard Armond
Aliança
(1999)



Literatura e Cidadania
Reynaldo Damazio e Tarso de Melo
Dobra
(2013)



Xadrez Internacional e Social Democracia
Fernando Henrique Cardoso
Paz e Terra
(2010)



Os Dez Experimentos Mais Belos Da Ciência
George Johnson
Larousse
(2008)





busca | avançada
55773 visitas/dia
2,0 milhão/mês