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Terça-feira, 24/5/2016
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Redação
 
Ceifadores



"Ceifadores"
pintura digital, giclée print








imprimindo a gravura




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Postado por Blog de João Werner
24/5/2016 às 11h42

 
Transparências

O hábito é
o óbito
do gesto

Quando
esqueço
do primeiro
passo,

logo
tropeço

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Postado por Metáforas do Zé
24/5/2016 às 09h00

 
Caminhada na Olívia Flores

Quando o corpo está acostumado a despertar no silêncio da madrugada, é praticamente impossível forçar novo sono. Se forçar, dá até dor de cabeça. O que já foi tédio na juventude cede espaço ao prazer. Apreciar o raiar do sol e a primeira luz do amanhecer no horizonte é maravilhoso.

O melhor a fazer é saltar da cama, dar um basta à preguiça, sair no tempo e deixar os olhos abrir os caminhos para um novo dia.

São 4h55min em Vitória da Conquista, BA. Na Avenida Olivia Flores os amigos estão a me esperar. Não demora muito e a pista se enche das vozes dos apressados madrugadores em nome da saúde.

Não acordar cedo e caminhar com essa turma falta algo, a caminhada fica sem graça, parece que o tempo se alonga. Prefiro me juntar a eles.

A turma dos chamados homens de bem não dá moleza, anda pra valer. Percorre a pista todo santo dia até o fim da curva de entrada da Uesb ¬– Universidade Estadual do Sudoeste, um percurso de quase seis quilômetros.

Muito bom esse contato diário, além de fortalecer ainda mais os laços de amizade, melhora o astral.

Logo ao clarear, principia o formigueiro humano: senhores e senhoras andantes, ciclistas e velocistas de todo tipo, e lá vamos nós. De repente, aparece um grupo de belas moças, como se flutuassem pela estrada.

Todas bem vestidas de malhas coloridas coladas ao corpo, a lhes cobrirem as linhas harmoniosas de cada reentrância. Parece até que as roupas foram costuradas com elas dentro, de tão desenhadas. É inevitável a nossa contemplação, com todo respeito, é claro!

Feito bobos, um olha para o outro meio sem graça, enquanto elas passam em direção ao destino bendito. Viu aí? Escuto um perguntar, como se fosse possível alguém deixar de ver tanta exuberância!

A natureza é perfeita. As bonitas carregam consigo a majestade de suas geografias naturais. Que me perdoem as feias, como bem escreveu o poetinha Vinícius.

Colírio em circulação suaviza as batidas do coração e ajuda o sangue a fazer delicadamente seu giro nas veias. Não precisa dizer mais nada!

Já é dia. O sol ainda manso, não é mais como um bocejo avermelhado detrás da serra. O verde do pasto se anima a crescer, mas, em nome do progresso, vai dando lugar às novas edificações.

Mais à frente avista-se os prédios do SESI/SENAI/IEL, da Justiça Federal, do Novo Fórum Estadual e do Ministério Público.

Outros caminhadores, também fugindo do sedentarismo, nos cumprimentam pelo caminho. É hora de a turma colocar o papo em dia. Uns tentam seduzir os demais parceiros a escutarem os seus comentários. Todos têm, na ponta da língua, uma visão crítica sobre o jogo do time do coração, das extravagâncias do fim de semana, das experiências vividas em seus trabalhos ou se ufanam com as conquistas do passado.

A caminhada prossegue. Lá íamos nós, quando, por alguma razão que até Deus duvida, um resolve chamar o outro pelo apelido.

Pra quê? A gota d’ água! O grupo inteiro cai na gargalhada. Caçoam numa chacota sem igual.

Apelido é assim, vira praga, assemelha-se a erva daninha, espalha-se como água morro abaixo ou fogo morro acima. Se o sujeito enfezar – coitado! –, ninguém consegue conter a onda. A pecha vai condená-lo ao fogo eterno. Que o Nosso Senhor tenha dó!

O homem virou uma fera! Nervoso, vermelho que nem brasa, faz ameaças, quer brigar com todo mundo. Felizmente, a turma do “deixa disso” chega, e a paz volta a reinar; resolve-se dar um basta. Mesmo porque, naquele instante, ninguém era doido de mexer com o ofendido.

Mas, cá pra nós, me deu uma vontade de atiçar para ver o circo pegar fogo, isso deu! A minha língua coça, mas não tive coragem.

Ainda bem! Porque caminhada em grupo de amigos é assim. Como uma fenda aberta, por ela o que se vê vazio pode se encher de tudo! Ezequiel Sena

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Postado por BLOG DO EZEQUIEL SENA
19/5/2016 às 11h48

 
Feriado do FGTS

Uma necessidade urgente do País é um programa de estímulo que coloque dinheiro diretamente no bolso daqueles que mais necessitam e têm as melhores condições de decidir corretamente como gastar. A melhor forma de fazer isso é um "feriado" do FGTS com a duração de 2 anos. Durante esse período o FGTS será pago pelo empregador diretamente ao trabalhador, em conta não vinculada.

As famílias poderão dirigir seus gastos e investimentos da forma que cada um achar mais adequada, estimulando a demanda onde houver as maiores necessidades e induzindo as empresas a retomarem investimentos. A contraparte é que a União será forçada a sanear a Caixa Econômica Federal, que durante esse período não contará com o aporte de recursos fáceis e baratos das poupanças forçadas. Certamente isso implicará em uma necessidade de recursos do Tesouro, aumentando a dívida pública, que terá que ser compensada com uma diminuição futura de gastos.

Porém no momento de recessão profunda o país não pode prescindir de medidas de estímulo, e as mais eficazes e socialmente justas são cortes de impostos para aqueles que melhor têm noção das necessidades dos trabalhadores brasileiros. A proposta é boa, eu diria que é a melhor; pode dizer que é sua.

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Postado por O Blog do Pait
18/5/2016 às 18h26

 
Adriane Pasa no Canadá



Esta é a Adriane Pasa, que você já leu aqui, e sua amiga Cínthia - estão começando uma nova série sobre o Canadá, onde foram morar, assista ;-)

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Postado por Julio Daio Borges
18/5/2016 às 13h14

 
Como um torcedor do Brasil em época de Copa

Sabe aquele sujeito que só torce pelo Brasil em época de Copa do Mundo?

Então. Sou eu...

Não tenho paciência para acompanhar futebol. Nunca tive. Nunca terei

Mas gosto de torcer pelo Brasil em época de Copa. Subitamente me interesso pelas seleções, pelos jogadores, até pelos técnicos

A impressão que tenho é que o talento se concentra (em época de Copa) - e o esporte tende a ser mais interessante...

Assim, o dia a dia - fora da Copa - eu acho "chato". Burocrático. Sem novidades

Pois é, não sou fã. Não sou fanático

Mas por que estou falando de futebol? Porque percebi que, em política, sou a mesma coisa:

Gosto de acompanhar em época de eleição. Os debates entre os candidatos. Até um programa eleitoral ou outro...

Mas o "dia a dia" da política não me interessa em nada. Acho chato. Burocrático. Sem novidades

Talvez por isso não vão me ver opinar sobre o dia a dia do novo governo...

Depois das "emoções" do impeachment - aquele tudo-ou-nada onde, de repente, poderíamos acordar na Venezuela ou em Cuba...

Depois disso, tudo ficou tedioso

E vamos procurar outras emoções... Talvez nas eleições dos EUA... Talvez nas eleições municipais (no segundo semestre)...

Por enquanto - se não houver nenhuma reviravolta -, eu me despeço da política e vou cuidar da vida

Admiro muito, mas não tenho a mesma vocação de uma Dora Krammer, de um Fernando Gabeira ou de um editorialista do Estadão

Nem, muito menos, o estômago de um Diogo Mainardi, de um Reinaldo Azevedo ou de um Marco Antonio Villa

Por fazer um acompanhamento "parcial" - só em época de eleição -, meus comentários estão condenados a cair na "vala comum" do torcedor-do-Brasil-em-época-de-Copa-do-Mundo...

Mas não importa. Prefiro conservar minhas emoções de "torcedor". Do que assumir aquele ar superior de "comentarista" vivido - que já viu de tudo...

O dia a dia, eu acompanho o da Catarina. O dos meus sites. O da minha família. E olhe lá

Para ir além
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Postado por Julio Daio Bløg
18/5/2016 às 09h33

 
Ausente presença

Na serra, anoitece mais cedo. Eu estava ali para curar minha dor, tentar cobrir a perda com o reboco do esquecimento. Todos os dias, fazia o mesmo trajeto: saía do hotelzinho, na verdade uma casa térrea com vários cômodos e um toldo comprido na entrada, descia a Avenida Alberto Braune e a Praça Getúlio Vargas, desembocando na Praça do Suspiro, onde a vista do teleférico e da torre de igrejinha, projetada pelo grande Lúcio Costa, ornava a encosta verdejante. Ia tomar a mesma média diária com pão e manteiga na confeitaria da esquina da Rua General Osório, em frente a um casarão abandonado no meio de um amplo quintal cujos canteiros eram devorados pelo mato. Mergulhava o pão na xícara do café com leite como fazia em criança, ainda ouvindo os ecos da recriminação materna, não faça isso, menino, que é falta de educação! E às vezes me perguntava se de lá onde ela se encontra agora, não estaria repetindo essas palavras que me chegavam articuladas em tempo presente.

Desconheço se é assim com todo mundo, mas sou movido pelo passado. Lembrei-me de uns versos da época em que ainda escrevia poemas:

Moramos no passado

e a roupa do presente

nós vestimos.

Um descompasso

entre o passo de fora

e o de dentro.

Um é espaço

o outro é puro tempo.

Seria isto?

Bem que eu gostaria de viver as coisas de outra maneira, mas que fazer se afinal, como escreveu Fernando Pessoa, cada um cumpre o destino que lhe cumpre. Tenho dúvida se é esta exatamente a frase dele, mas não tenho o livro dele à mão.

Na verdade, quando muito, cheguei a roubar-lhe um beijo. Mas foi uma coisa tão forte que até hoje seu gosto de flor permanece em meus lábios. Chamava-se Dália. Não sei como é o perfume da dália-flor. Só sei de Dália o que com ela se foi. Então bati numa Olivetti portátil estes antigos versos de Cassiano Ricardo: Merecias viver porque eras pura / rosa de um mundo que devia ser teu / porém o mundo não te mereceu /. Os versos estavam lá na parte de cima do espelho do banheiro onde pelas manhãs me barbeava, no apartamento de quarto e sala que aluguei para temporada, numa ruela do Grajaú. Como a memória não me inspira confiança, saí à procura do livro do poeta e finalmente encontrei, em meio à mixórdia de uma pilha de livros que trouxe comigo, a 1ª edição de suas Obras Completas, publicada pela Livraria José Olympio Editora em 1957, onde se lê o Soneto Anônimo cujo último terceto transcrevi.

Até hoje se ignoram as circunstâncias do desaparecimento de Dália. Chegou-se mesmo a cogitar de sequestro ou de rapto, mas como tudo se passou numa época em que esses crimes não frequentavam o vocabulário quotidiano nem a crônica policial, a hipótese foi deixada de lado.

Dela não tenho sequer uma foto. Uma vez tentei descrever para um pintor o seu retrato falado, mas o resultado do esboço saiu tão distante da imagem que eu tinha na memória, que acabei desistindo. É muito duro você perceber que está perdendo aos poucos a lembrança da figura amada. No tempo em que esses fatos sucederam, não existia ainda a internet e nem mesmo o fax... Fotografia só se tirava para fazer carteira. Em preto e branco, tamanho 3x4. As coloridas vieram bem depois.

Dália gostava de livros e de plantas. Lia Cronin com assiduidade. Eu achava graça.

Você está rindo de quê?, ela me perguntava com aquele jeito todo seu, as duas covinhas gêmeas se entremostrando junto com o sorriso.

De nada, ora!

Não seja cínico. Você nunca soube mentir. (Bem que gostaria de dizer-lhe que achava aqueles romances um tanto adocicados para o meu gosto mas isso equivaleria a confessar que havia lido Cronin, e eu não ia dar o braço a torcer).

Dália era uma loura esguia, de olhos azuis e pele muito clara. Tinha uma pintinha acima dos lábios, no lado esquerdo. Eu a achava singularmente bela, sobretudo quando usava rabo de cavalo.

Muitos anos depois, passando por um cinema do shopping serrano, vi o cartaz de um filme policial que evocava seu nome. Quase comprei o ingresso para a sessão que estava prestes a começar.

Vagando outra tarde pelo bairro do Cônego, descobri numa velha loja de artigos diversos e, dentro de um móvel envidraçado, uma coleção original, de capa vermelha, das aventuras de Sherlock Holmes e me detive mergulhado em devaneios tresloucados. E se eu utilizasse as técnicas do famoso detetive britânico para decifrar o misterioso desaparecimento de Dália mais de quarenta anos depois?

Ela se fora sem nenhum aviso. Recordo que uns dez dias após o seu sumiço, fui até a casa onde ela morava com o pai, em Laranjeiras. Bati à porta daquela casa singela sem quintal e um senhor envelhecido me atendeu de pijama. Sua fisionomia desfeita atestava o golpe sofrido. Quando me declarei colega de sua filha, o homem me abraçou, não contendo as lágrimas. Constrangido, aguentei firme, fazendo um tremendo esforço para não chorar também. Depois de refeito, o senhor idoso desculpou-se pelo momento de fraqueza, mas nada soube dizer sobre o paradeiro da filha. Era um pobre viúvo que vivera com a filha única e agora só lhe restava um gato siamês, muda testemunha daquela cena que presenciara refestelado numa poltrona, fixando-me com o olhar hipnótico dos gatos.

Ela saiu normalmente para trabalhar e não voltou mais, disse ele com a voz embargada. Despedi-me em seguida, deixando, dentro da lata de lixo em frente à porta da rua, os restos das primeiras esperanças.

Naquela altura, o peso da perda de Dália ainda não me atingira em toda plenitude. Talvez ela tivesse viajado, perdido a memória ou coisa assim. Agarrado a esse resquício de esperança, eu contava nos dedos os dias de sua ausência, com a sensação de que estava afundando aos poucos nas areias movediças da depressão, até que não me segurei mais e liguei para seu pai, não conseguindo adiar por mais tempo a resposta que temia receber. Do outro lado da linha, ele me disse, num tom grave, que já percorrera os hospitais da cidade, mas nenhuma mulher parecida com a fotografia que mostrara a médicos e enfermeiros fora internada em qualquer deles. Chegara até a ir ao necrotério, acrescentou cheio de horror.

Para onde teria ido, foi pergunta que o velho me fez, mas permaneci em silêncio. Poderia, pensei, estar numa infinidade de lugares: numa praia do Norte ou do Nordeste, no estado de São Paulo ou mesmo em Minas Gerais, ou talvez perdida na floresta da Tijuca, ela que amava tanto as plantas. Viajar para o exterior, seria quase impossível com o seu salário minguado de secretária. Custava-me admitir que já estivesse sob a terra ou mesmo debaixo d’água...

Hoje, passadas mais de quatro décadas, essas indagações ainda me perturbam. Não a sei se viva ou morta. Quem sabe até seja uma avó feliz, cercada pelo carinho dos netos por todos os lados. Todavia esse happy end não cabe no meu roteiro, mais propenso ao realismo cru dos livros e filmes noir. Também não sei se fui correspondido em meu amor. Mas afinal o que vem a ser o amor: uma dádiva ou uma dúvida? Ainda hoje, relembro uma imagem virtual de sua reação àquele beijo único que lhe dei — o que me parece até ser estranho, pois o seu rosto me vai fugindo a cada dia — mas, como dizia, não sei se sua reação foi de surpresa, de espanto ou de secreto prazer. Ela apenas baixou os olhos, dissimulando um sorriso. Estaria achando graça de mim porque, mesmo naquele tempo, beijar como quem furta, cheio de medo, já estava fora de moda? Talvez ela apenas aceitasse minha companhia por comodismo. E por feminina vaidade. Nunca ouvi de seus lábios palavra alguma que insinuasse o tipo de afeto que sentia por mim. Esta é outra pergunta sem resposta.

A ausência de Dália preencheu de vazio minha vida. Não me casei, não deixo descendência. Sigo abraçado à sua saudade. Recolho-me à tardinha quando começa a anoitecer e a friagem desanda a apertar, penetrando os ossos. No inverno da serra, o frio chega mais cedo.

Ayrton Pereira da Silva



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Postado por Impressões Digitais
16/5/2016 às 18h04

 
Filme em preto e branco

Pertenço a uma sociedade secreta que adora filmes em preto e branco.

Não vou contar detalhes, como disse, é uma sociedade secreta.

Mas posso dizer que quando chove, estico os ossos no sofá logo depois de esquentar uma caneca de leite com chocolate para ver na TV filmes em preto e branco que tenho gravado.

As opções são tantas que fico um bom tempo zapeando com o controle remoto, em busca de um daqueles de neve caindo na aba do chapéu do mocinho, que pisca o olho, desviando a fumaça do cigarro que sobe, inibindo de vez a desavisada mocinha, que tão ingênua e recatada (que palavra horrível!), recolhe o corpo num aperto de ombros.

Filme antigo é cativante até no título: O homem que matou o facínora, Como era verde o meu vale, Psicose, Cidadão Kane, A felicidade não se compra...

Não assisto mais TV aberta, cansei, dei um basta.

E isso já tem um bom tempo.

Dias desses vi a Tássia Camargo numa manifestação política e custei a reconhecê-la.

O tempo passa e nem percebemos.

Ainda ontem (na verdade, muitos anos atrás) Tássia era uma das estrelas das novelas, linda, meiga e recatada (de novo essa palavra horrível!).

Sinal que envelhecemos.

Chuva, filme antigo, sono...

Deixo meus pés roçarem um vaso de flores num canto da sala, o reflexo é de cores que aos poucos se mistura em meus olhos ao preto e branco da TV.

O copo de leite com chocolate esfria e repousa mansamente entre meus dedos, à espera que o sol volte, mas sem nenhuma pressa, os olhos presos na beleza de Scarlett O'hara, mais precisamente nos olhos de Scarlett, verdes ou azuis, nunca soube ao certo, muito embora esse seja um filme colorido.

No final a câmera se aproxima aos poucos, registra o beijo final, a dama entregue, os lábios oferecidos e um dos braços caído rumo ao chão, como quem desfalece.

O mocinho é de uma postura de pedra.

Um pensamento bobo me assoma, será que ele vai apressar o beijo na ânsia de acender outro cigarro?

Fim de filme.

O preto e branco nos meus olhos vai dando lugar às cores do mundo real.

Ao desligar a TV, dou de cara com os pingos da chuva batendo na janela.

Ninguém lá fora, só o vento, a escuridão e a água que cai.

A cena escancara na minha mente uma frase do Fernando Pessoa: “ Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta".

Pessoa me remete a livros, mais ainda, à vontade de ler, e saio procurando um romance que comprei tempos atrás e não terminei de ler, que nem sei mais o título, mas sei que na capa tem flores e ventos.

Que chato procurar um livro e não encontrá-lo, fica aquele sentimento estranho de perda, amparado pela dúvida, será que emprestei e não me foi devolvido? Não sei.

A chuva insiste, prendendo-me quieto num canto, bebendo o que resta de leite com chocolate, frio, quase gelado, contemplando o silêncio, os olhos pousados no vaso de flores das pétalas murchas pelo tempo, que já não exala perfumes, mas é quase tão maravilhoso quanto um filme em preto e branco.

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Postado por Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ
16/5/2016 às 12h29

 
Distraidamente I

Tal aquele barqueiro distraído
que perdeu a isca e fisgou o remo ao pescar
a lua, eu queria escrever distraidamente.
E encurvar o anzol até fechar-se um círculo
para que minhas palavras não caiam
em tentação.

Quando engulo abstrações, morro de tédio.
Por isso, para sobreviver, meu devaneio
desce ao chão e distende-se numa caminhada.
E ao pisar na relva meus passos
estalam folhas secas.

Mas não é por maldade que piso
nas coisas da terra. A elas meus sapatos
irmanam-se no ímpeto que as faz
viver na simplicidade do cotidiano
a engendrar bichos de nuvem.

E distraidamente mantemos
o fôlego.

(Do livro Nada mais que isto)

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Postado por Blog da Mirian
15/5/2016 às 14h28

 
13 de Maio - A data

Hoje e o dia em que se comemora a Abolição da escravidão de africanos e seus descendentes, no Brasil.

Por conta de "movimentos políticos" do tipo engana-trouxa vamos deixando de ensinar aos brasileiros quem foi e o que fez a Princesa Isabel, aquela que assinou a lei proibindo e extinguindo a pratica do comercio de escravos no nosso Pais.

Tentam impor um "herói" negro, no lugar da Princesa.
Trata-se do Lendário Zumbi, um líder indiscutível, que fugiu do cativeiro e fundou uma aldeia, um quilombo no interior, onde foi rei.
Ali viveu com seus hábitos e costumes , varias esposas e.... Escravos, coisa de quem podia mais que os outros.

Se a lenda de Zumbi com sua argucia, inteligencia, liderança, força e coragem serve para alguma coisa, sem duvida e para mostrar que a especie humana não se deixa abater. Um fantoche a gente sabe como acaba.

Alem do absurdo de se tentar apagar uma data histórica desse porte, ainda resta lembrar que o comercio de escravos foi exercido, e muito, por negros africanos, tanto na origem, ou seja, africanos vendendo africanos capturados em tribos diferentes das suas, como aqui no Brasil, principalmente na Bahia e no Rio de Janeiro.

O mesmo aconteceu no Caribe e na America do Norte. Pois e, mercadores brancos e negros de escravos africanos negros.

A divisão de seres humanos em grupos raciais alem de ser uma estupidez, e de uma vilania politica imensurável. Nao serve para nada.

As tais atitudes inclusivas, seja la o que isso for, não transformam ninguém.

Quem nasce grande vai ser grande: Gregório de Matos, Jose do Patrocínio, Machado de Assis, Jamelão, Grande Otelo... Para não citar os vivos que, por sua grandeza, rebrilham em nossa mente. Todos enormes, magníficos, estupendos.

Alguem vai provocar: E as mulheres? Ora, ora... Em todos os campos do conhecimento, das artes, da ciência, sempre tivemos mulheres descendentes de escravos.

Viva o dia 13 de Maio
Viva a Abolição, a Lei Áurea.
Viva a Princesa Isabel.
Viva a memoria e a historia do Brasil.



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Postado por Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
13/5/2016 às 12h40

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