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Terça-feira, 28/10/2014
Hosana na Sarjeta, de Marcelo Mirisola
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 4500 Acessos

Quando eu terminei de ler Hosana na Sarjeta, do escritor Marcelo Mirisola, publicado pela Editora 34, me veio imediatamente na cabeça o poema em prosa "Perda da auréola", de Charles Baudelaire.

Na pequena prosa, Baudelaire narra alegoricamente a perda da auréola pelo poeta ("o bebedor da quinta-essência"), que, fugindo do movimento das carruagens nas ruas, deixa cair na sarjeta enlameada sua auréola. Perdendo sua insígnia de homem superior, o poeta se sente aliviado, podendo agora "praticar ações vis e entregar-me à crápula, como os simples mortais". Não querendo recuperar sua auréola, ele diz: "A dignidade me entedia". Ele ainda diz que algum mau poeta talvez encontre sua auréola perdida e "impudentemente se adorne" com ela. O que o faria rir de tais pessoas.

Algo parecido acontece com a literatura de Mirisola. Despojada de qualquer artifício "literário", de qualquer linguagem propositada e artificialmente liricizante, sua literatura é despudorada na escolha das palavras, dos temas e da ambientação onde a vida de seus personagens trafega, geralmente de forma trôpega. Literatura sem auréola, como sugeria Baudelaire para a moderna obra de arte, ou como sugerida por Rimbaud no seu "Uma seção no inferno", que se abre contra os bons comportamentos literários com a máxima: "um dia sentei a beleza no colo e injuriei-a".

É de uma tradição dessa estirpe que Mirisola deve gostar. Mergulhando no sublime do submundo, ele o exalta como possibilidade de uma espécie de êxtase que a vida errante (e - certamente - errada) proporciona. Um mergulho nas sensações carnais, na desesperança (e ilusão de esperança) que o amor produz, na turbulência que o embate entre desejo e fracasso produz, seus personagens buscam se entender e se encontrar como só dois porcos-espinho poderiam se encontrar.

Hosana na Sarjeta é quase uma autobiografia (quem poderá medir a porcentagem de verdade e ilusão que essa suposta autobiografia possui? Se depender do autor, nenhum dos críticos literários tarimbados da Unicamp, sempre crítico-criticados no interior do romance, poderia, com a astúcia de sua razão, alcançar a viscosidade auto-vital-biográfica dessa linguagem cheirando a cigarro, álcool, paixão, sexo e sereno das sórdidas madrugadas). Autobiografia porque, talvez, não exista diferença para o autor entre estar vivo e estar escrevendo. Círculos viciosos, ou círculos infernais, vida e obra descem ao inferno juntas e dali saem de corpos abraçados (mais que de braços dados).

O erotismo do romance não é o soft-pornô servido como autoajuda ou rebelião programada de uma classe média informada, com anos de terapia corretiva para seus desejos desajustados (segundo as regras da máquina de moer gente que se chama moral). Na literatura de Mirisola a vida atropela a linha do trem, redesenha sua forma para o descarrilamento sem medo. As carnes se batem em potência e impotência, em ereção e sua falta, em desejo de encarnar outro corpo e de desencarná-lo ao mesmo tempo. A voragem dos verbos imorais que pululam em Hosana na Sarjeta faz o livro vibrar em in-descrições que são pura luxúria. Um certo crítico disse que as obras de Caravaggio cheiravam a sexo e álcool. O mesmo se aplica à literatura de Mirisola.

No romance, o personagem se apaixona e se perde por causa de uma suposta "mulher da vida", brega, gostosa e de periferia. Uma tal Paulinha Denise (só uma piranha de verdade teria um nome assim), espécie de misteriosa Capitu "sem recalque", que recebe entidades e enlouquece o narrador - que parece ter encontrado nessa fêmea sua alma gêmea para descer à sarjeta.

Outra mulher (sempre elas, sem o qual a vida descolore), Ariela, reforça o gosto pelo descarrilamento do narrador. Inclusive faz seu pau descer literalmente ao inferno da impotência. "Ela era a imagem e semelhança da minha insensatez, da escolha errada, do pinto mole". Vale citar um pouco mais a descrição da figura:

"Ariela carregava um potencial de destruição visível, mas sabia escamotear o mal atrás de uma cumplicidade que não oferecia perigo iminente - aparentemente não - a quem pretendia enfeitiçar. Ariela era Lolita avançada tecnologicamente. Algo meio caipira, sotaque carregado da Mooca. Pés lindos, unhas manicuradas. Quando vinha por cima sabia como estocar, quadris de égua e respiração de cavalo. Era quase como um amigo na mesa do bar. Ela trazia a presa para si, recuava no tempo certo e não se fazia de ingênua - para mim, não - estudante de direito, serpente, bissexual e safa. Tesão. Difícil confiar em Ariela. Impossível não confiar. (...) A nossa trepada começou - nem seria preciso dizer - no primeiro beijo."

São estas duas mulheres que centralizam os rumos e as vias tortas dos descaminhos do narrador. Vale dizer que os personagens de Mirisola são tão presentes que não parecem ter saído de sua imaginação. Somos levados a pensar que são reais e que não seriam tão peremptórios em sua existência se antes não tivessem passado pela vida do autor. Depois da leitura do romance parece que convivemos tão intimamente com eles que se tornaram tão reais quanto as pessoas que nos rodeiam durante a vida.

Regadas a palavras chulas, frases inebriantes, dentro de uma narrativa ágil, que não nos deixa tempo para pensar em pseudo-requintes rococós, Mirisola faz florescer a mais embriagante flor do mal, sua própria literatura - para nosso gosto e, talvez, desgosto dos críticos "coxinhas".

NOTA

A fotografia que ilustra a resenha é a obra "Ave sarjeta", da artista londrinense Ana Lucca

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Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 28/10/2014

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