Os diários de uma paixão | Fabio Silvestre Cardoso | Digestivo Cultural

busca | avançada
22100 visitas/dia
1,2 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Inscrições abertas para o Concurso de Roteiros e Argumentos do 11º FRAPA
>>> BuZum! encena “Perigo Invisível” em Itaguaí, Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty (RJ)
>>> Festival de Teatro de Curitiba para Joinville
>>> TIETÊ PLAZA INAUGURA A CACAU SHOW SUPER STORE
>>> A importância da água é tema de peças e oficinas infantis gratuitas em Vinhedo (SP)
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O batom na cueca do Jair
>>> O engenho de Eleazar Carrias: entrevista
>>> As fitas cassete do falecido tio Nelson
>>> Casa de bonecas, de Ibsen
>>> Modernismo e além
>>> Pelé (1940-2022)
>>> Obra traz autores do século XIX como personagens
>>> As turbulentas memórias de Mark Lanegan
>>> Gatos mudos, dorminhocos ou bisbilhoteiros
>>> Guignard, retratos de Elias Layon
Colunistas
Últimos Posts
>>> Barracuda com Nuno Bettencourt e Taylor Hawkins
>>> Uma aula sobre MercadoLivre (2023)
>>> Lula de óculos ou Lula sem óculos?
>>> Uma história do Elo7
>>> Um convite a Xavier Zubiri
>>> Agnaldo Farias sobre Millôr Fernandes
>>> Marcelo Tripoli no TalksbyLeo
>>> Ivan Sant'Anna, o irmão de Sérgio Sant'Anna
>>> A Pathétique de Beethoven por Daniel Barenboim
>>> A história de Roberto Lee e da Avenue
Últimos Posts
>>> Nem o ontem, nem o amanhã, viva o hoje
>>> Igualdade
>>> A baleia, entre o fim e a redenção
>>> Humanidade do campo a cidade
>>> O Semáforo
>>> Esquartejar sem matar
>>> Assim criamos os nossos dois filhos
>>> Compreender para entender
>>> O que há de errado
>>> A moça do cachorro da casa ao lado
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Livre talento, triste exílio, doces brasileiros
>>> Paris é uma Festa
>>> Belham: nossa maior voz infantil
>>> Por um Brasil livre
>>> Cordiais infâmias de Satie
>>> Dando a Hawthorne seu real valor
>>> Por que a crítica, hoje, não é bem-vinda
>>> Os últimos soldados da Guerra Fria
>>> Henry Ford
>>> A pós-modernidade de Michel Maffesoli
Mais Recentes
>>> Livro - Apego - Volume 1 da Trilogia Apego e Perda de John Bowlby pela Martins Fontes (1984)
>>> O Dia do relâmpago de J. J. Benítez pela Planeta (2014)
>>> Sabe do que Eu Gosto? de Dora Machado Lorch (Autor) pela Salamandra (2009)
>>> Metalica a Biografia de Mick Wall pela Globo Livros (2013)
>>> Livro - A Linguagem dos Bebês - Sabemos Escuta-los? de Marie-Claire Busnel (dir.) pela Escuta (1997)
>>> Luz Emergente a jornada da cura pessoal de Barbara Ann Brennan pela Pensamento
>>> Fire Force 5 de Atsushi Ohkubo pela Panini Comics (2019)
>>> Livro - Criar Filhos no Século XXI de Vera Iacionelli pela Contexto (2019)
>>> Livro - Dicionário Escolar da Língua Portuguesa: Aurélio Júnior de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira pela Positivo (2011)
>>> Na telas do infinito de Yvonne A. Pereira pela Federação Espírita Brasileira (2011)
>>> Rainha Da Cocada Preta de Miriam Portela (Autor) pela Noovha America (2018)
>>> Livro - O Cérebro da Criança - Estratégias revolucionárias para nutrir a mente em desenvolvimento do seu filho e ajudar sua família a prosperar de Daniel J. Siegel e Tina Payne Bryson pela Nversos (2015)
>>> As dez mil portas de Alix E. Harrow pela Universo dos Livros (2020)
>>> Livro - Endgame: o Chamado de James Frey, Nils Johnson Shelton pela Intrínseca
>>> Livro - Nelson Mandela de Carl W Hart pela Macmillan Readers (2009)
>>> Livro - Desenvolvimento Cognitivo de A.r. Luria pela Icone (1990)
>>> Divaldo Franco a trajetória de um dos maiores médiuns de todos os tempos de Ana Landi pela Bella (2015)
>>> Livro - 101 Dias Em Bagdá de Asne Seierstad pela Record (2006)
>>> Hannibal A Origem Do Mal de Thomas Harris pela Record (2007)
>>> Street Markets de Carol L. COHEN pela Grosset & Dunlap (1973)
>>> Livro - Rapidinhas, Rapidamente! de Ronaldo Gomlevsky pela Menorah (2011)
>>> Legião um olhar sobre o reino das sombras de Robson Pinheiro pela Casa dos Espíritos (2006)
>>> Livro - O Livro dos Espíritos de Allan Kardec pela Boa Nova (2004)
>>> Bagunça e arrumação de Marilia Pirillo (Autor) pela Prumo (2009)
>>> Livro - Slumdog Millionaire de Vikas Swarup pela Macmillan Readers
COLUNAS

Terça-feira, 21/6/2005
Os diários de uma paixão
Fabio Silvestre Cardoso
+ de 5600 Acessos

Começa assim. Interessado por garota, este colunista descobre, via Orkut, não somente seus gostos pessoais, como livros, música e cinema, mas também que ela possui um blog. Para minha surpresa, este blog não é uma plataforma política ou um espaço público para debates. É, tão somente, um diário pessoal, no qual ela fala de seus amores, e eu leio sem pudor. Penso que nem sempre foi assim. Houve uma época, muito antes da Internet, em que os diários pessoais eram....pessoais. Ou seja, ninguém, a não ser o autor, entraria em contato com aquelas confissões extremamente íntimas, como é regra existir nos diários. A poeta norte-americana Sylvia Plath manteve, entre 1950 e 1962, uma série de deles. Pode-se afirmar, inclusive, que os diários eram uma espécie de indício do que estava por vir. Escrevia com afinco e, acima de tudo, para si mesma. Esses relatos podem ser encontrados agora na edição colossal que a Editora Globo fez dos Diários de Sylvia Plath, sob organização de Karin V. Kukil, que também assina o prefácio.

Ao longo de mais de 800 páginas, o leitor descobre os nós sentimentais por trás da misteriosa poeta. Esse ar misterioso, aliás, foi corroborado pelo filme Sylvia: paixão além das palavras, no qual Gwenyth Paltrow representa Plath. Nos diários, quem ficou espantado pela afetação da escritora verá que, por trás daquele jeito hermético e prolixo, há uma escritora latente, pulsante, pronta para dissecar a si própria e aos outros, dos preconceitos aos desejos, caminhando da ingenuidade à maturidade como escritora. Os diários ajudam a compreender uma fase anterior à existência da poeta publicada, que ficaria matizada pelo spleen oriundo de seu relacionamento com o também poeta Ted Hughes.

Na primeira seleção dos diários, que vai de 1950 a 1953, Sylvia Plath expõe em prosa sua ingenuidade e inocência. É certo que essa inocência via de regra se torna em pieguice e opiniões extremamente simplistas acerca do mundo que ela pouco conhece, como política e racismo. Entretanto, é graças a essa mesma inocência que surgem os lampejos de sua poesia, como no trecho que segue: "Meu Deus, a vida é solidão, apesar de todos os opiáceos, apesar do falso brilho das festas alegres sem propósito algum, apesar dos falsos semblantes sorridentes que todos ostentamos". Nessa primeira fase, Sylvia registra o cotidiano não tendo por base uma rotina específica, mas, sim, pela relevância dos acontecimentos. A autora não relata, por exemplo, o nome das amigas, tampouco o seu relacionamento com os professores de colégio. Ela prefere a experiência que transformaria sua vida: "Tenho a impressão de adquirir uma consciência cada vez mais acentuada da rapidez da passagem do tempo conforme fico mais velha. (...) Tornamo-nos embotados, empedernidos e cordialmente passivos, conforme cada dia acrescenta mais uma gota ao poço estagnado de nossos dias".

À medida que avança, Plath se torna mais rígida com sua conduta, tanto na aparência como na sua produção intelectual. De um lado, ela não consegue se desvencilhar do desejo, da atração quase compulsiva por suas paixões arrebatadoras, que, nesse caso, são de fato um problema, uma vez que ela se vê entorpecida por eles. O desejo chega a sufocar, a tal ponto que isso toma forma na sua externação poética: "Desejo ardentemente sentir as costas largas e fortes quando apertá-lo contra meu corpo e fechar os olhos e me abandonar na deliciosa vaga lenta de seus beijos. Será que o sábado não vai chegar nunca?"

Por outro lado, a poeta parece não acreditar no seu talento. Com isso, também ela sofre. Essa aflição, aliás, é objeto constante dos relatos que precedem sua tentativa de suicídio, em agosto de 1953. Ela retomaria os diários apenas em 1955, mas este período, diferentemente do anterior, é composto por trechos de cartas. Nelas, novamente a convulsão poética surge na prosa, ora em forma de dor, ora em forma de indignação: "sinto-me muito doente... Há um ponto em meu estômago que lateja e incomoda (...) Torna-se impossível fitar as pessoas nos olhos: estaria a deterioração de volta? Quem sabe. Conversas banais são desesperadoras."

Como o tamanho do livro pode intimidar o leitor mais desacostumado, a obra contém um ótimo índice remissivo, que ajuda o leitor a encontrar os períodos mais interessantes, ou que, eventualmente, auxiliam na compreensão da personalidade da autora. Os textos são carregados de uma paixão compulsiva. Plath tenta extrair isso aos poucos, mas são inúmeras as vezes em que ela se perde. A razão, poderiam atribuir alguns, seria a falta de objetividade dos poetas. Ocorre que é justamente o contrário que Sylvia Plath mostra ser. Em outras palavras, assim como nos poemas, nos diários, a autora coordena as emoções pelas palavras; as sensações, pelo significado; e a tristeza, pelo silêncio. Desse modo, a digressão é a melhor saída para fugir do assunto. Escondê-lo entre um acontecimento banal e um encontro repentino. Se o leitor verificar com cuidado, verá que as entrelinhas revelam tudo.

Os diários somados atingem oito capítulos. Apesar de passar por momentos importantes, como o casamento e a lua-de-mel com Ted Hughes, as anotações não terminam por aí. Nos apêndices, logo em seguida, aparecem novas revelações, bilhetes, memórias e até mesmo desenhos. Nesse trecho, do ponto de vista intelectual e criativo, o destaque fica para os esboços e rascunhos de contos e poemas. Para os primeiros, a autora desenvolve a idéia, com as personagens e as cenas a serem construídas. Já para os segundos, há o detalhamento do verso que será desenvolvido, como um briefing da frase exata, a expressão certa para o momento adequado. Os poetas não jogam fora as palavras.

Nas telas, o retrato de Sylvia Plath não foi além do estigma e do mito acerca dos escritores, segundo o qual eles são excêntricos e conturbados, não podendo tomar conta dos filhos e do marido sem pensar em suicídio e depressão em todos os momentos. Em certa medida, os diários também mostram isso. Contudo, eles são mais fiéis à figura de sua criadora, e a maior prova disso está na prosa fluida e auto-explicativa da poeta. Ao final, a leveza da leitura alivia o peso do volume.

Para ir além






Fabio Silvestre Cardoso
São Paulo, 21/6/2005

Mais Fabio Silvestre Cardoso
Mais Acessadas de Fabio Silvestre Cardoso em 2005
01. Brasil e Argentina: uma História Comparada - 3/5/2005
02. Os Clássicos e a Educação Sentimental - 8/2/2005
03. O século da canção - 5/4/2005
04. Estudo das Teclas Pretas, de Luiz Faccioli - 22/2/2005
05. O Afeto Autoritário de Renato Janine Ribeiro - 22/11/2005


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




A Guerra e o Desarmamento
Juan P. Prats
Biblioteca Salvat
(1979)



Neymar Jr. Nº22 - os Caçadores da Bola Dourada
Mauricio de Souza
Panini
(2015)



Almanaque Disney Nº 279
Walt Disney
Abril
(1994)



Livro - Cadê Você Bernadette?
Maria Semple
Companhia das Letras
(2013)



O pensamento vivo de Gandhi
Eide M. Murta Carvalho org.
Martin Claret
(1985)



Como Se Tornar um Grande Chefe, Patrão Ou Gerente
Jeffrey J. Fox
Ciência Moderna
(2002)



Lojas
Adriano Godoy
Qualitymark
(2004)



Les Aventures de Huck Finn
Mark Twain
Hachette
(1977)



As Tranças do Poder: Política e Bruxaria no Mesmo Caldeirão
Tarcísio Lage
Letra Capital
(2014)



Task College RTVA
Ricardo Perez e Juan Mouriz D8B1 2010
Task
(2010)





busca | avançada
22100 visitas/dia
1,2 milhão/mês