Excessos | Marta Barcellos | Digestivo Cultural

busca | avançada
70683 visitas/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Documentário inédito sobre Luis Fernando Verissimo estreia em 2 de maio nos cinemas
>>> 3ª Bienal Black abre dia 27 de Abril no Espaço Cultural Correios em Niterói (RJ)
>>> XV Festival de Cinema da Fronteira divulga programação
>>> Yassir Chediak no Sesc Carmo
>>> O CIEE lança a página Minha história com o CIEE
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
>>> Ser ou parecer
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Tempo vida poesia 1/5
>>> Fractais Sertanejos
>>> O Conselheiro também come (e bebe)
>>> Diploma ou não diploma... não é esta a questão
>>> Minha casa, sua casa
>>> Linger by IMY2
>>> A hora certa para ser mãe
>>> Cenas de abril
>>> Por que 1984 não foi como 1984
>>> A dicotomia do pop erudito português
Mais Recentes
>>> A Riqueza Da Vida Simples de Gustavo Cerbasi pela Sextante (2024)
>>> Capitães Da Areia de Jorge Amado pela Record (2003)
>>> Fundamentos De Eletronica de Gabriel Torres pela Axcel Books (2002)
>>> Como Chegar Ao Sim de Roger Fisher - Bruce Patton pela Solomon (2014)
>>> Os Artistas Da Memória de Jeffrey Moore pela Record (2024)
>>> Curso de Português Jurídico de Regina Toledo Damião / Antonio Henriques pela Atlas (1999)
>>> Guga - Um Brasileiro de Gustavo Kuerten - Guga pela Sextante (2014)
>>> Circuitos Eletricos - Coleçao Schaum de Joseph A. Edminister pela MC Graw Hill (1981)
>>> Ártemis - A Personificação Arquetípica Do Espírito Feminino Independente de Jean Shinoda Bolen pela Cultrix (2020)
>>> Educacao Escolar - Politicas Estrutura E Organizacao de Jose Carlos Libaneo pela Cortez (2012)
>>> Psicologias - Uma Introducao Ao Estudo De Psicologia de Ana Mercês Bahia Bock - Odair Furtado - MAria de Lourdes T Teixeira pela Saraiva (1997)
>>> Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX de Itau Cultural pela Instituto Itau Cultural (1997)
>>> Coleção Milton Nascimento - A Barca dos Amantes Cd + Livreto de Milton Nascimento pela Abril Coleções, (2014)
>>> Coleção Milton Nascimento - Caçador de Mim Cd + Livreto de Milton Nascimento pela Abril (2014)
>>> Odisseia - Série Reencontro Literatura de Homero - Roberto Lacerda adaptação pela Scipione (2005)
>>> Historias De Detetive - Para Gostar de Ler 12 de Arthur Conan Doyle, Medeiros E Albuquerque pela Atica (2011)
>>> Eros e Psique - Série Reencontro Literatura de Luiz Guasco pela Scipione (2018)
>>> Os Lusiadas - Serie Reencontro Literatura de Rubem Braga - edson R.braga - luis De Camoes pela Scipione (2006)
>>> O Homem Da Máscara De Ferro - Coleção Reencontro Literatura de Alexandre Dumas - Telma Guimaraes Castro Andrade adaptação pela Scipione (paradidaticos) (2004)
>>> Guerra Civil de Stuart Moore pela Novo Século (2015)
>>> A Morte Do Capitão América de Larry Hama pela Novo Século (2016)
>>> O Mundo Magico dos Números - Coleção Tan Tan de Jung Sun Hye Jeon In-kang pela Callis (2008)
>>> Emagrecimento Definitivo - Vigilantes do Peso de Dr. James Rippe pela Fisicalbook (2009)
>>> O Videogame Do Rei de Ricardo Silvestrin pela Record (2009)
>>> O Espadachim De Carvão de Affonso Solano pela Fantasy (2013)
COLUNAS

Sexta-feira, 6/5/2011
Excessos
Marta Barcellos
+ de 4100 Acessos
+ 1 Comentário(s)

O bullying sempre existiu, palmada sempre existiu, assédio no trabalho sempre existiu, violências nas relações amorosas sempre existiram, e vamos deixar assim. Ah, dessa forma se molda o caráter, as defesas do homem. E também da mulher. Traumas moderados são bons, fortalecem; temos que cuidar apenas dos excessos. E se o moderado para um for fatal para outro?

Penso nisso depois de ler "Preciosidade", conto de Clarice Lispector. Sempre Clarice para nos lembrar de alguma coisa esquecida na alma feminina. Algo ainda não nomeado, e que perderá um pouco de sua intensidade depois que o for, e puder ser incluído na lista acima. O conto está na internet, acho que não oficialmente, e se você quiser parar agora para ler, será um prazer esperar.

Ele mostra uma menina de 15 anos, que talvez tivesse 13 nos dias de hoje. Nesta idade, é provável que não se ande só pelas ruas do Rio de Janeiro, como antigamente. Não por causa daquela, ainda não nomeada, mas de outras violências mais óbvias. Mas suponhamos que ela hoje caminha, sim, apenas pequenas distâncias, em ruas tranquilas. Minha filha, de 11 anos, tem orgulho de se parecer com a criança que ainda é, mas algumas amigas da mesma idade aparentam bem mais. Talvez 13 anos ― os 15 da época de Clarice. Outro dia, observando uma delas brincar lá em casa, pensei, distraída: nossa, já parece uma moça. Se caminhar sozinha, ou pegar um ônibus sem a escolta de um adulto, coitada, poderiam... E mudei rápido de pensamento.

Mudei, mas Clarice me lembrou: "poderiam lhe dizer alguma coisa". A adolescente de "Preciosidade" saía sozinha de casa, bem cedo, enlevada pelo despertar de algo precioso, recém descoberto dentro dela. "Ela." Até chegar à escola, teria sorte de "ninguém olhar para ela". Precisava ser séria como uma missionária por causa dos operários no ônibus. Por dentro, ela se venerava, mas o coração batia de medo. É que eles "sabiam". A adolescente de Clarice anda na rua como um soldado, enquanto faz jogos mentais da criança que também é ainda. O conto segue nebuloso, dando conta do rito de passagem e da perda da inocência. Um ritual no qual faz parte a violência praticada por marmanjos contra meninas novas o suficiente para se intimidar.

Esqueça o "fiu-fiu" das histórias em quadrinhos. Ou a cantada criativa de outro jovem para a "moça bonita" que seria "a nora que mamãe pediu a deus". Não é disso que falo. Falo da experiência de quem já teve 15 anos e sentiu vontade de chorar diante da covardia de assédios praticados por homens mais velhos. Assédio: lá fui eu me escorar na nova nomenclatura que diagnostica males antigos. Talvez precisemos, sim, nomear, ou renomear, para criar um distanciamento em relação às tradições sombrias do passado. Daí o termo bullying, que chegou aqui estrangeiro, ainda por cima ganhando as páginas dos jornais logo depois de uma tragédia com cara de importada.

Já ouvi várias pessoas dizerem que tudo isso é frescura. Crianças são más mesmo, e por isso humilham a mais fraca do grupo. Sempre foi, sempre será. Todos aprendem e sobrevivem. E passam sua "sabedoria" adiante. Sobre isso, achei genial a tirinha do cartunista Bruno Drummond, da série Gente Fina, publicada na Revista do Globo. O menino franzino e de óculos comunica ao pai, distraído e brutamontes: "Papai, fui vítima de bullying no colégio." "Vítima de quê?", se irrita ele. O garoto repete o termo estrangeiro e o pai retruca: "Fala que nem homem, quatrolho!"

Não tenho lembranças de ter sofrido bullying (vou usar, já foi nomeado) na escola, mas é provável que eu me fizesse de invisível, como a jovem do conto de Clarice, já que eu também não era "popular". Mas me surpreendo com as lembranças despertadas agora pelo conto ― provavelmente relido, porque faz parte de um livro que adorava na adolescência, Laços de família. Comento com a minha professora Giovanna, que se solidariza. "Não sei como uma mulher pode não ser feminista, se um homem passa por uma menina na rua e diz para ela: queria te chupar todinha".

Sim, as adolescentes passam por esta violência e outras ainda piores, como insinua "Preciosidade". Ninguém fala sobre isso. Talvez existam graduações de assédio aceitáveis, alguém vai argumentar. Certamente as "quatro mãos difíceis" do conto extrapolam este limite. No colégio onde minha filha estuda, um caso foi extraoficialmente chamado de bullying quando uma menina pagou a outra para cuspir numa terceira. Entre meninos, olhos roxos costumam ser parâmetros mais precisos. Acontecem sempre, em todos os colégios.

No filme Amor?, de João Jardim, somos confrontados com histórias de relacionamentos amorosos nas quais é difícil detectar quando a violência foi entendida ― e nomeada ― como violência (e não como "excesso de amor"). O filme partiu de uma série de depoimentos, mas as histórias reais foram recriadas pelo diretor e pelos nove atores com a delicadeza de um conto de Clarice. Entre uma história e outra, a tensão nos é aliviada pela água. No final, com o distanciamento de expectadores que não viveram aquelas vidas, percebemos o quanto a violência pode ser suportada por jogos de poder e sentimentos de culpa. E o quanto ela se reproduz pela familiaridade. Sempre existiu, sempre existirá. Será?


Marta Barcellos
Rio de Janeiro, 6/5/2011

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Uma livrada na cara de Guilherme Carvalhal
02. Tiros, Pedras e Ocupação na USP de Duanne Ribeiro
03. Jornalismo literário no SindJor de Tais Laporta
04. Notas Musicais de Rafael Azevedo
05. Confissão da miserabilidade gastronômica de Paulo Polzonoff Jr


Mais Marta Barcellos
Mais Acessadas de Marta Barcellos em 2011
01. A internet não é isso tudo - 14/1/2011
02. Entre livros e Moleskines - 11/2/2011
03. Somos todos consumidores - 8/4/2011
04. Em busca da adrenalina perdida - 4/3/2011
05. Cinema de autor - 26/8/2011


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
21/5/2011
11h37min
Realmente a linguagem muda com o tempo. Na minha infancia eu ouvia falar, "aquele menino bolinou", "vai bolinar outro", "vive bolinando", entao o termo e o "ato" bolinar sempre existiu. Porque agora tanto "alarde" por isso. Toda vez que se fala muito de uma coisa ela soh aumenta.
[Leia outros Comentários de Maria Anna Machado]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Ivanhoe
Walter Scott
Centro Editor de America Latin
(1968)



Pb3 And The Jacket
Jane Cadwallader
Hub
(2011)



La Belle Sauvage - O Livro Das Sombras Vol. 1
Philip Pullman
Suma
(2017)



Lote Com 10 Livros de Direito
Vários Autores
Diversas



Murillo
Enrique Valdivieso
Alianza
(1994)



Quatro pessoas
Mário de Andrade
Itatiaia
(1985)



Jogos fatais
Cole Perriman
Scritta
(1995)



Ágape
Padre Marcelo Rossi
Globo
(2010)



Contos Gauchescos / Lendas do Sul
Joao Simoes Lopes Neto
Globo Antigo
(2001)



Au Arquitetura & Urbanismo Nº 206
Pini
Pini





busca | avançada
70683 visitas/dia
2,0 milhão/mês