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Terça-feira, 13/3/2012
O Artista
Duanne Ribeiro
+ de 3600 Acessos

O Artista, filme do francês Michel Hazanavicius, possui personagens cativantes, beleza visual e uma história leve e divertida. Não só, chama de imediato a atenção pelo uso de uma forma antiga, a do cinema do início do século XX e antes. Em preto e branco, mudo (ou quase), com falas escritas na tela e trilha orquestrada, essa produção retoma esses recursos não por fetiche, mas como modo de reforçar a narração. O diretor brinca com o que esperaria um espectador de hoje, põe nossa percepção para funcionar de outra maneira e nos dá a chance de nos identificarmos com seu tema central, isto é, tempo e identidade - ou, mais precisamente, como lidamos com a mudança.

O contexto da narrativa é o momento de transição das produções silenciosas ao cinema falado. À época, a nova tecnologia alijou vários profissionais da indústria. É o caso de um dos protagonistas, George Valentin. Prestigiado como ator mudo, não encontra mais espaço no mundo ocupado pelos talkies e declina. Ele insiste em filmar à maneira antiga (preferindo-a como Charles Chaplin por algum tempo o fez) e fracassa com o público. Perde sua riqueza, sua mansão e objetos de estima (o retrato à óleo de corpo inteiro, seu sorriso paralisado), se endivida e se isola. A linha principal do enredo é essa queda, a luta de Valentin contra seu orgulho e decepção.

A outra protagonista é Peppy Miller, atriz que por sua espontaneidade e ousadia (assim como por uma ajuda inicial de Valentin) ascende ao estrelato. Sua amizade com o ator já obsoleto é cheia de admiração e flerta com o romance - e será essencial no desfecho.

Uma cena do filme sintetiza a ideia principal desses movimentos mais gerais. Valentin está saindo do estúdio, depois de recusar as inovações técnicas. Ele encontra Peppy, que vai na direção contrária. Em uma tomada panorâmica, vemos três andares e o fluxo sem interrupção dos funcionários entre eles. Os dois protagonistas no centro, um desce pelos andares, outro sobe. Em uma metáfora sutil, vê-se a troca do velho pelo novo e dança de posições contínua, que exige renovação mesmo para se manter no mesmo lugar.

Essa tema remete a uma obra certamente referencial para Hazanavicious. Em Luzes da Ribalta, de Chaplin, um velho comediante perde o prestígio; seus números não atraem o público e a falta de reconhecimento o deixa travado no palco e o estimula a beber para conseguir ser engraçado. Um dia, bêbado, voltando para casa, salva uma jovem vizinha do suicídio. É uma bailarina que por certos bloqueios internos não consegue atuar. Esses dois personagens se ajudam a encontrar um novo espaço.

O esquema é o similar ao de O Artista, mas em Luzes... o impedimento a ser superado é o receio do risco, enquanto no primeiro trata-se da soberba, como dito. A criatividade é um elemento central em ambos, mas há diferenças: na obra chapliniana, são ressaltados a coragem e o esforço envolvidos; na do outro diretor, na naturalidade com que alguém adapta suas habilidades às chances que o meio lhe dá. Parte da leveza do filme surge daí - sente-se que o sucesso e a alegria são possíveis a partir do passo disposto.

O restante dessa leveza vem das características dos relacionamentos "mais verdadeiros" da produção. De um lado, temos as relações determinadas pela condição atual - Doris, a mulher mesquinha de Valentin, o abandona; Al Zimmer, chefe do estúdio, define suas preferências de acordo com o mercado. Do outro lado, o cachorrinho do ator, Jack, e seu mordomo, Clifton, assim como Peppy, são marcados por uma confiança perene. Nessas amizades, sobressaem a fidelidade e o desprendimento. Na torrente de mudanças que os indivíduos se encontram, essas são coisas que permanecem. Lembra a música: "Quem está agora a seu lado? Quem para sempre está? Quem para sempre estará?".

Recursos do Cinema Silencioso
Poderíamos recordar também Cantando na Chuva, de Stanley Donen e Gene Kelly, cuja história se passa igualmente na transição do silente ao sonoro. Outra aproximação seria possível com A Última Gargalhada, de F.W. Murnau, no qual vemos um homem perder seu emprego e seus motivos de autoestima (assista). A presença de um cão carismático e heróico lembra outro Chaplin, Vida de Cachorro (assista), e Rin Tin Tin e outros vários cães que se tornaram estrelas em Hollywood. A Peppy de Hazanavicious é semelhante a Peppy de King Vidor em Fazendo Fita (veja trecho), como notado aqui.

O Artista, no entanto, não se reduz à intertextualidade vazia. Em primeiro lugar, porque o filme, apesar das referências, tem sempre em vista o público contemporâneo. Um dos recursos usados foi se aproveitar do nosso, digamos, hábito sonoro. Conforme ressalta esse articulista, nas cenas iniciais, Valentin está nos bastidores de um cinema enquanto o público assiste à sua atuação na tela grande. A câmera alterna entre os dois. Quando o filme termina, ela foca no rosto expectante do ator. Sem nenhum estímulo aparente, ele sorri, mas é porque explodiram os aplausos, de modo algo surpreendente para nós que, o diretor sabe, antecipamos o som. Outros truques do tipo dão força a essa interpretação.

Em segundo lugar, essa forma específica parece nos deixar em uma disposição peculiar. "Você está assistindo e rindo e se rendendo a esse frívolo nonsense, e há uma parte sua se perguntando por que você tão alegremente deixou seu cérebro na porta de entrada", escreveu o roteirista William Boyd, "a resposta, eu acho, é um tributo oblíquo ao poder do cinema silencioso. (...) Você é tocado de forma mais simples e eficiente; sua objeção intelectual ao melodrama desaparece; questões de plausibilidade e naturalismo parecem irrelevantes porque o campo do filme mudo, preto e branco, é maneirista e artificial".

Ainda segundo Boyd: "Você descobre que, inconscientemente, um arranjo diferente de ferramentas mentais foi acionado - você consome o filme de uma maneira distinta e a experiência é revigorante". Por um outro ângulo, ele expressa o mesmo que A Vida em Preto e Branco, de Gary Ross. Na produção, os protagonistas passam a viver no mundo de uma série televisiva dos anos 1950 - e o cenário preto e branco é como que símbolo de um universo mais ingênuo, mais simplório, mais sincero.

Por fim, essa forma nos faz experimentar a mesma inquietação de Valentin: estamos frente à mudança: um modo de narrar com o qual não somos acostumados e sobre o qual nós talvez pensemos que não nos tem nada a oferecer. Descobrimos, enfim, como eles, que o inesperado/indesejado pode ser repleto de possibilidade.


Duanne Ribeiro
São Paulo, 13/3/2012

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