Os diários de uma paixão | Fabio Silvestre Cardoso | Digestivo Cultural

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Terça-feira, 21/6/2005
Os diários de uma paixão
Fabio Silvestre Cardoso
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Começa assim. Interessado por garota, este colunista descobre, via Orkut, não somente seus gostos pessoais, como livros, música e cinema, mas também que ela possui um blog. Para minha surpresa, este blog não é uma plataforma política ou um espaço público para debates. É, tão somente, um diário pessoal, no qual ela fala de seus amores, e eu leio sem pudor. Penso que nem sempre foi assim. Houve uma época, muito antes da Internet, em que os diários pessoais eram....pessoais. Ou seja, ninguém, a não ser o autor, entraria em contato com aquelas confissões extremamente íntimas, como é regra existir nos diários. A poeta norte-americana Sylvia Plath manteve, entre 1950 e 1962, uma série de deles. Pode-se afirmar, inclusive, que os diários eram uma espécie de indício do que estava por vir. Escrevia com afinco e, acima de tudo, para si mesma. Esses relatos podem ser encontrados agora na edição colossal que a Editora Globo fez dos Diários de Sylvia Plath, sob organização de Karin V. Kukil, que também assina o prefácio.

Ao longo de mais de 800 páginas, o leitor descobre os nós sentimentais por trás da misteriosa poeta. Esse ar misterioso, aliás, foi corroborado pelo filme Sylvia: paixão além das palavras, no qual Gwenyth Paltrow representa Plath. Nos diários, quem ficou espantado pela afetação da escritora verá que, por trás daquele jeito hermético e prolixo, há uma escritora latente, pulsante, pronta para dissecar a si própria e aos outros, dos preconceitos aos desejos, caminhando da ingenuidade à maturidade como escritora. Os diários ajudam a compreender uma fase anterior à existência da poeta publicada, que ficaria matizada pelo spleen oriundo de seu relacionamento com o também poeta Ted Hughes.

Na primeira seleção dos diários, que vai de 1950 a 1953, Sylvia Plath expõe em prosa sua ingenuidade e inocência. É certo que essa inocência via de regra se torna em pieguice e opiniões extremamente simplistas acerca do mundo que ela pouco conhece, como política e racismo. Entretanto, é graças a essa mesma inocência que surgem os lampejos de sua poesia, como no trecho que segue: "Meu Deus, a vida é solidão, apesar de todos os opiáceos, apesar do falso brilho das festas alegres sem propósito algum, apesar dos falsos semblantes sorridentes que todos ostentamos". Nessa primeira fase, Sylvia registra o cotidiano não tendo por base uma rotina específica, mas, sim, pela relevância dos acontecimentos. A autora não relata, por exemplo, o nome das amigas, tampouco o seu relacionamento com os professores de colégio. Ela prefere a experiência que transformaria sua vida: "Tenho a impressão de adquirir uma consciência cada vez mais acentuada da rapidez da passagem do tempo conforme fico mais velha. (...) Tornamo-nos embotados, empedernidos e cordialmente passivos, conforme cada dia acrescenta mais uma gota ao poço estagnado de nossos dias".

À medida que avança, Plath se torna mais rígida com sua conduta, tanto na aparência como na sua produção intelectual. De um lado, ela não consegue se desvencilhar do desejo, da atração quase compulsiva por suas paixões arrebatadoras, que, nesse caso, são de fato um problema, uma vez que ela se vê entorpecida por eles. O desejo chega a sufocar, a tal ponto que isso toma forma na sua externação poética: "Desejo ardentemente sentir as costas largas e fortes quando apertá-lo contra meu corpo e fechar os olhos e me abandonar na deliciosa vaga lenta de seus beijos. Será que o sábado não vai chegar nunca?"

Por outro lado, a poeta parece não acreditar no seu talento. Com isso, também ela sofre. Essa aflição, aliás, é objeto constante dos relatos que precedem sua tentativa de suicídio, em agosto de 1953. Ela retomaria os diários apenas em 1955, mas este período, diferentemente do anterior, é composto por trechos de cartas. Nelas, novamente a convulsão poética surge na prosa, ora em forma de dor, ora em forma de indignação: "sinto-me muito doente... Há um ponto em meu estômago que lateja e incomoda (...) Torna-se impossível fitar as pessoas nos olhos: estaria a deterioração de volta? Quem sabe. Conversas banais são desesperadoras."

Como o tamanho do livro pode intimidar o leitor mais desacostumado, a obra contém um ótimo índice remissivo, que ajuda o leitor a encontrar os períodos mais interessantes, ou que, eventualmente, auxiliam na compreensão da personalidade da autora. Os textos são carregados de uma paixão compulsiva. Plath tenta extrair isso aos poucos, mas são inúmeras as vezes em que ela se perde. A razão, poderiam atribuir alguns, seria a falta de objetividade dos poetas. Ocorre que é justamente o contrário que Sylvia Plath mostra ser. Em outras palavras, assim como nos poemas, nos diários, a autora coordena as emoções pelas palavras; as sensações, pelo significado; e a tristeza, pelo silêncio. Desse modo, a digressão é a melhor saída para fugir do assunto. Escondê-lo entre um acontecimento banal e um encontro repentino. Se o leitor verificar com cuidado, verá que as entrelinhas revelam tudo.

Os diários somados atingem oito capítulos. Apesar de passar por momentos importantes, como o casamento e a lua-de-mel com Ted Hughes, as anotações não terminam por aí. Nos apêndices, logo em seguida, aparecem novas revelações, bilhetes, memórias e até mesmo desenhos. Nesse trecho, do ponto de vista intelectual e criativo, o destaque fica para os esboços e rascunhos de contos e poemas. Para os primeiros, a autora desenvolve a idéia, com as personagens e as cenas a serem construídas. Já para os segundos, há o detalhamento do verso que será desenvolvido, como um briefing da frase exata, a expressão certa para o momento adequado. Os poetas não jogam fora as palavras.

Nas telas, o retrato de Sylvia Plath não foi além do estigma e do mito acerca dos escritores, segundo o qual eles são excêntricos e conturbados, não podendo tomar conta dos filhos e do marido sem pensar em suicídio e depressão em todos os momentos. Em certa medida, os diários também mostram isso. Contudo, eles são mais fiéis à figura de sua criadora, e a maior prova disso está na prosa fluida e auto-explicativa da poeta. Ao final, a leveza da leitura alivia o peso do volume.

Para ir além






Fabio Silvestre Cardoso
São Paulo, 21/6/2005

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