Cartier-Bresson: o elogio do olhar | Pedro Maciel

busca | avançada
54628 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Maré Tardia lança o surf punk 'As Ondas' e prepara o EP Jovens Estúpidos
>>> L7, que faz show em Porto Alegre com Black Flag dia 25 de outubro, lança nova música
>>> Menos1 Invisível apresenta 'Refúgio' no Teatro Flávio Império
>>> Favelivro inaugura Biblioteca Fábio Judice
>>> Espetáculo teatral “Odila” chega ao interior de Caxias do Sul
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Olimpíada de Matemática com a Catarina
>>> Mas sem só trapaças: sobre Sequências
>>> Insônia e lantanas na estreia de Rafael Martins
>>> Poesia sem oficina, O Guru, de André Luiz Pinto
>>> Ultratumba
>>> The Player at Paramount Pictures
>>> Do chão não passa
>>> Nasce uma grande pintora: Glória Nogueira
>>> A pintura admirável de Glória Nogueira
>>> Charges e bastidores do Roda Viva
Colunistas
Últimos Posts
>>> Graham Allison no All-In Summit (2023)
>>> Os mestres Alfredão e Sergião (2023)
>>> Como enriquecer, segundo @naval (2019)
>>> Walter Isaacson sobre Elon Musk (2023)
>>> Uma história da Salon, da Slate e da Wired (2014)
>>> Uma história do Stratechery (2022)
>>> Uma história da Nvidia (2023)
>>> Daniel Mazini, country manager da Amazon no Brasil
>>> Paulo Guedes fala pela primeira vez (2023)
>>> Eric Santos sobre Lean Startup (2011)
Últimos Posts
>>> CHUVA
>>> DECISÃO
>>> AMULETO
>>> Oppenheimer: política, dever e culpa
>>> Geraldo Boi
>>> Dê tempo ao tempo
>>> Olá, professor Lúcio Flávio Pinto
>>> Jazz: 10 músicas para começar II
>>> Não esqueci de nada
>>> Júlia
Blogueiros
Mais Recentes
>>> O machete e o violoncelo
>>> Pergunte ao Polvo #worldcup
>>> 2007 e os meus CDs - Versão Nacional 2
>>> Nada é capaz de envelhecer Renato Aragão
>>> Outro mundo
>>> Ascensão e Queda de Leandro Karnal
>>> Grupos de teatro do Rio e de São Paulo em Paraty
>>> A rentável miséria da literatura
>>> 2008 e os meus CDs
>>> Modernismo e Modernidade
Mais Recentes
>>> Ferramentas Para Empreendedores de Richard Luecke pela Record (2007)
>>> Un Rosto en El Tiempo de Manuel Alfonseca pela Edelvives (2015)
>>> O Homem da Ilha e os Pioneiros da Caça Submarina de C. Hugo Stockler de S pela Dehon (1999)
>>> Livro Literatura Estrangeira Espártaco de Howard Fast pela Abril Cultural (1981)
>>> Nós, o povo - A revolução de 1989 em Varsóvia, Budapeste, Berlim e Praga de Timothy Garton Ash pela Companhia das letras (1990)
>>> Livro Religião Metafisica Trilógica Volume 2 Fenômenos Sensoriais de Norberto R. Keppe pela Proton (2002)
>>> Filosofia e Cidadania - Ensino Fundamental II - 9º Ano de José Ferreira da Silva Nonato Nogueira pela Projeto Ethos (2014)
>>> Normas Práticas para a Interpretação do Mapa Astral de Stephen Arroyo pela Pensamento (2011)
>>> Paz Guerreira: O Caminho das Dezesseis Pétalas de Talal Husseini pela Edições Nova Acrópole (2011)
>>> Coleção Flor da Pele 11 Volumes de Leslie Kelly e Outros pela Harlequin (2014)
>>> Livro Infanto Juvenis Spharion Vaga-Lume de Lúcia Machado de Almeida pela Ática (1985)
>>> O Abraço do Samurai de Dominique Nora pela Paz & Terra (1992)
>>> Livro Capa Dura Literatura Estrangeira O Senhor Embaixador Obras Completas de Erico Verissimo 22 de Erico Verissimo pela Globo (1965)
>>> Nove Noites de Bernardo Carvalho pela Companhia de Bolso (2020)
>>> Eu Escolhi Esperar de Nelson Junior pela Mundo Cristão (2017)
>>> Coleção Abril Grandes Sucessos -33 volumes de Abril pela Abril
>>> Estação das Chuvas de José Eduardo Agualusa pela Lingua Geral (2010)
>>> Our Way. 1 de Eduardo Amos pela Moderna (2016)
>>> Solidão, Nunca Mais - Vol. 3 de Américo Simões pela Barbara (2012)
>>> Os Saqueadores de Harold Robbins pela Record (2012)
>>> As Crônicas de Spiderwick Livro 5 de Tomy Diterlizzi; Holly Black pela Rocco (2006)
>>> Corruption: Roman de C. J. Sansom pela Éditions de Noyelles (2011)
>>> Livro História do Brasil Breve História do Brasil (1500-1995) de Hernâni Donato pela Lisa (1995)
>>> Capitães do Brasil. de Eduardo bueno. pela Objetiva. (1998)
>>> Livro Capa Dura Literatura Estrangeira Saga Obra Completa de Erico Verissimo 9 de Erico Verissimo pela Globo (1979)
ENSAIOS

Segunda-feira, 4/10/2004
Cartier-Bresson: o elogio do olhar
Pedro Maciel
+ de 11100 Acessos

Qual a importância da fotografia na cultura contemporânea? A fotografia é um meio artístico capaz de revelar o inexprimível? Qual o mundo imagético é digno de duração? Hoje vemos a proliferação de imagens sem sentido. Imagens repetitivas que nascem com os mecanismos de simulação. A realidade se tornou hiperrealidade. Será que estas imagens conseguem mostrar o interior das pessoas, das coisas, das paisagens? A fotografia contemporânea se propõe a ser testemunha do inexprimível. Mas como dizer o indizível? Talvez seja impossível para uma arte de representação que nasceu da vontade de revelar as aparências. A arte é um sistema de signos e sua função consiste em buscar o significado das coisas; materializar o mundo. A arte não comporta as aparências.

A fotografia (imagem) é um elogio do olhar. Narra a arte da ilusão. Henri Cartier-Bresson, artesão da imagem, fundador de um estilo geométrico e humanista, ao capturar a imagem, repara o momento exato em que as pessoas ou coisas se mostram por inteiro, e nos faz ver algo que até então era desconhecido, ou que havíamos entrevisto com os olhos embaçados pela pura e simples realidade.

Bresson, último mito da fotografia, diz que "o aparelho fotográfico é um caderno de croquis, instrumento da intuição e espontaneidade, o mestre do instante que, em termos visuais, questiona e decide ao mesmo tempo. Para revelar o mundo, é preciso sentir-se implicado no que se enquadra através do visor". Para ele somente duas coisas o interessam: o instante e a eternidade. Talvez o maior segredo da obra de Bresson seja a idéia de colocar no mesmo ponto de mira, a cabeça, o olho e o coração. Para Bresson a emoção é fundadora da razão.

O fotógrafo fez de sua câmera Leica uma extensão do seu olho. Um olho que captou composições no breve intervalo do tempo e "apanhou a vida no laço", expressando a emoção e não a visualidade banal do sentimentalismo ou do sensacionalismo. Bresson vivia "tocaiando seres humanos como um caçador tocaia animais", escreveu John Berger. Nos seus instantâneos nota-se as regras básicas do fotógrafo: concentração, disciplina de espírito, sensibilidade e senso de geometria.

Bresson tem a noção exata do "momento decisivo" para capturar a imagem. No prefácio de seu ensaio sobre o momento decisivo, publicado em 1952, ele anota que "alguém entra repentinamente no seu campo de visão. Você começa a seguir essa pessoa através do visor da máquina. Você espera, espera, e finalmente aperta o disparador - e sai com a sensação (embora não saiba exatamente por quê) de que realmente pegou alguma coisa".

O momento decisivo é uma fração de segundos em que os personagens em movimento adquirem um equilíbrio geométrico. Ele considera "a atenção e a antecipação do momento decisivo", o instante único quando a imagem pode ser roubada do tempo, como uma ocupação que o fotógrafo deve adquirir naturalmente, como a arte do arco-e-flecha de um mestre zen, que se transforma no alvo para poder atingi-lo.

Em Tête à Tête: Retratos de Henri Cartier-Bresson (Companhia das Letras), o fotógrafo apresenta uma coletânea de retratos e desenhos a lápis que exploram a paisagem variada do rosto humano. Ele não recorre a artifícios de composição, mas busca nos retratados os traços expressivos. Revela o silêncio dos retratados; amplia o humor desconcertante de Saul Steinberg com o gatinho, a face existencial de Giacometti e Beckett, a alegria contagiante de Che, a sombra infinita de Erza Pound, a solidão de Sartre em Paris. Bresson retrata a época em que viveu e, por isso, nos oferece uma profunda investigação da nossa permanência no mundo. Suas imagens, em estado de graça, dotadas de densidade e história, revelam as coisas vividas. Para ele, fotografar é olhar de verdade para o mundo. Sua arte é um tributo ao ser humano.

O fotógrafo aventureiro
Henri Cartier-Bresson, francês, nascido em 1908 (e morto neste ano) se autodenominava foto-jornalista. Mas poucas fotos de sua autoria tratavam de fatos jornalísticos, num sentido convencional. Fotografou mais entre a década de 30 e os anos 70. Estudou pintura com o cubista André Lhote. Em seguida estudou cinema nos EUA com Paul Strand e depois trabalhou como assistente de Jean Renoir, no filme "A Regra do Jogo".

Bresson começa a fotografar em 1932, com fascínio tanto pelo Surrealismo - "sua ética mais que sua estética" - como pela ebulição política na França que acabou na Frente Popular contra o fascismo. "O aventureiro em mim sentiu-se obrigado a registrar com um instrumento mais rápido que um pincel as feridas do mundo".

O fotógrafo foi preso em 1940 pelo exército alemão em Paris. Fugiu e continuou a fotografar a "resistência" para revistas como Life. No final da Segunda Guerra, fundou com Robert Capa, David Seymour-Chim e George Rodger a agência de fotografias Magnum e passou duas décadas seguintes em missão, testemunhando as revoluções que assolaram a China e a Índia. Suas fotos, tiradas com a lendária Leica 35mm, comentam os eventos e personagens mais singulares deste século. Em 1954 tornou-se o primeiro fotógrafo ocidental a entrar na União Soviética após a distensão promovida por Nikita Kruschev. Em 1966 desliga-se da agência Magnum e passa a dedicar-se exclusivamente ao desenho e à pintura.

Bresson anotou em 1992 que "a fotografia é um impulso espontâneo de uma atenção visual perpétua, que captura o instante e sua eternidade. Já o desenho elabora por sua grafologia o que nossa consciência captura desse instante. A foto é uma ação imediata; o desenho uma contemplação".


Pedro Maciel
Belo Horizonte, 4/10/2004
Mais Pedro Maciel
Mais Acessados de Pedro Maciel
01. Italo Calvino: descobridor do fantástico no real - 8/9/2003
02. A arte como destino do ser - 20/5/2002
03. Antônio Cícero: música e poesia - 9/2/2004
04. Imagens do Grande Sertão de Guimarães Rosa - 14/7/2003
05. Nadja, o romance onírico surreal - 10/3/2003


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Odisséia
Homero
Ediouro
(2005)



Livre das Garras do Sucesso
Miguel Bispo dos Santos
Cpb Didaticos
(2004)



Uma Lição Inesquecível
Laura Schroff e Alex Tresniowski
Universo dos livros
(2013)



O Retrato Mortuário
Vitor Bellucci
Sendas
(2019)



Vinte Mil Léguas Submarinas
Júlio Verne
Ciranda Cultural
(2010)



Textos Matematicos. Produção, Interpretação e Resolução de Problemas
Edmar Henrique Rabelo
Vozes
(2000)



Oswald de Andrade
Carla Caruso
Callis
(2000)



Via-sacra do Senhor Bom Jesus
Benedito Sergio Vieira de Melo
Santuario
(2013)



Aleister Crowley A Biografia de um mago
Johann Heyss
Madras
(2010)



The Magic Mountain
Thomas Mann
Vintage
(1996)





busca | avançada
54628 visitas/dia
1,7 milhão/mês